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Música

O Accept Aceita Numa Boa a Rebeldia de Meia-Idade

Treze anos depois, Accept voltou pra provar que metal bom é o que chuta bundas - independente da sua idade.

Com o mesmo espírito de LL Cool J, os lordes do thrash germânicos Accept se reuniram em 2009 após um hiato de quase treze anos depois de sua separação em 1997. Por mais que as origens da banda cheguem até 1968, apenas em 1976 o guitarrista Wolf Hoffmann e o baixista Peter Baltes se juntaram ao vocalista Udo Dirkschneider e o Accept tornou-se a força do thrash e power metal que influenciaria gerações vindouras do metal. Contando agora com o ex-vocalista do TT Quick Mark Tornillo, que substituiu Dirkschneider, o Accept embarcou no que se revelou o retorno de uma banda menos interessada em andar no bonde dos sucessos do passado e mais obstinada em criar novos riffs para toda uma nova geração de novos ouvintes, bem como fãs mais antigos que os acompanham desde o começo. Seu próximo disco de estúdio, Blind Rage, será o terceiro depois da volta da banda e dá todos os sinais de que a idade e o tempo não significam porra nenhuma ao se tratar de riffs. Conversei recentemente com Hoffmann sobre a história do Accept e porquê ele fica contente com o fato de o metal ser algo mais relaxado e tranquilo agora.

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Noisey: Blind Rage será o 14º disco da banda. Ao observar a história e carreira do Accept, você viu o jeito de vocês fazerem música mudar desde aquele LP de 1979 ou ainda é uma questão de buscar aquele mesmo catalisador criativo de antes?
Wolf Hoffmann: Boa pergunta. Nunca pensei muito a respeito disso, pra ser sincero. Só fazemos nosso trabalho da melhor forma que pudemos, e há momentos em que fico pensando de onde será que vem toda essa criatividade. E há vezes em que nem quero pensar sobre isso. Só fico feliz que ela ainda exista, sabe? Sempre que vamos compor um novo disco, temos que seguir meio que o mesmo esquema, que é ficar sério, se trancar em um estúdio em algum lugar, e trabalhar. Se não for assim, não conseguimos criar nada. Não é como se acordássemos um dia e estivesse tudo pronto em nossas cabeças. Eu mesmo nunca tenho nenhuma daquelas inspirações que vem do nada no meio da noite. É algo que você tem que dizer pra si mesmo: “Bem, se quisermos lançar um novo disco na próxima primavera ou o que for, temos que começar a compor agora”, porque temos datas pra entregar tudo e é aí que começa a pressão e você pensa “puta merda, temos que começar a fazer algo aqui”. [risos] Sempre acontece. Não sei como. Geralmente se você se esforça o bastante, algo toma forma e as músicas começam a aparecer diante dos seus olhos.

Essa simplicidade é algo que beneficiou vocês durante anos, e essa longevidade é algo raro em qualquer gênero, ainda mais na música pesada. O que fez vocês se juntarem no começo? E na sua opinião o que manteve essa força pra criar e seguir intacto?
Quando Peter e eu nos conhecemos, o que já tem mais de 35 anos, éramos uns moleques, adolescentes da mesma vila. Simplesmente amávamos fazer música e esse amor ainda existe. Quando nos juntamos pra compor, o entendimento mútuo e o amor por tocar continua o mesmo e é algo que nunca foi embora. Não acho que irá nunca. Enquanto isso existir, podemos manter isso aqui rodando. Assim que você para e diz pra si mesmo ou sente que aquilo virou rotineiro ou uma tarefa ou “ai meu deus, nós temos”, e nada mais é divertido, daí é ladeira abaixo. Isso tudo pra dizer que é mágico estar no estúdio compondo e aí você começa com um riff básico, e no final do dia você olha pra trás e vê que criou uma música pode vencer o teste do tempo. É um milagre. Mas também não se pode esquecer que é um dia longo de muito de trabalho. Você tem fazer as horas valerem. A coisa não se cria sozinha. Não funciona assim, e isso é algo que se pode esquecer às vezes. Leva tempo e prática e com sorte depois de já ter trabalhado tanto com isso, você pega o jeito. E a magia ou milagre estão no fato de você conseguir diferenciar uma ideia boa de uma ruim logo de cara, porque tantos de nós acham que essa coisa é mágica automaticamente, mas não é. Só uma pequena parcela do que compomos verá a luz do dia. O resto tem que ser deixado de lado por um bom motivo.

