Os conselhos culinários do rapper Action Bronson são uma delícia

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Os conselhos culinários do rapper Action Bronson são uma delícia

VICELAND chegou ao canal Odisseia e Action marca presença todas as segundas-feiras, a partir das 23h30, com "F*ck, That's Delicious".

A série F*ck That's Delicious é uma das mais representativas da VICELAND e acaba de estrear no Canal Odisseia. Em cada episódio, todas as segundas-feiras, a partir das 23h30, pela mão do rapper Action Bronson e dos seus inseparáveis companheiros, Meyhem e Body, vais descobrir o melhor da gastronomia internacional. Pratos tradicionais e inovadores, de grandes chefs ou de restaurantes manhosos de bairro, Action mostra-nos o que de melhor se come em vários pontos do Planeta.

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Inspirados pelo nosso anfitrião, pegámos numa cópia do recém-editado F*ck, That's Delicious: An Annotated Guide to Eating Well , um livro em que Bronson compila algumas das suas reflexões sobre a comida que foi descobrindo ao longo da vida e do programa e que, como seria de esperar, é uma maravilha. Abaixo deixamos-te um excerto do livro, para te ir abrindo o apetite enquanto esperas pela prºoxima segunda-feira e por mais episódios de F*ck, That´s Delicious , no Canal Odisseia. Podes comprar o livro no IndieBound , Barnes & Noble ou Amazon .


Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Munchies.

I. UM GELADO DA WWF WRESTLING NO PARQUE

Os gelados da WWF Superstars eram os meus favoritos depois do Chipwich; é uma pena que nenhum dos dois continue a ser fabricado hoie em dia (ainda que em Nova Iorque o Chipwich tenha regressado em tempos).

Quando a carrinha dos gelados chegava, estes eram os únicos que eu queria. Os primeiros vinham com um desenho de um lutador da WWF na embalagem e traziam uma carta coleccionável e um autocolante com uma frase. Fiz a colecção toda. De um lado tinham uma capa de bolacha fininha com amêndoa e do outro uma cobertura de chocolate. Eram uma loucura. A dada altura tiveram que mudar o nome para WWE por causa de um problema com a ONG World Wildlife Fund.

No geral, adoro carrinhas de gelados. Lembro-me de uma vez que estava a jogar beisebol e o gajo dos gelados chegou mesmo na altura em que estava prestes a bater. Obviamente, fui a correr comprar um gelado sem dizer nada. Começaram todos feitos malucos à minha procura. Quando cheguei, bati a bola e fiz um home run. Também merecem uma menção especial aqueles gelados do Batman ou das Power Puff Girls, com os olhos que eram pastilhas e vinham tão congeladas que nem sequer as conseguias mascar e acabavam por se transformar em pó. Eram incríveis.

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II. AREPAS E SUMO DE AMORA

Toda a gente devia provar esta combinação pelo menos uma vez na vida. Uma arepa é uma espécie de tortilha de milho colombiana sem açúcar, mas não é como aquelas que se vendem nas feiras (que também são magníficas). Vão ao lume até incharem e depois são recheadas com queijo salgado colombiano parecido com mozzarella. Acompanhas com sumo de amoras congeladas e gelo, tudo batido.

Não há nada mais orgásmico que o contraste entre o salgado do queijo da arepa e o doce das amoras. Costumam perguntar se queres a bebida com gelo ou leite: é pedir sempre com gelo. Antes, porém, começa-se com uns bolinhos redondos de coalhada e farinha de milho. Im-pre-ssio-nante. Principalmente se comidos assim que saem do forno.

III. TAKE-AWAY PARA COMER NO CAPOT DO CARRO

Frango frito, sandes, pizza… adoro comer o que quer que seja de pé, em cima do capot do carro, no parque de estacionamento do restaurante. Não gosto de me sentar num banco de um balcão manhoso. É assim que eu, Meyhem e Body comemos desde sempre. Nada de sentar.

IV. CRISPIX E LEITE DESNATADO

Há 30 anos que como Crispix de pé, sobre o lava-louça de casa da minha mãe, numa taça com um desenho de um chef italiano muito gordo. Como-os sempre com uma colher pequena; nunca como cereais com colher de sopa. Para mim, Crispix é comida de ganza. Compro uma caixa e avio-a de uma vez. Servem-me de pequeno-almoço, almoço, jantar… tudo. Tanto os Crispix como os Rice Krispies são cem por cento os meus favoritos de sempre. Às vezes vario para outros, como os Product 19, que eram para idosos, mas que eu adorava, e os Lucky Charms, mas só os que tinham gomas.

