Vai ter MC Troia no festival Coquetel Molotov em Recife
Foto: João Izzidio/VICE

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Vai ter MC Troia no festival Coquetel Molotov em Recife

Conversamos com o mais popular artista do bregafunk, que levará o balanço do Alto José do Pinho para o palco do festival em novembro.

O Alto José do Pinho é uma dos principais fontes musicais do estado de Pernambuco. Localizado na Zona Norte do Recife, o morro começou a ser povoado na década de 40 por operários da extinta Fábrica de Tecidos Bezerra de Melo. Vindas da zona rural, essas pessoas desenvolveram por lá tradições culturais como o reisado, o maracatu e o afoxé. Com o passar dos anos, a música foi se transformando. Durante a ebulição do mangue beat nos anos 1990, a comunidade foi a casa dos punks da Devotos e do grupo de rap Faces do Subúrbio. Continuando essa história, hoje quem faz o Alto balançar é o MC Troia, a maior estrela do bregafunk, que acaba de ser confirmado no lineup do 15º festival Coquetel Molotov, que ocorre dia 17 de novembro, no Recife.

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E não é exagero afirmar que Troia é o maior nome desse movimento. Além de ser o cara com mais seguidores nas redes sociais (atrás vem Dadá Boladão), Troia faz uma média de 10 shows por semana. Sua equipe é composta por 21 pessoas, incluindo músicos, dançarinas, seguranças e produtor. “É a maior banda de MC do estado. É uma empresa, e são todos assalariados”, gaba-se o MC enquanto se prepara para a gravação do clipe “Flexiona e Sarradinha”.

Além do Nordeste, Troia vem dando os primeiros passos da carreira em São Paulo. No ano passado fez uma turnê de 15 dias no estado, circulando pela capital e interior. Em maio, gravou uma música (ainda inédita) com o MC 2K e Nando DK no estúdio da Start Music. Outras duas produtoras paulistas ainda reuniram-se com o empresário do cantor para negociar um contrato — embora nada tenha sido fechado.

Batizado Arthur Felipe da Silva Alves, o MC, de 27 anos, adotou o nome Troia após assistir ao filme homônimo estrelado por Brad Pitt. Conhece o maracatu, o punk e o rap do Alto José do Pinho, mas foi a batida do funk que o seduziu. “Conheço Zé Brown [vocalista do Faces do Subúrbio], ele mora na minha rua. Conheço Cannibal [vocalista da Devotos] e as bandas de metal também. Desde pequeno, eles sempre foram fortes na comunidade. Mas minha paixão é e sempre foi o funk, tipo Stevie B e funk freestyle”, conta.

Cantando desde os 13 anos, Troinha passou pelas diferentes fases estilísticas do bregafunk. Começou ainda nos bailes funk de corredor e depois, com o declínio dos bailes, dividiu-se entre o romantismo (em parcerias com Anny Love) e a putaria/ostentação (formando a Os Abusados, com Leo da Lagoa e Leandrinho). Mas o MC explodiu mesmo em 2016, quando emplacou os hits “Balança, Balança” e “Bumbum no Ar”, faixas que reformularam a pegada do arrocha de Polentinha e Rei da Cacimbinha. Uma ideia que veio do produtor musical Geison de Santana, do estúdio GS, e que causou certo estranhamento.

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“Ele pegou uma música minha, que eu já tinha gravado, transformou num arrocha e me mandou. De cara eu gostei. E só eu acreditava. Todo mundo dizia que aquele som não ia pegar, que eu tava ficando doido”, relembra. Há quatro meses do Carnaval, ele decidiu lançar o CD Arrocha com Troinha , que continha seu repertório adaptado para o novo ritmo e mais duas faixas inéditas. Entre as novidades estava “Balança, Balança”, que caiu na boca do povo e rapidamente entrou no repertório dos shows de Wesley Safadão, Aviões do Forró, Márcia Fellipe e demais gigantes da música pop do Nordeste, consolidando o nome de Troia. “Foi a última música que eu escrevi pro CD e foi a justamente a música que deu certo. É a música que abriu as portas pra minha carreira”, define.

Antes mal visto, o arrocha virou moda e Troia surfou nessa onda por mais de um ano. A virada veio no início de 2018 com “Pode Balançar”, parceria com DJ DG (aquele da MC Loma) que anunciava o estilo “brega rave”. “Eu estourei no arrocha, só que o momento já mudou. Então se eu insisto no arrocha, mesmo sendo uma batida que já tava estourada, eu poderia ficar para trás, entende? Aí eu tive que mudar porque a gente vive disso. Tem que inovar sempre e é o que eu tô fazendo”, justifica. “O DG até falou comigo pra gente misturar umas coisas com samba, com rock. E eu disse: vamo nessa, vamo apostar, né?”.

Essa fome por novidades colocou o bregafunk em seu melhor momento. Para Troia, o movimento até “está ultrapassando” o funk de São Paulo. “O Rodrigo da GR6, que é muito forte e tá fechado com os melhores tipo o Livinho e Davi, vem aqui pra Recife. O que um cara desses quer aqui em Recife? E se você prestar atenção, em São Paulo eles estão gravando músicas que já não são mais funk. É batida, a bem dizer, do brega. O beat do Jerry [Smith], do WM já é puxado pro brega. Eles inovaram: pegaram o que usavam no funk e tão puxando pro lado mais do brega”, analisa.

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Enquanto o brega vai chegando ao Sudeste, em sua terra natal ele começa a ser melhor compreendido. Os preconceitos vão caindo e as pontes vão sendo estabelecidas. Em fevereiro, o MC Tocha se apresentou no Rec-Beat, sendo o primeiro MC a tocar num festival de perfil, digamos, mais alternativo. Assim como Tocha não conhecia o Rec-Beat, Troia não conhece o Coquetel Molotov. Nem Maria Beraldo, Luedji Luna ou Duda Beat, as demais atrações já confirmadas. Mas se animou quando contei que o festival atraia um público diferente das casas de brega e que ele cantaria para cerca de 8 mil pessoas. Ficou um tempo pensativo, como se estivesse visualizando a imagem em sua cabeça, e concluiu empolgado: “Quero botar todo mundo pra dançar e pular!”.

Produtora do festival, Ana Garcia conta que a ideia de ter Troia no lineup começou a se desenhar no Molotov do ano passado após uma conversa com a cantora Nega do Babado, que havia feito uma participação no show da Linn da Quebrada. “Ela estava muito emocionada por tocar em um festival daquele porte e para um público diferente. Falamos muito sobre a falta de incentivo do Governo e a falta de oportunidades de participar de outros festivais onde ela possa construir um novo público”, explica Ana. “Acho que o Coquetel Molotov já saiu desse mito de ser um festival 'indie'. É um festival que escuta a música do mundo e tem que escutar principalmente a música da sua cidade e do povo. Foi natural ter brega novamente no festival e queríamos chamar logo o nosso príncipe, Troinha”.

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