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Música

Falamos com o Cara que Vestiu uma Camiseta de Banda Nova Todos os Dias por 1.000 Dias

E entre sua coleção estão os clássicos Smiths, Descendents, New Order, Devo e até a Lily Allen.

Isac Walter tem um bocado de camisetas de banda. Atualmente o número gira em torno de 3.000, embora ele admita que nunca contou. Walter é a mente figurinista atrás do Minor Thread – o trocadilho punk rock perfeito – um blog que combina a paixão de Walter pela música com sua sede sem fim de conseguir camisetas de bandas.

O Minor Thread começou quando Walter quis ver se ele conseguia vestir uma camiseta diferente de banda de sua coleção por 500 dias seguidos. Ele atingiu esse objetivo facilmente, e decidiu continuar até o milésimo dia; ele agora atingiu bem mais que isso. Quando pergunto quantos dias a mais ele tem de projeto, Walter diz que tem pelo menos 2.000 peitas que ainda não vestiu, e ele continua a adquirir mais. “É potencialmente um projeto sem fim”, ele me conta por telefone de sua casa em Silver Lake, Los Angeles.

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Walter tem trabalhado no meio musical a vida inteira. Ele começou trabalhando numa loja de discos aos 20 e poucos anos, depois seguiu por vários trabalhos em gravadoras, chegando finalmente ao papel de editor-chefe no site musical do Myspace de 2005 a 2011. Hoje em dia ele faz supervisão musical, mas está levando na manha a princípio, gastando boa parte de seu tempo a seu projeto apaixonado de colecionar camisetas.

Em seu blog, Walter dispara um fluxo de consciência sobre a camisa que está vestindo, sua relação com a banda em questão, e qualquer minúcia musical que passe pela cabeça dele (sobre Tommy Lee tocando com os Smashing Pumpkins: “você realmente quer o cara que enfia o pau dele num burrito pra tirar o cheiro de boceta – de modo a não ser ganho por trair – na sua banda?”). O blog é salpicado de erros, e ainda que o controle do teclado de Walter seja fraco, você não consegue evitar de ser arrastado por sua paixão profunda e conhecimento enciclopédico do chamado punk rock dos anos 90. Falamos com Walter sobre onde sua paixão por camisas de banda começou e pra onde ele vê este hobby o levando:

Noisey: Conte sobre a primeira camiseta de show que você comprou.
Isac Walter: Essa é difícil, não sei se consigo voltar atrás da primeira. Tudo começou porque eu ia a um show de graça e comprava uma camisa da banda pra apoiá-los porque eu consegui entrar no show na malandragem. Então sempre me sentia, “oh, darei algum dinheiro a eles, vou comprar algum merchan deles”. Essa é a melhor maneira de colocar dinheiro diretamente na mão da banda pra gasolina, comida etc. Ainda vou a shows regularmente, ainda entro de graça, então ainda compro camisas. Na verdade eu provavelmente lembro. Foi uma camisa do Devo, de quando saiu o New Traditionalists. É uma camisa verde-gasolina horrível com mangas pretas e uma imagem dum astronauta nas mangas. Era 1981. É a que eles estão usando na capa do álbum, e eles a venderam no show. Eu não a tenho mais, infelizmente.

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O que aconteceu com ela?
Camisas alargam, ou mancham. Quando você tem uma porção de camisas, elas te escapam. As pessoas as roubam. Culpo uma porção de ex-namoradas. Sabe, elas são tipo, “amo essa camisa, vou usar.” Daí de repente ela desaparece.

Qual camisa você teve por mais tempo, então?
Provavelmente foi uma camisa do Descendents que eu comprei pelo correio. Eu trabalhava nesse lugar de frozen yogurt em Sacramento, e eu roubava dinheiro de lá e pedia coisas pelo correio. Sou uma pessoa má. Essa era a única maneira de conseguir merchan naquela época, além de estar no show de fato. Então eu pedia coisas dos catálogos de venda pelo correio ou diretamente das bandas. Era uma camisa dos Descendents da turnê de 86. Não consegui ir ao show, mas pude apreciá-los através da camisa.

