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Música

O Swervedriver Voltou Antes Mesmo do Retorno do Shoegaze e Começa 2015 com Disco Novo

‘I Wasn’t Born To Love You’ já está disponível na praça e mostra o quanto esses patinhos feios podem surpreender.

Dentre todos os shoegazers, o Swervedriver, de Oxford, fazia parte da turma de patinhos feios. Não por conta de qualquer coisa que tenham feito, mas pelo que não fizeram – eles não faziam parte daquilo mesmo. Enquanto bandas como Slowdive, My Bloody Valentine e Lush usavam pedais de efeitos e harmonias sob camadas para criarem sons opacos e envolventes, os Swervies usavam seus pedais para fazer rock’n’roll alto pra caralho. O fato de Alan McGee tê-los contratado pela sua gravadora Creation Records e seus primeiros shows terem sido de abertura para bandas como Chapterhouse, MBV, e Moose os levou a serem rotulados prematuramente. Fora o fato de serem amigos de alguns shoegazers, eles nunca fizeram parte desse esquema. Pelo contrário, suas turnês norte-americanas eram acompanhadas de grandes bandas alternativas como Soundgarden e Smashing Pumpkins (na época do Badmotorfinger e Siamese Dream, respectivamente), lançando discos que ganharam mais comparações com gente barulhenta dos EUA como Sonic Youth, Dinosaur Jr., e Hüsker Dü. E diferente de, digamos, Slowdive, My Bloody Valentine e Ride, o Swervedriver não sucumbiu à queda do shoegaze no nascer do britpop; seu quarto disco, 99th Dream, lançado em 1998, foi uma paulada altamente subestimada de noise pop que os permitiu florescerem por uma década – consideravelmente mais tempo que a maioria de seus colegas “shoegazers”.

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Outra coisa que distinguia o Swervedriver de seus pares é que eles voltaram com a banda bem antes disso se tornar uma tendência nojenta pra quem quer tirar um troco. Porém, ao contrário da volta do My Bloody Valentine, o Swervedriver voltou em 2007 e usou a oportunidade para compor coisa nova. Por mais que tenha levado mais tempo do que seus fãs esperavam, seu quinto disco, I Wasn’t Born to Lose You, lançado em 2015, é um lembrete do quão excelente a banda já foi e ainda é. Ao passo em que eles não mudaram muito – as guitarras ainda se enroscam em mágica e melodiosa sinergia, Adam Franklin ainda canta como um homem impossível de se intimidar, e as canções ainda são mais bem descritas como rock’n’roll de viagens espaciais – este é um dos raros discos de volta que faz justiça aos dias de glória.

Bati um papo com o frontman Adam Franklin sobre o primeiro disco da banda em 17 anos, porque não faz mal que bandas antigas voltem e como Las Vegas e alguns caubóis mantiveram seu último álbum fora de catálogo.

Noisey: Parabéns pelo último disco. Você tem lançado coisas sob seu próprio nome, com o Bolts of Melody, Toshack Highway, e Magnetic Morning desde o último álbum do Swervedriver. Levando em conta sua história com essa banda, é diferente lançar um disco do Swervedriver em comparação aos seus outros projetos?
Adam Franklin: Devo dizer que a sensação é ótima. Lancei material sob todos estes nomes, como você disse, mas no fim das contas, ainda sou conhecido como o cara do Swervedriver. Esse sempre é o ponto de referência. É demais poder se juntar e produzir um novo disco com Jimmy e Steve depois de todo esse tempo, e estou bem feliz com ele.

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Como é estar no Swervedriver agora em relação a 25 anos atrás?
Suponho, inevitavelmente, que as formas de se gravar um álbum mudaram. Quando estávamos gravando demos, enviávamos coisas uns aos outros sempre, e claro que isso não acontecia antes. Com este disco sentimos que deveríamos voltar aos primórdios, em termos de inspiração. E, de certa forma, parece mesmo que estamos de volta ao início da banda. Antigamente, antes de ter um disco ou qualquer gravação para ser lançada, você tinha esta tela em branco nas mãos, e era algo empolgante. Em 1989 estávamos pensando “Poxa, o que faríamos se lançássemos um disco? E como seria a capa?”, coisas assim. Foi quase como voltar a esse ponto no tempo, diferente de como nos sentíamos mais adiante, nos anos 90.

Vocês gravaram parte de I Wasn’t Born To Love You no Konk, de Ray Davies, onde vocês também gravaram Ejector Seat Reservation. O que os fez voltar àquele estúdio?
Bem, um amigo meu estava gravando lá e ele me chamou para tocar guitarra. E eu disse: “Konk?”. Nem sabia que o lugar ainda existia, porque rolavam um monte de rumores de que Ray Davies iria vendê-lo. Foi ótimo voltar ao estúdio porque ele tem uma mesa excelente e é bem iluminado. E no corredor tem um monte de instrumentos raros dos Kinks, um baita de um mellotron. É um estúdio realmente fantástico. Fora isso, foi ótimo porque é o lugar onde costumamos passar um tempo em Londres.

