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Música

A Rainha se Pronuncia: Uma Entrevista com Erykah Badu

Ela fala sobre Drake, a nova mixtape, e seu papel como apresentadora do próximo Soul Train Awards.

Foto via Getty / Paras Griffin

Cinco anos se passaram desde o último disco lançado por Erykah Badu, New Amerykah Part Two (Return of the Ankh), mas ela, estranhamente, parece estar sempre presente. Nos palcos, e nas redes sociais, continua próxima de seu público, mesmo não havendo um produto novo a vender. Quando o quiabo é do nível de Baduizm, Mama’s Gun, Worldwide Underground e que tais, é normal fazer uma horinha. Mas em breve os fãs não terão mais que racionar.

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O fim de ano da sra. Badu está lotado: em outubro ela lançou sua primeira música nova em mais de um ano (sem contar uma rápida participação especial na música "Rememory", de Surf, disco lançado pelo Donnie Trumpet and the Social Experiment) na imensa e elegante "Hotline Bling But You Caint Use My Phone Mix". Foi a primeira a sair de uma mixtape também chamada de But You Caint Use My Phone, com base no clássico verso do single de 1997 “Tyrone”, prometida pro fim de novembro.

Erykah sentiu-se inspirada para gravar depois de ouvir uma "música fofinha" de Drake, e sua versão do sucesso do verão da estrela de Toronto logo cresceu e transformou-se num projeto. Ela não diz em cima de quais artistas vai trabalhar em But You Caint Use My Phone, mas afirma que devemos esperar a presença das "figurinhas de sempre". Aliás, sim, Drake realmente apareceu para tomar um chá e ouvir conselhos sentimentais, como ele disse em "Days in the East". Eles são grandes amigos. No fim de novembro, ela soltou “Phone Down”, música “dedicada a Aubrey”.

No fim de outubro, no Texas, ela estreou Live Nudity, o primeiro one-woman show de sua vida, na Black Academy of Arts and Letters, em Dallas, onde ela subiu pela primeira vez aos palcos na juventude. Também apresentará o BET & Centric’s Soul Train Music Awards de 2015 em 29 de novembro, uma celebração anual da excelência na música negra, que este ano homenageará Kenneth "Babyface" Edmonds e Jill Scott.

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Noisey: Você andou bastante ocupada desde o último disco, mas não chegou a lançar muitas músicas. Estou curioso: você andou escrevendo alguma coisa nos últimos cinco anos ou meio que só foi deixando a vida acontecer?
Erykah Badu: Um pouquinho das duas coisas. Eu mais procrastinei mesmo. E dentro disso meio que vivo a vida, experiencio as coisas. Escrevo música o tempo todo, mas recentemente voltei a sentir a fissura. A coisa vem quando vem, e não posso forçar, mas recentemente senti de novo com a "Hotline Bling" e todas as outras coisas com que venho fazendo experimentos.

Muita gente ficou empolgada de ver o seu filho creditado no remix de "Hotline Bling". Ele anda compondo e gravando muito agora?
O tempo todo. Ele compôs a primeira música dele e foi creditado pela primeira vez em um dos discos da Gwen Stefani. Uma música chamada “Bubble Pop Electric”. Ele sempre foi uma criança criativa. Muito bom para inventar letras. Tem um gosto musical impecável. É muito talentoso na hora de aprender a tocar instrumentos. Ele foi creditado algumas vezes nos meus discos também, New Amerykah Part One especificamente. Ele é uma dessas pessoas talentosas que respeito e admiro de verdade, e por acaso essa pessoa é meu filho.

Qual sua opinião sobre a briga entre Drake e Meek Mill?
Adorei. Para mim o hip-hop é isso. Gostei de ver. É assim que a gente tem que lidar com as coisas! Dou meu apoio.

O disco do D'angelo finalmente saiu! O que você achou de Black Messiah?
Adoro. Adoro a atmosfera dele. Parece uma coisa rica, complexa. Eu nem sabia quanta saudade sentia da voz dele, da marca dele, até ouvir. Tem algumas músicas naquele disco que deixo no repeat, só para morar dentro delas. Também me deu um pequeno impulso, gerou uma pequena fagulha em mim.

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Houve alguma polêmica nesse verão a respeito do clipe que o Black Eyed Peas soltou de “Yesterday”, que parecia muito com o seu clipe de “Honey”. Eles chegaram a falar contigo?
Não, e tipo, foi uma coisa bem leve… Espero que tenha sido leve a maneira com que me expressei, porque o will.i.am é um cara muito talentoso. Eu e ele somos piscianos, e já fizemos música juntos, então espero que ele não tenha ficado sentido. E eu me senti lisonjeada.