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O Accept ainda bota pra foder.

E por falar em milagre e no trabalho duro que vocês obviamente dedicaram ao Accept durante tanto tempo, agora me bate a curiosidade de saber que momento você vivia pessoalmente quando surgiu o desejo de fazer de música. Que momento foi esse?
Bem, eu devia ter 14 ou 15 anos, e entrei na banda talvez aos 16…? Era 1976, acho. É aí que começo a contar como o início do Accept. Não por minha causa, mas porque Peter e eu entramos e logo depois conseguimos nosso primeiro contrato. Foi aí que tudo começou a acontecer na vida do Accept naquela época. Lembro claramente de ter aquele grande sonho de ser músico profissional um dia e viajar tocando pelo mundo. Era um mundo mágico pra mim lá fora. Todos nós éramos inspirados por bandas como Deep Purple e Uriah Heep, Queen, e Scorpions, e Judas Priest, e AC/DC e íamos aos seus showse achávamos tudo incrível. Pensávamos “talvez um dia estejamos em um desses ônibus de turnê, e talvez um dia possamos fazer o que eles fazem”, então meio que fizemos o que fosse necessário pra chegar lá. Isso significava ensaiar todo dia. Significava horas e horas de tarefas chatas. Era parte do acordo. Era nosso sonho, e acho que se você trabalha duro o suficiente, você eventualmente chega lá, e foi o que aconteceu conosco. Usei a música como uma maneira de escapar de nosso ambiente. Não é como se minha família fosse ruim ou algo assim. Era nosso jeito de protestar contra as instituições naqueles dias. Havia um pouco de rebeldia também. Todos sabíamos que não queríamos ser como nossos pais. Era assim que nos rebelávamos naqueles tempos. Você queria ter cabelo comprido e viver sua vida do seu jeito. Atuar como músicos abriu esse mundo pra gente, acho. Por isso que começamos essa coisa toda, o que é louco porque hoje em dia esse conflito de gerações nem existe mais. Agora vejo pais e filhos indo nos mesmos shows! [risos]

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Havia um quê de resistência cultural muito palpável e muito verdadeiro quando vocês começaram. Pra você, essa dinâmica de resistência se foi para grande parte da música extrema de hoje em relação ao que leva os artistas a criarem? Contra o que nos rebelamos agora?
Hoje é completamente diferente. Pra mim, parece tudo mais calmo, e eu gosto mais disso. Não temos mais que justificar tudo que fazemos dizendo “ah, somos rebeldes”, porque claramente somos todos senhores com mais de 50 anos. Não tem muita coisa com a qual se rebelar mais [risos]. Não somos mais jovens raivosos, mas ao mesmo tempo nos divertimos muito, e o mesmo acontece com público. Acho que tudo se suavizou de certa forma que hoje não se leva tudo tão a sério. Tá tudo bem em curtir AC/DC e Iron Maiden e todas as outras bandas. As pessoas são muito mais tranquilas com o que ouvem hoje em dia. Naqueles tempos ou você era fã de AC/DC ou de Iron Maiden. Provavelmente não é esse o exemplo certo, mas era tudo muito definido, em termos do que se acreditava e do que se gostava. Tudo era levado a tão sério que isso acabava tirando um pouco da diversão. Hoje todo mundo sabe que rola um pouco de humor e ironia na parada. Estamos lá, punhos levantados, mas qual é, é só diversão. Antes, não era.

