Crédito: David Bean
Eu tinha acabado de voltar pra minha mesa de trabalho e tinha um e-mail da assessoria do Dashboard Confessional me esperando: “O que você mostrou pra ele? Ele não para de falar dessas coisas e quer ouvir mais”. Tinha uma noção de que isso aconteceria. Mais cedo naquele mesmo dia, entrevistei o pioneiro do emo para o meu podcast chamado Washed Up Emo. Chris estava em turnê para promover seu mais novo disco com o projeto folk Twin Forks na época, e ao final da entrevista ficamos com um tempinho livre. Decidi lhe mostrar um vídeo da promissora e emocionada banda Foxing. Ele foi cativado na hora. Quando a música chegou no refrão, os olhos de Chris revelam um misto de empolgação e surpresa, então ele disse, olhando bem nos meus olhos: “Peraí, esse tipo de música voltou?”O emo, enquanto gênero, distanciou-se do pop-punk polido servido para as massas acompanhado de uma palavra conveniente para seu marketing. Estes passos foram o “revival” que começou com tudo por volta de 2010. Para muitos envolvidos na cena independente, o revival estava bem na nossa cara. Mas um dos criadores de nossa cena não fazia a menor ideia. Depois do Foxing, isso mudou.Concordei em lhe enviar uma playlist com bandas para que pudesse se atualizar. A resposta foi inesperada e inspiradora. Chris ficou completamente empolgado e reenergizado com a cena independente. Estas bandas novas lembraram Chris do passado e o inspiraram a compor coisas novas. “Meu Deus, foi como uma epifania”.Texto por Chris Carrabba.ALGERNON CADWALLADER – "SPIT FOUNTAIN"“Spit Fountain” começa com um loop de percussão meio bagaceiro e um som de guitarra limpo, que eu mesmo gosto de chamar de pegajoso. Quando ouvi aquela guitarra esperava algo como o Promise Ring das antigas, da época do Horse Latitudes, Texas Is The Reason ou Recess Theory. Por mais que escute todas estas bandas na música, “Spit Fountain” chuta o balde, e lembro da extremamente jovem e sem limites Commander Venus. É uma faixa curta e poderosa que preciso ouvir diversas vezes, cada vez mais alta.BALANCE AND COMPOSURE – "REFLECTION"As guitarras do começo têm uma pegada Jets To Brazil que lembram o shoegaze de bandas como Slowdive e Stone Roses, até que o bicho pega de forma semelhante a uma das bandas mais barulhentas-calmas de todos os tempos, o Hum. Um som de baixo e bateria maravilhosos que seguram a canção. Parece que só estes dois instrumentos não estão cheios de reverb, que dão ao vocal e guitarra uma sonoridade de outro mundo. É uma canção rica e exuberante com muita garra.EMPIRE! EMPIRE! (I WAS A LONELY ESTATE) – “HOW TO MAKE LOVE STAY"THE FRONT BOTTOMS – "TWIN SIZE MATTRESS"Já fiz turnê com esses caras e eles são meus amigos, logo sou suspeito pra falar, mas fiquem calmos, certo? Trata-se de uma das melhores bandas do mundo. Vá vê-los tocar e comprem todos seus materiais.THE HOTELIER – "THE SCOPE OF ALL OF THIS REBUILDING”Essa música me deixou de cabelos em pé (sei que eles crescem pra cima de qualquer forma). “The Scope of All of This Rebuilding” é uma obra prima harmônica e de corinho, que em algum momento vira só um cara cantando e segue charmosa de outra forma. Tive uma reação visceral a essa música. É inegável. Lembro quando ouvi Can’t Slow Down do Saves the Day e pensei que ouviria aquilo várias e várias vezes. É a mesma sensação, mas a estrutura dessa música é inversa. Curto muito isso. Tipo, tem toda aquela harmonia no primeiro verso, geralmente não é assim. Aí vem o corinho. Aí fica uma voz só. Essa banda, logo de cara, manda algo tipo "olha só, estamos todos cantando". Começam cantando essa porra. É difícil escolher uma favorita, mas essa aqui está bem alto no meu ranking desta lista.THE WORLD IS A BEAUTIFUL PLACE AND I AM NO LONGER AFRAID TO DIE – "HEARTBEAT IN THE BRAIN"Essa aqui é uma favorita instantânea. Estranha e gloriosa. Esquisita e adorável. Gosto da coragem de misturar pelo menos cinco subgêneros diferentes de uma cena que captei na primeira audição. O Piebald fazia isso muito bem também. Parece que essa banda gosta de tantos estilos e não vê motivo pra escolher um só… E eles estão certos. A parte da letra que se destaca pra mim é: "When you hold me, I feel held” [Quando você me abraça, me sinto abraçado]. Tive que parar a música e pensar na força desta letra e o sem-fim