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​O brasileiro que manja tudo da arte de fabricar pintos

Se você não quer ver fotos de imitações de pênis, não leia esta matéria.

"Profanação." É assim que a mãe (católica fervorosa) do brasileiro David Zimmermann se refere ao trabalho feito pelo filho, um empreendedor de pirocas que transformou seu quarto em um laboratório de objetos fálicos.

Designado mulher ao nascer, David hoje é um homem transexual de 24 anos que mora na cidade de Curitiba, Paraná. Aos 14 anos, ele começou a utilizar o binder (uma espécie de roupa) para comprimir os seios. Depois de pegar gosto pela costura, começou a fabricar e vender binders para outras pessoas que estavam em "transição" – como é o conhecido o processo de mudanças na vida de pessoas trans. Hoje, sua loja online, Tboy, faz sucesso entre trans de todo o país.

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Anúncio da Tboy no Facebook. Crédito: Reprodução/ Facebook

Por mês, cerca de 50 binders – que custam entre R$59,90 e R$ 69,90 – são despachados pelos correios para os clientes. O sucesso rendeu novos caminhos. Nos últimos tempos, David passou a se dedicar à fabricação de packers, peças que simulam o combo testículos + pênis.

Atualmente, ele tem produzido três modelos, cujos preços podem variar de R$ 150 a R$ 650. O primeiro é para ser usado no dia a dia, já que seu principal objetivo é fazer volume na calça. O segundo modelo possibilita ao homem trans fazer xixi de pé. "Ele é anatomicamente feito pra encaixar [na vagina] e ir ao banheiro", diz o "cara das rolas", como é chamado pelos amigos. Já o terceiro e mais caro packer pode ser utilizado para ir ao banheiro e também para fazer sexo. "As pessoas reclamavam muito que as próteses de sex shop machucavam. Esse packer tem maciez, maleabilidade."

Um dos binders fabricados pela Tboy. Foto: Reprodução/ Facebook

As cores das pirocas também são três: branco, moreno e negro. E os tamanhos podem variar de 10 a 20 centímetros. Isso vai de acordo com o gosto do cliente. Já a feitura dos produtos leva um tempo. "Em média, 20 dias. Eles ficam uns dias secando", conta.

"Ser um empreendedor de pinto é trabalhar com uma coisa que, no Brasil, muitas pessoas têm preconceito."

As primeiras fabricações de David eram improvisadas com tecidos e até mesmo camisinhas. Depois, a coisa ficou séria e ele começou a estudar materiais para fazer as melhores pirocas possíveis. Algumas rasgaram, outras não funcionaram. No fim do ano passado, depois de chafurdar em sites gringos e assistir a mil vídeos, o jovem empresário chegou até a cyberskin, um material inventado pela Nasa que imita a pele humana. "Manipulo bem esse material. Deixo ele do jeito que eu quero."

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David Zimmermann em seu ateliê. Foto: Reprodução/ Facebook

Por enquanto, sete packers saíram do laboratório de David, que teve de comprar aparelhos específicos para manipular seus produtos. "É uma coisa extremamente complexa de fazer. Aceitei poucas encomendas no momento pra conseguir pegar prática", explica. Em agosto deste ano, depois de receber o feedback de quem comprou e usou as primeiras peças, ele irá começar a vender os packers pra valer.

"Minha mãe é católica fervorosa, mas hoje em dia ela respeita meu trabalho. Ela fala que eu tô fabricando profanação."

"Minha mãe é católica fervorosa, mas hoje em dia ela respeita meu trabalho. Ela fala que eu tô fabricando profanação. É engraçado isso", conta David, rindo e respirando ofegante, já que ele dá entrevista por telefone enquanto se locomove do banco para os correios.

Um dos packers produzidos recentemente. Foto: Reprodução/ Facebook

A produção de binders acontece num ateliê. Já a fabricação dos packers ainda está no laboratório improvisado no quarto. Mas os planos de expansão do e-commerce passam também para o plano físico. "Acho que vou me mudar porque preciso de mais espaço. A loja física, quem sabe um dia", suspira. Isso evitaria que as visitas se assustem, já que seu quarto tem "um monte de pirocas" espalhadas.

Apesar do julgamento alheio, David sabe que a utilização de binders e packers é importante para o homem trans sentir mais satisfação com o próprio corpo. Ele acredita que o trabalho desenvolvido nos últimos anos tenha ajudado essas pessoas. "Ser um empreendedor de pinto é trabalhar com uma coisa que, no Brasil, muitas pessoas têm preconceito. Querendo ou não, é um mercado que envolve sexo. É um mercado que envolve pessoas trans", desabafa. Quando perguntam qual é sua profissão, ele prefere responder que tem um "trabalho muito exótico".

Matéria originalmente publicada na VICE US.

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