A definição sempre mutante do que é considerado extremo é fascinante, já que inevitavelmente afeta a música que está sendo feita. Digo, em algum ponto da história o Accept foi considerado metal extremo.
Com certeza! E as pessoas nos odiavam ou nos amavam. Não existia meio-termo. Ou achavam a banda demais porque era tão diferente e havia algo nela que gostavam, enquanto outros ouviam os três primeiros acordes e desligavam o som. Agora é algo muito mais mainstream e há metal muito mais extremo sendo feito agora, de forma que parecemos bobos ou soamos como rock clássico perto desses caras [risos]. E eu meio que gosto desse aspecto de tudo ser mais tranquilo hoje em dia. Quando você toca em festivais acaba vendo tantas bandas diferentes. É um clima bacana, descontraído e pacífico em que ninguém está puto e se odiando. Era meio desse jeito nos anos 80. Havia esse lance de competição ou não, nunca os dois.

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O Accept encostando suas jovens bolas na parede.

Você mencionou a aproximação da música extrema do mainstream e a maior aceitação que o gênero tem recebido nos últimos anos. A que você atribui essa mudança?
Acho que a música como um todo está se expandindo cada vez mais. As pessoas são expostas a cada vez mais estilos diferentes de música, e existem tantos subgêneros que as pessoas vão absorvendo tudo, e a consequência é elas se tornarem mais lenientes. Eu percebo isso nos festivais. No verão passado fizemos um show, e o Rush tocaria depois da gente, e tinha um show do ZZ Top bem atrás da gente, e antes de nós tocou uma banda bem pesada. Então você tem esse espectro amplo de gêneros e as pessoas curtem. É demais, eu amo.

Com o lançamento de três discos inéditos desde o fim da banda, incluindo aí Blind Rage, vocês estão em boa companhia de alguns outros pioneiros do metal como Judas Priest e Black Sabbath que lançaram discos há muito esperados. Vocês não têm cara de que vão parar logo, e fico pensando qual seria o próximo passo do Accept e como o que vocês fizeram ficará marcado na história da música pesada.
Sendo bem honesto: quem sabe o que vem por aí? Não consigo prever o futuro como qualquer outra pessoa, mas posso te dizer que temos uma história única com uma pausa tão longa e um retorno tão especial. Não acho que nunca tenha sido feito dessa forma, não que eu saiba. Algo que acho completamente bizarro sobre nossa é volta é que quatro ou cinco anos atrás, quando retomamos as atividades, todos pensavam que não iria dar certo ou, se desse, só tentaríamos fazer uns shows tocando as músicas antigas e não seria tão bom quanto antigamente. Todo mundo meio que pensava assim, então lançamos Blood of the Nations e todo mundo se surpreendeu com sua qualidade e como soava novo, com uma energia nova. Aí veio o ceticismo: “Eles não vão conseguir repetir essa. Vai ver foi uma daquelas coisas que só rolam uma vez na vida e depois eles vão sumir, já fizeram tudo o que tinham pra fazer”. Em seguida lançamos Stalingrad e parecia que vinha mais por aí. Agora estamos no terceiro disco após a volta e as pessoas começam a falar “sabe, eu amava seu trabalho antigo. Cresci ouvindo-o nos anos 80. Era demais, mas acho essa fase do Accept atual quase tão boa ou talvez melhor do que vocês fizeram antes”. Pra mim, isso é a maior prova de que não estamos tentando competir com o que criamos nos anos 80. Estamos, de fato, começando a superar aquilo, e cada vez mais vejo gente falando que esta nova fase da banda é melhor a antiga. Uau. E se isso acontecer mesmo, missão cumprida, porque ninguém poderia ter esperado por nada tão bom quando entramos nesta jornada. Não sabíamos o que esperar quando a começamos. Só liguei pro Mark e disse “isso parece certo. Vamos lá, vamos ver até aonde chegamos”. Mas não fazíamos ideia se as pessoas iriam amar ou odiar ou sei lá. Estávamos nos preparando pra tudo! [risos]

Jonathan Dick continuará odiando o sistema no decorrer dos seus anos dourados. Siga-o no Twitter -@steelforbrains

Tradução: Thiago “Índio” Silva