Chimera Music
4/10 A teatralização do orgasmo funciona bem quando é a Meg Ryan a fazê-lo à mesa, num filme de comédia com o Billy Crystal. O mesmo não se aplica à Yoko Ono, que tem quase 80 anos e é viúva. A ideia de escutá-la a simular um orgasmo não é muito graciosa. Imaginemos agora um disco em que a Yoko Ono geme muitas vezes, como se estivesse a fazer amor com uma beringela, enquanto, ao mesmo tempo, está a adiar um espirro. Parece um cenário absurdo, mas é o que encontramos se entrarmos a meio da duração de “Mirror Mirror”. Depois disso há espaço para a guitarra acústica de Thurston Moore (a lembrar a meiguice dos seus últimos discos a solo) e, durante os quase dez minutos de “Mirror Mirror”, é igualmente possível ouvir a voz de Kim Gordon no papel do fantasma que ----- fala ----- muito ----- espaçadamente. É este tipo de situações impressionistas que domina o disco gravado por Yoko Ono em conjunto com o ex-casal mais querido do indie rock. E aqueles que possam achar que vão encontrar aqui um documento perdido do divórcio ou pistas sobre a actualidade dos Sonic Youth, podem já tirar o cavalinho da chuva, porque o disco foi gravado na primeira metade de 2011 e confunde muito mais do que esclarece. Nem outra coisa seria de esperar de uma hora infernal carregada de vozes capazes de provocar o mesmo desconforto que uns Gerogerigegege (o casalinho mais badalhoco do Japão) ou uma Diamanda Galás. Não será portanto a melhor música para meter a tocar no carro enquanto se leva a avó ao LIDL. Yokokimthurston é, além disso, um disco desequilibrado: se há momentos em que garante a intensidade que se espera de um álbum de free jazz orgásmico, há outros em que nos dá todos os motivos para imaginarmos que a Yoko Ono está acumular energias para lançar um Kame Hame Ha (é escutar “Let’s get there”). Ficamos então com um documento curioso para quem estiver interessado em escutar duas gerações de excelente música experimental lado a lado, mas é só mesmo isso.