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Música

O Ghost Fez o Melhor Álbum de Metal Satânico Para as Massas

Conversamos com um dos Nameless Ghouls da banda sueca sobre o novo álbum, ‘Meliora’.

O Ghost é uma das bandas de rock ocultista para as massas mais legais dos últimos tempos. O grupo é formado por seis integrantes anônimos: cinco deles, instrumentistas, são os Nameless Ghouls, liderados pelo vocalista, um anti-papa com a cara pintada num style caveira. A essa figura, cujo crânio é adornado por uma mitra com a estampa de uma cruz invertida, eles chamam de Papa Emeritus. A cada álbum, um novo Papa assume, e dá início ao seu papado. O grupo sueco, da cidade de Linköping, estreou há cinco anos com o álbum Opus Eponymous.

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O som mistura várias referências do metal, tipo Black Sabbath, Blue Öyster Cult, Pentagram e Mercyful Fate. Por essa você já conclui que as bases seguem uma linha de riffs clássicos e potentes. Daí as letras têm umas ideias satanistas, e, o clima do som, uma atmosfera de horror clérigo. O que arrepia é que eles fazem isso de um jeito muito melodioso e de fácil digestão. Certamente uma boa estratégia. O Diabo e seus artifícios. Em 2013, acertaram com a Universal e fizeram Infestissumam, apresentando uma sonoridade que escapa aos cerceamentos do metal.

Eles contam com uns admiradores e apoiadores famosos no rock de arena, como os caras do Metallica, o Phil Anselmo e o Dave Grohl (que produziu e tocou no EP If You Have Ghost). O Ghost acaba de lançar seu terceiro trabalho, Meliora. Aqui, parece que os músicos se ligaram que seria perfeito alcançar um equilíbrio entre o peso vintage que marcou o primeiro álbum e os experimentos viajantes do segundo. Missão cumprida: Meliora é uma obra-prima.

Consegui alguns minutos de conversa ao telefone com um dos Nameless Ghouls mascarados. E o papo a seguir foi o que rolou.

Noisey: Tem algo de singular neste álbum em relação aos dois anteriores, mas não sei exatamente descrever em palavras. É mais um clima, um espírito, do que um lance técnico. Vocês andam escutando coisas diferentes, que acabaram se refletindo no trabalho?
Nameless Ghoul: As influências são as mesmas. Nós basicamente optamos por enfatizar alguns elementos mais do que outros. E no final acabou ficando mais rocky, eu acho. Preferimos, desta vez, privilegiar os elementos mais rock do que os elementos progressivos, embora haja passagens do álbum que são insanamente progressivas. Essa pegada fica muito evidente nos shows que estamos fazendo atualmente, que são em sua maioria compostos por material novo. Tem muito mais músicas desse disco nos shows do que dos outros dois. A gente tem tocado, tipo, cinco ou seis músicas dos álbuns anteriores. E o repertório novo funciona muito bem ao vivo em comparação com os outros, em que algumas músicas não funcionam tão bem ao vivo. Um dos meus problemas com esse lance de gravar discos é que eu nunca os escuto depois de prontos. Eu escuto essas músicas todos os dias quando estamos fazendo shows, então acabo perdendo a vontade de ouvir o álbum propriamente dito depois. Esse ano eu o escutei uma vez por conta de alguma coisa relacionada ao trabalho de divulgação, mas a real é que eu nunca pego pra escutar, mesmo. Coloco lá na cesta de “objetivos consumados” e desencano.

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Retomando o lance da pegada do disco, uma coisa é certa, a gente escuta e dá uma brisada forte. A música te traga para dentro do universo da banda…
É, de fato o álbum está um pouco mais viajante, mais psicodélico. Mas não foi um resultado intencional. Acho que o álbum ficou com essa cara porque preferimos trabalhar, dessa vez, sem recorrer aos pitacos de produtores na elaboração das faixas. Na verdade, o que pega é que nós nos esforçamos para não o deixar tão viajante, justamente porque temos essa tendência natural de gostar de…. Como vou dizer isso?! …. Expandir a mente, um pouco, e isso acaba se refletindo em nossas músicas. E o produtor de Meliora, o Klas Âhlund, não queria nenhum tipo de interferência nessa parte, da gravação. E quando ele apareceu no estúdio, ele foi bem enfático no lance de que nós precisávamos estar mais focados no resultado. Por isso eu acho que este álbum acabou saindo mais centrado, mais equilibrado do que o anterior. Porque nós costumamos nos dispersar um pouco. Ele foi importante pra isso, pra segurar e manter o foco. No álbum anterior, tem as partes rock, lógico, mas tem várias passagens que as pessoas ficam, tipo, “que diabos eles quiseram fazer aqui?”

O processo de gravação e produção do Ghost é uma parada muito tensa, exaustiva? Quantos meses vocês ficaram enfurnados no estúdio pra concluir a obra?
Nesse álbum nós levamos cinco meses pra gravar tudo. Nas primeiras semanas, a gente gravava diariamente, de segunda a sexta. Com algumas exceções. Isso foi uma pré-produção, e depois embarcamos na fase de captação do som, que levou mais dois meses, gravando seis dias por semana. Aí veio a parte de incrementos, dobras, mudanças, tentativas de melhorar algumas partes, e no total deu cinco meses diretão. Ou seja, gastamos uma boa grana no estúdio.

Quando um novo Papa é nomeado, é natural que sua gestão traga um novo discurso, diferente do anterior. No Ghost vocês se preocupam em talhar um conjunto de valores, uma abordagem nas letras, pensando nas particularidades de cada um desses personagens que se revezam à frente da banda?
Tentamos mudar um pouco a abordagem, sim. Mas é uma espécie de evolução natural, e não algo que nós forçamos a barra para ser. Depois do primeiro álbum, já sacamos que, se a banda fosse progredir, seria importante que ampliássemos a abordagem no que diz respeito às letras. Há tantas bandas de rock babacas por aí cantando as mesmas baboseiras nas músicas que dá enjoo. Acreditamos que a mensagem é importante. E a nossa mensagem foca nas questões da condição humana, do homem e sua relação com Deus, mas de uma forma construtiva. Não queremos representar apenas uma banda alegórica de um ritual mascarado. A cada álbum, procuramos deixar o discurso mais sofisticado, falar desses assuntos de modo contemporâneo, para conseguir tocar as pessoas com um papo reto. Mas isso não nos exime de buscar referências no passado para construir um discurso com essa linguagem de religião. Resumindo, sim, mudamos de um álbum para o outro, e o Papa nomeado acaba representando essas pequenas particularidades de cada fase, nos seus próprios termos.

O que inspira o som do Ghost fora do universo musical?
Existe um escritor cujas ideias podem ser percebidas em nossas letras, o Oscar Wilde. Consigo ver muito daquilo que sinto a respeito do mundo espelhado nos escritos dele. Mas sempre fomos muito influenciados pelo cinema, e pela música que remete ao clima de trilha de cinema. É um clima que tentamos alcançar, de certa forma. Converso com você direto dos Estados Unidos, onde estamos em turnê, e é muito louco como a maior parte das coisas que sei sobre a cultura deste país veio do cinema. Eu realmente assisto a muitos filmes. E sempre que eu vejo um lago, ou uma casa específica, uma ponte, penso no cenário de um filme em que aquela paisagem apareceu.

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