Cada tipo de cereal deve comer-se de forma específica: os Crispix e os Rice Krispies, por exemplo, devem ser servidos com leite desnatado. Os Cookie Crisp, Cinnamon Toast Crunch e Fruity Pebbles são melhores sem leite, directamente da caixa. Os Rice Krispies há que comê-los quase como se fosse risotto, deitando leite suficiente para que os possas embeber, mas continuarem um bocadinho crocantes. Todavia, nenhum faz sombra aos Crispix, os melhores cereais alguma vez inventados.

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V. A SANDUICHE PICANTE DE FRANGO E UM FROSTY

Os malaios também sabem que o frango frito picante combina na perfeição com algo fresco e que leve chocolate. Um dos meus restaurantes favoritos em Sidney é o Mamak - os mamak são muçulmanos malaios originários do Sul da Índia -, onde peço sempre frango frito com especiarias e uma bebida gelada à base de leite e chocolate Milo.

VI. COMIDA ASIÁTICA NA AUSTRÁLIA

Agora a sério, a Austrália é o sítio do Mundo onde provei a melhor comida asiática da minha vida. Não há sítio no Planeta que ofereça mais diversidade de cozinha asiática. Há o Mamak, que já mencionei, onde servem comida alucinante e há uma pessoa que passa os dias a fazer roti malaio, uma espécie de crepe incrível. O chef Dan Hong, proprietário do restaurante chinês-asiático-vietnamita Ms. G, a uma zona vietnamita, a cerca de uma hora a oeste de Sidney, onde a sua mãe tinha um restaurante. É um sítio onde as pessoas cultivam as suas próprias abóboras e bananas, que depois vendem na rua.

Não conhecia muito bem a cozinha vietnamita e nesta viagem provei um monte de pratos, como a massa de gambas envolvida em papel de arroz e cana de açúcar e o bún bò huê, uma sopa picante de macarrão, com vitela e porco. Em Perth há um sítio chamado Long Chim que está a bombar. Foi onde comi a melhor comida do norte da Tailândia, com um toque da gastronomia das ilhas do Pacífico. Meus Deus, o laarb que eles fazem (basicamente uma salada com carne picada)… Parecia que não levava carne e digo isto de uma maneira positiva.

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Levava folhas de lima, pimento picante e coisas fritas, crocantes, salgadas e doces… Metias uma colherada na boca e não conseguias parar. A verdade é que um dos melhores pratos que comi em Los Angeles - num sítio chamado E.P. & L.P. - era mais uma mistura entre asiático e australiano, porque era feito pelo chef Louis Tikaram, que cresceu precisamente na Austrália. Uma das minhas coisas favoritas dele é o pescoço de cordeiro fumado, temperado com ervas, como menta e manjericão, envolvido em folhas de alface e embebido num molho… foda-se, uma locura. Comer este prato foi como voltar a Perth.


Vê o primeiro episódio de F*CK, That's Delicious - VICELAND no Canal Odisseia


VII. BIG MACS E ACAMPAMENTOS PARA PEDER PESO

Quando frequentava acampamentos para perder peso, dedicava-me ao tráfico de Big Macs e doces… Não estou a gozar e se contares a alguém, eu e tu vamos ter um problema. Era em Camp Shane, Nova Iorque, e era tipo o filme Heavyweights (Férias de Peso). Uma das monitoras trazia-me sempre tudo o que lhe pedia, às vezes a meio da noite e eu depois vendia. Snickers, frango frito e, sobretudo, Big Macs.

Obviamente que houve crianças que não perderam peso algum, porque não faziam outra coisa que comer hamburgeres. Eu, no entanto, segui o programa e consegui perder quase 20 quilos. A monitora contornava todas as normas éticas da vida. Tinha 19 anos e eu 14, mas disse-lhe que tinha 17. No último dia do acampamento perdi a virgindade com ela, num quarto cheio de miúdos a dormir em beliches. Foi incrível.

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VIII. BASKIN-ROBBINS E MINI-CAPACETES DE BEISEBOL

Quando era miúdo, a Baskin-Robbins começou a vender gelados de duas bolas servidos em mini-capacetes da Major League de Beisebol. A piada era coleccioná-los todos. Era tipo os Happy Meals, que pedes não pela comida, mas pela oferta que trazem. Em pequeno, o meu sabor favorito era o de bocadinhos de baunilha, mas depois comecei a gostar do de bocadinhos de chocolate com menta e, desde então, nunca encontrei um sabor que o supere.

