FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Por Trás do Documentário 'Kurt Cobain: Montage of Heck' – Uma Entrevista com o Diretor

A expectativa é grande e um lenço será necessário, amigos.

Faz 16 anos desde a última participação do cineasta Brett Morgen no SXSW. Na época, ele estava promovendo seu documentário sobre boxe,

On The Ropes

. Enquanto estava lá, acabou indo à exibição do filme de um amigo no The Paramount, um cinema de Austin com capacidade para 320 pessoas. Morgen era uma das nove pessoas presentes; uma outra espectadora veio a ser a futura esposa dele. Às vezes, Morgen, de 46 anos, e a mulher, brincam dizendo que talvez nunca tivessem se conhecido se o SXSW fosse tão insanamente lotado e desleixadamente bêbado naquela época quanto é hoje. Três filhos e sete filmes depois, Morgen está de volta com uma nova estreia,

Publicidade

Kurt Cobain: Montage of Heck –

o primeiro documentário sobre Kurt Cobain com autorização oficial, que terá sua estreia na HBO dos Estados Unidos no dia 4 de maio. Courtney Love e a família do músico abriram os arquivos particulares de Cobain para o diretor, e deram entrevistas francas, junto com Krist Novoselic e a ex-namorada de Kurt, Tracy Marander. Frances Bean Cobain participa como produtora executiva. A ausência de Dave Grohl é notável. Infelizmente, as entrevistas com ele foram realizadas tarde demais para entrar na edição.

Não é a primeira vez que se fala muito sobre uma obra de Morgen: On the Ropes foi nomeado para um Oscar, e O Show Não Pode Parar, sobre o malucão de Hollywood Robert Evans, e Crossfire Hurricane, de 2012, que se aproveitou dos arquivos sem fundo dos Rolling Stones, foram igualmente recebidos com aclamações retumbantes. Mas, já tendo sido exibido em Sundance, Miami e Berlim, com um trailer que viralizou assim que saiu, no início do mês passado, o falatório cheio de expectativa a respeito de Montage of é ensurdecedor. Vinte e um anos se passaram desde que Kurt Cobain decidiu tirar a própria vida, e o cantor continua a ser adorado, um enigma jamais desvendado, um gênio trágico interminavelmente reexaminado. Enquanto isso, a discografia do Nirvana continua a impressionar sucessivas gerações. Contudo, Morgen afirma que sua obra de mais de duas horas não é só para os aficcionados por grunge.

Publicidade

"Este filme não é necessariamente sobre um cantor de punk rock em sua banda, é sobre um garoto e sua jornada pela vida", suspira Morgen. "Em todos os meus filmes, o que tento fazer é encontrar o que há de universal, a coisa que transcende o tema abordado."

Pelo olhar de Morgen, o espectador obtém um acesso privilegiado à vida caótica de Cobain, desde seus primeiros passos, passando pela juventude conturbada e pela angústia da adolescência, registrando a ascensão do Nirvana, o início do amor por Courtney, o nascimento de Frances e, enfim, sua decadência – quando as pressões da fama e o consumo de drogas fugiram do controle, fazendo-o despencar do desfiladeiro para as trevas. Entramos em seu mundo através de filmes caseiros, gravações de áudio, diários, esboços e poemas, e descobrimos que Kurt guarda muito mais do que imaginávamos. Ver Montage… é uma experiência intensa, às vezes arrepiante de tão esclarecedora, às vezes terrivelmente íntima.

Embora tenha sido uma decisão difícil, Morgen optou por animar segmentos das pinturas e dos diários íntimos de Cobain, como se o cantor estivesse rabiscando diante dos nossos olhos. Em outros momentos, Cobain é trazido à vida como um avatar rascunhado, com a voz dele narrando tanto a história quanto seus sentimentos. É uma técnica impressionante e sem igual, cujo efeito poderia ser destoante ao lado dos elementos mais tradicionais do documentário, mas que funciona muito bem aqui.

Publicidade

Encontro Morgen no Four Seasons de Austin, antes da estreia no filme no SXSW, em março. A fila para o filme já está dando a volta no quarteirão, com fãs fervorosos e determinados esperando pacientemente desde as primeiras horas da manhã. Vestido num terno preto levemente amarrotado, gravata fina torta no peito, e calçando Chuck Taylors de couro marrom, Morgen parece cansado, mas não do tipo de cansaço que dá vontade de ir dormir. Apesar de toda a empolgação em torno do filme, os sentimentos do diretor a respeito dele são agridoces.

