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Música

Julgando Meus Discos: Fat Mike, o Frontman do NOFX, Lista seus Lançamentos da Fat Wreck Chords

O CEO escolheu seus 10 discos favoritos entre os mais de 300 lançados pela gravadora.

Foto por Alan Snodgrass Em Julgando Meus Discos, nós conversamos com integrantes de bandas que acumularam discografias substanciais no decorrer dos anos, e pedimos que os classifiquem em ordem de gosto pessoal. A Fat Wreck Chords pode não ser uma banda, mas, se fosse, provavelmente seria um dos grupos de punk rock mais influentes do mundo. O clássico selo independente acumulou incríveis mais de 300 lançamentos desde que foi criado, em 1990. Para comemorar seu 25º aniversário, este ano, alguns dos grandes do selo, como Lagwagon, Strung Out, Swingin' Utters e outros vão partir numa turnê encabeçada pelo NOFX. O Brasil não entrou na lista, mas vai receber o NOFX no dia 12 de dezembro em São Paulo. De alguma maneira, conseguimos convencer o fundador da Fat Wreck a listar os top dez discos do seu selo.

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Mike também deixou bastante claro que não incluiria na lista nada que fosse dele (pode ser que Mike curta masoquismo, mas não curte egoísmo), porém, caso você esteja se perguntando, se fosse para incluir seus próprios discos, o Wolves In Wolves' Clothing, do NOFX, e Ruin Jonny's Bar Mitzvah, do Me First And The Gimme Gimmes, encabeçariam a lista. Ah, e Mike mencionou múltiplas vezes, durante a entrevista, que estava falando de dentro de uma gaiola, pelo celular.

Achamos importante não omitir essa informação. Para, sabe, dar um contexto.

Para saber mais sobre os fetiches de Fat Mike, veja nosso documentário [em inglês] sobre como foi fazer o seu musical, em que poderá ver uma cena dele levando chicotadas na bunda.

10. Hi-Standard – Growing Up (1996):

Noisey:

Na décima posição, Growing Up.

Fat Mike:

Sabe porque eu escolhi esse aí?

Por quê?
Porque vendeu 700.000 cópias.

Sério?
Sim. Bom, na verdade vendeu uns 100k pelo mundo e 600k no Japão.

Eu não tinha ideia de que eles faziam tanto sucesso por lá.
Você sabia que eles fazem um show por ano hoje em dia, no estádio gigantesco de beisebol que tem lá? Tem capacidade para 35.000 pessoas, e você tem que entrar numa loteria para conseguir os ingressos, porque eles esgotam rápido demais. Um show por ano e sempre aparecem 35.000 pessoas.

Isso até hoje?
Ah, sim. Eles soltaram um EP de quatro faixas pelo selo deles no Japão, e venderam 800.000 cópias. E sabe o que fizeram? Se separaram. Não lançam um disco tem uns 14 anos, mais ou menos. Eles chegam a fazer algum show nos EUA?
Sim, saíram em turnê com o NOFX. Banda inteligente, tocam sets de 20 minutos toda noite. Porra, genial. Se você toca mais de 20 minutos abrindo show para os outros, você é um retardado. Então o público vai no próximo show seu, porque gosta de você, porque não rola ódio por ter tocado por tempo demais.

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9. American Steel – Destroy Their Future (2007)

Amo esse disco, é sensacional. É uma banda da qual muitas bandas herdaram o som, como o Against Me!; eles meio que fundaram esse som bizarro, esse som sei lá. A palavra devia ser “Steal” em vez de “Steel”, né? Mas colocaram os dois Es. Que caralhos significa isso? Imbecis.

O que você gosta no disco?
É foda. Eu adoro as músicas. Escuto muito esse disco. Vendeu dezenas e dezenas de cópias.

Por que acha que não vendeu mais?
Porra, não faço a mais mínima ideia. É difícil vender os discos de uma banda que já está aí há dez anos. As pessoas gostam muito de descobrir bandas novas. Veja a Only Crime: tem integrantes de bandas como Descendents, Good Riddance, e Rise Against, mas ninguém quer comprar. Eles querem comprar [lançamentos] dessas outras bandas que mencionei. É tipo o Damn Yankees: as pessoas não gostam de bandas de astros do rock ou de astros do punk rock, querem uma banda novinha em folha. The Gimmes deu certo não por ter famosos, mas porque o Spike é incrível.

8. Strung Out – Twisted by Design (1998):

Esse foi o último disco que Jim Cherry fez com o Strung Out antes de morrer, e, na minha opinião, é o melhor disco da banda. Algumas músicas são sobre S&M e látex; fui eu quem levou o Jim ao primeiro clube de sadomasoquismo da vida dele, em Hamburgo, e ele começou a curtir a parada, e acabou se casando com uma dominatrix, e todos os seus sonhos viraram realidade. Aí eles se separaram, e certa noite ele me ligou com uma arma apontada para a própria cabeça e disse: “Mike, obrigado por tudo o que você fez por mim, mas pra mim acabou, vou me matar essa noite.”

