E se eu fosse prefeito?
Todas as fotos por Felipe Larozza/VICE.

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E se eu fosse prefeito?

Jovens falam o que fariam contra a violência no Carnaval em SP.

Mal viramos a primeira folha do calendário do ano e logo rola aquela ansiedade de Carnaval. É uma enxurrada de confirmações em eventos no Facebook que você nem acredita que vai dar pra colar em todos. Todo mundo em busca do look perfeito, nem que seja uma máscara showzera do ‘ta moscando e Brown’. Carnaval é isso.

A gente espera sempre só a curtição, mas nem sempre é assim em São Paulo. Um exemplo foi a dispersão violenta do ensaio do bloco LGBT MinhoQueens, no último dia 15 de janeiro. A Polícia, por meio da Força Tática, dispersou os foliões na Rua Treze de Maio, e um vídeo mostra pessoas feridas com balas de borracha.

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A VICE foi às ruas para saber o quê os jovens paulistanos fariam contra a violência em São Paulo, caso fossem prefeitos da cidade.

Foto: Felipe Larozza/VICE.

J.L., 16 anos, estudante

VICE: O que você faria para conter a violência durante o Carnaval se fosse prefeita de São Paulo?
J.L.: Se eu fosse prefeita… Não sei como é que funciona isso de decreto, como é que é, mas daria um jeito de que primeiro você não pode agredir ninguém que seja menor e só agredir alguém que já estiver agredindo outra pessoa, se a pessoa não estiver fazendo nada você não pode tocar nessa pessoa, ou coisa parecida.

A Polícia dispersou alguns jovens este ano com bombas de gás e sprays de pimenta em fluxos de rua. Como você agiria sendo prefeita?
Olha, eu não sei nem como que chega nessa situação porque não tem razão de ser. Eu só ia falar que no Carnaval, que contra o perigo ou a integridade de ninguém, diria para não ter bomba de gás no geral. Só não usar. Por que você [polícia] está usando isso em primeiro lugar?

Você criaria alguma medida contra abusos e violência às mulheres e LGBTs no Carnaval?
Com certeza. Primeiro que, quando tem violência entre a mulher e o LGBT ninguém faz nada, a Guarda Civil já não faz nada a respeito disso. Então, primeira coisa, como eu disse antes [seria], intervir, mas só se tiver violência. Mas por exemplo, eu sou mulher e estão me assediando no Carnaval e você falar mano, faz alguma coisa e os caras falam: não posso fazer nada porque não te agrediu. Primeiro, rever o conceito de agressão porque assédio é agressão. De repente, só porque não deu um soco na sua cara não foi uma agressão. Assim como, consideraram racismo e homofobia agressão e crime, vamos dar uma interferida ai pessoal, mas também diálogo. Nada de tacar bomba nos colegas. Instituiria uma espécie de treinamento especial para o Carnaval. Falaria: ‘pessoal, tá tendo Carnaval aqui. Tá vendo mulher sendo assediada? Vamos intervir. Vê comportamento homofóbico? Vamos intervir. Bomba de gás? Não.

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Foto: Felipe Larozza/VICE.

K.A., 16 anos, estudante

VICE: O que você faria para conter a violência durante o Carnaval se fosse prefeita de São Paulo?
K.A.: Acho que a situação do Brasil não é só uma situação cultural e sim estrutural. Pois, a todo momento somos incentivados a lidar com aquele jeitinho fácil, se nas escolas, se os nossos filhos em casa fossem incentivados a terem empatia e respeito pelo próximo, acho que no Carnaval, conseguiríamos reeducar a forma de lidar com o Carnaval. Sem a violência, homofobia, machismo, a violência de um modo geral. Então, não é só cultural, é estrutural. Eu creio que se as pessoas olhassem com mais empatia e respeito pelo próximo, isso talvez acabe.

A Polícia dispersou alguns jovens em janeiro com bombas de gás e spray de pimenta na Augusta. Como você agiria sendo prefeita?
A forma como a polícia trabalha não me agrada a todos os âmbitos. Acho que é perda de tempo a gente criar uma guerra para acabar com outra. Incitar a violência para acabar com algo que está na nossa cultura, todos os anos acontecem. E vir e soltar uma bomba de gás não vai fazer com que o Carnaval do ano que vem não se repita, então, por que fazer isso? Eu acredito que se a gente buscar outros caminhos para sair dessa situação, a bomba de gás não aconteça no próximo ano e sucessivamente.

Quais ações você faria para evitar os abusos e violência às mulheres e LGBTs no Carnaval?
Uma questão muito difícil, tanto pela falta de representatividade que nós não temos lá em cima. Então, como lidar com essas causas se lá em cima não tem quem represente? Eu, K., como prefeita não saberia como fazer. Porque é muito difícil você representar uma cidade tão grande. Muitas pessoas, muitos pensamentos, muitas formas de ver a vida. Eu primeiramente gostaria de saber como o meu povo faria.

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Foto: Felipe Larozza/VICE.

L. P, 17 anos, estudante

VICE: O que você faria para conter a violência no Carnaval como prefeito de São Paulo?
Teria maior vigilância dos policiais na rua. Não só policiais, pessoas das comunidades próximas em que elas pudessem ter o poder de ver e denunciar para a polícia as pessoas que roubassem, agredissem os homossexuais, entre outros, durante os blocos de rua na cidade. Pessoa da casa, moradores, prédio, que vivem sempre ao redor da comunidade e sabem como ela funciona na rua. Faria isso.