"É claro, estou feliz de ver que as pessoas estão recebendo o filme de maneira positiva, mas este é um filme com uma carga emocional muito grande, sabe?", ele explica. "O sentimento não é muito de celebração. Kurt não está conosco, e isso faz com que uma nuvem paire por cima disso tudo."

Antes de Montage… Morgen acredita que a verdadeira história de Cobain ainda não havia sido contada. Conversamos com o diretor sobre pesquisar as obras de arte e os arquivos de Cobain, as percepções equivocadas que se tem do cantor, a complexidade de sua personalidade e sobre muitas outras coisas. Kurt e Frances Bean Cobain. Todas as fotos de Montage of Heck cortesia da HBO Documentary Films. Noisey: Parabéns pelo filme – caí de amores por ele. Você recentemente disse sentir que a próxima geração fará um documentário sobre Kurt/Nirvana diferente do seu. Como você explica que a percepção da minha geração a respeito de Kurt difere da sua? Levando em conta o fato de que ele não estava vivo quando comecei a ouvir Nirvana…
Brett Morgen: Bom, acho que é só uma diferença cultural, porque tivemos contato com Kurt naquela época como alguém que meio que inaugurou essa paisagem cultural em mutação. É tipo, o Nirvana apareceu, e então Bush e Reagan foram tirados da Casa Branca, aí Kurt morreu e os republicanos tomaram o poder. Mas o motivo de ele ressoar conosco é o mesmo motivo de ressoar com a sua geração. O Kurt vai sempre fornecer consolo e ser meio que o grande símbolo para os esquisitões, para os nerds, para os que não têm voz, para os derrotados e oprimidos, e para os que têm poucas chances de vencer na vida.

Publicidade

Ele foi capaz de expressar sua experiência como adolescente através da música, e articulá-la nas letras melhor do que qualquer pessoa nos últimos 40 anos da história cultural, no mínimo. Talvez de todos os tempos. Sempre vão existir os garotos e garotas que se sentem sozinhos. O fato de que ele é muito bonito e que nunca ficará nem um dia mais velho também ajuda; e a música era foda pra caralho. Ele tinha um ouvido inacreditável para as músicas. Juntando isso tudo…. tipo, uma coisa que ninguém jamais diria sobre Kurt é que ele era um vendido. Não era mesmo. Há nele uma pureza que é rara na música pop, porque geralmente fazer música pop é algo que exige que se faça certas concessões em termos de criatividade. Isso não fazia parte do vocabulário de Kurt.

Então você acha que o Kurt não estava atrás da fama – que as intenções dele eram mais puras do que isso?
O que Kurt queria de verdade era aceitação. Ele a procurou inicialmente através da família, e depois através da banda, na época em que começou a fundar bandas. E depois através de Tracy, sua namorada. E depois com a Courtney. Acho que ele era ambicioso, e que também buscava a aceitação através da busca pela fama, mas não sabia o que isso significava. O resumo é que, se você próprio se condena, o mundo inteiro te dizendo que você é lindo e sensacional na verdade não faz você se sentir melhor. Na verdade, só piora a situação. É tipo, o lance de Kurt com a fama era que ele não sabia o que ela significava. Na cabeça dele, o teto para uma banda como o Nirvana seria vender uns 200.000 discos, tipo ser o Sonic Youth. Portanto, ele não sabia – não havia nenhum plano, nenhuma previsão para vender 600.000 discos em uma semana.

Publicidade

As pessoas têm muitas ideias erradas a respeito de Kurt, o que fica especialmente claro depois de se ver o filme. Qual você acha que é o maior erro de entendimento a respeito dele?
Há certas pessoas que o rejeitam só porque sentem que a gente nem sequer deveria estar falando sobre ele. Na mente delas, ele só fez três discos, e por que ainda não passamos para outro assunto? Os que o rejeitam como um cara branco cheio dos mimimi, que conseguiu aquela fama toda e ainda reclamava dela, é tipo: "por que você não cala a boca, cara?". Espero que, quando as pessoas virem o filme, e chegarem ao ponto em que Kurt adota algumas daquelas batidas, a recepção delas seja um pouco diferente. Olha, o que se tem no conceito do filme é que não se trata de um cara que está sendo hostil com a mídia só para pagar de punk, ou porque ele é um branquelo que gosta de choramingar, o negócio é que ele é um artista, e de fato não quer explicar a própria obra. Ele prefere que as pessoas a vivenciem. No momento em que ele estava vendendo 600.000 discos numa semana, de fato não acho que Kurt sentia a necessidade de vender mais do que isso. Então, a ideia de que ele marcaria uma entrevista para promover algo assim não fazia sentido – ele não precisa de mais promoção nenhuma. Isso começou a gerar nele a sensação de que fazer música era um emprego. Não era mais uma coisa pura. Essa é a minha impressão, pelo menos.

