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​O que aprendi quando decidi não dizer nada a certas pessoas

Uma pessoa já não pode ir no seu sossego, dar uma voltinha, sem que tenha de preencher um requerimento, dois anexos, uma declaração por escrito, imposto de selo, papel timbrado, certificado de habilitações, atestado médico e o diabo a quatro.
ponte sobre o rio tejo
Por vezes, temos de percorrer a estrada da solidão para nos encontrarmos a nós próprios. Gustavo Santos não diria melhor. Todas as fotos pelo autor

És daquelas pessoas a quem já aconteceu ir a um sítio, publicar algo sobre isso no Facebook e vir logo alguém perguntar "Estiveste cá e não disseste nada?"?. Se a resposta é afirmativa, não desesperes. Não estás só e, sim, este texto é para todos nós.

Então, mas isto agora é assim? Uma pessoa já não pode ir no seu sossego, dar uma voltinha, sem que tenha de preencher um requerimento, dois anexos, uma declaração por escrito, imposto de selo, papel timbrado, certificado de habilitações, atestado médico e o diabo a quatro? Se não é, parece.

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O curioso é que, quando calha realmente em dizer alguma coisa, muitas das vezes o resultado é mais ou menos este: "Eh pá, devias ter avisado com mais tempo, já tinha uma coisa combinada, isto não é assim, há quem trabalhe, caso não saibas, boas vidas é o que é…". Ya. Quando escreveste essa coisa do "não dizes nada", já sabias perfeitamente que estavas ocupado e não irias ter tempo para mim, mas, como ninguém sabe isso, fazes-te de vítima, certo? Ganha mas é vergonha, que já tens idade.

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"Vou só ali beber quatro imperiais sozinho. Posso? Ou tenho de meter requerimento?"

Outras vezes é pura estupidez, pois uma pessoa até diz publicamente que vai, depois mete uma foto no face quando regressa e recebe comentários do género: "Para a próxima diz qualquer coisa". Mas eu disse! Imediatamente no post anterior, não reparaste? "Ah, e tal, não reparei, sabes que agora com os algoritmos do face, isto está tudo mudado, há amigos que não me aparecem no mural…". Cala-te! A sério… Não achas curioso que viste umas coisas e não outras? É no mínimo, estranho.

E, se a esta altura levas com a cena da condescendência, tipo "Pronto, está bem, ninguém quer incomodar vossa excelência, fica só a saber que gostava de te ver um dia destes, mas se calhar sou eu que exijo muitos dos meus amigos e prezo a amizade…", tendo em conta as circunstâncias atrás descritas, só tens uma opção de resposta: "Vai bugiar".

A ver se nos entendemos - e se calhar isto vai parecer um bocado bruto -, mas nem sempre me apetece ver-te. Se calhar vou e, simplesmente, não te digo nada porque não me apetece. Mas isto, lá bem no fundo, nem te devia surpreender, pois já fizeste o mesmo quando cá vieste e sabes disso.

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Um porquinho vestido de cor-de-rosa nunca vai questionar a tua amizade

Agora tens duas opções: ou vais amuar, ou vais sorrir. Se amuares é porque tens mesmo a mania que és mais do que os outros e que só a tua vida é que é muito ocupada. As dos outros só te estorvam. Só tu é que tens o tempo contado, certo? É uma pena que penses assim.

Mas, se estás a sorrir, ainda bem… apanhei-te, não foi? E depois, não é? Já ambos o fizemos e sabemos que não há mal nenhum nisso. Toda a gente tem direito ao seu momento a sós, ou de partilha doseada e nada disso mete em causa a nossa relação de amizade. Simplesmente estava-se bem assim naquele dia. Da mesma maneira que temos aqueles amigos de verdade em que os silêncios não são constrangedores, a introspecção de cada um também deve ser sagrada.

Detesto aquela conversa do "antigamente é que era bom", mas, uma coisa é certa, dantes a malta passava mais incógnita. Lá isso é verdade. Bem podes argumentar que basta, simplesmente, não tirar fotos, mas isso não seria natural, independentemente do uso a que cada um dá à sua rede social. O normal é uma pessoa andar à vontade sem cobranças, entendes?

Sim, no Facebook, até tens lá uma opção em que certas pessoas, escolhidas por ti, não vão ver determinado post, ou achas que não andei já a ver como é que isso se faz? E se calhar tu também. Mas, mais uma vez, porque raio é que uma pessoa não pode andar à vontade? Pronto, era só isto. E, já agora, se vieres cá, diz qualquer coisa. Ou não.


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