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Música

Muito Além do Dubstep: Ouça o Novo EP do Bruno Belluomini

Ele já foi considerado o “embaixador do dubstep no Brasil”, mas hoje ele é produtor e, na boa, isso é melhor para todo mundo.

Conheci o Bruno Belluomini no final da décade de 90, no rolê do punk paulistano. Naquela época, a gente fazia zine, organizava shows, manifestações e arrumava briga. Lembro de quando colávamos na Lov.e pra curtir drum'n'bass e de quando ele me apresentou nomes como Chumbawamba e Atari Teenage Riot. Também me recordo de quando ele entrou numas pra valer com a eletrônica e ganhei seu primeiro CD mixado, em 2001, numa festa na casa de amigos. Depois perdemos o contato e fui reencontrar o cara já na condição de embaixador do dubstep no Brasil, à frente do projeto Tranquera.

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Detalhista do jeito que sei que ele é, Belluomini só resolveu mergulhar de cabeça nas produções autorais em 2013. Seguro de sua bagagem artística e da experiência adquirida até aqui, os experimentos renderam um EP, que, para minha surpresa, não é um lance dubstep, mas muito mais solto e até conceitual. Não importa a classifição também, o importante é que o trabalho ficou legal pra caramba. O EP oficial, intitulado CMNT, tem três faixas, e para lançar a parada exclusivamente aqui pelo Noisey, ele produziu a nosso pedido um mix com passagens desconstruídas dessas músicas. Pra baixar ou ouvir em streaming. O bagulho é coisa fina, vai na minha.

Como não poderia deixar de ser, aproveitei o embalo pra fazer algumas perguntas para ele via Facebook. O resultado é a entrevista que você confere logo abaixo:

O que te inspirou a querer lançar um EP com sons autorais nesse ponto da carreira? Vem pela frente uma guinada sua nessa direção de focar seu trabalho na produção?
Meu 2013 foi, praticamente, em estúdio. A coisa foi bem divertida. Agora chegou a hora de mostrar o que fiz esse tempo todo. Quero lançar meu álbum em 2014 e todas essas faixas que desenhei ao longo do ano passado são, de fato, meu ponto de partida. É um prazer muito grande poder criar minhas próprias ideias sonoras, com minhas ferramentas preferidas, sem compromisso com nada além da minha vontade. Espero que as pessoas estejam curiosas para conhecer meu novo trabalho tanto quanto estou excitado em tornar aberta e pública essa nova etapa da minha carreira. É bem desafiador. Preciso disso para sentir tesão no que faço.

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Você comentou que passou o ano de 2013 todo trabalhando nesses sons. Como funcionou esse processo? Você trabalhou com samples e beats pré-gravados? Que tecnologia você está usando para suas produções atualmente?
Uso o Ableton. Além dele, gosto muito do Audacity. Para compor tenho um MIDI bem simples, com algumas teclas e knobs. Também existem dois radinhos de pilha que uso para caçar frequências fantasmas. Em estúdio até rola um microfone, mas prefiro gravar meus samples no celular mesmo – acho isso muito mais prático porque tenho o hábito de andar pelo Centro e captar a matéria prima do que vou criar em estúdio depois. Sob o ponto de vista conceitual, tudo começou com uma visão sonora, uma pulsação imagética na minha imaginação. Meu desafio foi transformar essa imagem em som. Foi praticamente uma adaptação, uma transposição de linguagem.

Depois de ter seu nome ligado seriamente ao dubstep na cena noturna de São Paulo, você aparece com um EP com uma pegada meio techno. Essa escolha foi consciente?
Meu trabalho e minha pesquisa sonora sempre foram assuntos deliberadamente abertos e públicos: da gig com o Len Faki em 2005 à gig com o Ben Klock em 2013, passando pelo Wiener Festwochen (Festival de Viena) em 2007 e pelo Sónar São Paulo em 2012, tudo sempre foi compartilhado da forma mais ampla, acessível e livre possível. Meu interesse é sobre tudo aquilo que não seja apenas música, mas atitude também. Foi assim com o hardcore, o punk rock, o dubstep, e agora com meus próprios sons que tenho feito em estúdio. Tenho vontade de me expressar musicalmente e é assim que acontece comigo: naturalmente, de dentro para fora, de uma forma muito espontânea.

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E a Tranquera? A quantas anda? Vai rolar alguma novidade em torno do projeto esse ano?
A Tranquera nasceu na rua, em 2005, num momento onde o termo "dubstep" ainda não era conhecido. A noite teve seu auge no Vegas [extinta casa noturna da Rua Augusta], entre 2009 e 2012. Quem estava lá sabe: fiz minha parte, levei para a pista o que havia de melhor e mais interessante na época e essa é uma etapa que, apesar dos bons momentos, já ficou para trás. Hoje existe o TRNQR, que é a continuidade desse processo de produção de informação e cultura que não encontra representatividade por aqui. Estamos fazendo a nossa parte mais uma vez: o TRNQR funciona como uma base para a transmissão do nosso radio show e para o compartilhamento das nossas pesquisas sonoras atuais.

Na sua opinião, o que está rolando de mais vanguarda e de mais retrocesso na música eletrônica atual?
Tenho vontade de fazer música, algo que faça ou não faça o menor sentido para mim apenas. Mas tenho meu gosto pessoal, minhas preferências e minha opinião. Gosto de caras como o Marcel Dettmann, por exemplo, que atuam com muita curiosidade, com um espírito propositalmente ingênuo e encaram seu trabalho com bastante responsabilidade, porque sabem que no fundo têm a difícil missão de despertar a própria curiosidade no grande público de uma maneira extremamente simples, através da diversão. Retrocesso, na minha opinião, é trocar a música, a arte e a livre expressão por qualquer outra coisa em seu lugar. Isso tudo não pode ser substituído nunca. A música vem primeiro, sempre.

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Encontre o Bruno Belluomini aí pela internet:

soundcloud.com/belluomini

facebook.com/belluomini77

trnqr.com

facebook.com/tranqueraoriginal