Você vai apresentar o Soul Train Awards mais uma vez, no mês que vem. Não é a sua primeira vez, certo?
Já apresentei junto com o Heavy D e a Patti LaBelle em 1998. É bom para mim enquanto artista ter uma oportunidade de ser parte daquela organização. Eu cresci vivendo o Soul Train. Então é uma coisa incrível, e estou ansiosa para ver como vai ser. Tive oportunidade de virar uma produtora assistente do show, então isso quer dizer que vou ter uma chance de ajudar a desenvolver algumas das ideias, e estou escrevendo a parte de comédia.

Você vai fazer umas esquetes?
Eu talvez faça umas esquetes. Talvez tenha que fazer umas esquetes. [Risos]

Você também vai estrear um one-woman show em Dallas [a entrevista foi feita na semana do show]. Você já atuou uma boa quantidade de vezes e cantou muito. Mas se sente nervosa com a ideia de fazer teatro de novo, desta vez sozinha?
Na verdade eu venho do teatro. Cresci fazendo teatro e me formei em teatro na faculdade, a Grambling State, em Louisiana, e a vida inteira fiz parte do teatro. É uma parte importante da minha carreira, mesmo como intérprete nos palcos. Saí em viagem por oito meses de cada ano durante os últimos 18 anos, e o palco é o meu lugar principal, mas estar sozinha lá em cima… Não sei porque isso me deixa tensa, mas deixa. Tenho certeza de que essa energia nervosa vai se transformar numa coisa realmente sincera que vou acabar compartilhando. Mas não sei o que vai acontecer, então veremos. O show vai ser de improvisação.

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O negócio todo vai ser de improvisação?
Tenho um formato, mais ou menos, mas não cheguei a ter tempo de escrever um show de 60 minutos, então teremos que esperar para ver o que acontece.

Se tudo sair bem você pretende levar para outros lugares além de Dallas?
Sim. Quis testar aqui primeiro, onde me sentia muito à vontade, no teatro em que cresci, em Dallas, junto da minha avó Gwen Hargrove e meu tio Curtis King, da Black Academy of Arts and Letters. É um teatro em Dallas que ofereceu arte e entretenimento por mais de 30 anos. E sou parte desse legado, e quis começar por aqui. Achei que não me sentiria tão intimidada, mas… não funcionou. Então tenho que levar a coisa comigo e ver o que acontece.

Você mexeu muito no dial do hip-hop e do R&B, e mudou a temperatura da música com os seus trabalhos. Quem você vê na nova geração que tem um impacto semelhante? Quem você costuma ouvir entre os mais novos?
Tem muita coisa. Amo o Drake, porque ele está sempre evoluindo. Ele vive prevendo o que vai acontecer. Ele presta atenção ao que está rolando, e depois incorpora aquilo. Adoro o Young Thug. Ele meio que faz a mesma coisa. Adoro a Wolf Gang. Toda a galera do Tyler, the Creator. O que eles estão fazendo no campo da música como um todo, com Frank Ocean e Earl Sweatshirt e The Internet…. Syd the Kid. O movimento todo é incrível.

Eles são todo um exército do entretenimento. São muito ativos nas redes sociais, e têm até um programa no Adult Swim. Em vez de criar música, eles criaram um movimento, e admiro muito esse tipo de coisa, porque acho que é por isso que vão atentar para esta geração. Ampliar as fronteiras e recriar as coisas com as quais experimentamos, e levá-las a um nível mais alto. Essa ousadia é maravilhosa.

Você vê muito de si e dos Soulquarians no movimento Odd Future?
Bom, sim. O movimento é tudo. Muitas daquelas coisas são inventadas por conta da necessidade. Porque precisamos coagular juntos. Precisamos conversar juntos e agir juntos. É assim que muitas das frequências nascem. Da socialização, e de compartilhar os mesmos gostos e desgostos e ideias. E sim, vejo isso sim. Foi assim que formamos a nossa família. Meio que só gostando da mesma coisa, e sendo uma dessas galeras incansáveis na hora de criar música nova e de ser sincero. Vejo isso, sim.

O que você acha do novo movimento negro de protestos, e do Black Lives Matter?
Acho que é uma coisa necessária. As coisas são criadas pelo mundo a partir das orações que as pessoas oram e têm. As coisas começam a ir na direção do que todos nós pensamos coletivamente. Quando você vê coletividades indo em alguma direção clara, pode saber que vai haver algum tipo de migração em massa para um lugar mais elevado, e vejo isso no mundo como um todo, não só nos Estados Unidos. Vejo isso pelo planeta inteiro. As pessoas estão se organizando e se fundindo para criar mudanças, e isso é uma coisa inspiradora. Acho que é parte da ordem natural das coisas. Estamos evoluindo, e o que nos ajuda a evoluir são as redes sociais. Rede social é evolução social. Isso está causando a centelha de uma grande mudança.

Craig Jenkins escolhe seus amigos da mesma forma que escolhe frutas no supermercado. Siga-o no Twitter.