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Música

2013: O Ano do Death Metal

Esperamos que os próximos também sejam.

Descobri o death metal há 20 anos, quando o gênero estava entrando na puberdade. Em 1993, várias bandas estavam espiando do lado de fora de suas tocas subterrâneas, revisando seu som de formas muito interessantes e expandindo seu público cativo para muito além do que parecia possível. Eu era um desses novos convertidos. 1993 foi o ano em que vi o Morbid Angel na MTV e fiquei arrebatado com o ímpeto bestial e a invenção maluca da banda. Foi o ano em que corri para comprar os álbuns novos do Carcass, Sepultura e Entombed — Heartwork, Chaos A.D. e Wolverine Blues, respectivamente — sem perceber que cada um desses LPs capturava uma banda em uma encruzilhada evolutiva, reconciliando impulsos arriscados e melodia estourada e seca que agradava o público. E foi o ano que despertei para a esclarecida brigada nerd do death metal: bandas progressivas como Death, Cynic, Atheist e Pestilence, todas lançaram discos decisivos em 1993.

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O death metal acabou virando uma paixão de uma vida inteira para mim. Duas décadas depois, o gênero ainda ocupa uma quantidade descabida do meu tempo. Recordando meu consumo de death metal este ano, o fascinante é ver quantas das bandas originais não mudaram. Claro, vanguardistas como Portal, Gigan, Abyssal e Wormed estão trabalhando fervorosamente para expandir as fronteiras do gênero e muitos dos grupos sedentos que estão despontando — Obliteration, Vastum, Grave Miasma, Lantern, Bone Sickness, Vasaeleth e Last Sacrament, para citar um punhado — estão ajudando a recuperar o feio, a miséria e o entusiasmo analógico em um estilo muitas vezes elaborado demais. Ao mesmo tempo, muitas das sequoias perduram e até florescem: este ano, vi shows extraordinários do Morbid Angel e do Carcass, assim como das outras bandas old school Obituary, Cannibal Corpse e Deicide, além do ilustre trio “tion” Immolation, Suffocation e Incantation. Em estúdio também, foram os veteranos que me cativaram. Nada contra os inovadores e renovadores, mas basicamente todos os álbuns de death metal que amei de verdade em 2013 — do tipo de amor de botar no iPod e escutar durante todo o tempo que passo acordado — foram obras dos antigos.

Estou falando de álbuns como Pinnacle of Bedlam do Suffocation e Kingdom of Conspiracy do Immolation. Nenhum desses discos representa uma expedição arriscada ao estilo de 1993, um novo panorama criativo. São simplesmente discos novos do Suffocation e do Immolation, despachos que reafirmam que não, esses veteranos não vão a lugar nenhum e sim, eles ainda tem o som exatamente igual ao que fizeram nos LPs anteriores. Para mim, isso não é problema nenhum; Pinnacle talvez seja o álbum mais bem-escrito do Suffocation, a demonstração mais robusta até hoje da excelência slam death atordoante, mas não tão técnica que não dá para fazer mosh, que é a marca da banda. Da mesma forma, Kingdom é um “eau de Immolation”, abarrotado com os riffs enlouquecidamente ziguezagueantes de Bob Vigna e as proclamações rosnadas de Ross Dolan sobre a ruína da humanidade. Se você nunca ouviu falar dessas bandas, não precisa averiguar seus recheados catálogos anteriores — esses últimos despachos são portas de entrada válidas, e isso diz muito.

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Surgical Steel do Carcass — na minha opinião, o álbum de metal do ano, seja death ou qualquer outro — é uma surpresa muito maior, não só por causa do som, mas também por simplesmente existir. As lendas britânicas do grindcore voltaram a se reunir em 2007, mas antes de Surgical Steel aparecer, parecia que ninguém, muito menos os próprios membros, achava que havia muita chance de eles fazerem um álbum novo. Eles ressurgiram com o que foi um presente para fãs antigos, uma reconstituição embebida em nostalgia de tudo que fez com que a primeira fase do Carcass fosse excelente — do grind sedento de sangue ao majestoso hard rock mid-tempo anos 70. É o tipo de trabalho de retorno que pareceria condescendente se não fosse tão bem-feito e obviamente feito com amor. O melhor de tudo: cada música aqui gruda na cabeça inquestionavelmente.

Também adorei os álbuns de retorno de menor repercussão em 2013 do Convulse, Broken Hope e Sorcery. O Carcass foi a banda obviamente mais importante do Maryland Deathfest deste ano, mas meus destaques pessoais também incluem o Convulse, da Finlândia, e o Broken Hope de Chicago, bandas que já existiam em 1993, mas com quem nunca passei um bom tempo na época. Os álbuns novos dessas bandas pegam o que era ótimo de seus respectivos períodos iniciais e refinam isso criando um produto altamente acessível. São discos que sabiamente descartam o fetichismo do culto, a noção de que o metal é sempre melhor na sua forma mais crua; são voltados para a clareza, tanto no estilo da produção quanto na composição.

