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Ao longo dos anos 1990, a refinaria Chevron foi multada em milhares de dólares por condições perigosas, explosões, incêndio e vazamento químico em Richmond, nos EUA, onde 15 mil moradores das áreas ao redor foram forçados a procurar atendimento médico.

O incêndio na refinaria de petróleo em Richmond, Califórnia, forçou 15 mil pessoas a procurar ajuda médica. Foto cortesia de Ella Baker Center for Human Rights.

Richmond fica escondida no tríceps oeste da Califórnia e é uma antiga cidade de vinícolas com uma população pouco acima de 100 mil pessoas. Sob a administração de Gayle McLaughlin, a cidade é a maior dos EUA a ter um prefeito do Partido Verde norte-americano. E é também uma cidade petroleira — em 1901, a Standard Oil montou um parque de tanques aqui, escolhendo a localização por seu fácil acesso à Baía de São Francisco. Logo depois, um terminal mais a oeste da Ferrovia Santa Fé foi construído em Richmond para lidar com o fluxo de óleo cru. No decorrer do século XX, a Standard Oil se tornou a Standard Oil Company of California (SOCAL), e, mais tarde, a Chevron.

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Ao longo dos anos 1990, a refinaria de Richmond foi multada em milhares de dólares por condições perigosas, explosões, incêndio e vazamento químico, já que a instalação liberava cloro e óxido sulfúrico na atmosfera de Richmond. Em agosto de 2012, a refinaria da cidade explodiu depois que a Chevron ignorou os alertas sobre tubulações corroídas emitidos pelo conselho de segurança local. O desastre foi ligado aos canos envelhecidos, que eram simplesmente remendados em vez de substituídos. Mais de 15 mil moradores das áreas ao redor foram forçados a procurar atendimento médico e John Watson, o CEO da Chevron recebeu um aumento de US$7,5 milhões.

Agora que algum tempo passou, a Chevron decidiu modernizar a refinaria e, simultaneamente, patrocinou a criação do Richmond Standard, um jornal on-line com uma abordagem bastante positiva sobre tudo o que a empresa faz. O jornal, cujo nome é uma referência irônica à companhia da qual a Chevron brotou, cobre histórias locais mínimas sobre crime, reuniões públicas e esportes. Ele também apresenta uma seção chamada “Chevron Fala”, um espaço no qual a companhia pode divulgar sua ideologia. De acordo com o SF Gate “a ideia de que a segunda maior companhia de petróleo dos Estados Unidos tenha fundado um site de notícias locais remete a uma época do jornalismo em que os grandes magnatas possuíam jornais para promover suas agendas pessoais, financeiras e políticas. Agora que os grandes jornais lutam para sobreviver, os sites de notícias estão testando maneiras de financiar suas operações”.

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A fundação do Standard coincide com uma iniciativa de modernização no complexo local, que vai permitir processar combustível com uma porcentagem mais alta de enxofre, a chave da corrosão que resultou na explosão de 2012. “Eles planejam dobrar o conteúdo de enxofre no óleo cru”, disse Andres Soto, o organizador de Richmond do Communities for a Better Environment.

De acordo com Soto, a Chevron quer ir de 1,5% de enxofre para 3%. Além do medo de outra explosão, há um sério problema ambiental com a modernização e a refinaria no geral. “Eles afirmam publicamente que não haverá aumento nas emissões”, ele disse. “Nossas suspeitas é que eles planejam liberar mais gases estufa e material particulado aqui na área em troca de cap and trade”.

Para quem não sabe, cap and trade é quando você deixa uma de suas refinarias poluir acima do limite federal em troca de outra refinaria que polui abaixo do limite federal. Os diferenciais de “caps” são trocados para que, no final, as duas cumpram os requisitos da lei na média. “Essa é a maior refinaria da Costa Oeste dos EUA. Como complexo, ela é a maior emissora de gases estufa da Califórnia”, disse Andres. Ele acredita que a refinaria vai causar uma poluição séria na Bay Area e que a companhia vai começar a usar o porto de Richmond para enviar areias betuminosas para a China, já que é ilegal usar isso como combustível nos EUA em razão de seu alto teor de enxofre.

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Como você já deve ter ouvido falar em relação às propostas Keystone Pipeline, as areias betuminosas são misturas semissólidas de petróleo e areia colhidas em Alberta, Canadá. O processo de extração do petróleo gasta muita água, e um artigo da Universidade de Yale informou no ano passado que uma companhia de extração de petróleo usou 370 milhões de metros cúbicos de água limpa em 2011. A Chevron poderia exportar as areias para a China para a necessidade deles e economizar tempo e recursos para os norte-americanos, mas Andres aponta que as emissões do envio e as emissões que a China vai criar vão circular de volta para os EUA com os ventos.

Nas páginas do Richmond Standard, a Chevron está tentando convencer o público de que a refinaria é uma boa ideia — usando a velha promessa de mais empregos e mais dinheiro. Andres diz que a companhia está comprando todos os outdoors da cidade. Esses anúncios costumam mostrar pessoas de cor, como num esforço para convencer as minorias de que elas podem confiar num conglomerado petroleiro multinacional.

Richmond tem um quarto de moradores latinos e um terço de afro-americanos, então, há uma grande população que a Chevron pode alcançar com essa publicidade. Andres acredita que, independente de raça, a situação econômica difícil de muitos moradores de Richmond arrisca que a cidade tenha que se sujeitar a qualquer coisa que gere empregos. Ele também acredita que Richmond está se tornando mais progressiva e que as pessoas vão passar mais tempo se educando sobre essas questões.

E a companhia não está apenas comprando outdoors. Em 2010, a Chevron gastou US$1,2 milhões nas eleições do conselho municipal da cidade e Andres afirma que a companhia gastou mais US$2 milhões no legislativo estadual da Califórnia. Em novembro, cinco das sete cadeiras do conselho de Richmond estarão vagas, incluindo a do prefeito, e, talvez, por isso eles estejam enchendo a cidade de outdoors.

Uma companhia como a Chevron está mais do que disposta a gastar muito dinheiro para garantir a operação de sua maior refinaria na Califórnia. Seja começando um jornal ou patrocinando as eleições, eles parecem capazes de qualquer coisa para completar esse projeto. A Chevron não retornou minhas ligações, mas tenho certeza de que eles têm todo o jargão sobre empregos e crescimento econômico pronto para os jornalistas. Pode haver muitos empregos na indústria de petróleo, mas empregos não adiantam nada quando sua cidade está em chamas.

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