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Música

A Reunião do Mineral Não É uma Viagem Nostálgica, É uma Banda Recebendo o que Merece 20 Anos Depois

Para muitos, o Mineral é mais do que só uma banda. É a trilha sonora oficial de cada conflito interno. Então, uma reunião depois de 17 anos, não seria qualquer coisa.
Emma Garland
London, GB

Junto com Sunny Day Real Estate e Toni Braxton, a música do Mineral tornou-se sinônimo de estar triste e sozinho, olhando melancolicamente pela janela do ônibus molhada pela chuva. Enquanto analisa todos os seus fracassos românticos, você ergue o indicador e desenha um rosto triste na condensação.

"I bring it on myself" ("eu faço por merecer isso"), lamentam os vocais de Chris Simpson por cima das notas de guitarra, manifestação sonora da sua alma se estilhaçando em tantos pedaços que até Voldemort se morderia de inveja. Porque, para muitos, o Mineral é mais do que só uma banda. É a trilha sonora oficial de cada fim de relacionamento, de cada conflito interno, e daqueles primeiros momentos de clareza que vêm a seguir. Então, quando no ano passado saiu o anúncio de que eles se reuniriam para fazer os primeiros shows em 17 anos, não foi pouca merda para gente que, como eu, depende quase que exclusivamente da música para se expressar.

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Até pouco tempo atrás, o Mineral era uma banda cristalizada no passado. A banda se formou no Texas, em 1994, e se dissolveu três anos depois, enquanto gravava o segundo disco, EndSerenading. Muito parecido com o caso dos companheiros e também recém-reunidos padrinhos do emo do American Football, o legado deles foi escrito, em grande parte, retrospectivamente, já que a banda acabou em pouco tempo. Muitos dos fãs atuais (inclusive eu) ainda mostravam os dedos quando lhes perguntavam a idade na época em que o Mineral encerrou o expediente, então a ideia de vê-los na vida real não passava de um sonho distante. Isto é, até que Jim Adkins, do Jimmy Eat World, acordou um belo dia, fez um telefonema, e mudou tudo.

"Encontrei com ele em Austin e tomamos um café, pusemos os assuntos em dia", Chris me conta em um saguão de hotel, poucas horas antes do show do Mineral no Underworld, em Camden – a última data da primeira turnê deles na Inglaterra. "Ele me telefonou alguns meses depois, dizendo que teve a ideia de fazer um show comemorando os 20 anos do Jimmy Eat World, em Los Angeles, junto com um monte de bandas ao lado das quais eles costumavam tocar nos velhos tempos. Acabou não acontecendo. Acho que era um plano ambicioso demais reunir todas aquelas bandas, que estavam espalhadas pelo país, algumas das quais há anos não faziam shows. Mas o Mineral já tinha começado a ensaiar. Então naquele momento a gente pensou, tipo: bem, talvez a gente deva tentar fazer uma turnê e tal."

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Dado que o Jimmy Eat World estourou num nível tal que hoje eles dividem palcos com a Taylor Swift, você está perdoado caso não saiba que as raízes da banda estavam no DIY do Meio Oeste americano, originalmente fazendo turnês e soltando splits com bandas como Emery, Christie Front Drive, Blueprint e Jejune. De qualquer modo, foi o fato de Adkins manter firmes as amizades o que fez o Mineral embarcar numa turnê curta pelos EUA em 2014, seguida por uma turnê europeia e uma série de shows em festivais este ano. "Com certeza fomos surpreendidos no início, nos EUA, com o tamanho e a energia dos públicos", diz Chris. "Estamos tocando para casas razoavelmente cheias, para pessoas que conhecem as músicas e querem ouvi-las, e essa energia é uma coisa única. Nunca tivemos isso antes."

Essa energia com certeza estava presente em Camden no dia 13 de fevereiro, em toda sua paixão suada/solidão amarga pré-Dia de São Valentim. As pessoas se amontoaram na casa de espetáculos lotada – ficando mais apertadas do que Jim Morrison ficava nas próprias calças, todas cativadas e no mais completo silêncio (quando não estavam cantando junto) pelo que pareceu ser a primeira vez desde a invenção do smartphone.

