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Noisey

17 sons que valeram a pena em 2017 por Rica Pancita

Playlist com melhores sons nacionais e internacionais que estouraram o plano de dados do único crítico de música do Brasil.

Fala jovem.

Conseguimos aguentar mais um ano, parabéns pra gente. Acabou. Agora é tentar aguentar o próximo ano. Espero que role legal.

Hoje vou fazer o catadão do que mais ouvi ao longo de 2017. Ano passado eu fiz a lista "As 16 de 2016" e pensei "pelamor fazer as '17 de 2017', num vou ser tão cafona". Aí decidi só falar as que eu ouvi com maior frequência, e o que considerei mais relevante a nível de Brasilzão, mas sem se preocupar em atingir um número específico de discos e/ou artistas. Calhou que no total deu: 17. As 17 de 2017. Rá. Que ridículo.

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Em resumo, 2017 foi o ano do reggaeton. Todo mundo fez reggaeton. Todo mundo. Ultrapassou o limite do suportável por várias vezes. QUASE que vira o novo trap. Espero que a galera bote a mão na consciência e segure um pouquinho esse reggaeton aí.

Anitta foi pros Estados Unidos e parece que tá rolando, Claudia Leitte foi pros Estados Unidos naquelas e não rolou não, MC Bin Laden ia pros Estados Unidos mas aí deu treta no visto, mas aí acho que agora ele pode ir sim. No #overall, essa "carreira internacional" dos artistas brasileirinhos é mais pra produtor americano tirar grana de brasileiro do que outra coisa. Cê num me engana mais não, Diplo.

Teve um trilhão de outras coisas legais além das que coloquei na lista, mas aí você tem todo o acervo de Sexta Lançamentos que fiz no ano inteiro. É pesquisar e curtir.

Obrigado por ter lido meus textinhos, espero fazer mais textinhos. Curta o fim de ano. Beba com moderação. Não consuma lean. Porque lean é coisa de paga pau de gringo. Bagulho tonto.

Valeu?

Valeu.

Voltamos em 2018.

----TROFÉU RICA PANCITA MELHORES DO ANO 2017----

Grandaddy - Last Place
Tem um trecho num desses especiais do Chris Rock para a HBO em que ele fala como os EUA (e o mundo no geral) é povoado por pessoas medianas. Os C-Grade (ou C ou B, não lembro). Os que não tem nada de excepcional, mas que também não são totalmente merda. Em resumo, nós (eu, pelo menos). Não somos notáveis em nada, e um tempinho depois de morrer seremos esquecidos, e é assim que a banda toca. Um dos meus #ídolos não só é uma pessoa mediana como, pra mim, é o maior representante artístico das pessoas que são belas bosta: Jason Lytle. Fadado a nunca ser um skatista profissional, e a se apresentar com muita sorte pra mil pessoas por show chutando muito alto, Lytle transformou esse universo de sonhos não-realizados e rotina diária bosta em lindos rockinhos com letras que tocam o coração do cidadão proletariado, o que é o caso desse disco. É a mesma estrutura sonora de praticamente toda a carreira do Grandaddy, e da carreira solo do Lytle, e dos projetos paralelos do Lytle. Inovações sonoras pertencem aos notáveis, aqui cabe apenas a aceitação do mundo como foi apresentado. E o mundo é meio ruim, mas é meio bom também.

Cornelius - Mellow Waves
É o disco que tive maior expectativa, dado o tempo que levou para o Cornelius lançar um disco novo: 10 anos. E eu esperei 10 anos de fato, acompanhando o que ele fazia. Em resumo, ele se dedicou a trilhas (sendo a principal a série Ghost In The Shell, que inclui uma parceria com o Sean Lennon linda de tudo), e um projeto muito zoado chamado Metafive (zoado). Logo, a maior preocupação assim que anunciado o disco foi "por favor não seja uma bosta". Graças a Deus não só não é uma bosta como, na minha humilde opinião, no mínimo empata com Fantasma, o melhor disco dele até então. Mellow Waves tem traços tanto do Fantasma quanto dos loops sonoros do Point e do Sensuous. É o querido Keigo Oyamada fazendo o que sabe fazer.

