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Sexo

Por que ainda curtimos 'Sex and the City', apesar dos seus problemas

A série de 20 anos é problemática, mas ainda é legal.
Foto por Richard Corkery/NY Daily News Archive via Getty Images.

Sex and the City estreou a chocantes 20 anos, e apesar de ter saído do ar há mais de uma década, a série continua pairando sobre o cânone da cultura pop. Ela transformou as atrizes principais em estrelas e redefiniu o retrato do sexo na TV. Apesar de algumas críticas pouco favoráveis, e francamente machistas, quando a série saiu, a maioria dos críticos concorda que ela mudou o jogo, iniciando a era da ouro da TV junto com coisas mais “sérias” como Sopranos.

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Mas sim, SATC não envelheceu muito bem em vários sentidos. Para uma colunista de sexo, Carrie Bradshaw é bem mente fechada quando se trata de sexualidade queer e kink. Quando pessoas não brancas apareciam na série, geralmente era como token. Quando Samantha muda para o Meatpacking District, ela se refere às vizinhas transgênero trabalhadoras sexuais como “travecos”. E se Charlotte ainda estivesse aqui em 2018, certeza que ela seria a melhor amiga da Ivanka Trump.

Mesmo assim, duas décadas depois, SATC ainda é uma série baseada na amizade entre mulheres. Ela apresentava um retrato sem vergonha do desejo sexual feminino. Mostrava ao público quatro mulheres imperfeitas, com quem era fácil se identificar, tentando “ter tudo”, buscando satisfação profissional e romântica na cidade grande.

Apesar de tudo, SATC ainda é uma boa série. E é por isso que ainda gostamos tanto dela 20 anos depois.

Kim Cattrall, Kristin Davis, Sarah Jessica Parker e Cynthia Nixon na estreia da terceira temporada de 'Sex and the City' em 1º de junho de 2000, no Directors Guild na Sunset Boulevard em Los Angeles. (Foto por Dan Callister/Liaison)

Eve Peyser, Redação

Assistir Sex and the City como uma adolescente crescendo em Nova York talvez tenha me dado uma visão problemática de como é ser uma mulher hétero solteira na Grande Maçã. Todo mundo é estranhamente rico na série. Mas SATC também me mostrou que sexo era algo que as mulheres podiam e deviam aproveitar, e a série é um lindo retrato do poder da amizade feminina.

Pensando agora, entendo por que muitos críticos gostam de apontar como a série envelheceu mal, porque nossa cultura passou por mudanças sociais tremendas nos últimos 20 anos. Esse não é o ponto para mim; a série sempre recebeu reações negativas por ter mulheres profundamente imperfeitas, e as pessoas aproveitam qualquer oportunidade para criticar mulheres. Como Emily Nussbaum escreveu para o The New Yorker em 2013: “[Sex and the City] originou sem querer a primeira anti-heroína da televisão: senhoras e senhores, Carrie Bradshaw”. A série explorava honestamente as neuroses de ser solteira, e mostrava mulheres que erravam e sobreviviam. É por isso que eu gosto tanto dela, e é por isso que a série tem tantos haters.

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Marina Garcia-Vasquez, Editora Chefe

O que eu gostava muito em SATC eram as conversas francas que as mulheres tinham em lugares públicos — conversas sobre casamento no brunch, discussões sobre boquete no almoço. Cada personagem trazia sua própria perspectiva e opinião sobre sexo casual, relacionamentos e encontrar o parceiro certo. A série celebrava suas diferenças. E nesses diálogos, tínhamos a sensação de que as mulheres estava no comando de seus próprios destinos. Numa mesma mesa tínhamos uma advogada, uma publicitária, uma escritora e uma dona de casa wannabe, e todas tinham seus momentos de ser vadia, meio feminista, orgulhosa e perdida.

Há essa ideia de que com a idade e experiência a vida começa a dar certo, mas as mulheres de SATC mudaram essa noção. Elas permitiram que outras mulheres, jovens mulheres, vissem a vida zoada e casual de mulheres profissionais tentando ganhar a vida numa cidade grande e caótica. As vemos fracassar muitas vezes, mas elas continuam cuidando umas das outras e tentando nunca julgar. Isso foi fundamental para aceitar as diferenças nas minhas próprias amizades com mulheres, e aprender a aceitar todas as nossas existências zoadas individuais.

Janae Price, Assistente Editorial

Por muito tempo, minha mãe não me deixava assistir Sex and the City. Ela se trancava no quarto para assistir os episódios uma vez por semana, e simplesmente não deixava os filhos entrarem. Quando eu tinha idade suficiente, minha mãe sentou comigo na sala numa tarde de verão, como se estivesse me passando um presente sagrado. No resto daquelas férias, eu e ela fizemos maratonas da série juntas.