Publicidade

Mudando de assunto, o design de som do filme é lindíssimo. Ele capturou a natureza agourenta das histórias de Kurt…
Acho que, de todos os diferentes meios em que Kurt trabalhou, a colagem de som era uma das formas de expressão mais puras que ele tinha e, de certa forma, era algo quase tão íntimo, ou até mais, do que a sua música. Nas colagens de som, ele conseguia revelar todo o espectro da sua personalidade, e não um lado só. Parte de capturar a jornada de vida de Kurt para nós teria que ser através da colagem de som. A maioria dos componentes do design de som que o público pode ouvir por cima foram todos criação de Kurt. Nós os dispusemos em camadas e os apresentamos de uma certa maneira, mas os sons foram todos coisas que Kurt tinha gravado ou com as quais tinha brincado. Há uma certa pureza neles que duvido que alguém fosse capaz de recriar. Acho que eles fazem você sentir como se estivesse mesmo dentro da cabeça dele.

Kurt animado. Você estava muito apreensivo em relação a retratar o Kurt visualmente?
Eu estava bastante apreensivo com a ideia de desenhar o Kurt. Isso nunca esteve nos planos, mas num certo momento, particularmente por causa da história, e da parte sobre a infância dele, [ficou claro] que a gente teria que criar uma representação do Kurt. Aí eu li o roteiro, para, digamos, a cena da virgindade, e depois que o áudio havia sido editado tive de criar o roteiro visual para aquela parte. Eu estava trabalhando com Hisko Hulsing, meu animador, que é também o artista do storyboard, e entreguei a ele uma lista de tomadas. Às vezes era uma coisa muito simples, só mostrar e contar. Em outras, havia necessidade de muita interpretação. Teve uma coisa que ninguém chegou a comentar, mas na história, Kurt conta de como ele vai até os trilhos do trem, põe dois blocos de concreto em cima de si mesmo e espera que o trem das nove horas chegue para passar por cima dele. Bem, não foi desse jeito que desenhamos…

Publicidade

Ele está deitado perto do trem!
Nem chega a estar deitado! Está sentado no declive, fora dos trilhos. Como se para sugerir que a realidade talvez seja um pouco diferente da história contada. Mas a experiência da história, a emoção da história, acredito que sejam 100% verdadeiras. Não tenho motivos para pensar que a narrativa não seja verdadeira, a não ser o fato de que sinto que o Kurt sempre enfeitava um pouquinho as coisas. Resumindo, aquilo foi uma piscadela marota. Quase não cheguei a fazer a representação visual, porque abstratamente estava bem contente, sentado lá na sala de edição, avaliando o filme com um grande buraco negro no meio dele, mas não dá pra ficar com um buraco de sete minutos no meio do seu filme. Então, alguma coisa teria de acontecer, e não seria nada filmado com uma câmera de mão.

Precisava de alguma coisa que tornasse mais rica a experiência, e não distraísse dela. Então, naquele momento você percebe: "OK, a gente tem que fazer isso. Essa cena vai entrar no filme, cara. Vamos ter que colocar alguma coisa aqui." E daí você abraça a ideia. Passamos acho que três meses fazendo o storyboard e tendo mais indas e vindas do que gostaríamos.

A Courtney entregou "as chaves do cofre" para você. Como foi pesquisar os arquivos do Kurt, em comparação com os de Robert Evans e os dos Rolling Stones?
Sempre que você entra num arquivo, é meio como o dia de Natal, no sentido de que qualquer coisa que encontrar vai aproximá-lo mais um pouco do seu objetivo. Tipo, o arquivo dos Stones era imenso. Fica na Inglaterra, e são alguns galpões cheios de coisas. Um galpão tem 25 carros, todos os adereços de palco desde os anos 60, tem um cofre refrigerado contendo todas as gravações já feitas pelos Stones, desde 63-64. O de Kurt é diferente, no sentido de que era um monte de caixas, então foi literalmente como abrir presentes de Natal. Não tinha como saber o que descobriríamos a seguir. Então você abre uma caixa, e encontra duzentas fitas cassete de áudios nunca ouvidos, e abre outra e está cheia de fitas de vídeo. Lentamente você vai obtendo uma clareza sobre o todo. Houve algum documentário que você assistiu durante a criação do Montage… que talvez tenha servido de inspiração em termos de estilo?
Isso é uma coisa que eu não faço. Se visse outro documentário abordando os diários da mesma maneira que abordei os diários, a única coisa que aconteceria em consequência disso seria provavelmente cortar o negócio da minha lista. E não porque eu seja um cara do contra. Para mim, parte da emoção de construir documentários é explorar diferentes abordagens da forma e do meio, que sejam muito pessoais e muito específicas ao tema. Muita gente fala de forma e conteúdo, tentando encontrar um casamento entre uma e outro. Isso raramente se manifesta na não-ficção, e quando acontece, é uma coisa linda, maravilhosa. É algo a que me dedico muito seriamente.