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Eu falei: “Não! Não faz isso” e fui correndo pra lá, e levei ele para a reabilitação e deixei ele sóbrio. Eu disse: “Cara, se você realmente se importa comigo e é grato pelo que fiz, então, porra, não se mate agora” – e ele foi para a clínica e ficou sóbrio durante quatro meses e meio, e aí teve um ataque cardíaco. Não foi causado por drogas, mas sim porque usou drogas demais no passado. Uau.
Que tal essa, hein?

Eu não sabia de nada disso.
Sim, o Jim era um cara bastante incrível. Uma coisa mais: o motivo do Strung Out ter assinado com a Fat Wreck Chords é que eu estava em cima do muro, e Jim me ligou e disse tipo: “Cara, dá pra dizer se você vai fechar ou não com a gente, porque não tá dando para aguentar, tá foda”. Aí ele disse: “Meu pai é dono de uma empresa de carpetes, chego aí e ajudo a colocar carpete no seu apartamento se você assinar com a gente”, e eu falei “fechou”. [Risos]

É sério?
Sem sacanagem, então eu fechei contrato com o Strung Out porque o Jim colocou carpete no meu apartamento. Pode perguntar ao [vocalista] Jason [Cruz], porque ele foi o outro sujeito que fez o serviço também.

7. Lagwagon – Trashed (1994)

Fui o produtor dos três primeiros discos deles, e eu e Joey [Cape] trabalhamos em Trashed juntos por tipouma semana; o [falecido baterista] Derrick [Plourde] compôs um monte das músicas, mas ele compunha só a música, então nós escrevíamos um monte de letras em cima das músicas dele. Acho que esse foi o primeiro disco que captou o som do Lagwagon, e simplesmente adoro.

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Quando entre

stei Joey Cape para essa série

vi, ele listou Let's Talk About Feelings como o seu favorito pessoal.

Sim, esse é melhor, só que eu gosto mais de Trashed. Além disso, o Derrick estava nele, e era um sujeito incrível. Sabe aquela música nossa, “Door Nails”? O primeiro verso diz “esses dois shots são para o Derrick”, e parece que é “vamos beber esses dois shots em homenagem ao Derrick”, mas ele se matou com dois tiros na cabeça, na cama dos pais. [A letra completa é] “esses dois shots são para Derrick/ de rifle, não de revólver”, porque ele compôs aquela música “Rifle” e se matou com um revólver.

Que coisa sinistra.
Essa talvez seja a letra de música minha mais intensa. De qualquer forma, depois que o Derrick saiu do Lagwagon, ele foi preso por porte de drogas, e teve que ir para a cadeia, e ficou dizendo: “A vida é uma coisa tão bizarra, cara, estou na cadeia e não estava fazendo nada a ninguém. Só estava de bobeira, usando drogas, porque gosto de drogas e tenho dinheiro para comprá-las”, e os policiais deram busca na casa dele, e ele tinha uma coleção de ácido. Ele costumava colecionar doses de ácido, e a polícia flagrou. Porra! Ele ficou falando: “Eu nem tomo essas porras, é só uma coleção!” [Risos]

6. Vários Artistas: Rock Against Bush Vols. One & Two (2004)

Pouca gente chegou a ver os DVDs, e eles são hilários. Will Ferrell, David Cross e Patton Oswalt soltaram umas porras engraçadas pra caralho. Tipo, dá pra ser mais massa que isso?

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Você tem algum favorito entre as duas compilações?
Não lembro de quem está em qual, mas o que é maneiro é que aqueles foram os meus um ano e meio de cumprir o dever de cidadão; chamei todas as bandas que conheci ao longo dos anos e disse: “Me dá uma música, porque estou fazendo uma coletânea para lutar contra Bush”, e todo mundo contribuiu. Achei incrível que todas essas bandas tenham dito “claro, Mike, sim, estamos dentro.” Dropkick Murphys, Green Day, Bad Religion… Foo Fighters e No Doubt participaram – e esses dois últimos grupos não são bandas punk, mas são roqueiros punk em uma banda – e a diferença está aí.

O que você acha que torna os punks diferentes dos outros músicos?
Os punk rockers são muito mais maneiros que qualquer um, porque posso telefonar para o cantor da banda e dizer: “Ei, cara, pode fazer uma música como um favor para mim?”, e a música sai. Isso não rola em outros estilos de música. Arrecadamos mais de um milhão de dólares para a campanha de John Kerry vendendo aquelas compilações por tipo uns cinco dólares. Vendemos uma caralhada deles; entreguei um para o John Kerry e ele falou tipo: “Maneiro isso, vou ouvir no jatinho”.

5. Propagandhi – How To Clean Everything (1993)

Esse disco meio que definiu pela primeira vez o som da Fat, e, em termos musicais e de letra, era superiora tudo na cena punk. Ou em qualquer outra cena, acho eu.