IX. CHÁ GELADO COM LIMÃO SUNNYDALE E UM JOGO DE ANDEBOL

A Sunnydale Farms era uma empresa de Brooklyn que, até 2005, vendia leite, sumos e chás em recipientes dom um design espectacular, em todas as lojas de Nova Iorque. Tinham chá de limão e ponche de frutas, que era mais viciante que crack. Costumava bebê-los todos os dias em que tinha jogo de andebol. No fim do jogo, ia à loja da esquina e comprava um por 25 cêntimos, ou de borla, se agarravas num e desatavas a correr.

X. FRANGO FRITO E VINHO NATURAL

A última vez que estive na Austrália, comemos frango frito e bebemos vinho natural todas as noites. Era a única coisa que queria, viciei-me nessa combinação. Comprávamos tudo no Belles Hot Chicken, um sítio especializado em vinho natural e frango frito ao estilo de Nashville, que consiste em passá-lo por especiarias secas depois de frito. Dias depois, encontrámos um Belles Hot Chicken em Melbourne e também aí só nos alimentámos à base de de frango e vinho natural.

Recordo-me que estivemos com o chef e sommelier coreano, Kimchi Pete Jo, num terraço, para nos mostrar alguns dos melhores vinhos naturais da Austrália. Apanhei uma das boas - mas daquelas que te deixam alegre - e nesse dia o frango frito soube-me como nunca, porque o vinho natural realçava o sabor.

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XI. COMIDA CHINESA DE BAIRRO E CIGARROS DE BAUNILHA

Pedi ao rapaz das entregas de comida chinesa para me trazer cigarros Dutch Masters com o meu pedido de frango General Tso.

Bem, isto é muito importante para mim, não vos vou mentir. Há anos que ando sempre a alternar entre o molho castanho e o molho mais leve, o branco (fécula de milho, água, sal e caldo de galinha). Foi por etapas: frango General Tso, frango com sésamo ou frango com brócolos. Peço umas doses e como até me aborrecer. Houve alturas em que comi frango com sésamo todos os dias durante um mês, frango General Tso durante outro mês e assim sucessivamente.

Quando já os tinha acostumado ao meu pedido, de repente mudava e ficavam surpreendidos: "Oh! Hoje é diferente'". Era como um episódio de Seinfeld. Quando pedes frango General Tso só te dão três pedaços pequenos de brócolos, que sabem sempre a peixe, porque os fritam no mesmo sítio que os dumplings de gambas. Com o frango com molho castanho e branco, os brócolos são salteados juntamente com os outros ingredientes.

XII. SALSICHA COM CANELA TORRADA E SIDRA NATURAL

A loja State Bird Provisions, em São Francisco, faz duas das melhores coisas que já provei na vida: chips de batata com com ovas de salmão curadas com limão Meyer e servidas com crème fraîche e uma salsicha Chiang Mai ao estilo tailandês, con canela torrada e arroz amargo fermentado. A mim serviram-me com uma sidra natural a acompanhar, muito fresca e espontânea. Foi, provavelmente, a combinação mais incrível que já provei na vida. Pelo menos foi o que me pareceu naquele momento.

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XIII. TING E EMPADAS DE CARNE JAMAICANAS

Há muitos nova-iorquinos que, mesmo não tendo a mínima ideia do que é a cozinha jamaicana, já ouviu falar das empadas de carne de pizzerias e tascas de Nova Iorque. Normalmente abrem-nas ao meio e cozinham-nas com queijo ou pepperoni. Já deixou de ser um prato jamaicano e agora é uma coisa muito de Nova Iorque, porque toda a gente as come. Para ser sincero, foi o meu primeiro contacto com a comida jamaicana.

Para mim, o melhor spot de comida jamaicana é o Jamaican Flavors, na Rua 165, em Queens, em frente ao Colosseum Mall, um local muito popular no mundo do rap. Todos os rappers iam ali comprar sapatilhas, roupa e jóias. Na parte de baixo do centro comercial há uma espécie de mini Diamond District.

No Jamaican Flavors nota-se que as empadas são feitas à mão, vê-se a gordura. Fazem-nas de frango e curry, frango ao estilo jerk, callaloo e peixe salgado; de vitela picante, normal, no churrasco, etc. E no passeio têm uma arca com refrigerantes de frutas Mistic e Ting, a bebida da Jamaica por excelência, que se vende sempre numa garrafa pequena de vidro verde. É uma bebida gaseificada de toranja. Não gosto muito de toranja, mas adoro Ting. Ao que parece, os jamaicanos são os únicos que bebem Mistic, essas bebidas extremamente doces que se vendem em todas as cores do arco-íris. Se beberes muitas podes acabar com os pés amputados e a andar como o Tenente Dan, em Forrest Gump.

