As Hinds contam-nos tudo sobre o seu novo disco, "I Don't Run"
Alberto Van Stokkum

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Música

As Hinds contam-nos tudo sobre o seu novo disco, "I Don't Run"

Acabado de sair, o álbum da banda espanhola é já um dos grandes lançamentos do ano.
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Entre a noite em que as Hinds - que nessa altura ainda se chamavam Deers - ganharam o Make Noise e o dia de hoje, passaram-se quatro anos. Quatro anos em que percorreram o Mundo a colar cartazes de esgotado e actuaram em todo a parte, de Glastonbury ao Rock in Rio e ao Late Show de Stephen Colbert nos Estados Unidos, ou ao lado de artistas como Black Lips e Primal Scream. Quatro anos em que converteram mais de um hater em fã e em que conseguiram ser, com descrição e sem espalhafato, um dos grupos espanhóis que mais vingaram fora de portas. A Marca Espanha é também as Hinds a beberem latas de cerveja em concertos.

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Dois anos depois da publicação de Leave Me Alone, primeiro e único disco até recentemente, Carlotta, Ana, Amber e Ade voltam com I Don't Run, lançado a 6 de Abril último. Falámos com elas sobre como tem sido compor enquanto se viaja pelo Mundo, como tem sido a vida na estrada e o que mudou com o sucesso.

A capa do novo disco das Hinds. Imagem cortesia Ground Control

VICE: Quem são esses "onces titulares" que vemos no vídeo de "New for You"?

Hinds: São os nossos amigos. Quando fazemos vídeos como este, realizados pela Carlotta e que são totalmente nossos, acabas sempre por recorrer a amigos e temos a sorte de ter os melhores amigos do Mundo (risos).

Estiveram dois anos sem lançar um disco, mas têm estado a percorrer o Planeta. Acham que o novo paradigma musical na era do Facebook/Spotify passa exactamente por isso, pelos artistas andarem mais por aí, a insistir na música ao vivo?

Totalmente. Neste momento a indústria musical é super diferente do que era há 30 anos. Antes, os artistas lançavam discos e com as vendas pagavam, no mínimo, a renda de casa. Hoje em dia não é assim. Agora, a forma que um artista/grupo tem de viver disto é ir tocando. De qualquer maneira, a nossa decisão inicial de andar muito em digressão não veio tanto disso, mas sim porque somos uma banda tão jovem que, para melhorar, tínhamos de tocar e tocar.

Demos conta de que estávamos a ter uma oportunidade única e que não podíamos deixá-la passar, por isso tudo o que nos aparecia aceitávamos, o que também supõe umas boas dores de cabeça. Mas, de momento, colocando tudo em perspectiva, se não tivéssemos andado tanto por aí não seríamos a banda que somos agora e não teríamos feito o disco que fizemos.

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O que é que se passou durante estes anos, desde Leave Me Alone até hoje?

Aconteceu de tudo. Sobretudo aprendemos o que significa ser uma banda e fazer digressões sem parar, não só porque é o que queremos, como também por ser o nosso trabalho. Às vezes custa pensar em tudo o que vivemos como sendo trabalho - porque na verdade é isso que é - e é importante lidar com isto dessa forma.

Como em qualquer trabalho, há coisas boas e coisas más e aprendemos a lidar com tudo, porque, obviamente, não é só um trabalho, é o trabalho que queremos ter. I Don't Run é o reflexo destes dois anos. Por um lado tocámos sem parar, o que nos tornou numa melhor banda e acho que isso nota-se, sem dúvida. Mas, mais que tudo, vimos tanta música ao vivo, aprendemos tanto em digressão, a tocar entre nós, a ouvir música juntas, a ver música juntas que, claro, isso nota-se.

Como é que foi compor e gravar enquanto viajavam?

Como já tínhamos feito um disco, sabíamos que não somos o tipo de banda que consegue compor na estrada, precisamos de nos fechar em Madrid e dedicarmo-nos só a isso. Assim, quando percebemos que era altura de começar o novo disco, bloqueámos um mês e picos na agenda para compor e outros dois meses para gravar e editar e, durante esse tempo, não nos dedicámos a mais nada Há bandas que têm a capacidade de estar na estrada e pôr-se a escrever músicas na camioneta, mas nós não somos assim. Precisamos de manter a mentalidade de compor e isso implica estar tranquilas em Madrid o tempo que acharmos necessário.

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Disseram que Leave Me Alone se chama assim, porque era o vosso momento vital, o que estavam a sentir na altura, depois de começarem a ter sucesso e de se começarem a passar coisas à vossa volta. Porquê I Don't Run?

Leave me Alone foi composto à pressa, tomávamos todas as decisões quase sem pensar, porque tudo o que nos vinha parecia bom. Isto fez com que houvesse coisas de que nos arrependemos. Quando começámos a compor este disco decidimos que isto não se voltaria a passar, que íamos perder o tempo necessário para não nos arrependermos de nada, que o que queríamos era estar orgulhosas de absolutamente tudo o que fizéssemos. Ou seja, não nos íamos precipitar - e vem daqui.

Imagen via Ground Control

Os vossos amigos The Parrots fizeram uma versão de Soy Peor, de Bad Bunny. De que música do panorama urbano actual é que vocês fariam uma versão?

No me gustas te quiero, dos The Parrots.

Desde que começaram já deram muitas entrevistas. O que é que vos perguntam sempre? E o que é que nunca vos perguntam e vocês gostriam que perguntassem?

Como começou a banda, de onde somos e as nossas influências. Nunca nos perguntaram o que significam as letras que escrevemos.

Também desde que começaram, o feminismo saltou para o debate público e já se converteu num tema de que toda a gente fala. Numa entrevista à Noisey em 2016, a Ana disse: "Nenhuma de nós vestia uma saia em palco, masculinizávamos o nosso estilo de vestir o máximo possível. De alguma forma, queríamos quase ocultar o facto de sermos mulheres". Porquê isso de querer ocultar o facto de serem mulheres? Alguma coisa mudou desde então?

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Porque, por A ou B, em qualquer coisa que se dizia de nós, a primeira coisa era que somos miúdas. E pensámos que a forma de evitar isso era não o tornar tão óbvio para a pessoa que está a ver. Mas, de repente, demo-nos conta que era ao contrário, que quer sejas rapaz ou rapariga o que importa é que expresses o que queres expressar com toda a liberdade. Por isso, agora cada uma de nós faz o que quer como quer, que é, na verdade, a finalidade de tudo isto.

E como foi serem raparigas durante a escalada até ao sucesso, numa indústria maioritariamente - como quase todas - masculina? Acham que alguma coisa teria sido diferente se fossem rapazes?

Ao princípio custava-nos muito entendê-lo. Havia muitas coisas que nos aconteciam que não nos dávamos conta de que era só por sermos mulheres. E era muito duro, porque levávamos aquilo como algo pessoal. Uma vez começámos a apercebermo-nos de que não era pela nossa maneira de tocar, de vestir ou de falar, mas sim porque éramos mulheres jovens, que faziam o que lhes apetecia. Começámos a ficar mais em paz com nós próprias e isso levou a um sentimento de reivindicação. Acho que muita coisa teria sido diferente se fôssemos rapazes, principalmente a maneira como se falava de nós no princípio.

O que diriam às Hinds de 2014, àquelas da altura do Make Noise, numa só frase?

I don't run.

Vê abaixo o novo vídeo das Hinds.


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