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Música

Entrevista: Noskill

Apresentamos o quarteto que nasceu na Paraíba e faz um som que é a cara da nova geração que se aventura a fazer hardcore no Brasil.

E agora é que são elas! Finalizando a série de entrevistas com ÓTIMAS bandas brasileiras de hardcore/punk, apresentamos o Noskill, quarteto que nasceu na Paraíba e faz um som que é a cara da nova geração que se aventura a fazer hardcore no Brasil: tem passagens mais puxadas pro metal, outras mais melódicas, momentos de vocais “sing along” pra geral se amontoar na frente do palco com os dedos em riste, agressividade e as boas e velhas letras de protesto aqui e ali. O grupo não é necessariamente uma novidade e já é bem rodado no Nordeste, abrindo inclusive show de bandas conhecidas de um público maior, como o Dead Fish.

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O papo demorou uma eternidade pra terminar e as meninas mandam avisar: este ano sai um EP, “Não Deixaremos Que Nos Escondam”, com seis faixas novas, honrando a sonoridade de bandas como Bambix e Bad Religion.

VICE: Nem preciso dizer que, pro resto do país, o norte/nordeste vive envolto em estigmas e visões totalizantes que falam muito sobre o que é cada cidade e microrregião daí. Sei lá, tem gente que olha com um exotismo aí pra cima que parece estar falando da Coreia do Norte, por exemplo. Conta como é o dia a dia de vocês, como é o cenário por aí etc.
Noskill: Não é muito diferente de qualquer lugar. Trabalhamos/estudamos e são os nossos salários que bancam a banda na maioria das vezes. A banda agora ocupa dois estados do NE, já que Thuany e Marcelo (baterista que está dando uma megaforça, porque estamos sem baterista fixo, então os amigos estão ajudando) moram em Moreno (PE), e a outra metade continua em João Pessoa. Os ensaios agora são bem mais espaçados, reuniões acontecem pelo Facebook, e sempre que alguém compõe algo novo, grava, manda pro resto e aí as ideias já vão sendo trabalhadas pra facilitar os ensaios. A cena em João Pessoa é pequena, mas temos bons amigos dispostos a movimentá-la. Falar do cenário local hoje é citar o Pogo Pub, espaço gerido por uma galera que tem abraçado os diferentes estilos rápidos e pesados com uma postura que acredito ser bem coerente, derrubando preconceitos e abrindo espaço pras bandas novas.

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Ser uma banda de mulheres AINDA causa espanto. Como é a reação? 
Camylla: Acho que espanto não é a palavra, sempre rola uma curiosidade maior, mas até hoje tem funcionado com respeito. Vez ou outra rola um comentário meio bobo, mas não me lembro de nada constrangedor.

Lembro que, em 1996-97, quando o Dominatrix começou a despontar em São Paulo e por ser um grupo abertamente feminista, causaram certo frisson e polêmica. Mais de 15 anos depois, elas foram de alguma forma influência importante no início da banda?
Thuany: Eu não participei do início da banda, entrei anos depois, mas as bandas que me fizeram ter vontade de ter uma banda foram o Infect e o Triste Fim de Rosilene, fora as outras bandas que não têm mulheres em sua formação. Já pra Aline, que fundou a banda, o Dominatrix foi uma referência sim, assim como o Bambix e o Bad Religion, e ainda serve de inspiração.

Queria saber o que motiva vocês, quais são os assuntos de suas letras.
O cotidiano inspira qualquer banda. Os encontros, desencontros, decepções e raiva com as pessoas, com o mundo e consigo mesmo, as experiências vistas e vividas… Não acho que tenha um tema mais relevante do que outro quando se trata de escrever o que se sente.

Vocês tocaram no Queers & Queens 2013. Queria saber como é pra vocês tocar nesse tipo de evento mais politicamente direcionado, como pensam questões como feminismo e homofobia, se são assuntos muito presentes no cotidiano de vocês etc.
Foi incrível fazer parte de um evento que, além das bandas incríveis que participaram, aborda um tema tão especial pra gente. Inevitavelmente essas questões estão em nossas vidas. A banda tem representação feminina, negra, homossexual e, em algum momento das nossas vidas, já passamos por situações em que o machismo, o racismo, a homofobia tentaram bater de frente. E lutar contra isso num palco destinado a celebrar que somos todos iguais e queremos respeito, torna a parada mais especial sim.