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Dirty Projectors - Dirty Projectors
Dirty Projectors sem as mina. É uma pena não ter as mina, mas enfim foi o que aconteceu. Mas saiu bonito demais. A voz do Dave Longstreth é absurdamente linda, independente se você gostar ou não da sonoridade que está por trás. Eu não sei porque alguém não gostaria das construções melódicas que ele cria em cada música, mas enfim quem sou eu pra julgar.

The Flaming Lips - Oczy Mlody
É um disco que foi lançado em janeiro, e completamente esquecido nos outros meses do ano. Eu mesmo não o ouvi tanto assim, o que é uma injustiça, pois é um ótimo álbum. O fato é que a banda já não causa mais aquela comoção na galera. É assunto do passado, assim como Christina Aguilera. Esse aqui encaixa perfeito naquele período da década passada, exatamente pós- Soft Bulletin, e pós- Yoshimi. Vale uma segunda chance de sua parte. Eu sei que você nem ouviu direito. Te conheço, pô.

Fleet Foxes - Crack-Up
Outro que demorou pra lançar algo novo, mas quando lançou, lançou bem. A banda que melhor resgatou o folk do passado para apresentar aos jovens futuro do Brasil. Agora tá aí o Harry Styles partindo pro folkzinho também. A culpa é do Fleet Foxes. Disco tão bom quanto o primeiro, de 10 anos atrás.

Sufjan Stevens, Nico Muhly, Bryce Dessner, James McAlister - Planetarium
2017 foi o ano do grande legado do presidente em exercício Michel Temer, o resgate do FGTS. Graças a esse importante momento eu pude comprar um computador bom o suficiente para realizar meu desejo antigo de utilizar simuladores de transporte, especificamente o Flight Simulator e o Euro Truck Simulator (ATENÇÃO: simulador não é jogo. Jogo é GTA. Aqui é seriedade). Mais que simular o transporte comercial de cargas e pessoas, esses softwares possibilitam o usuário viajar pelo globo, por lugares que o mundo real e o mundo financeiro real não possibilitam. Virtualmente, pude ir para Guam de avião e para o norte da Suécia num Volvo. Simuladores são representações de lugares e cenários que eu, provavelmente, nunca verei em vida, e o Planetarium são representações de lugares e cenários que, se algum ser humano ver em vida, vai demorar um bom tempo ainda. Por mais que as músicas tenham sido lançadas ao longo de ANOS, o disco saiu só agora. E eu só ouvi agora também. Foi um bom companheiro e trilha sonora da minha imaginação ao longo do ano, e também o disco que mais ouvi em 2017. É um disco que vai me acompanhar por muito tempo ainda.

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Thundercat - Drunk
Naquele “Warped 2017”, o Spotify indicou o que eu já imaginava, que “Uh Uh” foi a música que mais ouvi esse ano. Ele se isola do resto do disco por ser uma instrumental que o baixo vem moendo fudido. São pelo menos dois baixos simultâneos nessa faixa, se bobear tem um terceiro aí que eu não percebi. Pra quem não sabe, prazer: Rica Pancita, outrora baixista de bandas. E não é aquele esquema "guitarrista que sobrou só o baixo pra tocar na banda". Não, fui atrás do contrabaixo desde o início. Mas, enfim, o disco: tem o baixo moendo mas só isso não basta pra um disco ser bom, porque se não colocava um do Victor Wooten também. A #sonoridade desse disco explora todas as vertentes possíveis da música negra americana das últimas três décadas, pelo menos. E com o baixo moendo. Estou escrevendo esse texto ouvindo a faixa "Inferno" e o baixo tá lá, moendo. Ótimo disco.

