FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Séculos Apaixonados É o Novo Supergrupo Indie Carioca de AOR

Dorgas (RIP), Mahmundi, Letuce e Baleia unidos em duas inéditas canções de muito bom gosto e classe.

Séculos Apaixonados é a nova banda do Gabriel Guerra, aka Guerrinha, o cara do falsetinho do extinto Dorgas. Tem também um rapaz do Letuce, outro que tocou no Mahmundi e outro do Baleia. Uma seleção do indie carioca que se reúne em um projeto para celebrar o amor pela canção de rock, a música de bom gosto, o velho e eterno Album Oriented Rock, ou AOR.

Você, inocente, provavelmente vai entender melhor esse conceito (sim, conceito sim) do AOR se eu te falar que esse som “é tipo aqueles meio Alpha FM, manja?”. O que não é de todo errado, mas não também não é todo certo. De qualquer forma, essa discussão não importa. O lance é você ter em mente que o Séculos Apaixonados se importa com o sentimento, aquela que é a pedra filosofal da canção pop.

Publicidade

Nesta terça (20), eles liberaram o streaming das suas duas primeiras faixas, “Um Totem do Amor Impossível” e “Só no Masoquismo”. Ambas são belas músicas que emprestam características harmônicas e climáticas de Todd Rundgren, Roxy Music, Carole King, Air Supply e outros grandes cancioneiros daquela frutífera época do fim dos anos 70/ começo dos 80, onde a indústria fonográfica era TUDO e o que estava fora dela era ARTE. Com linhas de saxofone (tocadas por Pedro Sucupira) e gaita (Thiago Pougy), o quinteto entrega duas músicas que, talvez sem querer, atualizam aquele sentimento – que muitos entendem como cafona e brega – para algo contemporâneo e solto. O Guerrinha é um dos poucos brasileiros vivos que entendem que ser hipster na real é algo dahora e genuíno.

“Eu tenho que jogar no time dos hipsters mesmos pois são eles que salvam minha carcaça, e no fundo, são as melhores pessoas”, explica o Guerra. “Essas coisas que eu faço e eu escuto, são sinceramente as que eu gosto. E os garotos também”, finaliza.

Aproveitando o lançamento das inéditas do Séculos Apaixonados, conversamos um tanto com o Guerra pelo Facebook mesmo, enquanto ele almoçava. Ele explica o surgimento da banda, conta a verdade verdadeira do fim do Dorgas, fala sobre canção, hipsterismos e como essas duas músicas do Séculos são a salvação da alma dele.

Leia a íntegra da entrevista enquanto ouve “Um Totem do Amor Impossível” e “Só no Masoquismo”.

Publicidade

Quem faz parte do Séculos Apaixonados?
Arthur Braganti no teclado e voz, Felipe Vellozo no baixo, Gabriel Guerra na voz e guitarra, João Pessanha na bateria e Lucas de Paiva no saxofone e teclado. Todo mundo ja tocou em alguma outra banda: Arhturzinho toca no Letuce também; Felipe toca com uma porrada de gente, Crombie, Mahmundi etc.; Eu toquei no Dorgas e tenho o selo 40% Foda/Maneirissimo; João toca no Baleia e Lucas já produziu Silva, Mahmundi, Opala e também tem o selo 40% Foda/Maneirissimo comigo.

Como surgiu o Séculos Apaixonados?
Isso é historia grande e emocional. Perae.

Solta o grito preso na garganta.
E vou, hahaha. Vou almoçar aqui e escrever pra ti ok? Enquanto almoço, reflito.

[almoço]

Na verdade tudo começou no dia 26 de dezembro de 2012. Eu estava escrevendo canções da forma mais tradicional possível, e nesse dia eu escrevi o que viria a ser “Totem do Amor Impossível”, mas apenas rascunhada e tal. Eu e Arthurzinho tínhamos gosto em comum por certos tipo de música e a ética que gira em torno delas, como Carole King, Laura Nyro, Todd Rundgren e toda essa tradição de composições que de fato são pop/soul etc. Mas elas tem uma elegância a mais em termos das vozes e progressões que habitam esse mundo, além do fato de que nós estávamos apaixonados por alguém na época, o que fazia super sentido com esse tipo de canções. No fundo o negócio ficou guardado pois eu tava com o Dorgas na época e o Arthurzinho estava ocupado com o Letuce.

