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Opinião

Ronaldo e o fim da "protecção" madrilena

O astro português não merecia a expulsão na Champions. É o que dá jogar no campeão italiano e não no "outro intocável".
CR7, ao lado do italiano Bernardeschi, a sofrer as dores de jogar em Itália e não num grande espanhol. (Foto reprodução via Facebook do jornal espanhol Marca)

O desporto em geral tem a virtude de juntar, na mesma equipa, atletas de diferentes classes sociais, raças ou religiões. Dentro do factor social, Cristiano Ronaldo é uma figura-mor do atleta que veio de baixo da hierarquia e chegou onde chegou. Viajou das origens humildes madeirenses, formou-se no Sporting, deu o salto qualitativo em Manchester e, no Real Madrid, entrou regularmente na galeria dos melhores do Planeta (de "mão dada" com Messi). Uma ascensão que teve como base a dedicação, o trabalho e a infinita ambição. Como já escrevi aqui, o céu é apenas uma Estação de Serviço para os seus objectivos estratosféricos.

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Nos nove anos em Espanha venceu tudo, a nível individual e colectivamente, e sentiu o poderio do Real Madrid até em situações pouco recomendáveis. Destaque para estes exemplos. Em 2009, o defesa Pepe apanhou uma punição lisonjeira ao pontapear literalmente o corpo de um adversário no chão e, de seguida, agrediu mais dois parceiros de profissão (castigo de dez jogos - ver vídeo abaixo); devido a entradas nada "friendly", o capitão Sérgio Ramos escapa espantosamente, "semana sim-semana não", dos cartões; e desconfio que o Real vencesse as últimas duas Champions, se não tivesse o peso que tem. Antes das Finais frente à Juventus e, no passado mês de Maio, ante o Liverpool, chegou a ser alvo de queixas dos adversários em termos de arbitragem (especialmente do Bayern Munique).

Mudando para o dossier do reconhecimento, foi injusta a atribuição dada a Modrić como Melhor Jogador da UEFA na época 2017 - 2018. O croata esteve nos mesmos títulos de Cristiano no Real, mas o craque português teve uns pontos acima ao marcar 15 golos na prova milionária (o anúncio da eleição, em Agosto último, mereceu uma crítica extemporânea do agente Jorge Mendes). Há que separar as águas entre as competições organizadas pela UEFA e as da FIFA. Nessa medida, Modrić merece ser o Melhor do Ano por causa da exuberante campanha no torneio russo. Os galardões da FIFA e da revista France Football devem recair na genialidade do centrocampista.

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Após essa desfeita "uefeira", CR7 voltou a provar o sabor de ter saído em desavença com o presidente madrileno, Florentino Pérez, e de ser "somente" uma estrela da Juventus. Esta semana, no primeiro embate dos italianos na Europa - em casa do Valência -, Ronaldo foi expulso num simples lance para amarelo (ver vídeo abaixo). Por aquilo que se vê na disputa acesa com o defesa Murillo, a agressão é inexistente e há uma mera "achega" ao cabelo do adversário, quando este estava no chão. Para surpresa de muitos, depois de ter conferenciado com um colega, o árbitro Felix Brych puxou do vermelho sem reticências (ainda para mais, a Liga dos Campeões contempla a linha de golo e não o video-árbitro). Se fosse uma partida que envolvesse o Real Madrid, provavelmente a decisão teria tido outra cor. Com trinta minutos de jogo, Cristiano saía lavado em lágrimas do relvado - já há memes sobre isso.

Ele que chore tudo nestes dias e pense que o fantasma espanhol e a consequente "protecção" do passado, já era. O domínio dos grandes (em Portugal e lá fora) é de uma "invisibilidade nítida" pois, na dúvida, a balança pende quase sempre para o que exerce maior influência no meio em questão. E, entre os fortes, há uns mais intocáveis que outros.

A carreira de Ronaldo vai ter de se habituar à nova realidade. Ele e a Juventus terão de jogar o dobro para levar a Champions para Turim (mesmo com dez, acabaram por ganhar aos valencianos com dois tentos sem resposta). A tarefa é gigantesca, mas possível.


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