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Música

A Kimbra Quer Romper Todas as Barreiras

A Kimbra não é só mais uma artista convidada. Batemos um papo com ela sobre mitologia grega, a volta da moda noventista e seguir em frente após “Somebody That I Used To Know”.

Você pode ter ouvido Kimbra pela primeira vez como parceira do Gotye em “Somebody That I Used to Know”, mas a cantora neozelandesa não é só mais uma artista convidada. Seu disco de estreia lançado em 2011, Vows, era uma exploração sólida na seara do art-rock e do pop, uma sonoridade que ela leva além em seu novo disco, The Golden Echo. Nele, Kimbra prova novamente que ela merece uma posição de destaque, desta vez mostrando um lado mais experimental, com uma mistura de R&B etéreo (na crua e poderosa faixa “As You Are”), vocais sensuais em camadas à la Aretha Franklin (“Nobody But You”) e electro-soul de pegada funk (“Love In High Places”, onde ela canta sobre a força de seu amor).

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“90s Music”, o primeiro single do disco, é uma mistura vertiginosa de R&B, pop e rock, sem esquecer o soul que faz referência à época em que Spice Girls, Missy Elliotte Lisa Frank dominavam as paradas. O clipe é uma adequada sobrecarga sensorial cheia de casacos de pele brilhantes, visual cartunesco e muitas scrunchies (aquelas chuchinhas de cabelo típicas dos anos 90). Com artistas viajando no tempo em seus clipes e referenciando a cultura noventista (ver “Fancy” de Iggy Azalea e Charli XCX, um tributo a As Patricinhas de Beverly Hills), o mundo encontra-se em um momento em que seguir adiante com as tendências significa, essencialmente, andar para trás; a nostalgia tornou-se um fator chave neste dia e época. The Golden Echo explora o passado e dá seu próprio toque à sonoridade retrô.

Batemos um papo com a Kimbra sobre mitologia grega, a volta da moda noventista e seguir em frente após “Somebody That I Used To Know”.

Já faz alguns anos desde que recebemos notícias suas. O que você tem feito desde o lançamento do primeiro disco?
Kimbra: Viajei até os EUA para começar a escrever propostas do meu disco The Golden Echo e acabei ficando. Achei que seria uma viagem curta, mas me apaixonei pela Califórnia. Achei um lugarzinho lá pra ficar, uma fazenda com bichos e tudo, que meio que mudou toda minha visão do lugar. Me trancafiei lá e comecei a pré-produção do álbum ali em Silver Lake, escrevi um punhado de músicas, entrei em estúdio com Rich Costey no Eldorado, em Burbank, e gravei tudo lá.

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Você ainda está morando lá?
Acabei de me mudar. Sinto que agora o álbum está completo. Foi o local perfeito para aquela época da minha vida, e eu passava muito tempo ao ar livre, mas depois de um tempo pensei que precisava de um novo espaço. Mas ainda o tenho comigo em meu coração. Gosto muito de continuar em movimento e mudar minha perspectiva para pensar fora da caixa. Provavelmente seguirei assim.

Como seus gostos musicais e inclinações sonoras mudaram desde seu disco de estreia?
Acho que é uma evolução natural. Quando você muda o lugar onde vive, é uma grande mudança em suas influências. Faço um esforço consciente para ouvir músicas diferentes que me desafiarão e me farão encarar ritmo e melodia de formas diferentes. Curto muitas coisas no heavy metal por conta dos ritmos presentes ali, que me obrigam a ouvir aquilo e identificá-los na música. Acho que a coisa toda evoluiu porque tive um foco bem maior na produção deste disco do que no passado. Sempre participei um pouco da produção, mas desta vez mergulhei mesmo em cada aspecto de fazer as músicas soarem intencionais. Não quero que nada pareça estar ali só para tapar um buraco; quero que tudo provoque alguma sensação no ouvinte. Há com certeza um maior foco em tratar o ritmo de forma agressiva; uso muito mais bateria de verdade neste disco.

Na turnê toco com uma banda. Isso mudou a forma como eu estava fazendo música porque gostaria de ter mais músicos participando do processo. Queria envolver muitos de meus amigos para ajudarem a criar a paleta sonora. A justaposição também foi um grande tema: eu queria juntar diferentes ideias que talvez parecessem não se encaixar, mas as faríamos dar certo. Então descobri que elas iam bem juntas. Com certeza essa é outra razão para a música ter evoluído mesmo.