Você mencionou em seu blog que uma das partes favoritas desse projeto é a história e o processo de arquivo que tal projeto desencadeia. Por isso, qual é a memória mais sentimental que você liga a uma camiseta de banda?
Toda camisa que você pega de um show que é um show devastador de verdade é uma dessas pra mim. É difícil definir, existem tantas pequenas memórias de cada evento distinto. Existem camisetas das quais tenho memórias que não se relacionam a ter ido ao show. Tem uma camisa do Cokie the Clown do NOFX que me lembra dessa ocasião em que passei o dia inteiro curtindo com o Fat Mike em Austin, Texas. Ele estava basicamente sendo cru e honesto sobre a vida dele. Acho que ele normalmente é assim, mas nunca tinha experimentado isso em primeira mão. Daí ele fez um show no SXSW onde ele fingia mijar nos shots de tequila e os dava pro público.

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Tem também essa camisa do Strangeways, Here We Come, que é o meu álbum favorito dos Smiths. Quando moleque eu tinha esse cassete no meu primeiro carro, e ficou preso no meu toca-fitas. Então todo o dia no caminho pro segundo grau e voltando era tudo o que escutava por um ano, até que o toca-fitas por fim mastigou a fita. Então quando ouço esse álbum, isso automaticamente me faz sentir como se estivesse dirigindo pra escola novamente, e consigo sentir o cheiro do interior do meu carro e visualizar o caminho pelo qual dirijo quando veja essa camisa.

Onde você encontra a maioria das suas camisetas?
Diria que 75 por cento da minha coleção eu compro em shows. Também compro algumas no eBay. Tô sempre tentando rastrear camisas de shows que eu fui e que eu tinha mas perdi pelo caminho. Por exemplo, há algumas semanas atrás eu vesti essa camisa do Green Day de um show do dia dos namorados (nos EUA, 14 de fevereiro) em 1992. Lembro-me perfeitamente de ter essa camiseta, mas era feita nessas camisas brancas horríveis que você compra num atacadista ou algo do tipo, que custam US$ 5 o pacote com 3. Acho que ela se desintegrou. Daí acontece de ver uma no eBay, então eu compro. Ocasionalmente eu refaço uma camisa que não existe ou que custa 500 conto no eBay ou algo parecido, pra que eu tenha uma cópia dela.

Então você jamais gastaria US$ 500 numa camiseta vintage perfeitamente envelhecida dos Rolling Stones? Qual foi o máximo que você já gastou numa camisa?
Rastreei e comprei uma camiseta do primeiro show de punk rock que eu fui, do 7 Seconds. Foi US$ 120 mas valeu a pena. Foi o primeiro show de punk rock que eu fui, na oitava série, então era bem importante que eu a tivesse. E mais, os Rolling Stones não tem significado algum pra mim. Não é cagar pros Rolling Stones. São uma grande banda, mas não tenho relação pessoal alguma com eles. No entanto, digamos, uma banda como o Green Day, a quem vi 35 vezes na Gilman Street [uma casa de punk rock em Berkeley, CA] enquanto eu crescia, eu tenho mais que uma relação.

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Como colecionador, quão importante é a raridade de uma camisa pra você? Se uma camiseta tem um desenho incrível, mas foi produzida em massa por uma loja de departamentos, você ainda a compraria?
(Zomba alto) Definitivamente a menosprezaria. Se algo está sendo reimpresso numa escala em massa e sendo vendido numa loja de departamentos, não é mais especial. Agora, se a própria banda diz, “Vamos reimprimir essa camisa de 86, e só vamos fazer 200”, isso é meio que especial novamente.

Existem camisetas que você queira vestir mais vezes que outras?
Infelizmente, uma vez que estou neste projeto não volto a uma camisa em 1052 dias. Geralmente eu as lavo e as penduro pra secar, daí as enfio numa vasilha plástica e a guardo no porão até que eu tenha que voltar. Só coleciono camisetas que me sirvam, o que é lamentável às vezes, porque se você quer uma camisa bem legal dos anos 80, é quase impossível encontrar algo que seja um tamanho grande de hoje em dia. Uma extra grande de 1980 é como uma pequena, por algum motivo. Camisas não eram tão importantes naquela época. Acho que o critério pra uma camiseta em 1980 era ter dois buracos pros seus braços, um buraco pra cabeça e uma saída pro corpo. E é isso aí.

