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A arte dos memes. Conhecemos o criador do "Museum of Internet"

Félix Magal, um francês de 24 anos, criou um museu virtual que tem mais de 600 mil seguidores no Facebook.
MEME DA MONA LISA

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Se a Gioconda e as múmias estão no Museu do Louvre, Salt Bae e os gatinhos estão no Museu da Internet. Numa época em que o mundo digital reina sobre o mundo analógico, seria estranho que não houvesse alguém a compilar e a partilhar com a humanidade, as grandes obras geradas diariamente no universo da Internet, com as suas infinitas formas de expressão.

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"Museum of Internet" é o maior arquivo - ou, pelo menos, o mais relevante - que existe hoje em dia dedicado à arte online. É uma ideia transgressora e não apropriada para puristas, já que interpretar memes e gifs como os quadros e esculturas do futuro, pode ser uma tarefa complicada. "A ideia era juntar todas estas coisas que fazem da Internet algo incrível, não sei, fotos de telefone, capturas de ecrã, memes de Drake, cães, gatos… qualquer coisa… e criar um arquivo unificado", explica Félix Magal, um criativo de 24 anos que trabalha em vários projectos culturais e em museus na zona de Paris, França.

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Félix Magal, durante a conferência que realizou no IAM Weekend 2017. Foto por Denisse Garcia

O seu museu virtual nasceu a 25 de Dezembro de 2012 - "no Natal, como Jesus", diz em tom de piada - e ao fim de cinco anos conta já com mais 600 mil seguidores no Facebook, oriundos de 100 países. À primeira vista, o "Museum of Internet" não é mais do que isso, uma página de Facebook, que publica cerca de 10 obras de arte por dia. Para os críticos, que a rede social criada por Mark Zuckeberg seja a plataforma eleita para acolher o projecto, responde a um objectivo claro: estar onde estão os utilizadores e falar como eles falam.

Mais críticas, terá, provavelmente, a sua concepção de obra de arte. "Algo novo e que altera a forma como vives é sempre alvo de críticas, porque a sociedade foi educada de uma maneira e agora vive-se de outra. Hoje em dia, as coisas mudam todos os dias e tens que saber adaptar-te. Não sei se daqui a um mês este museu não será irrelevante, apesar de conhecer muita gente de todo o Mundo que o adora, pelo que suponho que seja algo com alguma dimensão. De resto, a minha página tem mais gostos que a do principal candidato à vitória nas eleições francesas", salienta Magal.

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E para uma coisa levada a cabo por duas pessoas, não está nada mal. Magal colabora com uma criadora canadiana, Emilie Gervais, e reconhece que selecciona as obras de forma bastante aleatória, conforme lhe vão chegando. "O mais divertido é que as imagens podem vir de qualquer sítio da Internet, é completamente aleatório. Por vezes enviam-nos coisas, mas a maioria encontramo-las por acaso, Ou melhor, acho que é o conteúdo que nos encontra a nós", explica.

Estas 600 mil pessoas, se calhar não estão propriamente a seguir um museu, ams sim uma galeria pessoal de arte. Magal obtém muito conteúdo do VK e outros sites russos, pelos quais tem h+ganho um gosto particular nos últimos tempos. Mas isso não quer dizer que não possa sacar alguma coisa do Le Monde, o seu jornal de eleição para obter informação, ou que em determinada altura não prefira apanhar coisas do La Razón [ou do CM, já agora]. Algo bastante recomendável se o objectivo é divertir as pessoas. Por outro lado, também é certo que há mais memes de cães, do que de gatos. Uma questão de gosto pessoal.

Este museu virtual não se fixa em categorias, títulos e autores. Todas as imagens, gifs ou memes do "museum of Internet" são acompanhadas de nada, porque Félix quer que sejam os utilizadores a formar as próprias ideias e a dar-lhes um contexto, através dos comentários às peças. "Julgo que se acompanhássemos qualquer imagem com um crédito, ou um título, poderíamos gerar interpretações erradas, ou que não queríamos propriamente", justifica.

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Para Félix, o seu museu pode comparar-se a qualquer outro. E sublinha: "No Facebook estamos ao mesmo nível que qualquer museu físico, como o louvre, ou o Tate. O mais engraçado é que muita gente que me conhece pergunta se também somos um museu na vida real". Mas, o que não é real na Internet? Esse é outro debate. "O interessante é que basta usar a palavra museu e podes criar uma ideia muita concreta na cabeça das pessoas", reflecte Magal.

Sobre se o "Museum of Internet", contém arte, Félix acredita que sim, embora não tenha uma resposta concreta que defina os limites do que é ou não arte nas redes sociais. "quando falamos de arte, às vezes parece que são coisas demasiado complexas e procuramos interpretações profundas, pelo contrário nós queremos gerar uma reacção imediata nas pessoas", comenta.

E acrescenta: "Actualmente não há uma capacidade muito grande de atenção. Se não captas algo em três segundos já acabou, as pessoas não lêem um artigo de imprensa que implique 20 minutos. Penso que essa é, em grande parte, a forma como consumimos as coisas hoje em dia, mas não é tudo. Também gosto de ler um bom livro, ou de ir ao cinema. Não é incompatível, mas uma coisa que tenho como certa é que os memes vieram para ficar".

No final, o mérito do projecto é que, tal como acontece com o Prado, ou o Pompidou, sabes que podes sempre voltar, que está ali e que tens sempre novas obras para mostrar.


Segue o autor no Twitter: @GuilleAlvarez41

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