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Acho legal vocês terem essa autoconsciência até que leve do que significa terem mulheres, negras e homossexuais no grupo. Por outro lado, bate um espírito (de porco) empresarial/publicitário dizendo: “Ei, vocês deviam explorar mais isso! Estão perdendo potencial de venda”. Vocês sabem que isso renderia uns bons créditos dentro dessa esfera hardcore, não?
É muito distante da nossa realidade como banda pensar em potencial de venda, ainda mais quando se trata do nosso som e de questões como o racismo e a homossexualidade, que ainda estão sendo acordadas pra um constante debate. Renderia bons frutos sim, se explorássemos com o propósito de contribuir com o debate. Temos letras que abordam isso, também falamos em nossos shows, mas não tínhamos pensado por esse lado, na verdade. É uma preocupação que temos, mas não indo nessa direção.

É muito comum a ideia de “groupie” no imaginário roqueiro. A questão é: rola muita paquera pro lado de vocês em razão de estarem sob os holofotes? 
Aline: [Risos] Quando você está tocando fica mais visível, fica mais fácil de iniciar uma conversa, mas sinceramente nunca ficamos/namoramos com ninguém por causa desse lance de banda, acho que não temos groupies aos nossos pés… [Risos]

Planos do Noskill pra 2013?
Camylla: Gravamos o novo EP intitulado “Não Deixaremos Que Nos Escondam” no fim do ano passado e agora ele está sendo mixado, assim que ficar pronto esperamos levá-lo a uma boa parte do Nordeste que ainda não fomos e a qualquer outra região que queira nos receber.

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Suponhamos que algum leitor aqui do site leia a entrevista, depois vá a um show de vocês em João Pessoa. O que mais vocês recomendariam pra essa pessoa fazer por aí?
João Pessoa é uma cidade incrível, mas que ainda está despertando o potencial turístico se comparada a outras capitais nordestinas. Uma ida à praia é fundamental! A movimentação noturna underground rola pelo centro histórico, mas também tem uma vibe boa rolando pela orla. Mas tudo isso é no fim de semana, durante a semana a cidade se mostra bem pacata.

Três bandas do Nordeste que o resto do Brasil deveria conhecer e por quê? Não vale o Renegades Of Punk que já apareceu por aqui.
Eu o Declaro o Meu Inimigo (PE) – É rápido, é massa. Vale a pena.
Derrotista (PB) – Punk rock eletrizantxy, dançante, lindo. 
Darksiders (PB) – Bem, assim… Eu estou nessa banda. Sei lá, escuta aí [risos]. Estamos gravando, logo mais vai ter alguma coisa legal pra ouvir.

Achei um cordel chamado “Ilustres Mulheres Paraibanas” e fiquei triste porque vocês não eram citadas, mas separei o nome de algumas ilustres conterrâneas e queria saber o que vocês acham delas: Luiza Erundina, Elba Ramalho, Roberta Miranda e Edinanci Silva.
Luiza Erundina tem uma trajetória política bem articulada, mas não sabemos muito sobre ela.

A Elba Ramalho é a figura mais próxima e possui opiniões que concordamos, como a luta pró-aborto. [RISOS]

A Roberta Miranda não temos muito o que falar, só que toca sertanejo e a respeitamos.

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Edinanci Silva, atleta, judoca, foda. Definitivamente uma pessoa que lutou conta o preconceito de várias formas e conseguiu levantar questionamentos e apoio do Nordeste e do Brasil todo.

Ouça o Noskill aqui.

Anteriormente:

Entrevista: Ornitorrincos

Entrevista: Os Estudantes

Entrevista: Renegades of Punk

Entrevista: Merda

Entrevista: Cidade Cemitério

Entrevista: Morto Pela Escola

Entrevista: O Inimigo