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Música

O EP Novo do Mumdance É Uma Pedrada Grime

O produtor tem trabalhado em tantos projetos diferentes e vitais, que não duvidamos que ele anunciasse uma colaboração com a sua mãe ou algo assim bem no meio da entrevista.

Dizer que Mumdance está passando por sua melhor fase ultimamente é subestimar o rapaz. A verdade é que seu retorno à cena musical em 2013 com Twists and Turns causou tanto barulho quanto suas faixas mais recentes. Com Mumdance, nada parece descartável. De criar uma das melhores faixas vocais de grime em muito tempo, com o Novelist, até disseminar as vibes da cena egípcia Mahraganat – e mesmo explorar as profundezas das catacumbas do drone, com os companheiros Rabit e Logos – tudo em que Mumdance põe as mãos recentemente parece muito, muito vital.

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Aproveitamos o lançamento do EP Take Time para conversar com Mumdance e saber tudo o que ele está fazendo. Pelo menos até o fim da entrevista, porque sei lá, se bobear ele já anunciou uma colaboração com sua mãe numa faixa meio Motown meio grime nos últimos cinco minutos. Mas todos os detalhes sórdidos sobre as coisas que ele fez antes nós conseguimos.

THUMP: A primeira vez em que me lembro de ter te visto como DJ (e ouvir conscientemente as suas músicas) foi no Kool Kids Klub, o que parece ter acontecido há uma eternidade. Deve ter sido mais ou menos na época em que você mencionou, em outra entrevista, que estava se desencantando com turnês e fazer música. Sem querer pegar pesado logo no começo, você se importa se eu perguntar o que causou o seu desencanto com a cena, naquele momento?
Mumdance: Acho que o motivo principal foi que eu ainda estava me desenvolvendo como artista e buscando um som que não era tecnicamente bom o suficiente para fazer, o que era muito frustrante. Eu estava viajando muito, e me sentia esgotado. Também acho que, quando comecei, estava buscando um som inspirado em música regional de todo o mundo, algo que eu levava muito a sério. Qualquer música que me influenciasse (predominantemente, mexicana e brasileira), eu ia lá visitar os lugares, passar algum tempo aprendendo sobre a música e a cultura, indo para o estúdio e colaborando com os músicos na área. Não me contentava simplesmente em baixar samples da internet.

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Adorei o meu trabalho no Egito, particularmente. Ir para o Egito foi diferente de tudo o que eu havia experimentado antes. Trabalhar com alguns dos jovens músicos mais talentosos do país foi uma honra, e me ensinou muito. Muita coisa que eles estão fazendo tem relação com grime, e embora não falássemos o mesmo idioma, entendíamos nossas ideias e intenções. A barreira da língua foi algo bem difícil, no começo. Ter que se comunicar através de interpretes é uma experiência estranha, especialmente se você está falando de conceitos musicais bem específicos, mas acho que, de certo modo, isto trouxe um elemento aleatório ao trabalho.

De qualquer modo, alguns anos depois eu comecei a sentir que havia uma multidão aparecendo, e apresentando uma versão diluída daqueles sons e ideias. Aquilo me pareceu oportunismo. A cena se transformou em algo com o que eu não queria mais me associar. Não me entenda mal. Eu ainda escuto muita música de todas as partes do mundo, mantenho contato com todos os amigos que fiz, e apoio os músicos e produtores que acho que ainda buscam um som em sua forma mais pura. Mas eu achei que precisava começar de novo, e aperfeiçoar o meu trabalho.

O que estava passando na sua cabeça durante aquela época, e o que o levou até as músicas que você está compondo agora?
Eu queria voltar e começar do começo. Decidi usar opostos binários como uma ferramenta criativa para definir as bases do meu método, estética e som. Na primeira fase da minha carreira, eu fazia música inteiramente no computador; então, na segunda fase, decidi fazer o contrário e não usar um computador – o que, em si, é um trabalho. Demorei bastante para conseguir economizar para comprar o equipamento e encontrá-lo, já que as coisas que uso são super antigas.

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Quando você soube que era o momento certo de começar a compor músicas de novo? E por quê?
Bem, eu estava enviando faixas para gravadoras e DJs durante todo aquele tempo, mas ninguém me respondia. Acho que isso aconteceu porque eu havia modificado drasticamente o que fazia, e as pessoas já tinham ideias preconcebidas sobre mim, o que, às vezes, leva algum tempo para mudar.   Acho que também foi porque tudo começou a ficar 4x4. Uma nova onda de artistas surgiu, e o que eu estava fazendo não se encaixava no que eles estavam produzindo.

