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Vice Blog

Os Pixadores de São Paulo Ainda Querem Justiça

Pela segunda vez os adeptos do pixo prostestaram pelas ruas da cidade pedindo justiça aos dois pixadores mortos pela Polícia Militar ano passado.

Foto por Guilherme Santana/VICE.

Perto das oito horas da noite da última quinta-feira (11), um pedido de justiça ecoou entre os prédios do centro de São Paulo. Os pixadores da cidade caminharam pela segunda vez pelas ruas do centro com a cara e a coragem de quem é marginalizado todos os dias, clamando pelo fim da Polícia Militar e da violência contra os adeptos do pixo. Em 31 de julho do ano passado, a PM matou dois pixadores no alto de um prédio no bairro da Mooca . Desde então, eles têm se mobilizado para pedir a punição dos responsáveis .

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Foto por Guilherme Santana/VICE.

Os policiais Adilson Perez Segalla, Amilcezar Silvar, André de Figueiredo Pereira, Danilo Keity Matsuoka e Robson Oliva Costa, acusados de assassinato, foram presos e, pouco tempo depois, soltos. As famílias de Alex Dalla Vecchia (conhecido no pixo como ALD, dos JETS) e Ailton dos Santos (Anormal) fizeram barulho, e o processo continuou correndo. Os PMs foram presos novamente, mas ganharam a liberdade em maio deste ano, após 19 dias de cadeia, alegando serem vítimas do acontecido. A decisão da Justiça indignou familiares e amigos, que resolveram voltar às ruas para protestar.

Foto por Guilherme Santana/VICE.

Cerca de 60 pessoas saíram da Galeria Olido com faixas, lágrimas e palavras de ordem. Érica Ferreira, ex mulher de Alex, estava lá acompanhada dos filhos: "A gente tá aqui correndo atrás, a gente não quer os policiais soltos. Só porque tá fardado, vai ser solto?", indignou-se.

"Se meu filho e o Nani [Ailton] tivessem atirado neles de verdade, mesmo que não tivessem matado ninguém, estariam presos", diz Mara, mãe de Alex e avó de seis filhos do pixador. Os meninos vestiam camisetas com o pixo do pai, JETS, e disseram que querem que os policiais sejam presos, "porque eles mataram meu pai". À frente do protesto, as duas mulheres e as crianças puxavam ecos de justiça, enquanto pixadores pediam "Abaixo a repressão, pixador não é ladrão" e "Assassinos na cadeia".

Foto por Guilherme Santana/VICE.

Alexandre Alves, um dos organizadores da segunda manifestação de pixadores, acredita que não existe diálogo com as autoridades. "A relação é bem distante: a gente não tem como se aproximar. Eles ficam lá nos gabinetes deles e a gente, na rua", ele conta. Nesse ponto, as opiniões foram bem unânimes: não tem muita conversa com quem está no poder. Para Danilo, conhecido no pixo como Dan Dan, "o diálogo é aquilo que a gente deixa ali no muro pra eles".

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Foto por Guilherme Santana/VICE.

Bianca Amorim (que assina B3R) afirma que o pixo é uma arte expressada sem pedido de licença. "Se você acha certo ou errado pixar a casa de uma pessoa, se você só pixa banco, empresa, [isso] varia com a sua ideologia, mas é uma expressão de arte que pode ser coberta depois ou não. Mas [o pixo] é justamente para afrontar, porque, não ocupado aquele espaço [qu]e tem alguma coisa a ser dita, então ele [o artista] ocupa", ela explica.

Foto por Guilherme Santana/VICE.

Para ela, a violência contra os pixadores é um reflexo da situação que já se vive na cidade: de como os movimentos de rua já se sentem oprimidos pela polícia. Com pixador é pior, porque "é uma parcela criminalizada, como se fosse bandido, então já tem essa visão diferente pra cima deles, e a polícia da nossa cidade, acho que do Brasil todo, se sente no direito de tirar a vida das pessoas por qualquer coisa que seja", opina Bianca.

O trajeto do protesto foi curto e durou uma hora. O momento mais tenso foi quando os manifestantes fecharam por cerca de meia hora o cruzamento da Rua Xavier Toledo com a Praça Ramos. Ali, o clima ficou pesado. A polícia apareceu e até parecia que ia dar ruim. Os carros começaram a dar meia volta quando perceberam que não conseguiriam passar pela Praça Ramos.

Foto por Guilherme Santana/VICE.

Já na Xavier de Toledo, via de mão única, não tinha por onde se fugir. O som das buzinas ecoava em meio aos pedidos de justiça. Quando a polícia se aproximou, a palavra de ordem passou a ser contra os fardados: "Não acabou, tem de acabar, eu quero o fim da Polícia Militar".

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Fotos por Guilherme Santana/VICE.

O cruzamento foi liberado antes de qualquer treta e o protesto seguiu caminho até a Avenida São João. Lá, a polícia ficou apenas observando enquanto a avenida era tomada pelos manifestantes, que caminhavam de volta para a Galeria.

Foto por Guilherme Santana/VICE.

Esse foi o segundo protesto encabeçado por pixadores em São Paulo. Rogério, que se diz um dos donos do grupo RGS, promete que haverá mais: "Enquanto não houver justiça, a gente vai estar na rua. Se a gente parar, morre nosso movimento".

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