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Dá pra ver que você tentou mesmo romper algumas barreiras neste disco. Há um tema que ressoe por todo o disco?
Muito da inspiração vem do título do disco, The Golden Echo. O nome deriva de uma flor chamada Narcissus Golden Echo [narciso dourado]. Eu simplesmente descobri esta simples flor. Diz a lenda que Narciso estava olhando em seu reflexo na água – um mito grego, é claro. Ele morre e se transforma em uma flor amarela, que leva seu nome. Quando a descobri, me aprofundei bastante em mitologia grega e me fascinei pela temática e história de Narciso – um homem arrebatado pelo seu próprio reflexo.

The Golden Echo, para mim, simboliza energia sendo liberada para receber beleza em troca. Sinto que há duas grandes forças nesse disco: uma delas é caótica e a outra contemplativa e calma. Então são estes dois mundos explorados em um álbum. A arte reflete isso também. A capa conta com referências à mitologia grega e esses mundos colidindo onde a terra encontra o céu.

Você contou com a participação de muita gente nesse disco, incluindo Matthew Bellamy, do Muse. Como rolou isso?
Quis que todo mundo participando trouxesse suas próprias características. Tive sorte de encontrar tanta gente incrível: músicos e produtores cujo respeito é mútuo. Todos trouxeram algo de único. Eles me ajudaram a amadurecer. Quando eu empacava em algum ponto, meus amigos vinham e me ajudavam a encontrar uma nova forma de ver a música ao dar seu toque nelas.

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Você sempre gostou muito de cores. Notei que seu estilo mudou ao longo dos anos. Você poderia falar um pouco sobre o figurino incrível do clipe de “90s Music”?
Aquela música é, de verdade, como uma colagem. Quis romper todas as barreiras. Na composição quisemos fazer o mesmo. O que importava ali era a parte bacana da sua vida, mas que você se lembra de forma diferente. É tudo fragmentado, mais psicodélico, o que muda seu tipo de experiência. Quanto ao figurino, queríamos fazer referências ao que prevalecia nos anos 90, mas com um feeling diferente. É mais uma vez aquilo de reunir dois mundos diferentes que não deveriam dar certo, mas de alguma forma dão. Adoro quando você tem um momento daqueles em que diz “cacete, nunca achei que isso daria certo junto, mas formam um look incrível!”.

Onde você busca inspiração para o seu estilo?
Quando era mais nova, adorava ver blogs de streetstyle de Tóquio. A cultura japonesa é tão inspiradora pra mim no que diz respeito à coragem em termos de estilo. Muitos de meus músicos e produtores favoritos também são japoneses. É algo que adoro porque dá pra ser bem experimental com o que se escolhe. Gosto de ir pra casa, mudar tudo e misturar com coisas loucas e ainda assim parecer com o que faço no palco. Há muitos designers australianos que amo, como Emma Mulholland e Jaime Lee Major, com quem trabalhei. Gosto de apoiar novos designers sempre que posso.

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O quanto sua vida mudou desde “Somebody That I Used to Know”? Você ainda tem contato com o Gotye?
Sim, com certeza! Ele é um dos meus amigos mais próximos. É ótimo porque nós compartilhamos essa loucura juntos. Tenho mostrado a ele meus novos trabalhos e ele tem me apoiado muito. Acho que a minha vida mudou porque vi muito mais do mundo. Vivi muito mais desde aquela música, tive a chance de me ligar a um público que vai além do que poderia ter sonhado. Foi uma plataforma incrível para que eu fizesse isso.

Com certeza deu um gás na sua carreira. Qual a sua faixa favorita em The Golden Echo?
Essa é difícil. Provavelmente é “Love In High Places”, que fala sobre elementos da natureza e simplicidade. É uma canção sincera e a que mais me envolvi em termos de produção. Penso que é uma música que vem de um lugar de contemplação sincero e muito verdadeiro. Algo que é importante que eu explore. No meio de todo o caos, é importante ter uma chance de respirar um pouco.

Ilana Kaplan também é cria dos anos 90. Siga-a no Twitter - @lanikaps.

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Tradução: Thiago “Índio” Silva