Relembrando a maior série da história da televisão, 'The OC'

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Relembrando a maior série da história da televisão, 'The OC'

Dez anos sem a série mais importante já transmitida.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Austrália .

Me faça um favor e volte no tempo agora, para uma época quando a ponta descolorida do cabelo dominava a Terra. Uma época em que todos os brilhos labiais tinham cheiro. Uma era em que a P!nk fazia shows em estádios, e todo mundo usava camiseta com calça jeans (eca). Uma época diferente, uma época mais simples, alguns diriam. Era o começo dos anos 2000 e, ninguém imaginava, o mundo estava prestes a mudar para sempre. Seth Cohen estava prestes a nos apresentar ao indie. Ryan Atwood faria as vendas de regata branca explodirem. Marissa Cooper ensinaria uma geração de moleques mimados como jogar uma espreguiçadeira de plástico na piscina num momento de fúria adolescente. E Summer Roberts… bom, também estava lá.

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Faz 10 anos desde que o criador da série, Josh Schwarts, tomou a decisão de cancelar The OC: Um Estranho no Paraíso. E parece que era a hora certa — o show vinha perdendo espectadores desde o final da primeira temporada (as três temporadas seguintes nunca realmente alcançaram a qualidade da primeira). Ainda assim, apesar de não estar mais aqui há tanto tempo, The OC continua uma das séries mais influentes da história da TV. No momento em que os roteiristas mataram Marissa Cooper, já tínhamos visto muita coisa juntos. Oliver! Julie Cooper e Luke! Anna de Pittsburgh! Os problemas com bebida da Kirsten! E talvez o momento mais importante da televisão: Marissa atirando no Trey pelas costas ao som de "Mmmwatchasay", e ele se virando com cara de "Bitch… what???"

Não lembro o que fez a estreia de The OC ser um evento tão marcante. Era 2004, antes do Instagram e do Facebook — antes do MySpace!!! — então só podia ter alguns anúncios na TV aqui e ali. E ainda assim, apesar da falta de "ativações de marca" e campanhas toscas de hashtag, os adolescentes já estavam explodindo de ansiedade antes mesmo de o primeiro episódio ir ao ar. Na frente da minha TV naquela noite, e muitas outras, The OC, a nova série dramática adolescente da Fox, era a coisa mais importante do mundo.

The OC tinha tudo. Perigo, angústia e tanquinho na forma do incompreendido forasteiro Ryan Arwood, o bad boy com um coração de ouro. Um ídolo alternativo em Seth Cohen — cujo amor por quadrinhos, videogames e Interpol era um lembrete de que não estávamos sós neste mundo louco. A opulência da elite de Newport Beach: festas no jardim, festas na piscina, e sempre, sempre alguém dando um piti (Jimmy Cooper). E os Cohens — talvez a família mais autoconsciente da televisão (fora os Simpsons, claro). Os Cohens eram realmente engraçados, e com as confusões deles, The OC deu crédito ao seu público jovem de um jeito que nenhum drama adolescente tinha feito antes.

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Para mim, a série foi a primeira vez que vi alguém na televisão moderna com quem realmente consegui me identificar. Aos 14 anos, quando The OC estreou, eu usava Converse, andava de skate e ouvia Queens of the Stone Age. Pensando agora, percebo como isso parece sem graça, mas como uma adolescente numa escola só de meninas — onde Kelly Clarkson comandava e as garotas acabavam umas com as outras por usar o tipo de meia errado — era alguma coisa. Tudo que eu tive que fazer foi usar coturno e camiseta de banda no primeiro dia em que o uniforme não era obrigatório, para descobrir que não faria isso de novo. Claro, grande coisa. Mas, na época, eu sentia que Havaianas com strass e camiseta Von Dutch eram as únicas coisas aceitáveis. Então, sendo uma adolescente impressionável, assistindo alguém como Seth Cohen na televisão toda terça-feira, eu tinha um amigo que me entendia.

E talvez fosse a mesma coisa para outros garotos; moleques mais ricos que eu, cheios de raiva, desobedecendo os pais. Garotos de áreas mais difíceis que a minha, que mudaram de escola e se sentiam um peixe fora d'água. Ou garotos de pais divorciados, pais que foram presos, pais alcoólatras. Ou, mais provável, filhos de mães que traíram o pai com o amigo do avô, depois transaram com o ex-namorado, depois casaram com o amigo do avô, aí casaram de novo com o pai.

Quatro anos depois da estreia, enquanto Seth casava com Summer, e Ryan encontrava um garoto para ser o mentor como Sandy foi o mentor dele, e por sei lá que razão, Kiki e Sandy criavam uma criança de seis anos, tudo em Orange County pós-Marissa estava amarrado num pacotinho relativamente sem criatividade. Mas fora de Newport Beach, no mundo real, a série tinha mudado inegavelmente a cultura pop.

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Não só The OC deu a partida nas reputações dos moleques nerds e problemáticos por toda parte, mas deu um pontapé na carreira de muitos artistas com sua trilha sonora monumental. De Imogen Heap a The Subways. Rooney a Youth Group. The Thrills, The Killers, aquele cover de "Wonderwall" (que provavelmente foi a única vez que alguém fora do Oasis disse "bom, aqui vai 'Wonderwall'" e não deu merda). Na minha escola, uma garota do coral insistiu que a gente aprendesse "Hallelujah" de Jeff Buckley – só depois que a música apareceu no final de partir o coração da primeira temporada. Depois, claro, temos "California" do Phantom Planet, a música de abertura da série. Aqui você pode agradecer a supervisora musical visionária Alexandra Patsavas — que depois trabalhou em Gossip Girl com Schwarts, além de na Saga Crepúsculo e Grey's Anatomy.

Mas a música é a única razão para The OC ser tão seminal para tantos adolescentes? Provavelmente não. Diferentemente de Dawson's Creek, Gilmore Girls ou One Tree Hill, a série não se passava em alguma cidade fictícia idílica americana – onde sempre é outono, todo mundo se conhece e todo mundo se trata bem. Grande parte do apelo era que – apesar dos dramas e vilanias – The OC era o mais perto que uma série adolescente chegava de cosmopolita. Os protagonistas (até a chata da Kaitlin) realmente falavam como adolescentes, em vez de como produtores de 40 anos achavam que adolescentes falavam. Talvez porque Josh Schwartz tinha só 27 anos quando a série estreou, e 25 quando começou a desenvolvê-la.

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Mas The OC não era só adolescentes de jeans e camiseta fazendo coisas de adolescentes. Era uma série sobre a cultura teen em evolução — The Killers, reality shows e GTA. Death Cab for Cutie!!! Não era só sobre Ryan Arwood e a elite branca de Newport Beach, era sobre pessoas navegando por suas identidades culturais, e tendo muita consciência disso. The OC sacou essa obsessão por bandas, filmes e tendências, e trouxe uma narrativa com que as pessoas realmente se importavam. E, parafraseando John Cusack em Alta Fidelidade: quando você é adolescente, é o que você gosta, não o que você é, que importa. Se fosse pra pegar pesado aqui, eu diria o seguinte: The OC usou a mediocridade grotesca da burguesia suburbana da Califórnia para tornar a contracultura legal de novo.

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Nota do editor: RIP Johnny. Saudades, seu lindo.

Screenshot via YouTube.

Tradução: Marina Schnoor

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