Publicidade

Tenho uma maneira de abordar meus filmes em que divido a lista de adjetivos que descrevem o retratado, e então uso essas palavras como um modelo para como alguém descreveria sua impressão do filme, que sensações o filme causa. De modo que você não está assistindo a um filme sobre Robert Evans, está assistindo a um filme que é Robert Evans. A personificação de Bob Evans.

Você chegou a ver o Nirvana ao vivo?
Vi eles tocarem algumas vezes. Da primeira vez, na verdade, não lembro de muita coisa. Foi na minha faculdade, a Hampshire College, e eu estava bêbado. Acho que ele estava usando um vestido. Quando comecei [o Montage of Heck], eu era um fã casual, mas é claro que a importância cultural do Kurt teve uma peso forte sobre a minha geração. Aí, quando a Courtney me falou sobre a arte dele, me dei conta de que havia a oportunidade de fazer algo realmente único: eu poderia contar as histórias de Kurt não tanto através de suas palavras, mas sim por meio de suas experiências retratadas na arte dele. O filme, num certo sentido, é a jornada interior do Kurt pela vida. Isso parece uma ideia maluca para um documentário. Tipo, como que você documenta a vida de alguém? Especialmente em se tratando de alguém tão prolífico quanto o Kurt, e tão expressivo em tantos meios diferentes como ele era – ou seja, música, colagens de áudio, pinturas, filmes em Super 8, tirinhas, contos, palavra falada. Tudo. Se você compra essa ideia – e é o meu caso – de que todos os artistas estão criando uma autobiografia em suas obras de arte, as nossas experiências estão embutidas e refletidas nela. Penso que Kurt deixou uma das autobiografias mais extensas da minha geração.

Publicidade

Está tudo ali. As pessoas vêm tentando desvendar o mistério, se é que há um mistério, faz 20 anos. Muitos escritores ou cineastas tentaram, mas num certo sentido ele continua, e continuará sendo, incrivelmente elusivo, e num outro sentido há pouca gente que poderia ser menos misteriosa, tomando como base a obra deixada: a obra do Kurt é abrangente a esse ponto.

Mesmo depois desse filme, você continua encarando ele como um mistério?
Acho que a gente nunca chega a conhecer ninguém de verdade. A maioria das pessoas não conhece nem a si mesma. Então, para sugerir que eu poderia conhecer Kurt, eu teria que endossar um nível de megalomania e de arrogância que estaria perto de alguma coisa que o Russell Brand diria. Mas, para mim, sinto que consegui chegar o mais próximo possível.

Até um certo ponto, há coisas que eu pude confirmar que nem seus amigos mais íntimos conseguiram. E há algumas coisas que obviamente eles vivenciaram e que para mim são inacessíveis. Porém, mesmo pessoas que passaram uma quantidade de tempo imensa com ele só tiveram acesso a parte do quadro geral, e não ao quadro todo. Além disso, minha sensação em relação ao Kurt era de que ele sabia dizer como estava se sentindo, mas não necessariamente sabia dizer porque se sentia daquela maneira. Ele sabia dizer que se sentia ameaçado pelo ridículo, mas faltava a ele a introspecção para dar o passo seguinte, que no geral vem junto com a sobriedade. Quero dizer, no geral, quando a pessoa usa drogas, ela cria uma proteção contra a realidade.

Publicidade

Por que você acha que ele era tão hipersensível às humilhações?
Façamos uma investigação recuando no tempo. Podemos pular a última parte, porque sabemos que, no momento em que ele tentou se matar aos 14 anos, foi por causa de uma humilhação, então comecemos por aí. Quando ele tinha 10 anos, descobrimos, seus pais se separaram, e ele se sentiu constrangido e envergonhado por causa disso, o que é uma maneira peculiar de reagir a um divórcio. A maioria das pessoas que conheço culpam a si mesmas quando os pais se separam, e se sentem abandonadas, mas sentir vergonha e constrangimento já é uma outra história. Então, sabemos que esse elemento já estava presente nesse ponto. Portanto temos que voltar mais ainda para compreender. Ficamos sabendo que aos sete, seu pai costumava ridicularizá-lo por ele não se comportar como um adulto. Ele costumava fazê-lo se envergonhar de quem ele era.