Publicidade

Em outubro de 2013 a coisa começou a ficar mais pesada. Tanta coisa começou a acontecer na minha vida, briga com amigos queridos, briga entre projetos (o Savio saiu do 40%, o Lucas saiu da Mahmundi) e tudo isso culminou com o Dorgas acabando na última semana de outubro. É claro que todos os motivos que eu citei naquele post de Facebook [que foi deletado junto com a fanpage do Dorgas] (deterioramento do relacionamento, dificuldade em fazer as coisas) é verdade e foram motivos, mas o REAL motivo, o ULTIMATO do Dorgas foi uma briga minha com o Cassius por causa de coração, como diriam as pessoas de verdade; foi por causa de mulher. Esse é o [depoimento] mais honesto que pode existir sobre o fim do Dorgas, por sinal.

É obvio que acabar por banda por assuntos do coração é um motivo tosquíssimo (e eu nem precisava refletir isso, eu tinha amigos falando isso por mim), mas ao mesmo tempo, tudo que eu havia alcançado em música era pseudo-tosquissimo, então acabar algo de forma imatura era a única maneira de eu começar algo maduro. Ao mesmo tempo, Lucas tinha terminado com a namorada da época dele, então nós dois estávamos com muita raiva. Do nada, fez mais sentido começar a ser um pouquinho mais sentimental com as minhas canções, e foi a gente que realmente começou a dar pé para os Séculos Apaixonados. Chamamos o Vellozo e o João porque eram amigos e de fato estão entre os melhores músicos que a gente conhece no Rio.

Publicidade

A gente começou a ensaiar em novembro. Lucas teve que viajar para visitar a família em dezembro. Nesse tempo em que o Lucas viajou eu pude sentar com minha guitarra/violão e começar a praticar meus songwriting skills (a gente fez alguns ensaios em quarteto também). Eu basicamente ouvi quatro discos durante esse tempo: Court & Spark da Joni Mitchell, Something/Anything? do Todd Rundgren, Wrap Around Joy da Carole King e Breakfast In America do Supertramp. De fato eram discos que eu já curtia, mas quando eu comecei a me botar na posição de "eu vou escrever canções pra minha vida" esses foram de longe essenciais, não só pelo fato de que sempre usei acordes mais… "bonitos" (maj7s, maj9s) e todos esses discos são baseados nessas vozes. Foi excelente pra mim, eu finalmente me senti numa categoria de música (a do "compositor") em que me dava orgulho fazer parte dessa liga e tradição

O que é engraçado nisso tudo é que a mesma raiva juvenil que eu tinha em outubro ainda estava acontecendo lá pelo início desse ano, e por algum acaso, amigos de infância estavam passando pelo mesmo. Por um certo período parecia que todo mundo no Rio de Janeiro estava de coração quebrado. O que era bizarro era como todo mundo que tinha esse ciclo onde todo mundo falava para o outro "não se preocupa, isso vai passar" (obviamente, é o que amigos tem que fazer) e eu, sendo a criança mimada que eu sou, me negava a me sentir melhor, porque, enfim, não foi só uma questão de coração quebrado, minha banda tinha acabado também. Iria ser um desperdício de honestidade se a gente não fizesse nada com essa cambada de quebração-de-coração. Se eu não fosse realmente vulnerável com os sentimentos presentes do tempo, não iria valer a pena lançar essas canções, então grande parte dessas músicas são zero "resolucionáveis", todas elas são brutalíssimas, são xingamentos. Eu não vejo muito isso por ai, canções que não tem medo de falar que estão fazendo o errado, mas são tão abertas que você até entende o porquê do sujeito estar fazendo aquele nonsense. Resumindo, se as canções do Séculos não fossem metade Elvis, metade estuprador, elas não seriam o que são. Eu amo o fato de que meus amigos acharam as músicas gostosas (o que pra mim, é sempre um elogio), mas elas são de longe as músicas mais densas e pesadas das quais já participei.

Publicidade

Toda essa densidade e acumulação emocional que resulta no Séculos Apaixonados é uma coisa muito bonita. Mas, em relação ao som, essa coisa do AOR, meio pop/soul sofisticado, já vinha sendo trabalhada pelo Dorgas em alguma medida, não?
Sim, sim. No fundo, não só eu como todos os outros do Séculos fomos criados ouvindo esse tipo de música, que era o que nossos pais escutavam. É obvio que quando você tem 16, 17 anos não tem a menor graça falar que curte isso, mas quando você faz as pazes com seu futuro você vê como essas coisas são bonitas. Digo, elas não são um soco na cara, a pessoa realmente tem que se ceder e se identificar para curtir esses artistas de AOR. E meio que é o que a gente se sente confortável de tentar participar dessa tradição. A gente podia ter feito hardcore, mas ser jogado na mesma liga que alguém como Laura Nyro e Prefab Sprout pra nós é o ápice.

