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Música

Sisqo: o Dragão Reaparece

Será que o músico tem o merecido reconhecimento por ter sido tão visionário lá em 2001?

Sisqo em Halifax – Foto cortesia de Martin Blais/Aggro Photography Esse artigo foi originalmente publicado pelo Noisey Canadá.

Se você nasceu depois de 1995, provavelmente não tem, assim, uma super familiaridade com o Sisqo. Para os que acham que ele talvez seja algum tipo de app de produtividade, aqui vai uma curta biografia: Sisqo foi um dos artistas mais quentes do R&B do início dos anos 2000, depois de chamar a atenção ao surgir com o grupo de R&B Dru Hill. Ele ganhou um Grammy por "Thong Song", de seu primeiro disco solo, Unleash the Dragon, de 1999, e colaborou com todo mundo, desde Lil Kim e DMX até Will Smith, no início dos anos 2000. Ele apareceu na telinha e na telona por alguns anos, atuando na comédia romântica Volta por Cima, e num episódio de Sabrina, Aprendiz de Feiticeira. Quatorze anos depois de seu segundo disco, Return of the Dragon, o cantor de cabelos prateados, nascido em Baltimore, lançou recentemente Last Dragon, a terceira e última parte da sua trilogia do dragão.

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Sisqo escreveu a faixa ardilosamente devassa "How Many Licks" junto com a Lil Kim, uma música que traz alguns dos versos mais sacanas já criados pela diva do rap até hoje. Ele também expandiu as fronteiras do que era considerado aceitável na cultura pop num ritmo quase que explosivo. Sua ode às roupas íntimas apareceu numa época em que os clipes eram transmitidos na TV, e assim alargou os limites do que se podia ver na telinha.

Mas, além de algumas participações televisivas no

Big Brother UK

e em

Wife Swap

, Sisqo se manteve basicamente distanciado da atenção do público desde 2001. Então, quando foi anunciado que ele viria a Halifax para fazer um show junto com Choclair e Ma$e (que não compareceu), decidimos pedir que ele nos contasse o que andou fazendo nos últimos 14 anos. Agora com 37, Sisqo – cujo nome de batismo é Mark Andrews – vestia um traje preto e dourado, usando na cabeça um boné com as palavras "A List" bordadas em dourado, uma referência ao seu single recente com Waka Flocka Flame e sua primeira investida na música estilo "turn up". Em pessoa, ele é expansivo e caloroso, e parece não ter envelhecido nada. Sisqo diz que, desde que sumiu, tem trabalhado discretamente com música, enquanto observa o crescimento da sua própria influência sobre a cultura R&B contemporânea.

"As pessoas me olhavam de um jeito insano no início", diz ele. "Eu estava fazendo tudo o que podia para ser um visionário. As pessoas olhavam torto para algumas coisas que eu tinha feito. Tipo, quem é esse garoto negro com cabelos loiros? Mas agora o lance é esse. Se o seu cabelo não está tingido de alguma cor diferente, agora as pessoas te olham como se você fosse maluco."

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"O que hoje é considerado música R&B, o negócio de cantar, o negócio do rap, eu contribuí para transformar isso em mainstream, e agora quando sou eu que faço, as pessoas ficam tipo: 'ah, ele está tentando pagar de…', e eu falo: não são eles que estão tentando me imitar? Será que o verdadeiro Slim Shady poderia se levantar, por favor?", ele ri. Embora Sisqo pareça uma vítima da síndrome do estrelato-de-um-hit-só, ele deixa claro que seu desaparecimento gradual foi de propósito, de modo que ele pudesse manter sua integridade. Ele brigou com a própria gravadora por conta dos singles do seu segundo disco, e sofreu pressões para recriar um hit como "Thong Song" em 2001 com "Can I Live?" – que fracassou, chegando à 72ª posição do ranking Hot R&B/Rap da Billboard, e não aparecendo em mais ranking nenhum.

"Muitas das decisões que tomei em termos das pessoas não me verem mais no mainstream foram os sacrifícios que tive que fazer para realizar alguma coisa", diz ele. "No fim das contas, o que eu quero essencialmente é fazer música de qualidade. Mas acho que a pessoa pode chegar num estágio em que os negócios interferem na música. Com exceção de alguns artistas, agora tudo é uma questão de quantidade sendo colocada acima da qualidade. Eu não queria soltar um monte de coisas só porque sim. Tenho milhões de músicas guardadas por aí, mas acho que isso é irresponsável para com os seus fãs e para com a sua música. Não queria virar um vendido para poder continuar aparecendo nas câmeras. Isso é falsidade, prefiro tomar o caminho mais longo e encontrar você do outro lado." Continua abaixo

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Ele me conta que tinha problemas com ser estereotipado ou hiperproduzido. Diz que estava à frente do seu tempo em músicas como "Infatuated", que, segundo ele, tem um som perfeito hoje, e é uma faixa classificada por Lenny Kravitz como genial. Mas sua gravadora a jogou para escanteio e escolheu promover "Dance With Me" em vez dela. "Aquela música saciou a sede que o distribuidor queria. E eu disse: 'Quer saber? Não preciso disso tanto assim. Vocês fiquem aí brincando com isso enquanto vou ali pro meu canto fazer música de verdade."

Sisqo passou uma década trabalhando em novas músicas, produzindo duas versões completas de

Last Dragon

antes do lançamento final, porque queria que fosse uma novidade, mas não algo bizarro demais. A faixa com Waka Flocka Flame foi a sua maneira de explorar os gostos atuais. "Ainda estamos no negócio da música, então tem que ser uma coisa identificável, de algum modo, de alguma forma, em algum nível. Mas é assim que eu sempre fui enquanto artista. Estou só fazendo tudo o que posso para trilhar a linha que existe entre a música e os negócios. Nesse momento, sinto como se estivesse só começando."

"É preciso se dedicar de coração e alma à música", diz ele, refletindo sobre o seu tempo na indústria. "A música é uma coisa viva, e se você não está crescendo junto com ela, e se esforçando – uma coisa que eu sempre digo para quem tem vontade de cantar é que o lance de cantar é não ter medo de fazer merda. Quando você tem medo de fazer merda, vira uma marionete, e a alma é sugada para fora da música. E se a música não tem alma e nem paixão, o que ela vira, na verdade? Será que ainda é música? Ou só uma ferramenta? Não. Eu quero que a alma esteja sempre presente."

Adria Young é uma escritora que mora em Halifax - @adriayoung Tradução: Marcio Stockler