A Polícia já usou bombas de gás e spray de pimenta na Augusta este ano contra os jovens. Como você lidaria com estas ações?
Essa prática ela é meio errada, em questão de multidões porque nem todo está causando conflito e quem não está causando acaba levando uma borrachada ou sprays de pimenta. Nesse casos, eu sou meio contra [o uso] de spray de pimenta e bomba de borracha nas pessoas, não teria uma medida correta para tirar isso porque, as pessoas bem ou mal, elas só vão sair se tiver uma violência, elas não vão ficar, elas não vão embora por livre vontade. Isso é uma questão que não dá para chegar ao ponto de tirar ou não.

Quais medidas você tomaria contra as ações de abusos e violência às mulheres e LGBTs no Carnaval?
Isso vai também da pessoa e do grupo que ela se envolve, do álcool. Às vezes, a pessoa está loucona do álcool e não acaba pensando. Esse deveria também vir das pessoas que estão ao redor dela de orientar de não fazer isso.

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Faria alguma campanha?
Sim. Campanhas pela cidade de orientação a não fazer isso e não culpar o álcool por esse motivo. Beber com consciência, ir para curtir a festa e não abusar de alguém.

Foto: Felipe Larozza/VICE.

Aline Ribeiro, 18 anos, estudante

VICE: O que você faria para conter a violência no Carnaval como prefeito de São Paulo?
Aline: Acho que deveria ter um treinamento preparatório com policiais específicos, ao invés de ter mais homens, colocar mais mulheres por que elas são mais “delicadas”. Colocar elas para fazer um treinamento específico pro Carnaval para evitar esse tipo de confusão e talvez, se funcionasse, campanha para o pessoal que estiver nos blocos ter a ciência de que não se pode fazer qualquer coisa. Para evitar qualquer conflito com a polícia.

O que você faria para evitar as ocorrências de abusos e violência às mulheres e LGBTs no Carnaval da cidade?
Campanha também. Campanha na TV. Como o pessoal que agride muito, os homens, em maioria está sempre em casa vendo televisão, acho que deveria botar na Globo uma campanha contra a violência a mulher, ao homossexual e além, que funcionasse.

Foto: Felipe Larozza/VICE.

Alana Araújo, 20 anos, estudante

VICE: Sendo prefeita de São Paulo, como você iria agir contra a violência no Carnaval?
Alana: Eu faria campanhas principalmente na internet, porque as pessoas não utilizam a TV como utilizavam antes, agora é só mensagem pelo WhatsApp e pelo Facebook então, eu faria as campanhas pelas redes sociais falando para as pessoas terem conscientização que o bloco vai até um ponto. Tive aula com um cara que ele faz os eventos dos bloquinhos de Carnaval e ele falou que sim, realmente, teve muitos problemas, muitos bloquinhos tiveram que acabar, porque eles fechavam a rua e as pessoas não têm essa conscientização de que acabou, tem horário, a rua é pública, precisa passar carro. Seria bem mais na conscientização das pessoas dentro do bloquinho. Faria sim com que a polícia tivesse um treinamento, para não precisar essa jogada de bomba e spray de pimenta, porque a galera que vai lá está lá pra se divertir. Mesmo a galera que fica bêbada, tem que ter uma da galera que fica sóbria para falar: acabou, tem um ponto final.

Quais ações contra abusos e violência às mulheres e LGBTs no Carnaval você faria?
Acho muito importante o que a galera está fazendo agora, de avisar uns aos outros dentro do bloquinho, se você ver acontecendo você mesmo vai lá e tenta fazer algo, finge que conhece a pessoa, que a pessoa não passe sozinha o assédio ou que aconteça algo tão grave como briga de rua entre LGBTs, heteros e afins. Acho que campanha pela internet mais pode funcionar.

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Foto: Felipe Larozza/VICE.

Pedro Casttro, 22 anos, estudante de Rádio e TV

VICE: Quais ações você teria contra a violência no Carnaval sendo o prefeito da cidade?
Meio complicado pensar uma forma porque, teoricamente, eles deveriam defender e não causar mais tumulto. Mas, eu acho que de alguma forma, tentar colocar fiscais das pessoas, do próprio bloco mesmo para policiar e criar um registro como forma de defesa se por acaso alguma coisa aconteça, porque não dá para confiar 100% neles e também não dá para confiar na tranquilidade do pessoal que está indo pro bloco porque é bloco.

Em janeiro deste ano, a Polícia usou bombas de gás e sprays de pimenta na Augusta contra os jovens. O que você faria nesta situação?
Vejo como um padrão de atitude repetida que só mudou de foco e lugar, porque agora acontece diversos outros lugares e dessa vez aconteceu no Carnaval, não acho que seja algo diferente do que eles já fazem, só mudaram o foco de público.

Quais as políticas você colocaria em prática para evitar os abusos e violência contra as mulheres e LGBTs no Carnaval?
Acho que as campanhas são feitas não em número tão grande, acho que deveriam ser feitas mais. Porque é complicado, tem blocos que são LGBTs, que têm a polícia, às vezes, se é um bloco misto, [na] Vila Madalena, que todo mundo vai e todo mundo sabe que vai ter briga na Vila Madalena, mas geralmente, os bloco tipo o Meu Santo É Pop é mais tranquilo. Não sei como é que eu faria.

Em relação a violência a mulher, não tem muito o quê argumentar mais sobre isso. Acho errado, acho muito errado. Parece que campanha não adianta, não entra na cabeça do pessoal.

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