Brasília está se tornando a capital nacional da criação de games

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Brasília está se tornando a capital nacional da criação de games

Estúdios da capital criaram um espaço pioneiro para a cena de desenvolvimento do país.

Pode não parecer, mas Brasília tem muito a ver com videogames. Pensa só: ela é o mais próximo que temos de uma cidade feita no SimCity - construída do zero no meio do nada, no formato que lembra um avião visto de cima, só para ser a capital do pais.

O mais louco é notar que atualmente o Distrito Federal é também um dos melhores lugares para quem quer trampar criando joguinhos. Lá está uma das maiores e mais conhecidas desenvolvedoras de games do país, a Behold Studios (de Chroma Squad, Galaxy of Pen & Paper), e agora a cidade ganhou a Indie Warehouse, um lugar pioneiro que pode fazer de Brasília a capital também da criação independente de jogos no Brasil.

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Inaugurada no último dia 26 de agosto, a Indie Warehouse é um grande galpão que foi transformado em um espaço colaborativo onde estúdios de desenvolvimento de jogos trampam juntos. Iniciativas assim já existem nos EUA e Canadá, mas aqui no Brasil é novidade, por isso o lugar chama a atenção.

Sempre tem alguém jogando em realidade virtual na Indie Warehouse. Foto: Bruno Izidro/VICE.

O galpão também é uma evolução da Indie House que já existia em Brasília, uma casa em que alguns desenvolvedores compartilhavam para morar e trabalhar. Saulo Camarotti, um dos fundadores da Behold Studios e responsável por todo o rolê da Indie House, fala que chegou uma hora em que a casa estava pequena demais pro que eles queriam fazer. Além disso, o lance de morar e trampar no mesmo local já estava esgotando a paciência de quem convivia por lá.

"A gente já estava cansando de morar junto na Indie House", confessou ele à VICE. "A relação entre as pessoas estava se desgastando. 'Ah, porque não lava a louça, deixa roupa suja' e essas coisas".

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Como a Indie Warehouse não é uma casa e sim um ambiente mais profissional, não só esses atritos bestas não vão mais rolar como o espaço maior possibilita que mais gente possa participar da brincadeira. Além da Behold, o game designer Marcos Venturelli - da Rogue Snail ( Relic Hunters) - e cerca de cinco outros estúdios já estão usando ou pretendem usar o espaço em breve.

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Espaço interno da Indie Warehouse. Foto: Indie Warehouse/Divulgação.

Ao visitar a Indie Warehouse, a primeira impressão é de entrar naqueles escritórios descolados da Google, com uma lanchonete que parece um bar de balada e um pessoal jogando alguma coisa em realidade virtual depois do almoço.

Pros desenvolvedores que já estão por lá criando seus jogos, a principal e mais importante vantagem é mesmo poder compartilhar experiências no dia-a-dia e se ajudarem na hora de criar jogos.

Desenvolvedores da Glitch Factory testando uma nova versão de 'No Place for Bravery'. Foto: Bruno Izidro/VICE.

A Glitch Factory, estúdio que está desenvolvendo o promissor RPG de ação No Place for Bravery, se mudou em peso com as quase 10 pessoas da equipe pra Indie Warehouse. Eles sentiam a necessidade de estar em contato mais próximo com os caras que manjam de fazer games.

Tulio Mendes, artista e diretor de No Place for Bravery, falou que em poucos dias já sentiram a vantagem de estarem ali. "Em uma semana aqui, a gente mudou a nossa cabeça e de como abordar o jogo de uma forma incrível", comentou.

"A gente conheceu o [Marcos] Venturelli e ele deu um feedback pro jogo, que foi o mais rico que a gente teve desde quando a gente começou a desenvolver o Bravery." Essa dose de ânimo foi o suficiente para que decidissem continuar a desenvolver o jogo. Por isso, Tulio fala que eles pretendem ficar na Indie Warehouse "para sempre".

Espaço para palestras na Indie Warehouse. Foto: Bruno Izidro/VICE.

O que faz da Indie Warehouse uma iniciativa realmente interessante é o intuito dela ser mais do que só um ambiente de trabalho. O galpão foi reformado para ter uma estrutura com um palco e arquibancada para palestras, além de salas destinadas para cursos relacionados a produção de jogos, como arte ou programação.

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Saulo Camarotti diz que ali serão realizadas game jams, o BRING (mostra de jogos independentes que já rola em Brasília), além de outros eventos que possam movimentar a cena local e atrair mais pessoas que queiram entrar nessa vida louca de criar jogos.

Com Ailin Linai já deu certo. Ela participa da Indie Warehouse mesmo não tendo estúdio ou mesmo um jogo, já que ainda está aprendendo pixel arte e a programar. Tudo por conta própria. "Eu chego aqui, sento e vou programar. Agora, por exemplo, eu tô fazendo um [clone de] Flappy Bird, para aprender a ferramenta de programação", contou.

O objetivo dela ao estar ali é justamente dar os primeiros passos ao lado de quem já sabe. "Essas trocas de ideias diárias fazem muita diferença para me motivar a ser uma game designer, não tem nem como mensurar o que posso ganhar estando aqui", disse.

Ailin Linai já está acampada na Indie Warehouse. Foto: Bruno Izidro/VICE.

A Indie Warehouse já nasceu como uma referência para toda a cena de desenvolvimento de jogos no país e vai ser interessante ficar de olho no que nascer ali. Jogos como No Place for Bravery e Relic Hunters Legend, pelo menos, já nos deixaram animados.

Saulo Camarotti não esconde que o objetivo do galpão indie é mesmo transformar Brasília na capital da criação de games do país. "Brasília é uma cidade muito moderna e se mais desenvolvedores viessem para cá, iriam ter muito mais oportunidades".

O que começou em uma casa há alguns anos agora ganha um espaço maior. E daqui algum tempo, será que vamos ver uma cidade-satélite no Distrito Federal só voltada para indie devs? "Uma cidade é uma boa ideia… não sei, vamos ver.

Saulo Camarotti, chefe da Behold e agora da Indie Warehouse. Foto: Bruno Izidro/VICE.

O repórter viajou a Brasília a convite da Indie Warehouse.

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