O estigma associado às bandas emo do Meio Oeste surgidas nos anos 90, como o Mineral, é de um abatimento de olhos turvos, o que é só meia-verdade. Para cada "Unfinished" que aparece às vezes, e faz você querer cair de cara numa pilha de sacos de lixo e dormir por mil anos, há uma "Gloria" que faz você querer sacudir a poeira e tentar outra vez, ou uma "February", que dá a sensação de que o sol está nascendo dentro do seu corpo.

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O Mineral sempre ocupou uma região da tristeza que não deixa de olhar para o futuro, e isso fica claro na energia positiva que há em seus shows. Em sua essência, não é uma banda frágil. Eles foram reunidos por um amor em comum por discos como Siamese Dream, do The Smashing Pumpkins, e Chrome, do The Catherine Wheel. A vibe toda deles é baseada em guitarras altas pra caralho, contrabalançadas por vocais suaves. Eles são ao mesmo tempo poderosos e meditabundos, muito longe dos estereótipos de lápis de olho e angústia que se desenvolveram no início dos anos 2000, depois do fim da banda, ou dos pacientes cenários impregnados de post-rock da geração seguinte de bandas influenciadas por eles.

Como no caso das outras bandas dos anos 90 que foram posteriormente manchadas com a marca do "emo", avacalhá-la não é assim tão fácil. Para mim, o Mineral sempre teve um clima de total espontaneidade e de bem-estar também. Como banda, eles são como aquele amigo que sempre consegue se identificar com você, no momento em que está lá desabado no chão, numa poça de desespero, e que de algum modo te convence a levantar e ir tomar uma cerveja. Não há dúvida de que, nos shows desta reunião, o público não estava lá para curtir uma fossa. Estavam lá para dar soquinhos no ar, aplaudir e gritar "YEAH" para as músicas que, até aquele momento, só tinham ouvido em seus quartos.

É engraçado, não? Quando bandas se reúnem, sempre tem gente que não quer nem ouvir falar do assunto. Desprezam, dizendo que é uma coisa de "tempo e lugar", que não faz sentido fora de seu contexto original. Ou então falam mal da banda por tentar lucrar com um trabalho feito 20 anos antes. Ambas são opiniões subjetivas razoáveis, mas da perspectiva de uma banda que não permaneceu em atividade por tempo suficiente para ser apreciada tanto quanto é hoje, a história é diferente. "Antigamente, era meio que nós contra o mundo", diz Chris. "Não que estivéssemos tentando converter os outros, estávamos só tentando nos expressar. Mas costumávamos tocar desconfiando do público na maior parte do tempo, e era uma coisa muito isolada. Hoje, é bom conseguir ter uma relação de verdade com um público de pessoas que já apoiam e meio que amam a nossa música."

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Como no caso de American Football, Braid, The Jazz June, Ride, My Bloody Valentine, Refused e outras bandas dos anos 90 que agora estão voltando, muitos fãs do Mineral são de uma geração ou meia geração que descobriu a banda depois que ela já havia jogado a toalha. Mas, em se tratando de um som tão determinado por "tempo e lugar", o que nas músicas deles continua tendo impacto sobre as pessoas, décadas depois de terem sido compostas? Entrevistei o Mike Kinsella antes dos primeiros shows do American Football no ano passado, e ele sugeriu que o disco homônimo da banda passou no teste do tempo porque capturava alguma coisa que sempre vai atrair adolescentes desajeitados tentando encontrar seu lugar no mundo, e desses nunca haverá escassez. Pergunto a Chris se ele acha que algo parecido rola com o Mineral. "Acho que sim. O que eu amo nisso tudo é que os discos são imortais, sabe? Mesmo que ninguém dê atenção a eles quando lançados, a vida deles é para sempre. Tipo, alguém pode descobri-los mais adiante, e os discos podem mudar a sua vida. Acho isso uma coisa linda. Esses discos [do Mineral] foram feitos quando a gente era bem jovem, e meio que deixamos para trás essa parte das nossas vidas, mas as pessoas continuaram a se identificar com eles, e continuaram a descobri-los. Isso é bom demais."