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XIV. HOT DOUG'S E UM TERRAÇO EM CHICAGO

Na minha opinião, algo morreu em Chicago quando fecharam o Hot Doug's, em 2014. É uma pena, porque esse sítio tinha criado uma escola muito própria. Dizer-se que Doug Sohn fazia cachorros-quentes, ou salsichas, é curto.

Cada uma das suas obras era como um floco de neve, único na Natureza, como a salsicha de foie gras e pato de Sauternes, com alioli de trufa, a mousse de foie gras, ou as batas fritas em gordura de pato, crocantes até dizer chega.e salsichas e comemos no terraço da suite Michael Jordan, do Public Hotel Chicago, enquanto contemplávamos a auto-estrada de Lake Shore Drive.

XV. TRUFAS BRANCAS E GELADO CREMOSO DE BAUNILHA

Sempre usei azeite no gelado, mas no restaurante Lilia, de Brooklyn, a chef Missy Robbins ensinou-me a sua receita: gelado cremoso de baunilha com azeite, mel e sal marinho, coroado com trufa branca. A maioria dos gelados de baunilha são bons, mas o da Haägen-Dazs é a tela ideal para praticamente qualquer invenção. O que melhor combina com as trufas é o gelado cremoso de baunilha, como o do McDonald's ou o do Lilia. Geralmente, as trufas são servidas raladas sobre algo, mas eu acho que também é preciso acrescentar-lhe azeite, ou sal marinho. Ou, como no Babbo, em Manhattan, onde servem massa com trufa branca e manteiga quente, um pouco de queijo e sal.

XVI. GELADO ITALIANO DE CHOCOLATE E LIMÃO NA MESMA TAÇA

Adoro a combinação de gelado de chocolate e limão. Antes era chocolate com cereja, mas com limão é melhor. O chocolate é potente e amendoado e contrasta com a frescura do limão. Quando comes gelado no Verão, não há nada melhor que agarrares numa pistola de água e ires disparando uns jorros enquanto comes.

XVII. AS BOLACHAS COM PEPITAS DE CHOCOLATE DA MILTON A. ABEL JR. COM MANTEIGA DE MEL SALGADA

Milton é incrível, tanto como pessoa, como enquanto chef de sobremesas. Trabalhou nos melhores restaurantes, como o French Laundry e o Per Se, e o seu pai Milton A. Abel Sr., era um famoso músico de jazz de St. Louis. A primeira vez que provei as suas bolachas com pedaços de chocolate e manteiga de mel salgada, Milton trabalhava no Amass, em Copenhaga. Prepararam-nos uma churrascada ao estilo americano, ao ar livre, e Milton tinha feito as bolachas de chocolate perfeitas. Suaves por dentro, com as bordas crocantes e tantas pepitas que parecia que estavam recheadas de chocolate. Fez também pão de milho com manteiga de mel, com manteiga boa, mel dinamarquês e uma pitada de sal.

Untei uma bolacha com a manteiga e comi-a assim. Mais ou menos um ano depois, regressei a Copenhaga. Já era tarde quando recebi uma mensagem sua e passado um bocado foi ter ao hotel, às tantas da noite, com umas bolachas de chocolate e manteiga de mel que tinha acabado de fazer. São as receitas secretas de Milton. Não economizam em nada.

Milton diz: "Quando era jovem trabalhava como demi-chef no French Laundry e uma vez fiz pão de milho para a refeição do pessoal. Tenho muito orgulho no meu pão de milho e estava entusiasmado com a ideia do chef Keller o ir provar pela primeira vez. À medida que o via aproximar-se da fila o meu nervosismo aumentava. Mais tarde, vi-o junto ao meu posto com um pedaço de pão de milho e disse-me num tom muito jovial, "Onde está a manteiga de mel chefe? O pão de milho tem de levar sempre manteiga de mel".

Desde aquele dia, nunca voltei a servir pão de mel sem manteiga de mel… nunca… onde quer que estivesse a trabalhar. Quando Action Bronson foi ao Amass para a churrascada, fiz bolachas com pepitas de chocolate, pão de milho e manteiga de mel. Ele levou a combinação ao nível seguinte, quando juntou as bolachas à manteiga".


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