Escrevi as faixas "Springtime" e "It's Peak" há três anos, e elas só foram lançadas este ano. Pode ser um pouco deprimente quando você está sentado sozinho, em uma sala no meio do nada, e não existe reação à sua música. Foi então que eu tomei a decisão de fincar o pé, voltar para Londres, compilar tudo em uma mixtape e lançar o trabalho eu mesmo. Eu queria construir um trabalho que não dependesse do "polegar para cima ou para baixo", àla Júlio Cesar, que as tendências podem ditar às vezes.

Mesmo sabendo que a composição é do Novelist, eu não pude deixar de pensar que "Take Time"foi uma pequena referência ao seu período sabático, também. Ou foi só uma feliz coincidência?
Foi uma feliz coincidência, mas também, logo que ele disse aquilo, foi algo com o que me identifiquei completamente. Como eu disse, há muito a ser dito sobre dar uma pausa e dedicar algum tempo para desenvolver suas habilidades de estúdio. Você precisa conhecer as regras antes de ser capaz de quebrá-las, mas é igualmente importante desenvolver seu conhecimento e gosto musical. Você pode ser o melhor produtor do mundo, tecnicamente, mas isso é apenas metade da batalha. É importante estar consciente do que está acontecendo ao seu redor e do que veio antes de você. Geralmente, eu acho que a chave para fazer boa música é simplesmente ser você mesmo. Se você está fazendo música para se encaixar nas ideias dos outros, as pessoas percebem isso sem a menor dificuldade.

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Adoro o fato do Novelist ter realmente abraçado o circuito dos instrumentais grime, como o Boxed, especialmente quando muitas destas músicas provavelmente foram compostas sem MCs em mente. Mas ele surfa esta onda como um MC de verdade. Ele flutua com as músicas.  
100% – o Novelist é um profissional. Ele pode fazer qualquer coisa. Ele é um garoto ligado, e é muito jovem, portanto vai ficar cada vez melhor. Fique de olho no OG Skitz, também – ele faz aquele esquete com mudanças do tom de voz em "Take Time". Ele voltou para a estrada recentemente, e é bom vê-lo retornar à cena.

Quando eu trabalho com vocalistas, gosto que eles assumam o centro do palco. Encaro as coisas como se fossem um show de fogos de artifício: com o vocal no centro, e todos estes grandes bangs e explosões em volta. Eu ando me afastando da musicalidade tradicional – como harmonia, melodia e arranjos – em favor de timbre e espaço. Estou mais concentrado em design de som e minimalismo. Acho que isso funciona bem com vocais, já que permite que as pessoas se concentrem na mensagem que o vocalista está tentando transmitir.

Então, você está trabalhando em outras músicas com o Novelist, ou outros MCs?
Sim, o Novelist e eu estamos em estúdio. Escrevemos uma nova faixa chamada "1 Sec", que é um pouco mais suja do que "Take Time", mas ainda é bastante minimalista. Acho que estamos buscando algo um pouco maior do que o formato EP. Pinch e eu recentemente fizemos um 128bpm maravilhoso com o Riko Dan, e estou muito animado com isto. Riko sempre foi um dos meus MCs favoritos, e é uma honra trabalhar com ele.  Estou nos EUA no momento, escrevendo isto, e tenho algumas sessões agendadas com alguns rappers e vocalistas aqui, também. Estou muito animado.

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Tenho percebido uma mudança na cena dos clubes recentemente, especialmente com você, o Logos e o pessoal do Boxed -  os clubes parecem estar se concentrando mais nas músicas novamente, e menos no DJ como espetáculo. Eu raramente vejo um laptop no Boxed, o que sempre seria uma distração, e mesmo com o seu set ao vivo no 909, no Fabric, ano passado, estava escondido atrás da cabine da Sala 3. As coisas me parecem mais dirigidas ao público, agora, ao invés de um momento para "mostrar"alguma coisa, o que era doentio. Isto é intencional? O quanto você realmente planeja um set com antecedência, agora?
Eu penso bastante na seleção de músicas e em como um set irá fluir. Estou tocando uma grande variedade de tempos – de 110 a 170 – e é uma habilidade em si fazer com que as coisas progridam naturalmente com o tempo e ainda sermos coerentes. Acho que o próximo passo para mim é que eu realmente quero começar a fazer sets bem mais longos, de umas quatro horas, onde eu realmente tenha tempo para construir altos e baixos, e fazer algumas jams ao vivo, e ter tempo de explorar rotas estranhas, e depois voltar ao ponto de partida.

