Batemos um Papo com o Cara que Quer Levantar Seis Milhões de Dólares Para Destruir o Disco Novo do Wu-Tang

Há alguns tipos de fãs que é melhor não irritar. Beliebers, para começar. Eles nunca deixam de sair em defesa de JB, ameaçando de morte qualquer mulher que seja fotografada a uma distância de cinco metros dele. Pensem nos fãs de subculturas: eles são pessoas que se escondem em um quarto, rindo de todo mundo até serem cutucados com um aguilhão de gado – o que desperta neles o tipo de fúria que as pessoas normais reservam para pedófilos ou para Donald Trump. Os loucos por hip-hop são os mais sensíveis de todos, condenando qualquer um que se atreva a falar mal de DOOM, ou pior, que se esqueça de escrever seu nome todos em maiúsculas. Muitos grupos de rap têm fãs completamente malucos, mas os mais insanos são os fãs do Wu-Tang Clan.

Qualquer um imaginaria que o Wu pensaria duas vezes antes de pregar uma bela peça em sua legião de fãs devotados. Mas foi isso mesmo que eles fizeram, e o grupo anunciou um leilão para a única cópia de seu novo álbum, gravada em prata e níquel, The Wu - Once Upon A Time In Shaolin. O disco sairá em turnê por galerias e festivais antes de ser vendido – e aqueles que derem lances poderão ouvi-lo por $50. Para combater esta jogada de marketing, os fãs se reuniram e começaram uma campanha no Kickstarter para levantar fundos, esperando vencer o leilão e distribuir o álbum em nome da democracia cultural, ao invés de deixar que ele permaneça nas mãos de um único ricaço.

Chris Everhart – um dos mais insanos fãs do Wu-Tang – decidiu tomar suas próprias medidas. Ele chegou ao extremo de começar seu próprio projeto no Kickstarter, em uma tentativa de levantar seis milhões de dólares para comprar o disco novo do Wu e depois destruí-lo de “forma artística e grandiosa”. O Kickstarter oficial terminou ontem, com cerca de US$ 15.400 e quase 700 participantes, enquanto o de Everhart não está muito atrás, com mais de US$ 10.400 e apenas 25 participantes – mas ainda vai continuar por 48 dias.

Noisey: Você realmente acha que vai conseguir levantar seis milhões de dólares?
Chris Everhart: Falando sério, acho que vou. Acredito na minha causa. Teoricamente, se eu for capaz de alcançar um público global, acho que há pessoas suficientes por aí que gostariam de contribuir. Dito isto, eu tenho expectativas realistas sobre levantar os fundos no prazo de 60 dias que o Kickstarter exige. Se este objetivo não for alcançado, tenho um plano B. Isto não é só por uma causa. Eu quero aquele disco.

Qual é o seu plano B?
Vou começar outra campanha que não tenha um limite de 60 dias para levantar os fundos, e devolver o dinheiro a todos os que contribuíram pelo Kickstarter.

Muito bem. Você disse que vai transmitir ao vivo a destruição do disco, e a descreveu como “ritualística”. O que exatamente você planeja fazer?
Este é um trabalho em andamento. Infelizmente, neste momento a resposta para esta pergunta é “depende”. Vamos supor que a compra do álbum exija todo o dinheiro que levantarmos. Vai sobrar pouco para a minha performance. Se eu tiver algum dinheiro para brincar um pouco com a ideia, a coisa será muito mais interessante, pra dizer o mínimo. Só para deixar você curioso, estou pensando em liquefação e/ou devolver o trabalho para a terra. Não será nada parecido com uma queima de sutiãs de cinco minutos.

Com o que você compararia a sua performance, em termos de rituais?
Com a Paixão de Cristo, ou talvez com a fuga de Maomé. Não sei muito sobre a Nação dos Cinco por Cento, mas sei que o Wu se interessa por isso. Então talvez eu respeitosamente imite uma de suas tradições.