Tyler, The Creator - Flower Boy
Se me chamassem pra essas votações de revista, aí falassem "escolhe UM pra ser o disco do ano", pra mim seria esse. Num tem outro que tenha #batido tão forte desde a primeira audição quanto esse. Não tem uma música sequer que considero "apenas boazinha". Bem construído, melodias ótimas. O papo realmente eu não faço a menor ideia do que tão falando, porém muito bom de ouvir as vozes também. Imagino que você já tenha ouvido esse disco, caso não então por favor né.

Brockhampton - Saturation II (o Saturation I eu ouvi pouquinho, o Saturation III eu não ouvi)
Acredito que, de todos os citados aqui, esse seja o único que não ouvi (logo não comentei sobre) na semana de lançamento. Principalmente por estar bloqueado no Spotify no dia, mas também por nunca ter ouvido falar no grupo/coletivo antes. Não sou nenhuma enciclopédia também. Mas assim que ouvi bateu foda logo de cara. Disco de raps de alto nível, e não deve ser tão fácil assim uma multidão (tem mais gente que os Titãs) ser tão produtivo assim durante o ano. A chance de juntar todo mundo num dia no estúdio, ficar só na FUMAÇA e no fim não sair nada de útil é muito grande. Mas saiu dois (provavelmente três) discos muito bons.

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Asako Toki - Pink
2017 é o ano que tirou todas as minhas dúvidas sobre o j-pop: ele não vai rolar. Enquanto o k-pop parte pra segunda tentativa de entrada no mercado norte-americano, o j-pop estagnou em eventos pra fã de anime, além do fator da apropriação cultural que ninguém reclama, que é a de rappers negros otakus que ficam falando de Dragon Ball e Sailor Moon (pois otakus). Infelizmente, o ano de 2017 não foi dos melhores para o gênero. Mas o citypop (AOR japonês) continua firme e forte na produção de discos de altíssimo bom gosto e nas playlists do Ed Motta. Esse disco eu ouvi no início do ano e, até agora, continuo ouvindo inteiro vez em quando. Se você gosta minimamente de música pop (pode ser pop ocidental mesmo), ainda acredito que vale uma tentativa.

Angelo De Augustine - Swim Inside The Moon
Disco de folk indiezinho, que me lembrou as mais folk indiezinho do Elliot Smith. É só voz (voz baixinha-gemidinha, quase um ASMR com trilha) e violão com no máximo um pianinho. Eu fico impressionado o quanto esse disco me #pegou, mesmo eu sendo 0% interessado em esqueminha voz-violão. É bem legal o disco.

Ariel Pink e Weyes Blood
Os dois lançaram conjuntamente, no começo do ano, o EP Myths 002 que é incrível de bonito que é esse EP, como a sonoridade do Ariel Pink encaixou com a voz de soprano líder do coral da igreja da cidade da Weyes Blood. Separados é bom também, mas juntos é muito melhor. Mas enfim, separados a Weyes Blood também lançou um single, “A Certain Kind”, enquanto o Ariel Pink veio com o disco Dedicated to Bobby Jameson. Obviamente gastei mais tempo no disco do Ariel Pink (pois é um disco).

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Nego do Borel
Láááá em janeiro, quando saiu "Você Partiu Meu Coração", eu ouvi e pensei "bom, tá aí um som aí. Legalzinho, tals". Mas sinceramente não lembro de dar grande importância pra música. Meses depois, ela simplesmente explodiu na minha cabeça, e tô lá eu na rua cantando baixinho o refrão porque ela simplesmente não saia da mente. Aí também vem "Esqueci Como Namora" e “Eu Vacilei Mas Eu Te Amo”, músicas que conseguiram dosar perfeitamente as principais vertentes da música pop brasileira em 2017: o funk e o reggaeton. São só três músicas, mas são três putas sucessos com possibilidade de ficar ali no topo por ainda mais tempo. "Você Partiu…' acabou de ser regravada em espanhol pelo Maluma e Anitta. Pra mim, é o mais bem sucedido artista brasileiro de 2017 (Anitta não conta). Por mais que outros artistas tenham mais views no YouTube e mais plays no Spotify e etc, eu dúvido muito que na hora que pintar o consolidado das mais executadas nas rádios as três músicas não vão tar lá em cima. Ainda acho que o que vale mesmo MESMO pra compreender o alcance de um artista popular tá aí. Internet não elege presidente.

