Glassnote/COOP
6/10 Existem várias semelhanças entre Childish Gambino e Kanye West, mas existe um aspecto que os distingue perfeitamente: enquanto o primeiro é um comediante capaz de convencer como rapper, o segundo é um rapper capaz de surpreender o mundo com alguns rasgos de comédia e imbecilidade. Ainda assim, e à margem do tempo que cada um dedica às suas facetas, a fórmula que os dois exploram nos discos é bastante comparável: ambos cantam como se tivessem inventado o hip-hop e nenhum dos dois se acanha na hora abusar dos grandes arranjos para transmitir a ideia de que a canção trata da vida do maior do mundo. E tudo isto é, claro está, o pão e a manteiga do hip-hop que vive obcecado pela sua própria megalomania e swag. Apesar de tudo, Kanye West está sempre uns quantos passos à frente de Childish Gambino em termos de inovação e produções destinadas a deixar-nos com o queixo no chão. O segundo terá de se contentar com o título de “MC mais capaz de um milhão de rimas cheias de sabedoria nerd”. Pois bem,Camp, o primeiro álbum a sério de Childish Gambino está carregadíssimo de referências e trocadilhos que só podiam estar ao alcance de um gajo habituado a escrever comédia para televisão (fora do hip-hop, Donald Glover é sobretudo conhecido pela participação nas séries 30 Rock e Community). É realmente engraçado reparar como Childish Gambino alterna entre um estilo mais sóbrio ao estilo de Drake e algumas diatribes em que se queixa de coisas tão fora com uma tatuagem irónica com os Rugrats, quando ele até adora a série. Camp vale sobretudo pela excentricidade de um MC que, na faixa bónus desta edição especial (o single “Freaks & Geeks”), tira da cartola um verso como “while you niggas masturbate I'm in that Ariel Pink”. E é mais ou menos isso: Childish Gambino é uma espécie de Kanye West com a cabeça danificada por ter visto tanta televisão como Ariel Pink.