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O guitarrista e vocalista Rami Jämsä, um dos dois membros que restam da primeira formação da banda, atualmente não está tão interessado em progresso quanto em redução. Em Reflections, de 1994 — o último lançamento da banda antes da separação naquele mesmo ano —, Jämsä fez experimentos com um boogie rock de calça boca de sino. Mas no novo Evil Prevails, ele volta para a paleta reduzida do LP anterior do Convulse, o graciosamente primitivo World Without God, de 1991, sobrepondo melodias sinistras de doom com blast beats esmurrados e cadências galopantes de hardcore. Evil Prevails dispara em algumas tangentes indulgentes — interlúdios acústicos, síncopes instrumentais estendidas — mas basicamente é o Convulse clássico: uma bagunça de riffs justos habilmente costurados, mais os grunhidos guturais fantásticos do Jämsä.

O Broken Hope merece muito sua recente recolocação. A banda lançou cinco discos entre 1991 e 1999, e embora seu conceito e som nunca tenham sido tão coerentes quanto aqueles de seu contemporâneo mais famoso, o Cannibal Corpse, a banda é muito mais do que uma nota de rodapé. Omen of Disease, lançado neste ano, comprova isso ressonando uma segurança impressionante. O death metal mostrado aqui é tão bem-estabelecido que chega perto do classic rock: blast beats intricados alternam com uma rotação boa para o mosh, enquanto o frontman Damian Leski (substituindo o antigo vocalista, Joe Ptacek, que cometeu suicídio em 2010) brinca de ser um MC com seu murmúrio gritado distorcido. Os compositores principais Jeremy Wagner e Shaun Glass mantêm os parâmetros firmes e as cadências variam o suficiente. Nenhuma revolução estilística, apenas excelência na execução.

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Arrival at Six do Sorcery é outro triunfo alquímico de 2013 no death metal: materiais modestamente crus reunidos com um diferencial de abandono primitivo muito bem executados. Não vou fingir que já tinha ouvido falar dessa banda antes desse ano. Eles são um grupo sueco da primeira geração que voltou a se reunir em 2009 depois de uma interrupção de 12 anos. Uma crítica entusiasmada sobre Arrival at Six feita pelo blogueiro headbanger Josh Haun no That's How Kids Die chamou a minha atenção, e assim que tive o disco em mãos, concordei com o entusiasmo dele imediatamente. Arrival at Six é uma obra-prima crua e agressiva: death & roll embriagado de riffs, instigado por aquele inimitável som estourado e seco típico sueco. Essas músicas são feitas para rodas de mosh regadas a cerveja; são simples, cativantes e completamente exageradas (vide "United Satanic Alliance"). O estilo vocal de Ola Malmström é a cereja do bolo: urros malucos, uma coisa meio desenho animado em seu extremo.

Falando em desenho animado, nunca tinha entendido muito bem o Six Feet Under até pouco tempo atrás. O trabalho de Chris Barnes com o Cannibal Corpse foi uma parte importante da minha dieta de death metal nos primórdios, mas o que ouvi de Six Feet Under — o projeto paralelo do Barnes que acabou virando seu interesse principal e existe desde 1993 — ao longo dos anos sempre pareceu uma caricatura cafona do death metal. O que é preciso entender sobre a atual encarnação do Six Feet Under é que é basicamente uma banda nova. Barnes fez uma revisão no pessoal no álbum Undead do ano passado, produzindo um som mais intricado e bem-feito. A sequência deste ano, Unborn, é ainda melhor. Quem ficou traumatizado com a série de discos de covers merecidamente maléfica Graveyard Classics do Six Feet Under deve dar uma chance a esse aqui. A melodia cavernosa que é marca da banda continua presente — vide "Zombie Blood Curse", talvez a música mais cativante do death metal em 2013 — mas aqui isso se mistura com uma virtuosidade implementada de forma agradável. O Six Feet Under não aderiu à tecnologia de forma alguma, mas aumentou vertiginosamente as síncopes bate-cabeça que são sua marca registrada com explosões ágeis de virtuose. Com o rugido fleumático de Barnes em contraste com um pano de fundo mais vibrante, o SFU parece uma fera completamente renovada.