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Também gravamos parte do disco na Austrália, no Birdland, em Melbourne, que também é um estúdio excelente. Rolou uma boa simetria em gravarmos a outra metade no Konk, em Londres. Mas estávamos em turnê na Austrália, tocando mais ou menos uma semana, e nosso baterista Mike estava em Nova Iorque, e tivemos todas essas ideias e surgiram novas músicas. Então pensamos que, já que nos encontraríamos todos, deveríamos botar a coisa pra frente e arrumar um estúdio. Então nos deparamos com o Birdland, e quando vimos, já estávamos lá, mandando ver. Sentimos que as canções já estavam prontas. Fora isso, tinha aquela energia toda dos shows. Entramos no estúdio e gravamos cinco faixas em um dia.

​O Swervedriver voltou há oito anos. Por que tanto tempo para gravar um álbum novo?
Acho que foi um lance mais com os outros caras do que eu. Há uns dois ou três anos, Jim ou Steve disse: “Se vamos continuar fazendo estes shows, deveríamos gravar algo novo”. Como você mesmo disse, lancei um monte de coisas nesse meio tempo em que a banda voltou. Pra mim foi ótimo trabalhar com o Bolts of Melody ou o Magnetic Morning, enquanto deixava a energia do Swervedriver ser filtrada de levinho por estes outros projetos. Mas agora, você meio que já espera que as bandas voltem quando os caras nem se juntaram de novo. E o mais recente mantra é “Vamos voltar e gravar logo”. O que é ótimo, na verdade. Por que não compor algo de novo e deixar a coisa toda mais excitante?

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Após a volta do Swervedriver, seus antigos colegas de selo e parceiros da época, My Bloody Valentine, Slowdive e mais recentemente, Ride, tomaram a mesma decisão. O que você acha de todas essas bandas voltando?
Antes da gente, as duas grandes bandas que voltaram foram os Pixies e os Stooges. Um amigo meu disse “Vamos lá ver o Pixies”, porque ele nunca os tinha visto tocar. Isso foi em Nova York, e eu meio que respondi “Ah, beleza”, meio blasé com a parada toda. Mas quando chegamos no local a tensão antes de eles subirem no palco era palpável. Era um lance especial. E de repente vieram os Stooges, que é claro, eu nunca tinha visto ao vivo porque eles surgiram bem antes da minha época, mas foi incrivelmente emocionante. E dava pra ver quão emocionante seria, não só pra quem já tinha visto estas bandas antes, mas especialmente para quem nunca as viu.

Entendo por que as bandas mais novas reclamam das antigas voltando, já que acabam tomando conta dos festivais. Quando tocávamos nos anos 90, nunca sonharíamos com estas bandas dos anos 70 liderando estes shows. Então, entendo por que a galera mais nova talvez fique meio fula com isso.

Vi o Slowdive pouco antes do Natal, e acabei de me encontrar com Rachel [Goswell], quando ela esteve em Oxford. Demos uma volta e bebemos um pouco, e ela disse que tem sido tudo ótimo, porque eles têm conseguido tocar numa boa em lugares bacanas e com um público bom. E em se tratando da música que eles fazem, não é como se eles não soubessem mais tocar, sabe? Esse som é envolvente e absurdo. Eles voltaram pra tomar tudo de volta.

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Nos anos 90, a imprensa usava o termo “shoegaze” como um insulto para descrever uma banda. Você notou alguma diferença em como o termo é usado agora em relação àquela época?
Sim. com certeza. Em 1989 era depreciativo mesmo. E agora as pessoas falam bem abertamente, "Nós somos shoegaze”, o que é bem engraçado, na verdade. Acho que a coisa funciona pras pessoas agora porque é um som pesado, melódico, melancólico, e você mexe com um monte de pedais de guitarra. E tem um quê de longevidade também. A terminologia em si, então, se torna irrelevante. Tipo quando falavam de krautrock nos anos 70 para descrever o que algumas bandas alemãs andavam fazendo, também era algo depreciativo. Mas agora é só krautrock e você nem pensa nisso, mesmo sendo um termo bastante ofensivo. Aí de repente tem toda essa revalorização do shoegaze, e em 2006 shoegaze era até um gênero que você poderia escolher para a sua banda no MySpace! É incrível.

