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Música

Discos: Reeko with Architectural

Reina por aqui um teor abstracto e hipnótico.

The Blue Album

PoleGroup

Juan Rico poderia ser o nome perfeito para um personagem televisivo de fama duvidosa, mas quis o destino que fosse apenas um dos produtores mais talentosos do país vizinho. Perde-se na ficção, ganha-se na realidade. Para quem já vem a apresentar trabalho sério há cerca de uma década,

 The Blue Album

 encaixa-se como peça fundamental num puzzle cada vez mais longe de se completar — e acrescente-se que o próprio nem demonstra muita vontade de o estruturar. Talvez essa a razão de o assinar não em registo pessoal, mas recorrendo a dois pseudónimos por si mantidos (sim, dois, para complicar ainda mais a trama). Reeko w/ Architectural enganará com certeza uns quantos incautos que vêem aqui uma colaboração qualquer. Táctica de marketing ou puro

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mess around

connosco? Talvez nenhuma das duas; se pensarmos nesta escolha como acto consciente e sem truques, encontramos afinal mais lucidez que o esperado, com samples de genética de ambas as entidades. Assim se desfazem as manhas artísticas num simples parágrafo. Elementar.

Enquanto por cá temos o nosso Tiago Miranda, os espanhóis possuem Juan Rico como titular de ouro do eixo house/techno mais dado a explorações extra-terrestres. Peculiar na forma como transmite uma sensação sinestésica ao longo do disco, afronta-nos com conceitos supostamente externos à música, ou nem tanto. Isto deve-se parcialmente à orgânica escapista que borbulha neste disco onde o relevo (rugoso, macio ou esburacado) se funde numa constante impressão de ondas térmicas. Aliás, se cada um destes temas possuissem um corpo físico, observaríamos de perto sinais humidade e congelação. E se observassemos mais de perto ainda, seriam também visíveis pedaços derretidos pela acção do calor. Ora, a mestria em emitir estas sensações impõe desde logo um certo respeito a qualquer ouvido minimamente atento. Por ironia, a ausência dessa forma física faz-se sentir tão ou mais presente quando sugerida — lembrem-se do ensinamento Jedi de Stars Wars: nunca substimem o poder da mente.

Por entre infusões dub e ebulições techno, o siamês Reeko w/Architectural aproxima-se dos jardins flutuantes criados ano passado pela dupla (esta sim, uma colaboração real) Juan Atkins e Moritz Von Oswald em

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Borderland

ou até mesmo os cenários recentes dos Raime. Notas referenciais que nos elucidam em relação ao teor abstracto e hipnótico que reina por aqui, cuja gestão inteligente de momentos de tensão só pode proporcionar um imenso efeito libertador. Embora soe vagamente futurista, com um ou outro traço a puxar o território do imaginário sci-fi, o universo insondável de

The Blue Album

 parece usufruir bem mais de reacções químicas do que jogadas maquinais à frente do nosso tempo. Fogo, Água, Terra e Ar. Estão todos convocados na alquimia de Rico.