Parece que usar um colete refletivo consegue tudo que você quiser de graça

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Parece que usar um colete refletivo consegue tudo que você quiser de graça

Um colete refletivo é sua chave para o mundo. Visitei de graça um zoológico, o cinema e até assisti um show da minha banda favorita, o Coldplay.

O mundo é um lugar estratificado. Gente importante consegue entrar em lugares exclusivos. O resto tem que pagar uma puta grana ou assistir por um buraco na cerca. Mas tem um jeito de entrar em lugares de graça, se você estiver disposto a tentar. Você só precisa fingir ser uma pessoa importante. E pessoas de colete refletivo são importantes porque consertam coisas com que ninguém mais se importa. Se você vê alguém num colete refletivo passando por uma barricada, ou marchando direto pelo segurança da balada, você supõe que a pessoa vai consertar alguma coisa. É por isso que colete refletivo é a chave da vida.

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Pelo menos era isso que eu e meu amigo Sean sempre achamos. Na foto acima, ele é o cara virando uma garrafa de vinho, na noite em que decidimos que tínhamos que testar a teoria do colete refletivo e transformar o mundo na nossa ostra. NOSSA OSTRA. Então no dia seguinte fomos até uma loja de materiais de segurança e compramos dois coletes fluorescentes, uns walkie talkies falsos e fomos atrás de aventura.

Começamos com o básico. Onde um moleque de 12 anos perde sua virgindade em entrar escondido? O cinema. Vestindo nossos coletes, Sean e eu passamos direto pelo cara do balcão e entramos na primeira sala que apareceu. Foi mamão com açúcar.

A única parte ruim é que estávamos a mercê do que estava passando na hora, que acabou sendo A Última Ressaca do Ano. Surpreendentemente, até que o filme é legalzinho. Apesar de que a adrenalina de estarmos invadindo deve ter contribuído para a diversão. Era hora de aumentar a dose.

O zoológico se mostrou um desafio maior, apesar de apenas psicológico. Levamos uns bons 15 minutos vagabundeando na frente da entrada, fumando um cigarro atrás do outro, para mascarar nossa apreensão. Nenhum de nós achava que conseguiríamos entrar. Não seria exagero dizer que passar direto pela bilheteria pareceu sair de um navio na Normandia.

Acontece que o perigo estava só na nossa cabeça. Entramos sem problema – o Sean até deu bom dia pro cara da bilheteria na entrada. Não conseguimos acreditar como foi fácil. Assim que entramos começamos a rir como dois moleques e a cumprimentar os verdadeiros empregados do zoológico com acenos de cabeça. As famílias lá também foram enganadas, toda hora alguém vinha perguntar que horas o zoológico fechava ou qual a direção da jaula dos macacos.

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Esse sou eu sentado na frente da jaula dos lêmures, desapontado. Lêmures são meus animais favoritos, mas não estavam em exposição naquele dia sei lá por que, o que cortou meu barato. Uma família se aproximou, achando que eu estava trabalhando, e perguntou quando os lêmures estariam em exposição de novo. Eu disse a eles que o mais breve possível e usei meu walkie talkie falso pra "resolver" o assunto com a gerência.

Tem alguma coisa em uniformes que faz as pessoas confiarem cegamente em você. Muitos de nós obedecemos pessoas usando uniformes num nível quase Experimento da Prisão Stanford.

Conforme o dia foi passando, Sean e eu ficamos cada vez mais confiantes e confortáveis nos coletes refletivos. Eu até esquecia que estava usando um. Entrar no zoológico era muito mais do que eu podia esperar do nosso experimento, mas não sou de descansar sobre meus louros. Era hora de ver até onde a gente conseguia levar o plano.

Tentamos embarcar nesse ônibus turístico na cidade, mas o motorista não comprou nossa história. Parece que o ônibus dele tinha a melhor segurança de Melbourne inteira.

Pegamos um Uber para voltar para casa mas, parados no trânsito pesado do horário de pico, Sean descobriu que o Coldplay estava se apresentando aquela noite. Chegando no estádio, trocamos nossos coletes refletivos amarelos por outros laranjas, para nos misturar com as outras pessoas trabalhando no evento. Você não pode dizer que a gente não sabe se adaptar.

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Sinceramente, entrar não foi exatamente fácil. Tivemos que passar por algumas entradas e voltar atrás, mas estávamos apenas metade nervosos do que deveríamos. Sabe, o Sean conhecia uma pessoa lá dentro. Achamos que se algo desse errado, era só mencionar o nome do cara e com sorte a gente se safava. Para nossa surpresa, não deu nada errado. Realmente entramos.

Quando entramos, Sean mandou uma mensagem para seu amigo vir nos encontrar. Claro, ele achou a ideia dos coletes ridícula e disse que a gente estava passando vergonha, mas também que ia tentar nos arranjar uns passes temporários. Nesse ponto, nossa história entra numa tese diferente de ter amigos dentro de shows mas, tanto faz, foram os coletes que nos levaram até o Coldplay.

Eu não era um grande fã do Coldplay até ver a banda tocar usando meu colete refletivo. Aquele dia mudou tudo. Saí do estádio sentindo um calorzinho brilhante no fundo do estômago, o que acho que é o barato extraído de atividades ilegais e coletes de plástico.

No final das contas, o experimento provou um fato que eu sempre suspeitei que era verdade: que você nunca vai saber se não tentar. A vida é totalmente permeável de jeitos inesperados. Graças a esses coletes refletivos, entramos em três lugares de graça, e depois tivemos vários benefícios por pura sorte, que também foi graças aos nossos coletes.

Acho que se eu tivesse que te dar um conselho, seria: vai comprar um colete refletivo. Isso é tudo que você precisa saber na vida.

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Nota: editamos esta matéria no dia 21/12/2016 porque ela podia encrencar o amigo do Sean e a gente realmente gosta desse cara.

Tradução: Marina Schnoor

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