Para mim, a coisa que tornava o Mineral diferente era que as letras da banda lidavam com muitas ansiedades espirituais e sociais – tópicos que estariam mais alinhados com uma banda tipo o mewithoutYou do que com bandas como Christie Front Drive ou Jejune. A coisa não se reduzia ao constrangimento adolescente. "Eu tinha crescido e me inserido num tipo específico de conjunto de crenças cristãs", explica Chris, com cautela. "Os anos do Mineral foram a minha primeira época fora de casa e solto no mundo lá fora, e acho que eu estava tentando descobrir em que acreditava, em vez do que fui criado para acreditar. Na época, sentia que estava escrevendo sobre uma relação física de verdade com um outro ser, o que era simplesmente a minha forma de espiritualidade. Agora não tenho mais essa noção de um outro ser, mas ainda me interesso muito pela espiritualidade. Li muita coisa de filosofia oriental e de psicologia. A psicologia é quase que a minha espiritualidade hoje em dia."

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Embora talvez não compartilhe do mesmo fio narrativo ou da mesma sinceridade rasgada de discos como o do American Football que tem o nome da banda, ou de Amateurs and Professionals, do Penfold, o tema do amor ainda assim é um que permeia a obra do Mineral. Já que o show caiu na véspera do Dia dos Namorados, nós entramos no assunto do amor, e Chris – num ameno sotaque sulista que nenhuma vez ultrapassa o volume de uma sóbria voz interior – me ofereceu o seguinte conselho:

"O amor na verdade não se repete, então você nunca o entende por completo. Se um relacionamento vai funcionar – não que as pessoas mais jovens devam necessariamente se preocupar com isso – mas é como um espelho para você mesmo. É possível descobrir muito sobre si mesmo num relacionamento, se estiver disposto a prestar atenção. Se não estiver, provavelmente a coisa não vai funcionar. É um processo cotidiano. Não é só tipo "ah, estou apaixonado por essa pessoa então isso basta e pronto". Desde mais ou menos a época que o Mineral acabou, estou com a mesma mulher. Estamos juntos há 11 anos e casamos sete anos atrás, então não tenho assim uma experiência imensa, mas num certo sentido de fato tenho uma obra considerável realizada nesse relacionamento. E acho que o lance é todo dia decidir fazer a coisa funcionar, sabe? É um dom maravilhoso ter alguém, mas é trabalho, com certeza."

Uma lógica semelhante poderia ser aplicada ao trabalho de manter uma banda unida, e o Mineral chegou a um ponto em que eles não conseguiam mais dar conta desse trabalho. Nos 17 anos que passaram separados, não tocaram as músicas nenhuma vez, e muito raramente as revisitavam. "Tecnicamente, foi muito difícil voltar às músicas. Mas, em termos emocionais, a identificação foi meio que imediata, e a sensação é muito boa. Tocar as músicas e estar junto desses caras mais uma vez não tem um sabor nostálgico para mim – é mais como realmente ser transportado de volta para aquele tempo."

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Fazer novas músicas por enquanto não está sendo discutido. Chris descreve a ideia de compor com o Mineral mais uma vez como "um conceito interessante", e cuja realização teria de acontecer "de um jeito orgânico". Então, um disco novo do Mineral, se for para acontecer, certamente não vai aparecer tão cedo, à lá Beyoncé. Quando o nosso tempo está acabando, pergunto a Chris sobre uma coisa que vem me incomodado há mais de uma década. Por que caralhos, na arte de capa do primeiro disco, The Power of Failing, o título foi escrito em Comic Sans?

"Na época, a gente achou que seria engraçado", ele responde, rindo. "Queríamos dar um sabor alegre para um disco sério, entende? É engraçado, porque, quando fizemos a remasterização e atualizamos a identidade visual, trocamos de fonte. A gente ficou pensando: será que podemos trocar? Porque a gente odeia. Não sei como acabamos ficando com aquilo. Lembro de achar que tinha ficado muito massa. Tipo, na época tinha muito menos fontes entre as quais escolher, mas ainda assim. Foi meio engraçado tomar a decisão de mudar a fonte para os relançamentos. Tipo, falando sério, não precisamos ser fiéis àquela decisão talvez de mau gosto tomada 20 anos atrás… certo?"

The Power of Failing e EndSerenading foram remasterizados e relançados pela Xtra Mile.

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