Legal. O que você quer provar ao destruir o disco de forma tão grandiosa?
Eu não tenho nada a provar. Criando uma obra de arte (na minha performance), eu quero fazer apenas isto: criar arte. A arte pode ser definida em termos rígidos ou mais flexíveis, dependendo do contexto e do motivo da pessoa que a define. Para mim, pessoalmente, a arte é algo que acontece. Tanto a criação como a destruição podem se tornar arte. A minha performance poderia ser descrita mais precisamente como arte de protesto – estou protestando contra a decisão de limitar uma obra de arte à burguesia, para o lucro financeiro. Sou o proletariado, e não vou tolerar isto.

Você acusou o Wu-Tang de serem “os donos da verdade”, mas você não está fazendo uma coisa parecida? Ou é essa a ideia?
Eu interpreto esta decisão do Wu-Tang como se eles fossem os “donos da verdade” em vários níveis. Em um nível, o senso de autoimportância, de que o trabalho deles vale este preço, é profundamente egocêntrico. Infelizmente, isto se confirmará se alguém realmente pagar vários milhões de dólares para comprar o disco. Isto é o que vamos ver.

O RZA comparou este trabalho com a obra de Mozart. Que porra é essa?! Isto é blasfêmia, vindo de um músico. A obra de Mozart sobreviveu ao teste do tempo por mais de dois séculos. Eu não quero saber da sua arrogância. Aí, RZA: eu ouvi o The W e o single “Gravel Pit”. Aquela merda era um verdadeiro lixo. E além disso, eu não me lembro de Mozart ter criado peças para comerciais do malt liquor “Premium” St. Ides. Deixe que a história compare você a Mozart, não a sua boca enorme. Isso me cheira a Kanye West.

Por que você não quer nem ouvir o disco?
Por dois motivos: para protestar contra esta decisão politica, com objetivos financeiros, e porque os últimos dois álbuns do grupo nem mereciam ser ouvidos. O mundo vai ficar perfeitamente bem sem mais um porta-copos na minha sala (ou na de algum bilionário).

Então, o que você está fazendo para divulgar a ideia/ levantar fundos?
Nada, Eu acredito que uma causa válida irá alcançar as massas sem promoção. Sou um otimista que acredita (talvez ingenuamente) que os maus cairão e os justos se elevarão neste mundo.

Desculpe, Chris, não temos dinheiro para patrocinar você. Você também disse que toda arte deve ser compartilhada com o mundo - como isto é diferente de qualquer música que só está disponível para compra via iTunes?
Porque bilhões de pessoas em todo o mundo têm acesso ao iTunes e podem comprar uma música por centavos. Além disso, você pode fazer o download e depois tocar a música quantas vezes quiser, com outras pessoas. Se esses idiotas acham que a merda deles é ouro, por que eles não cagam barras e as distribuem entre os pobres? Não, aparentemente eles cagam barras de ouro e as trancam no banheiro de algum ricaço, pelo preço certo.

E se você esbarrasse com o RZA ou qualquer outro membro do Wu Tang na rua, depois de tudo isto, o que diria a eles ou faria com eles?
Esta é uma pergunta capciosa. U-God, Deck, 'Kwon, Ghost, Method Man: eu não diria nada. Se o Wu fosse o Voltron, estes caras seriam só as canelas e cotovelos. Exceto o Method Man, que obviamente é o dente de ouro.

Não sei se Raekwon gostaria de ser chamado de cotovelo. Últimas palavras?
Eu sou um fã do Wu-Tang. Eu me lembro de sair da escola, pular na minha bicicleta e correr para a loja de discos para comprar o Wu-Tang Forever. Agora, os caras são milionários e acham que estão acima dos fãs. Segura essa notícia quente: não estão. Ouçam o seu amigo Hank Moody, ele é um cara legal. Os fãs fizeram vocês! E não podemos tirar deles os milhões que vieram desses fãs. Mas não posso dizer mais nada. Eu ia dizer ao meu filho: ei, baixinho, você nem precisa ir para a escola de verão – ouça o CD do Wu-Tang e você terá toda a educação de que precisa este ano – mas não posso. Porque algum ricaço imbecil está com ele, em um CD player com capacidade para 100 discos, e a faixa 3 no repeat.

O Wu-Tang NÃO está aqui para sempre, seus filhos da puta!

Ok, obrigado, Chris. Boa sorte com sua missão.

O Lev Harris está no Twitter - @levharris1