Seria possível voltar ainda mais no tempo?
Poderíamos ir para antes ainda, acho que o filme consegue fornecer isso. Ao contrário da maioria dos filmes, onde colocam psicólogos clínicos que pegam o subentendido e o trazem à superfície, e resolvem a questão, tento deixar que o próprio público passe por esse processo. Acredito que todas as respostas acessíveis estão embutidas no filme.

Brett Morgen fotografado no SXSW por Peter Yoo. Sei que você está planejando lançar um livro e um CD para acompanhar o filme. Fazer isso foi divertido ou um pé no saco?
Foi meio que não divertido, para falar a verdade. Nesse momento, estou completamente empolgado com o que temos. Acredito que o livro é um excelente companheiro para o filme. Contém as transcrições completas das minhas entrevistas com a família do Kurt, que nunca foi entrevistada antes. Então é realmente um tesouro de imagens e das histórias contadas pela família do Kurt. Ele vai ser lançado no dia 5 de maio.

Publicidade

Você mencionou que, apesar do sucesso do filme, este não é um momento de celebração para você, porque o tema é, em última análise, sombrio. Não obstante, a recepção do filme foi avassaladoramente positiva.
É tremendamente gratificante ler o que as pessoas estão achando do filme. Digo "ler" porque sinto que, hoje em dia, acho que consigo saber tanto, se é que não mais, lendo as reações das pessoas no Twitter do que estando na sala de cinema. Quando se está no mesmo lugar, as únicas pessoas que vêm falar com você são as que gostaram do seu filme. Ninguém te aborda num festival de cinema para dizer que o seu filme é uma merda. Então é preciso encarar tudo com alguma desconfiança. Mas, no Twitter, as pessoas estão postando seus primeiros comentários antes mesmo de as luzes acenderem – cara, como adoro isso.

Fiz um perfil no Twitter no dia em que Crossfire Hurricane passou na HBO. Nunca tinha passado por uma experiência igual àquela. Estou lá sentado enquanto o filme está passando, e estou lendo os comentários das pessoas. Aí eu começo a simplesmente ficar muito puto. Tipo, por que vocês não estão assistindo à porra do filme? Tipo, escreve o tuíte depois que o filme acabar! [Risadas.]

A coisa que dá muito ódio no que diz respeito à televisão é que você faz um filme para a TV, e aí fica sentado em casa com um amigo, ou com a sua mulher, ou enfim, e aí o filme começa, termina, e tudo continua na mesma. E aí, com o Twitter, a coisa se transforma numa experiência interativa, em que você recebe um feedback instantâneo, de uma maneira que é mais pura do que estar com um público ao vivo. Fico fascinado com a conversa que rola, com como as pessoas vivenciam o filme.

Publicidade

Atipicamente agora, com este filme, eu fico por dentro mesmo quando acontece uma exibição na qual não estou presente, em alguma outra parte do país ou do mundo. Sei a que horas ela termina, e vou lá ver como as pessoas estão reagindo. Faço uma busca por "Montage of Heck" e pronto. Não entendo nada disso de hashtag. Não entendo.

Adorei isso de você ler as reações no Twitter.
Ah cara, tipo, estranhamente, nesse filme, sendo que as informações sobre o lançamento foram muito desencontradas, as pessoas estão toda hora vindo falar comigo para tentar entender quando vão poder ver o filme.

Você vai responder às pessoas nesse minuto!
Pronto, bora fazer isso agora.

Certo. Vamos ler alguns tuítes agora.
"Alguma chance da gente conseguir entrar sem precisar de crachás? Super fãs de Nirvana aqui em Austin." Vê só o que eu vou responder. "Estou com 20 ingressos aqui para vocês."

Então você nesse momento está distribuindo ingressos via Twitter para fãs em Austin?
Ahã.

Foda demais. Você conhece essa pessoa?
Nunca ouvi falar nele em toda a minha vida.

Kurt Cobain: Montage of Heck será lançado dia 24 de abril em NY, LA e Seattle, e estreia na televisão pela HBO no dia 5 de maio.

O livro de Kurt Cobain: Montage of Heck sai no dia 5 de maio. Em breve será anunciada uma data de estreia nos cinemas ingleses.

Peter Sholley gostaria de agradecer ao seu irmão, George.

Siga o Peter no Twitter

Tradução: Marcio Stockler