Você admitiu ter tido a chance de entregar sua fita demo para o J. Mascis e o Sonic Youth, mas acabou entregando para Alan McGee. Já parou e pensou “E se eu tivesse dado a fita para aqueles caras?
Teria rolado uma percepção bem diferente da banda. Não nos chamariam de shoegaze. Mas estávamos na Creation, mesma gravadora do Ride, Slowdive, e My Bloody Valentine. Naquele dia estávamos chegando lá na Blast First Records e eles passavam ali pela rua, e nós pensamos “Puta merda, ao invés de entregar essa fita pra outras pessoas, devíamos dar pra essa galera”. Só que, na época, tínhamos um número de fitas limitado, então acabamos seguindo com o plano. Poderia ter sido bem interessante se eles tivessem ouvido o som, porque aí a percepção que se tem da banda seria outra.

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As pessoas no geral sempre acharam que o Swervedriver era mais influenciado pela guitar music norte-americana. Coisas como Dinosaur Jr. e Stooges. Você sentia que a imprensa norte-americana favorecia vocês mais do que a britânica?
Acho que a imprensa dos EUA nos deu uma forcinha. Claro que a capa do primeiro disco era a de um ferro-velho cheio de carros norte-americanos, então suponho que de cara não estávamos lá demonstrando lá muitas influências inglesas, apesar de ouvirmos muita coisa inglesa mesmo: T-Rex, Sabbath, Kinks. Não sei de onde a coisa veio, mas sempre pensamos em expressar esse desejo de viajar ou sei lá o que. E aí líamos quadrinhos como Love and Rockets e mais todas essas influências, mesmo sem nunca termos pisado nos EUA. Mas você sabe, a grama do vizinho é sempre mais verde. De repente, isso tudo virou um conceito que as pessoas curtiram mesmo.

Uma pena que Ejector Seat Reservation nunca tenha sido lançado devidamente. Quão dolorosa foi a pancada do disco nunca ter saído nos EUA depois de todas as turnês que vocês fizeram lá por conta dos dois discos anteriores com bandas como Soundgarden e Smashing Pumpkins, em 1992?
Ambas as turnês foram grandes porque essas bandas estavam estourando na época. A maioria das pessoas nunca nem tinha ouvido falar da gente, então muitos estavam nos descobrindo. Tivemos todo este impulso, e é engraçado porque com aquele disco estávamos tentando mesmo trazer de volta referências mais anglicizadas e apresentá-las aos EUA. E aí, não deu. Foi nossa gravadora americana, a A&M, que pulou fora antes. E aí, foi a vez da Creation, porque eles não ganhavam mais a bolada de licenciamento da A&M e, portanto, não tinham como nos bancar. Foi chato pra caramba, mas tivemos de nos adequar. Foi aí que viajamos para a Austrália pela 1ª vez e fizemos um monte de shows na Europa e Escandinávia. Então, sabe como é, foi bom porque acabamos fazendo coisas que nunca tínhamos feito antes. Mas havíamos nos preparado para aquele lançamento nos EUA e prontos para continuar onde havíamos parado. Pena que nunca foi pra frente, de verdade.

Vocês estavam tocando seu primeiro disco, Raise, na íntegra em alguns shows. Como foi a experiência de revisitar o passado?
Foi ótimo, na verdade. É divertido fazer isso e as pessoas se empolgam porque em vez de fazer um show normal vira algo como “Uau, eles vão tocar aquele disco todo!” e é interessante porque estávamos no momento certo para este novo disco, e isso nos ensinou bastante sobre a dinâmica de como um álbum flui. Aquele disco tem um fluxo excelente – com vários picos e descidas. Além disso, havia duas coisas que nunca tínhamos tocado ao vivo antes: um pequeno interlúdio antes de “Sandblasted”, e a última faixa do disco, que nunca tinha sido executada ao vivo antes. Mas sim, foi bem divertido.

Discos de vinil do Swervedriver são bem raros e caros em sites como o eBay e Discogs. Sei que vocês relançaram os dois primeiros há uns anos atrás, mas há planos para relançar Ejector e 99th Dream?
Houve planos. É quase como se rolasse alguma maldição, porém. Estávamos planejando em fazer relançamentos dos primeiros discos, mas teríamos que pagar às gravadoras pelos direitos. Apesar de os três primeiros terem sido relançados em CD, Ejector Seat ainda assim não foi lançado nos EUA. A Sony meio que disse “Deixe o Ejector Seat pra lá”. Logo, planejamos lançar esses dois de novo. Mas o 99th Dream está envolvido em um processo meio horrível agora. Ele foi vendido, e tem tudo a ver com Las Vegas e apostas e caubóis, de verdade. Mas daremos um jeito de lançá-lo em CD e vinil, com sorte, nos próximos 12 meses.

‘I Wasn't Born to Lose You’, do Swervedriver, saiu pela Cobraside no dia 3 de março.

Cam Lindsay adora shoegaze e está no Twitter.

Tradução: Thiago “Índio” Silva