Não se posicionar politicamente também é se posicionar
Foto via Twitter

FYI.

This story is over 5 years old.

Entretenimento

Não se posicionar politicamente também é se posicionar

Como a escolha da Anitta de se manter longe de política decepcionou grande parte do seu público.

Nessa quarta (19), a hashtag #AnittaIsOverParty chegou ao primeiro lugar nos Trending Topics do Twitter no Brasil. O mutirão, que propunha um boicote em massa à Anitta, começou com um follow no Instagram: a cantora seguiu recentemente o perfil @flaviadavilaperez, que apoia publicamente o candidato à Presidência Jair Bolsonaro. Entre suas postagens, há charges que ironizam o presidente da Venezuela Nicolás Maduro, vídeos do notório reaça Danilo Gentili e memes que tiram sarro do ex-presidente Lula.

Publicidade

Cobrada pelos fãs via a hashtag e comentários do Instagram, Anitta deu uma resposta nos stories do Instagram e em alguns tuítes ao longo da tarde. Nos vídeos, ela esclarece: Flávia, a dona do perfil que causou a polêmica, é sua amiga "há mais de sete anos" e ela não deixaria de segui-la por eventuais discordâncias políticas. No entanto, logo depois, ela reitera que prefere não se posicionar sobre as eleições e diz quem mantém seu direito de ter um voto secreto.

"Não quero dar a minha posição política. Não é porque eu sou uma artista e tenho uma vida pública que eu sou obrigada a dizer qual é o meu voto, e deva receba xingamentos e ameaças por não falar publicamente sobre isso", falou, em vídeo publicado no Instagram. Em posts no Twitter, ela seguiu se defendendo: "Não quero ser obrigada a odiar ninguém por isso. Não quero ser obrigada a fazer campanha política quando não foi esse o trabalho que escolhi."

Não é a primeira vez que Anitta decepciona os fãs pela falta de posicionamento em questões políticas importantes. Depois do assassinato de Marielle Franco, em março de 2018, muitos aguardaram que a cantora homenageasse a vereadora, como muitos outros artistas fizeram. A homenagem veio dez dias depois e deixou um gosto amargo na boca de quem o viu (não achamos o post no Instagram da artista): depois de postar uma legenda chapa-branca, na onda "all lives matter", ela apagou o texto original e trocou por um emoji de coração partido.

Publicidade

As acusações contra Anitta são fundadas no argumento de que a cantora se aproveita do chamado "pink money", ou dinheiro rosa, que descreve o poder de compra da comunidade LGBT+. Ou seja, ao mesmo tempo em que se apresenta na Parada do Orgulho LGBT e participa de campanhas contra a homofobia, visando atingir esse público que se tornou essencial no consumo de música pop, a artista também se recusa a se posicionar contra um candidato abertamente homofóbico. Anitta se diz feminista, mas se recusa a se posicionar contra um candidato abertamente misógino.

Talvez por seu tamanho na indústria, ela vai na contramão de colegas artistas que recentemente se posicionaram contra Jair Bolsonaro. Pabllo Vittar, Aretuza Lovi e Gloria Groove romperam uma parceria com a marca de sapatos Vicenzza por apoio ao candidato da parte do empresário; já IZA e Valesca Popozuda se juntaram à campanha #EleNão nas redes sociais, que também refuta o apoio a Bolsonaro.

Devido à falta de posicionamento de Anitta, o maior fã-clube da cantora no Twitter, @CentralAnittaBR, anunciou uma pausa em seus posts. "Devido aos últimos acontecimentos, a Central Anitta anuncia pausa até o momento em que a Anitta se pronuncie sobre seguir um perfil que apoia o candidato que é contra as minorias, público alvo da cantora. Estamos tristes e queremos respostas", disseram.


Assista ao nosso documentário "O Mito de Bolsonaro"


Anitta, enquanto isso, segue quieta. O único problema com a lógica da cantora é que, no estado atual em o Brasil se encontra, não se posicionar politicamente também é assumir uma posição. Nos seus stories, Anitta fala: "Estou aqui quieta no meu canto fazendo o meu papel, o papel que eu escolhi pra minha vida, que é ser cantora. Eu estou exercendo esse papel." Talvez esse tenha sido o momento em que ela deixou sua posição o mais clara possível.

Anitta quer ser uma cantora, performer, intérprete, não uma artista. Quer ter o papel de figura pública completamente apolítica e neutra para que possa atingir o maior público possível, ser tão vendável quanto a indústria lhe permite ser. Há um momento, porém, em que a neutralidade perde seu aspecto positivo e passa a ser omissão. Enquanto faz de tudo pra não sair queimada por sua posição política, Anitta pode acabar penando pela falta dela.

Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
Siga o Noisey no Facebook e Twitter.
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.