Onde estaríamos sem o 25 de Abril de 1974?

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Politică

Onde estaríamos sem o 25 de Abril de 1974?

Perguntámos a gente nova onde é que acham que estariam hoje, se o 25 de Abril não tivesse acontecido.

Todas as fotos e inquéritos de rua por  Bruno Lisita.

Há 42 anos e três dias, Portugal era um país diferente. Mais de quatro décadas de ditadura, uma Guerra Colonial dura e devastadora, a censura castradora da liberdade de expressão, as prisões como símbolo da opressão política, uma geração de intelectuais, pensadores, artistas, exilada no estrangeiro, a clandestinidade, a pobreza como ferramenta de controlo da esmagadora maioria da população, o analfabetismo e o isolamento como bandeira de um Estado fascista e orgulhosamente só. Um país atrasado, fracturado e asfixiado.

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E se, para alguém nascido na década seguinte à Revolução de Abril de 1974, já é difícil entender exactamente o que era viver nesse Portugal dos livros de História, para quem nasceu 20 ou 30 anos depois, num país inimaginavelmente diferente - com problemas, certamente, mas, ainda assim, inimaginavelmente diferente - a tarefa pode ser impossível.

Nas comemorações dos 42 anos do 25 de Abril, fizemos a tradicional descida da Avenida da Liberdade, em Lisboa e andámos à procura dessas pessoas. Desses jovens de uma geração que, felizmente, olha para a Revolução lá longe, como um filme antigo que nunca viu. É um lugar-comum (é quase uma ofensa, mas vamos chamar-lhe lugar-comum) dizer-se que os jovens não querem saber disto e que a Revolução dos Cravos não lhes diz nada e essas merdas. É mentira. O não quererem saber, se calhar é mais o não terem ninguém que lhes explique exactamente qual é a importância de todos os anos TERMOS MESMO de avivar a memória.

Porque é que se desce a Avenida, porque é que o Portugal livre (não duvidem que é livre, apesar de tudo) não é o mesmo Portugal de há 42 anos e três dias. E, na verdade, a Avenida estava cheia de jovens. Se todos sabiam a verdadeira importância de ali estarem, ou não, não sabemos. Sabemos sim que, se não o sabem, a culpa não é deles. Se não sabemos mais sobre o que foi a Guerra Colonial, a miséria exaltada como a qualidade de um povo, o analfabetismo atroz, a culpa não é nossa. Se calhar Abril devia ser como o Natal…

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Tínhamos uma pergunta para lhes fazer. Só uma. Onde é que achas que estarias hoje, se o 25 de Abril não tivesse acontecido? Perguntámos, ouvimos as respostas e percebemos que a memória de Abril precisa de uma intervenção urgente. Depois chegamos a casa e vemos um post de um amigo no Facebook e tudo fica mais óbvio:

"25 de Abril. A estudar História e Geografia de Portugal com a minha filha mais velha. Verifico que o manual da Porto Editora, no capítulo da oposição ao Estado Novo, fala de Sá Carneiro, mas não de Mário Soares, nem de Álvaro Cunhal. E em nenhum momento se refere ao PCP. Esta História está mal contada, muito mal contada". Pois. O problema é mesmo esse, a História mal contada. Mentirosa, omissa. Porquê?

Ainda assim, a Catarina, 18 anos, diz-nos que, sem o 25 de Abril, "não teria a mesma liberdade de expressão e, provavelmente, teria de viver na clandestinidade". O Daniel, 19 anos, acredita que "estaria a viver no Brasil" e a Carolina, 16 anos, "numa aldeia, a trabalhar no campo". A Helena tem 27 anos e salienta que, "ou estaria a trabalhar desde os nove anos - porque era assim -, ou estaria fora do País, devido às condições de trabalho ainda mais precárias do que as que temos hoje". Mais ou menos a mesma ideia de Débora, 27 anos, que, no entanto, ressalva, "estava a trabalhar desde pequena, mas de certeza que a lutar contra a situação".

Talvez, os mais velhos vejam estas respostas como redutoras e demasiado simplistas. Os problemas eram muito mais vastos. Eram. Então mostrem-lhes, ensinem-nos e não lhes mintam. Façam com que, verdadeiramente, as novas gerações vos agradeçam por terem tido alguém que lutou pelos direitos e liberdades que têm hoje e permitiu que a visão da Lia, 22 anos, de um Portugal sem Abril não se tenha concretizado: "Se não tivesse acontecido a Revolução, seria hoje uma pessoa sem estudos, triste e sem futuro".

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Vê abaixo mais fotos da Avenida da Liberdade, no dia 25 de Abril de 2016.

Carolina, 16 anos.

"25 de Abril Sempre".

Daniel, 19 anos.

A luta continua…ano após ano.

Helena (à esquerda) e Débora, ambas com 27 anos.

O Portugal de 2016 não é o Portugal de 24 de Abril de 1974. Não duvidem.

Lia, 22 anos.

Há 42 anos, o Zé Povinho saiu à rua e acabou com o obscurantismo. Mas é preciso continuar a lembrá-lo. Todos os dias.

Podíamos espetar agora aqui uma teoria do caraças sobre o futuro das crianças e o diabo a quatro, mas é mesmo só uma imagem querida de um puto a fazer bolinhas de sabão.

Sabes a história do cravo? Vai ver à net.

Antes de Abril, muito provavelmente isto era considerado um ajuntamento ilegal (revolucionário).

Nestes preparos, em público? Esquece.

Já foste ver a cena do cravo?