de significados que poderia tirar daí. Estou impressionado mesmo com esta.YOU BLEW IT! – “MATCH & TINDER”Esta música leva consigo o espírito da cena pós-hardcore. Gosto da agressividade dos vocais e da letra. A banda fica bem equilibrada entre o hardcore e pop punk sem ser nenhum dos dois, e ao mesmo sendo muito mais que isso. Tem algo na forma em que a banda comanda o groove que me faz pensar no New Found Glory, que é creditado por muita coisa, mas nunca por ser uma banda baseada em grooves (não de um jeito tosco, mas no sentido que a música soa como a batida do seu coração)A lista toda faz a seguinte pergunta: como isso se relaciona com as coisas que significam algo pra mim? É algo que deu forma à minha carreira, meu público, mas mais que isso, diz respeito a seguir em frente. Saí me sentindo tão inspirado que tive que compor algo. Como toda música que surge, com base de algo que veio antes. Mas o gênero se move a uma velocidade que nunca ouvi antes, desde a versão original do emo da qual fiz parte.Eu quase quero freá-la. A geração depois da minha foi rápido demais. Ficou derivativa, menos potente. Posso dizer que tiveram bandas que surgiram depois de mim, como o Fall Out Boy, que são potentes. E houveram bandas depois que eram como cópias de cópias. Isto eu espero que não aconteça de novo. Pode ser que sim, mas agora acho menos provávelTom Mullen apresenta o podcast Washed Up Emo. Siga-o no Twitter.Tradução: Thiago “Índio” Silva
Publicidade
Publicidade
Esse cara manja muito de melodia. E mesmo a cadência de suas letras, em ritmo e melodia, contam com essa sua noção. São quase escravas dela. Gostei da justaposição ao escolher o caminho oposto para o instrumental. Poderia rolar um violão aqui e eu ficaria fascinado. Mas me fascina ainda a natureza caótica da canção. À beira do caos completo, ela é controlada o suficiente para que você saiba o que é o que. Não é só loucura. Gostei mesmo disso. Não é uma canção delicada, o que por si só um triunfo, já que ela é construída em torno de uma bela melodia e base lírica. A incongruência entre as explosões e melodias que se repetem é muito forte.EVERYONE EVERYWHERE – "THE FUTURE"Esta música começa com baixo e baterias e guitarras lindas, ainda que angulares. A voz chama minha atenção e a mantém pelo restante da música com a força de suas duas primeiras palavras, “displaced dreams”[sonhos deslocados], uma voz tão casual, mesmo com tamanha força e presença, de forma que não precisa arrancar a cabeça do ouvinte para provar isso. A música se dá em um arco lento, que me atrai ainda mais. Eles usam solos de guitarra sem um pingo de ironia e por mais que haja um quê de Sonic Youth, a banda faz por merecer suas credenciais melódicas. Ela termina após o solo comigo querendo ouvir mais do vocalista.INTO IT. OVER IT. – "DISCRETION & DEPRESSING PEOPLE"
Publicidade
O Into It. Over It. parece ter todos os elementos que adoro de canções da minha época. Letras habilidosas com um pouco de sarcasmo que leva você a pensar, não aquilo que você deixa de lado. A voz dele é boa demais para isso. As estruturas de cada parte parecem saber que foram feitas para o público pirar. Vejo paralelos com o Into It. Over It., com certeza. Talvez por isso torça tanto por ele, talvez por isso seja tão fã. Mas a forma como ele faz sua música não é o que me torna seu fã, mas o fato de que é um cara foda.LA DISPUTE – "SUCH SMALL HANDS"Soa desesperado. Tem algo aí que me reconforta. Pelo mesmo motivo que adoro Small Brown Bike, Cursive e mewithoutYou. Parece que algo vai dar errado em algum momento, mas de um jeito glorioso. Eles atingem bem ali. Bem ali onde é difícil acertar. O La Dispute ganhou um puta fã.SNOWING – "SO I SHOTGUNNED A BEER AND WENT TO BED”Belo trabalho de bateria e progressão não-tradicional. É meio torto e é fantástico. O vocalista tem um timbre que se assemelha a alguns de meus cantores favoritos, como Davey do Promise Ring, e não é só isso, de cara ele manda uma frase que dá uma dorzinha que todo escritor sente. Aquilo de “meu Deus, isso é tão simples e perfeito… Queria ter escrito isso”. Nesta música é “…in a minor case; major depression” […em um caso menor; uma depressão das maiores]. Essa música me fez parar de ouvir a playlist e pegar minha guitarra. O Snowing é inspirador.
Publicidade
Publicidade