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Renovação também é crucial no último disco do Gorguts, Colored Sands. Desde o revigorante e bizarro Obscura de 1998, cada álbum do Gorguts trouxe uma reinvenção da banda. Assim como o disco anterior do grupo, From Wisdom to Hate, de 2001, o líder Luc Lemay criou uma formação nova para o Colored Sands: Kevin Hufnagel, Colin Marston e John Longstreth, do death metal progressivo, reconhecidos por trabalhos no Dysrhythmia, Krallice, Origin e muitos outros. Esta é a encarnação mais versátil do Gorguts até hoje, um quarteto que convence tanto no modo hipnótico e quieto quanto na fúria total. Se discos como Pinnacle of Bedlam e Kingdom of Conspiracy conseguiram sustentar padrões bem-definidos, Colored Sands faz isso esboçando novos.

Várias outras bandas antigas de death metal apresentaram discos novos fortes este ano. Não passei tanto tempo ouvindo os lançamentos abaixo quanto os de cima, mas escutei o suficiente para saber que cada um é digno do legado de mais de 20 anos de seus criadores.

Deicide - In the Minds of Evil
Com a ajuda do antigo guitarrista do Cannibal Corpse Jack Owen, o baixista e vocalista Glen Benton e o baterista e compositor Steve Asheim restabeleceram o Deicide como uma das bandas mais robustas do death metal. Assim como seu subestimado LP anterior, To Hell with God, de 2011, In the Minds of Evil sintetiza perfeitamente o som atual do Deicide — altamente refinado, mas ainda com a força de uma escavadeira e, estranhamente, cativante como cantiga de roda.

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Exhumed - Necrocracy
Estes californianos terão uma dívida considerável com o Carcass para sempre, mas Necrocracy se diferencia o suficiente para complementar em vez de competir com Surgical Steel. Esta continuação do álbum de volta da banda, All Guts, No Glory, de 2011, oferece um mix esguio e infeccioso de repulsa grindcore e beleza thrash barroca.

Rottrevore - Hung by the Eyesockets
O Rottrevore se formou em 1989, mas só lançou um único disco, Iniquitous, em 1993. Este apavorante EP de retorno, um ciclone de riffs dementes e grunhidos sub-humanos, é uma ótima introdução a esses psicopatas sombrios de Pittsburgh.

Pyrexia - Feast of Iniquity
Para quem curte a cacetada rápida do Suffocation e a injúria satânica do Deicide — isso sem mencionar as melodias destruidoras e aerodinâmicas do Pantera — o último lançamento desses subestimados veteranos de Nova York é uma aposta certa. Um trabalho de bateria em equipe do antigo e do atual membro do Suffo Doug Bohn e Dave Culross garante uma precisão ciborgue em todas as velocidades.

Master -The Witch-Hunt
Pense no Master como o Motörhead do death metal. Depois de três décadas, a voz medonha do líder da banda Paul Speckmann e companhia ainda estão caçando no seu próprio terreno, criticando a corrupção num estilo simples e impositivo que empresta liberalidade do hardcore cáustico.

Pentagram - The Malefice
A venerada banda de Santiago — que existe desde 1985, cacete — finalmente apareceu com seu primeiro disco de verdade este ano. The Malefice traz um trabalho de produção lindo, substancioso e moderno, mas pulsa com uma energia old school brutal, dando uma sensação possuída de convicção que faz as distinções entre death, black e thrash metal parecerem absolutamente irrelevantes

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Autopsy - The Headless Ritual
O disco de 2011 do Autopsy, Macabre Eternal, foi uma dessas voltas que apagam qualquer dúvida em questão de segundos. Talvez esta continuação seja ainda melhor. The Headless Ritual oferece uma prova convincente de que poucos coletivos de death metal equilibram o mistério inquietante com uma fúria franca tão bem quanto o baterista e vocalista Chris Reifert e a engrenagem habilidosa das guitarras de Eric Cutler e Danny Coralles

Pestilence - Obsideo
Esta banda holandesa fez mutações imensas no progressivo Spheres de 1993, e o lançamento pós-retorno foi tão desafiador quanto. Obsideo é um dos discos de metal mais frenéticos do ano, um esforço hiperativo e hermético transbordando de riffs duros e espiritualidade torturada.

Brutality - Ruins of Humans
Esta banda da Flórida fez três discos impressionantes no início e meados dos anos 1990, mas não se ouve falar muito dela. Vamos ter que esperar o disco novo para saber se essa volta vem com tudo, mas este single de duas faixas — construído em torno do rosnado pesaroso de Scott Reigel e da interação majestosa entre as guitarras de Don Gates e Jay Fernandez — é um aperitivo saboroso.

Hank Shteamer aceitou Satã, príncipe nazareno invertido da verdade. Siga-o no Twitter -@DarkForcesSwing