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Música

Fizeram uma lista pra mapear a cena instrumental brasileira

Bruno Kayapy, do Macaco Bong, e Leonel Mancha, abriram uma lista colaborativa na internet na intenção de catalogar as mais diversas bandas instrumentais do Brasil.

Hurtmold. Foto do Facebook.

A música instrumental sempre foi um um gênero de nicho. Mesmo dentro do meio alternativo, são poucos os grupos que alcançaram ouvidos que não os dos assumidamente aficcionados por música. No Brasil, por exemplo, a paulistana Hurtmold e a matogrossense Macaco Bong são as que lembro mais prontamente de terem atingido esse teto — mas a grande maioria dos projetos em atividade, embora em grande número, estão no underground do underground, espalhadas pelo país. Na ânsia de organizar essa cena aparentemente dispersa, o Bruno Kayapy, fundador e guitarrista da Macaco, decidiu mapear as bandas instrumentais do Brasil numa única lista.

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Bruno Kayapy no palco com o Macaco Bong. Foto do Facebook.

A lista surgiu de um post que Bruno fez no seu Facebook, no qual reuniu nomes de mais de oitenta grupos. A ideia veio das muitas bandas que o paulistano conheceu quando montou, em 2013, sua revista eletrônica sobre o assunto, a +Instrumental. “Recebi muitos materiais de bandas desde que o Macaco Bong se revelou no cenário nacional, ao ponto de me desligar de tudo que vinha surgindo de coisas gringas e passar o tempo todo só ouvindo banda instrumental brasileira. São muitas que realmente sou fã hoje, cada banda instrumental que surge no Brasil facilmente me conquista”, conta Bruno.

A lista original do guitarrista foi ganhando mais corpo, conforme conhecidos adicionavam nomes de outros grupos e projetos instrumentais nos comentários da postagem, e finalmente foi transformada num doc — que pode ser editado por qualquer um que acessá-lo — com ajuda do Leonel Mancha, o dono e mentor da Casa do Mancha; lugar onde, inclusive, muito dessa música chega pela primeira vez aos ouvidos dos entusiastas.

Leia: Uma História Oral da Casa do Mancha

“Eu já tinha uma lista de bandas que eu curto. Juntei tudo numa planilha e deixei aberta”, conta Mancha. “Muitas pessoas já acessaram e colaboraram, mas acho que ainda tem que rodar muito pra poder ser um pequeno mapeamento da música instrumental no país.”

A lista, até última checagem, já conta com 205 nomes, links e e-mails de contato para diversos projetos instrumentais do Brasil, do Rio Grande do Sul a Rondônia. “[A cena] sobrevive sem incentivo nenhum de poder público ou iniciativa privada”, diz Bruno. “Esse é o espírito da música instrumental: entrar no estúdio, criar a sua história, sem esquema nenhum por trás, sem pretensões numéricas. O objetivo é apenas apresentar um bom trabalho, subir no palco e detonar, seja pra zero, uma, cinco ou 100 pessoas.”

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Apesar de não ser consumida num mercado, digamos, tradicional, a música instrumental tem sim seu alcance. O festival PIB (Produto Instrumental Bruto), por exemplo, é um evento que reúne grupos instrumentais de diversos estilos e gêneros musicais e foi um pretexto para o surgimento do Coletivo Instr_, que converge espaços e selos em prol da música instrumental.

Um deles é o selo Sinewave que, no último mês de março, organizou um festival, não-intencionalmente, com um lineup constituído apenas por bandas sem vocal. “A Sinewave não é propriamente um selo instrumental, mas por focarmos em artistas mais experimentais e anti-comerciais, temos contato direto com diversos artistas instrumentais do país todo. E é curioso observar que está acontecendo alguma coisa nesse submundo, estamos hoje em uma fase incrível de bandas instrumentais no Brasil”, diz Elson Barbosa que, juntamente com Lucas Lippaus, é um dos donos do selo que é casa para lançamentos de grupos como o paulistano Huey e o curitibano ruído/mm. Bruno concorda: “Não se trata apenas de um grande número de bandas que fazem uma música estranha em grande quantidade. Há uma quantidade impressionante de bandas instrumentais surgindo todo mês, e a qualidade acompanha.”

Mas nem tudo são rosas. Todo mundo sabe que sobreviver de música no Brasil é difícil; ainda mais, de música que passa tão longe do mercado e mídia tradicionais. As bandas são suas próprias agentes e, mais do que cômpor e gravar, são responsáveis por divulgar sua música.

Esse, para Bruno, é o ponto central da lista; que os grupos, por si mesmos, ponham-se em evidência: “É para colocar as bandas e os produtores de festivais e eventos em contato diretamente. Assim elas articulam os seus próprios shows, festivais, turnês”, conta. “Tomara que a lista proporcione conexões que criem histórias”, completa Mancha. Tomara.

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