Fiquei apaixonada pelas personagens e suas vidas em Nova York. No começo, achei que seria uma versão branca de Girlfriends — uma sitcom inteligente sobre quatro amigas navegando pela vida. Mas quando comecei a assistir, percebi que cada personagem era uma vaca zoada do melhor jeito possível, não tropos de sitcom para maiores de 13 anos. (Não estou falando mal de Girlfriends; ainda acho uma série maravilhosa.)

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Meu episódio favorito de SATC é aquele em que Carrie e Big são flagrados tendo um caso pela esposa dele, Natasha. Porque apesar de a série ser centrada na Carrie, ela nem sempre é retratada como o sol virtuoso do universo de SATC, ao redor do qual todos os outros personagens orbitam. A personagem dela é bem egoísta e parcial, que é o que faz você conseguir se identificar com a série. Apesar de algumas coisas serem datadas e vergonhosas hoje — como quando a Carrie sai com um cara bissexual e fica fazendo um monte de perguntas como se ele fosse um alienígena, ou quando a Samantha namora um cara negro e começa a incorporar novas gírias no seu jeito de falar — eu gostaria de compartilhar a série com a minha futura filha algum dia.

Os atores Sarah Jessica Parker (Carrie) e Chris Noth (Mr. Big) numa cena da terceira temporada de 'Sex and the City', episódio 'Drama Queen'. (Foto por Paramount Pictures/Newsmakers)

Kara Weisenstein, Editora Associada

Comecei a assistir reprises de Sex and the City quando tinha 16 anos. Eu voltava para casa do meu emprego de meio período numa sorveteria e mergulhava nas vidas glamourosas em Nova York de Carrie Bradshaw e suas três melhores amigas. Assisti a série inteira na faculdade, depois de tirar o dente do ciso e ter que ficar de molho. Hoje, uso a série como um jeito de desestressar.

SATC é como um cobertor de segurança para mim, uma presença familiar e reconfortante que me lembra minhas próprias amigas. Não vou mentir, é cada vez mais difícil assistir a série conforme o tempo passa, e por isso sou grata a Instagrams mais irônicos como @TodasAsRoupasDeSatC e memes como #CharlotteDesconstruidona. Mas adoro o amor incondicional da série por Nova York, como tantos episódios acabam com a Carrie caminhando por uma calçada molhada, falando sobre o que ela mais gosta na Grande Maçã enquanto um saxofone toca no fundo. É uma visão otimista que me lembra de como eu me sentia como uma adolescente em St. Louis, sonhando com aventuras na cidade grande que eu teria um dia.

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Anna Iovine, Editora Social

Alguns momentos de Sex and the City dão muita vergonha alheia hoje: a transfobia e bifobia da série, todo mundo ser banco (apesar desse não ser um problema só dessa série), a tecnologia arcaica pré-Tinder. Mas por alguma razão, sempre sinto um calor nostálgico quando assisto. Assisti SATC quando era nova demais, tirando vantagem da assinatura da HBO dos meus pais. Por causa disso, episódios como aquele em que a Charlotte ficam com um cara obcecado por fazer sexo oral realmente ficaram na minha cabeça. (Não lembro o nome, mas aquela cena do cara comendo uma fruta é pra lá de obscena.) Crescendo, as mulheres aprendem muito slut-shaming e mitos sobre o sexo que SATC derrubava — como que homens odeiam fazer sexo oral em mulheres, para usar esse mesmo exemplo. Então, de todas as coisas escrotas, SATC tem suas pérolas, e continua sendo uma das minhas séries favoritas.

Kristin Davis e Sarah Jessica Parker numa locação de 'Sex and the City', em 8 de maio de 2001, no Central Park em Nova York. (Foto por Tom Kingston/WireImage)

Allie Conti, Redatora Sênior

A razão de Sex and the City ser uma boa séria para reassistir hoje é precisamente porque ela foi feita antes de termos que nos preocupar se algo era problemático, e podíamos simplesmente curtir séries de TV por seus méritos como entretenimento bobo. Às vezes os personagens fazem coisas homofóbicas, mas quando isso acontece, tento colocar as coisas em perspectiva, reconhecendo que sou uma pessoa que passou as últimas dez horas assistindo uma sitcom sobre mulheres héteros difíceis de gostar que saiu do ar há uma década. Não ter uma vida parece uma razão mais lógica para me sentir mal comigo mesma do que ter uma pessoa fictícia sendo vagamente escrota comigo!

Bom, meu personagem favorito é o Steve. Tinha um esquete no programa da Amy Schumer onde uma mulher levava a amiga numa versão mais pobre do passeio de ônibus temático SATC em Nova York, e a piada era que o passeio era ruim e deprê. Já fiz o passeio (duas vezes) mas queria que eles se focassem mais no Steve. Consigo me identificar quando ele tenta ficar rico participando de uma competição de arremessos do intervalo de um jogo dos Knicks, porque desperdiço muito tempo jogando HQ todo dia tentando pagar minhas dívidas. É muito triste quando ele tem câncer. Você pode assistir a série na HBO ou na Amazon Prime.

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