Jerry Smith
Quem me acompanhou ao longo do ano percebeu que eu não falei muito sobre funk na coluna. Toda semana tinha o equivalente a UM BITCOIN de singles novos de funk. Eu só via aquele catálogo de lançamentos e pensava "tá bom que vou ouvir tudo isso aí". Nesse universo altamente povoado e que eu, sinceramente, não me importava nem um pouco, Jerry Smith começou a se destacar desde 2016 com sua voz grave para fazer parte da batida com seus "tun tun tun tun tun", "han han han han han han" e eteceteras. Ao longo do ano ele foi deixando de ser mais um no meio da multidão pra se tornar meu artista preferido do gênero. Jerry Smith tem um CARISMA na voz que é único e inexplicável pra mim. Já vi entrevistas e clipes do MC Lan e do Kevinho e de outros, e eles realmente tem um carisma assim NAS ENTREVISTAS (e nos clipes). O Jerry Smith tem esse carisma dos menino humilde do funk no cantar. Baita artista.

Psirico - "Dança do Krau"
Eis a música nacional que mais ouvi no ano. Tá aí o histórico do Spotify que não me deixa mentir. Não há nenhuma música popular que conseguiu adicionar tão bem o eletrônico. A única exceção é o beat eletrônico de "São Paulo a Belém", lançado em 1998 por Rionegro & Solimões. Por mais que a #ideia da música seja total plágio da saudosa "Dança do Créu", a batida do pagode baiano com os efeitos eletrônicos é maravilhosa. MARAVILHOSA.

Márcia Fellipe
Já falei antes, mas repito: 2017 foi o ano que surgiu Márcia Fellipe para o Brasil. Após a complicada separação do Calypso ano passado, a partida da Solange Almeida pra carreira solo foi um duro golpe para o povo brasileiro. Por mais que a Solanja esteja indo muito bem, ainda estamos aprendendo a lidar com a situação. Márcia Fellipe tinha total conhecimento desse período de transição que passava o brega/forró e foi soltando seu repertório aos pouquinhos. O disco cheio, Ao Vivo Em Recife só saiu recentemente. Indo do já tradicional forró de tecladinho e forrónejo, para versões de brega-funk de MCs sucesso local, Márcia Fellipe vai conquistando seu espaço no sul-sudeste. 2018 tende ser o ano da conquista final da artista no cenário popular (acho).

Björk - Utopia
Primeiramente você tem que ser grato por ter condições de ouvir um disco novo da Björk. Pensa que tem gente que morreu sem ter a chance de ouvir um disco novo da Björk. A minha crença é que havia na Björk, mesmo que inconscientemente, um desejo de sempre estar inovando a cada disco. Isso é legal, mas é uma cobrança muito grande, e também pode trazer erros, como chamar o Timbaland pra produzir. Na verdade o Timbaland foi a única ação que posso considerar equivocada na carreira da Björk, de resto foi só acerto. Mas enfim, o caso é que desde que começou a parceria com o Arca, a minha impressão é que essa preocupação com a inovação morreu. É fazer a música apenas porque deu vontade de fazer a música. É se manter ativa porque quer se manter ativa, mas não por sentir-se obrigada a tal. O disco duplo dos Racionais MCs, Nada Como Um Dia Após o Outro Dia tinha aquela divisão: disco 1 - Chora Agora; disco 2 - Ri Depois. A ideia aqui é a mesma.