O caso do Dorgas é um pouquinho diferente porque no Dorgas não eram canções, eram mais riffs arranjados e estruturados. Grande parte das músicas não passavam de um ou dois acordes. No Séculos são canções de verdade, cada um traz um esqueleto de uma canção e a gente arranja. Eu acho esse um jeito bem melhor, por que assim eu sinto que eu tenho controle sobre a música, e você começa a entender os caminhos que elas podem levar e o seu jeito de "compor". No fundo, todos os meus heróis escreveram canções, eles não eram bandas de jam, eles não eram bandas que chegavam e tinha que fazer a música dentro do ensaio (como o Dorgas fazia por exemplo).

Publicidade

Sei lá, eu fiz as pazes comigo mesmo quando botei na cabeça que eu componho canções.

Você está "grávido de futuro", Guerrinha. É joia isso. Então, o que o Séculos Apaixonados tem como objetivo para o futuro próximo?
A gente tem um álbum e um clipe pra lançar. O álbum deve sair em outubro, o clipe deve sair em julho. O primeiro show é em julho também (esse negócio de Copa atrapalhou geral), mas nós vamos começar a fazer nossos shows no Motel Shalimar, em São Conrado. Fazer um show onde a atmosfera seja digna da musica. E também vai ter festinha, hidro, sauna, pole dance, teto solar. É baratissimo, faz todo sentido e eu não conheço uma pessoa que não toparia ir em uma festa/show no motel.

Incautos da internet acham, que muito do que você fez com o Dorgas e no 40% Foda era irônico de certa forma, uma forçada de barra do estereótipo do hipster brasileiro. Você acha que, com todo esse lance do AOR, motel, Supertramp e o caralho, o Séculos Apaixonados corre o risco de cair nessa armadilha de recepção também?
Hahaha, eu acho que eu estou sempre correndo esse risco porque os meus amigos são os ditos "hipsters", o lugar que eu frequento é o lugar "hipster" do Rio de Janeiro. Eu tenho que jogar no time dos hipsters mesmos pois são eles que salvam minha carcaça, e no fundo, são as melhores pessoas. Mas, sei lá, eu estou fazendo isso (música e "cair dentro" no ato de fazer música como uma carreira) desde que eu tenho 16, 17 anos. Então, por mais que eu ainda tenha 21 anos, já são quase cinco anos de música, já é mais do que tempo pra se tocar de que não é zoeira, digo, nenhuma zoeira dura mais de um ano.

Publicidade

Essas coisas que eu faço e eu escuto, são sinceramente as que eu gosto. E os garotos também.

Me explica o lance das narrações nas músicas.
Ah sim! Claro! A grande estrela é o Robson Gomes, ele que narrou. Ele era um locutor gigantesco nos anos 80/90, trabalhou em diversas rádios fazendo o que ele sabe fazer de melhor (traduzir músicas românticas). Trabalhou na Manchete, Antena 1. Hoje em dia ele ainda trabalha como locutor, mas fazendo trabalhos menores, tipo para supermercados.

Podicrer. E de onde surgiu a ideia de convidar o cara pra fazer aquela bela narração nas músicas?
Eu descobri ele uma vez numa madrugada qualquer dessas no ano passado. Ele atualmente tem esse canal de tradução de músicas românticas que ele faz inteiramente por vontade própria. Eu vi ele fazendo de uma música que eu amo, que é "On My Own" da Patti LaBelle com o Michael McDonald. Quando a gente estava terminando de gravar essas duas músicas, a gente percebeu que a voz dele era o que faltava para preencher uns espaços que tinham nela. Eu combinei de encontrar ele em um boteco no Centro do Rio. Eu fiquei conversando sobre música com ele, e ele é cheio de história, é quase um Forrest Gump, demais. No dia seguinte ele foi no Lucas gravar, foi impressionante, essas narrações que ele fez, ele fez em um take só, tudo em menos de cinco minutos. Ele é um mestre.

Eu queria chamá-lo pra participar de alguns shows, mas eu tenho receio que ele possa ficar ofendido com alguma coisa. Digo, ele é super evangélico e tem seus valores muito bem conservados, ele ir pra Comuna não seria a melhor das ideias, por mais que ele seja uma das pessoas mais fofas e maneiras que existem.

Chama quando tiver show no Circo Voador, aí é classe.
Exatamente. Ele fala comigo direto via Facebook, escreve tudo em CAPS:

"FALA AI AMIGAO, BELEZA?"

O AOR está vivo nas redes sociais de interação superficial:

facebook.com/seculosapaixonados
soundcloud.com/seculos-apaixonados

E não deixe de conhecer o Dorgas e o 40% Foda/Maneiríssimo: Lançamento: Dorgas

O 40% Foda/Maneiríssimo Está Lançando o Novo EP do SeixlacK