Conte-nos um pouco sobre as suas jams ao vivo no 909. 
O trabalho ao vivo ainda está evoluindo. Estou curtindo, de verdade. É meio caótico, mas eu gosto assim. A maioria dos shows eletrônicos ao vivo é impecável e perfeitamente sincronizada. Acho que a improvisação é muito mais recompensadora. Decidi deixar o equipamento o mais simples possível: uma bateria eletrônica, um sampler, dois decks e um mixer. Acho que isso reflete o quão simples a minha música é no momento.

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A minha inspiração foi ver o Jeff Mills tocando ao vivo no 909. Acho incrível como ele é capaz de comandar públicos enormes com o uso de um equipamento tão simples. Isso me faz lembrar o skate – como você manipula um pedaço simples de madeira para fazer coisas complexas e abstratas. Queria que o meu show fosse assim em termos de simplicidade, mas me apropriei do estilo e criei o meu próprio. O Novelist e eu começamos a trabalhar com algo ao vivo, também, onde eu faço jams improvisadas no 909 com o Novelist rimando por cima. Acabamos de fazer uma pequena sessão para o Resident Advisor, que deve ser lançada em breve.

Outra coisa de que estou gostando muito nos seus sets, recentemente, é o fato de você estar tocando muito drone. Depois de ouvir aquela faixa louca sem batida do Rabit, também no Boxed, me parece que outro gênero está se formando no seu som e no som de outros produtores com ideias semelhantes. Vai demorar muito até termos um set inteiro de drone nas raves?
Isto realmente quebra o ritmo do set. É como se fosse a nova parada, já que boa parte da música baseada na percussão pode ser incessante. Drone é muito legal, porque pode ser bastante envolvente e intenso, ou bem relaxante e etéreo. Pode despertar muitas emoções. Eu sinto que existe muito espaço para música sem batida em clubes, dependendo de como você a toca. Eu quero tocar a minha música sem um pingo de pretensão – nada daquele estilo artístico, do tipo eu li mais do que você".

Acho o esnobismo musical, geralmente, cansativo e imaturo. Quero que meus sets sejam um lugar onde intelectuais e o povão se encontrem; quando você começar a coçar a barba, confuso, eu lanço algo realmente bombástico e aparece esse cara suado, sem camisa, fazendo caretas e bancando o MC no seu ouvido. É mesmo incrível ter a oportunidade de tocar na Rinse FM regularmente, e fazer sets que não são necessariamente focados na cena dos clubes. Isto me permite mergulhar bem mais fundo, e realmente mostrar às pessoas quem eu sou. Ajudar a construir uma cultura em torno do som que estou buscando. Por falar em faixas sem batida, o Logos, o Rabit e eu acabamos de colaborar em uma faixa chamada "Inside The Catacomb", que deve ser lançada muito em breve.

Em que outras coisas você está trabalhando agora? Qual é o próximo passo para você e o Different Circles?
Depois do EP Take Time e do CD Pinch b2b Mumdance, o EP Springtime será lançado em vinil pelo selo Unknown to the Unknown, já que parecia haver uma demanda para isto. Para justificar o investimento, eu criei 20 locked grooves, que vão ocupar um lado inteiro do vinil.

Depois disso, o Logos e eu iremos transformar o Different Circles em um selo. Nosso primeiro lançamento está na prensa neste momento. Acho que vai ser uma edição bastante limitada, apenas em vinil, que nós mesmos vamos distribuir. Como é o primeiro lançamento, acho que vai ser algo do tipo "quando acabar, acabou". Este é o plano inicial, pelo menos. Mas ainda não temos certeza, já que achamos que é um lançamento bem forte, e seria um crime limitá-lo a umas 300 cópias. Vamos ver como o público o recebe.

O DIFF001 são seis faixas sem batida sensacionais, de seis dos artistas que o Logos e eu achamos que estão produzindo a música mais intrigante do momento. Estou extremamente animado, porque mesmo com toda a atenção que o grime instrumental está recebendo recentemente, ainda não há muito que você possa comprar e ter em suas mãos fisicamente. O controle de qualidade será o aspecto número um do Different Circles. Não vejo porque lançar algo que não seja excepcional. Há muita música no mundo, e é nosso trabalho, como DJs e, agora, como "gerentes de um selo"agir como os "porteiros"e filtrar todo o barulho.

Tradução: Viviane Fontoura