Orgulho da mãe e do pai: os primeiros universitários da família
Foto: Caroline Lima/ VICE Brasil

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Orgulho da mãe e do pai: os primeiros universitários da família

Esforço, pressão e amor em histórias de quem fincou o sobrenome no ensino superior.

Astronauta, médica, veterinária… Longe disso. Quando pequena, Flavia Gondor tinha, na ponta da língua, a resposta para o que gostaria de ser quando crescesse: re-pór-ter. Naquela época, ela não entendia muito bem o que precisava fazer, de fato, para alcançar a profissão dos sonhos. Tinha que entrar numa faculdade e coisas do gênero? Aí complicou. Isso porque, depois de quatro gerações de artistas circenses, Flavia seria a primeira da família a se aventurar no mundo acadêmico.

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Mas essa não é uma história de dor e sofrimento. Como muitos outros jovens que garantem o primeiro diploma da família, Flavia teve todo amor, apoio e compreensão dos pais, que entendiam e valorizavam a ambição intelectual da filha. Segundo ela, a importância da educação – e do diploma universitário, consequentemente – sempre vinha à tona em momentos de dificuldade, quando seus pais reconheciam que um curso superior poderia tornar a vida um pouco mais estável e segura.

“Eles estavam acostumados a uma educação informal, passada de pai para filho. Mesmo assim, valorizavam muito a nossa formação. Tanto que investiram em um colégio particular modesto e em uma residência fixa para mim e meu irmão, enquanto meu pai viajava com o circo pelo mundo”, lembra Flavia. Apesar do choque com os novos colegas e da rotina puxada de estudos, a jovem não desencanou do sonho antigo de criança e se manteve firme e forte na corrida do vestibular.

Criada em uma família de artistas circenses, Flavia se prepara para virar repórter. Foto: Caroline Lima / Vice Brasil.

Às vezes, ela precisava brincar de ser gente grande, para não se atrapalhar com tarefas, notas, boletins e tudo mais. Os pais nunca cobraram bons resultados e notas de Flavia, o que não era de todo mau, já que eles eram bem tranquilos quanto à educação dos filhos. Por outro lado, ela não podia vacilar. “Desde pequena, tive muita autonomia nos estudos. Lia e estudava sozinha, isso desde os sete anos. Também cheguei ao ponto de forjar a assinatura dos meus pais em provas e bilhetes e cobrá-los quanto às responsabilidades comigo e com a minha escola”, conta ela.

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E assim eles foram levando, entre livros, viagens e as lonas gigantescas do circo, até que o vestibular de Flavia chegou, em 2015. Após varar a madrugada com o pai numa lan house do centro, preparando toda a documentação necessária para o requerimento de bolsa em uma universidade de São Paulo, a jovem foi aprovada no curso de Publicidade e Propaganda. Um ano de notas impecáveis depois, ela finalmente conseguiu pedir transferência para Jornalismo. Profissão: repórter, enfim – do jeitinho que ela havia imaginado na infância.

Para mudar o mundo, é preciso conhecê-lo

Lucas Werner ainda se lembra, com clareza, do dia em que ligou para casa para avisar que tinha sido aprovado no curso de Engenharia. Lágrimas? Na hora, ele só tava meio cansado, na real. Quando a mãe, do outro lado da linha, embaralhou soluços emocionados e gritos de alegria, o menino, com 17 anos à época, perdeu o chão. “Aquilo me fez chorar também, foi muito contagiante. Todo mundo da família veio me cumprimentar depois, com um sorriso no rosto. Não tenho nem palavras para descrever”, assume ele.

A emoção tinha uma bela – e suada – justificativa. Além de ser o primeiro da família na faculdade, Lucas foi aprovado em Engenheira, um curso bem concorrido, para dizer o mínimo. Mesmo sem um preparo excepcional, sem investir em cursinhos e aulas particulares, Lucas mandou benzaço. “Meus pais me incentivavam muito nesse sentido, queriam que eu conquistasse uma condição de vida melhor. Meu pai brincava que era importante que nós estudássemos para não virarmos um ‘peão’, como ele”, conta o rapaz. Como ele curtia mergulhar nos livros desde pequeno, a recomendação do pai foi seguida à risca.

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Do Fundamental para o Ensino Médio, Lucas percebeu que teria que aumentar a carga de estudos, se quisesse conquistar uma vaga. Assim, ele se acostumou a estudar todos os dias, sem descanso. Não foi fácil. No meio desse turbilhão de expectativas, cobranças, vontades e provas, Lucas tentava se adaptar ao novo colégio, com pessoas com histórias de vida completamente diferentes da sua. Nessa época, a mãe também fora diagnosticada com depressão, o que balançou toda a família.

Prestes a se tornar um engenheiro formado, Lucas virou o orgulho da família. Foto: Caroline Lima / Vice Brasil.

Nessa trajetória, perdi uma grande amiga, a minha avó, tivemos que lidar com a doença da minha mãe, a mudança de colégio… Para quem tem origem humilde, cada oportunidade vem acompanhada de mil dificuldades. Hoje, porém, sei que vão surgir obstáculos ainda maiores. E é uma motivação muito grande olhar para trás e ver tudo o que consegui superar até aqui”, explica.

Além da vontade de vencer as próprias limitações, Lucas se agarrou à fé da família para não desanimar no meio do caminho. “Eles acreditavam muito em mim, diziam que eu era uma inspiração. Isso me jogou para cima em vários momentos”, explica ele, que reconhece ainda ter muito pela frente, já que o curso de Engenharia não é moleza. Relaxar um pouco, aliás, está nos planos.

“Penso muito em viajar também, quem sabe se eu tiver dinheiro pra isso. Acho que é bom curtir a vida pra não perder a cabeça uma hora”, admite o calouro. E quem somos nós pra discordar, né, não?

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