Há alguma marca que faça as melhores camisetas?
Sou de uma geração mais antiga, que gosta de uma camisa mais grossa e um colarinho maior. Sei que a molecada crescendo hoje em dia tem uma ideia bem melhor do que uma camiseta é. É tudo relativo. Uma 50/50 é a camisa perfeita – metade algodão, metade poliéster. Algo que envelheça um pouco, mas que resista ao teste do tempo. Eu prefiro uma camisa Fruit of the Loom comum. Uma camiseta da American Apparel não vai envelhecer do mesmo jeito. Não se parecerá com uma camiseta vintage em 20 anos. Só vai estar estranhamente esgarçada.

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Você tem alguma camisa que usa ironicamente, de bandas com as quais você não se importa?
Diria que a coisa mais próxima que tenho disso seria uma camisa do R. Kelly. Ele é questionável pessoalmente, mas existem algumas canções dele das quais eu realmente gosto. Acho que ele é um grande entertainer, mas não conseguiria listar o catálogo inteiro do R. Kelly do começo ao fim. Eu na verdade tenho uma camisa do Kanye West, e eu não o suporto.

E a sua camiseta da Lily Allen?
Verdade. Mas eu coloco naquele show, que é a única razão de ter essa camisa. É de um show que fiz quando estava trabalhando no Myspace.

De todas as coisas que as pessoas colecionam, camisetas são definitivamente as menos assustadoras. Não é como ter caixas das Cabbage Patch Dolls (Bonecas Repolinho, no Brasil) guardadas no seu porão.
Isso é verdade, eu não tenho um case de vidro em casa. Eu só as mostro no meu corpo um dia e depois vou pra próxima.

Como você se sente em relação às regras de etiqueta das camisetas de show?
Nunca ouvi falar nelas.

Bem, a Regra Número 1 é que você não deve usar a camiseta da banda em seu próprio show. E a Regra Número 2 é que se você comprar uma camisa no show, não a coloque em qualquer circunstância no mesmo show.
Sigo esta regra religiosamente. É como chegar no show da banda que você vai ver com o som do carro a todo volume. É tipo, “Só, saquei. Você gosta mesmo dessa banda. Tá neurótico pra vê-los”. Não faço isso, porque não quero ser Esse Cara. Mas eu sou o cara que vai a um show do Slayer usando uma camisa do R. Kelly e não penso duas vezes sobre isso. Não dou a mínima.

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Hahaha! Uma vez usei uma camisa do Bad Religion num show do Coldplay. De quem você diria que tem mais camisas?
Sem sombra de dúvida dos Descendents. Além de serem uma das minhas bandas favoritas, eles realmente têm a manha do merchandising deles. Eles fazem uma camiseta pra um show em específico, e aí ela esgota, e é isso aí. “Oh, não vou comprar essa camisa”, aí você perdeu a chance, e vai ficar pra sempre na tua cabeça. Dá aquela sensação de – qual é a sigla?

FOMO?
Isso. Fear of missing out [algo como “medo de deixar passar”].

Você consegue listar rapidamente suas cinco bandas favoritas de todos os tempos?
Não tenho cinco, mas tenho três que posso destacar facilmente. Descendents, New Order e The Smiths. São bandas que ouvi enquanto crescia e que ainda aprecio. Ainda as escuto hoje tanto quanto as escutava quando era adolescente.

Última pergunta. Em 20 de março de 2014 você usou uma camisa do Drive Like Jehu fantástica. Você já visitou o Donut Friend, cujo proprietário é Mark Trombino, baterista da banda?
Com certeza. Sou um grande fã de Jets to Brazil. É como comer um Snickers com garfo e faca. Leva os donuts a um outro nível.

Isabel Slone é uma jornalista de moda vivendo em Toronto. Ela está no Twitter.