Você quem produziu, certo?
Sim, eu que produzi. Esse caso é engraçado, eu tinha a demo do Ill Repute e a demo do Propagandhi, e achei que o Ill Repute provavelmente venderia mais, porque eles são uma banda punk das antigas, mas meio que gostei do Propagandhi. Mostrei as demos para o Lagwagon, e o Joey disse: “Vai no Ill Repute” e decidi ir no Propagandhi. [Risos] Gravamos em West Beach em tipo uns cinco dias, usando um amplificador Crate e alguma guitarra de metal, e o som desse disco ficou foda pra caralho. Tudo nele ficou excelente. Todas as músicas, todas as letras, todos os acordes. Eles tocaram acordes que mais ninguém tocava, e esse foi o disco que me influenciou a compor Punk In Drublic, com certeza.

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Sei que a banda adorou a arte de capa.
[Risos] Eles me mandaram a pior arte de capa, tudo que eu fiz foi colorizar. Eles me disseram que nem entraram com a arte de capa, esqueceram de passar para você e então você foi lá e inventou.
Não, não, eles me deram aquela capa, mas era um desenho pior, e em preto e branco. Era tipo um desenho a lápis, então eu disse: “Tá certo, essa é a ideia de vocês, deixa eu só colocar uma cor aqui.”

Isso é bem a cara do NOFX. Eu imaginava que o Propagandhi fosse mais organizado.

Sim, mas eles eram garotos. Chegaram a Los Angeles, e era a primeira vez deles num aeroporto, então eles estavam frenéticos. Colocamos eles no estúdio e acho que o Guns N' Roses também estava lá naquele dia, e eles piraram, porque nunca tinham saído de Winnipeg antes. Lembro que viram Wayne Gretzky no aeroporto, eles estavam pirando.

4. Frenzal Rhomb – Sans Souci (2003)

O Frenzal Rhomb é a banda mais subestimada do selo, mas eles ganharam três discos de ouro na Austrália, são os caras mais engraçados que conheci na vida e aquele disco é genial pra caralho. O cantor fez um stagedive num show do NOFX lá e quebrou a clavícula. Ele teve um ataque cardíaco e, depois, eles soltaram umas filipetas dizendo: “Compre o novo disco do Frenzal Rhomb antes que o nosso cantor, Jason, morra.” Puta merda, genial! É um disco muito bom, é bom pra caralho.

Eles também parecem definir o som da Fat naquela época.

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As pessoas dizem que eles são o NOFX australiano, mas eles são mais engraçados do que a gente, são músicos incríveis, e compõem umas músicas inacreditavelmente fodas. Tem um Howard Stern na Austrália, e ele tirou uma semana de férias, então puseram o cantor e o guitarrista do Frenzal Rhomb como interinos durante essa semana – e eles mandaram tão bem que o Howard Stern foi demitido e eles viraram os maiores apresentadores de rádio do país, e isso continuou por dez anos.

3. Snuff – Demmamussabebonk (1996)

A banda acabou [em 1991], e quando a Fat começou a pegar ritmo, pensei “caralho, vou ligar pro pessoal doSnuff e ver se eles não querem voltar com a banda.” Conheci o [baterista/vocalista] Duncan [Redmonds] quando ele saiu em turnês com os Guns N' Wankers e eu falei tipo: “Duncan, porque você não faz uma reunião do Snuff?”, e ele respondeu “nem, esse trem já foi embora”. E então eu disse “pago cinquenta conto”, e ele “beleza, o disco sai em três meses”. [Risos] Embora eu ame o disco do Guns N' Wankers, o disco do Snuff é superior.

2. Western Addiction – Cognicide (2005)

Você não vai acreditar qual ficou em segundo lugar: Western Addiction, Cognicide. É o disco perfeito de hardcore, o som dele é exatamente como devia ser o som hardcore antes que as bandas de metal da Costa Leste [dos EUA] tomassem o termo para si. Hardcore é Minor Threat e The F.U.'s, Bad Brains, Bad Religion e Circle Jerks, eles inventaram a porra do termo. Não tem nada a ver com metal. Estou falando sério, Cognicide é um dos melhores discos de hardcore que ouvi na minha vida, e já escutei esse disco cem vezes.

1. Tony Sly – 12 Song Program (2010)

Era o disco que eu sempre botava para transar ou depois dos shows, era ele que eu ouvia. Agora eu e [minha noiva] Soma [Snakeoil] não conseguimos mais ouvir, é muito deprê. Tem uma música que tocamos depois do sexo [ouvindo a música] e agora ela faz a gente chorar, então não conseguimos ouvir.

Você gosta desse disco mais do que das coisas que você soltou com o No Use For A Name?
Sim, de verdade. Para que fique registrado, eu adoro Hard Rock Bottom, More Betterness! e ¡Leche Con Carne! – fui o produtor [de ¡Leche] e ajudei com algumas daquelas melodias, então esse significa muito para mim também. E também porque foi meio o que colocou a Fat Wreck Chords no mapa. Mas o 12 Song Program, do Tony Sly, esse disco é foda pra caralho. Ele era o melhor criador de canções da Fat Wreck Chords.

O lançamento da Fat Wreck preferido de Jonah Bayer é 'Less Talk, More Rock'. Se você discorda, debata com ele no Twitter.

Tradução: Marcio Stockler.