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Opinião

Salvador e Luísa. As luzes no meio do “fogo de artifício”

A poucos dias da Eurovisão se estrear em Portugal, nunca é demais agradecer o sucesso alcançado por "Amar Pelos Dois".
Luísa e Salvador Sobral
Luísa e Salvador Sobral, os novos comendadores da Ordem do Mérito atribuída pelo presidente da República. Foto por Wouter van Vliet (Eurovisionary.com) via Wikimedia Commons.

Na próxima semana, cumpre-se mais um capítulo na vitória arrebatadora de Salvador Sobral na Eurovisão (ver a consagração em Kiev no vídeo abaixo). Pela primeira vez, a competição é organizada cá e, de certa maneira, a música portuguesa é indirectamente homenageada.

Pode não ter o mesmo significado de quando o Fado foi considerado, pela UNESCO, Património Imaterial da Humanidade (2011), ou do momento em que Carlos do Carmo recebeu o Grammy, na categoria Lifetime Achievement (2014). Mas, com meia Europa e uns quantos australianos atentos ao que se irá passar na Altice Arena, o mediatismo da cerimónia pode ser um estímulo para que os estrangeiros tenham curiosidade em descobrir os nossos sons - a par das tradições e beleza paisagística.

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A cereja no topo do bolo dar-se-á quando Caetano Veloso e Salvador subirem ao palco, para uma releitura de "Amar Pelos Dois", na Final da 63ª edição do certame. Ana Moura, Beatbombers, Branko e Mariza, são os artistas convidados que completam o cardápio.

Público luso sem complexos da sua música e um Estado que rebaixa constantemente a Cultura

A música nacional, infelizmente, não vai tão longe lá fora como muitos de nós desejávamos que fosse. É certo que o Fado vai tendo o seu público, há um ou outro nome que fura outros nichos (casos de Buraka Som Sistema e Moonspell) e apesar do êxito de alguns junto da comunidade emigrante, tal não tem repercussão na população local.

Todavia, o facto de nunca termos tido alguém com impacto global, não significa que sejamos medianos nesta arte. Primeiro, com o domínio anglo-saxónico nas variadas frentes, são poucos os países que se podem orgulhar de tal feito. Segundo, e tocando no ponto mais relevante, actualmente a música portuguesa gosta dela própria com a ajuda de um público sem complexos com o que é produzido entre portas. A contribuição dos media (como a rádio e os websites), as plataformas streaming, as várias capelinhas espalhadas pelo País, que acolhem os mais diversos concertos, e os imensos festivais de música, têm sido fulcrais para a implementação desse sentimento.

Aliado a esses factores, nos últimos quinze anos, crescemos qualitativamente em muitos géneros. Na Electrónica, ou no Rock; no Hip Hop, ou no Jazz; no Fado, ou na Pop (e, já agora, a cantar em português ou em inglês). A minha vénia a todos os agentes que têm contribuído para esse desenvolvimento, sabendo que não é tarefa fácil viver da música. Em complemento a essa dificuldade, a maior parte dos governos trata a Cultura como “menina bonita” em tempo de eleições, mas quando é a doer (Orçamento do Estado) esses mesmos políticos metem as boas intenções na gaveta e lá amanham “uns trocos” para disfarçar. Maldita sina.

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O quinteto, o livro e a alma Sobral

Para que fosse possível à Luísa (compositora) e ao Salvador terem vencido sem espinhas em 2017, é de elogiar a estratégia que renovou e melhorou o Festival da Canção. Agradecimentos ao quinteto da RTP formado por Gonçalo Reis (presidente), Nuno Artur Silva (ex-administrador), Daniel Deusdado (ex-director de programas), Gonçalo Madaíl (director) e Nuno Galopim (jornalista e supervisor criativo do evento em Lisboa).

Com o timing ideal e prefácio do intérprete de Amar Pelos Dois, Galopim é autor do livro Eurovisão, Dos Abba a Salvador Sobral - Canções que contam a história da Europa (ver imagem abaixo), que está disponível nas lojas a partir desta sexta-feira, 4 de Maio.

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Aqui está uma bela prenda para o Dia da Mãe, que se assinala este domingo, 6.

Os manos Sobral e o pianista Júlio Resende podem revelar toda a humildade que lhes vai na alma; encarar tudo o que se tem passado com uma normalidade intocável (os irmãos receberam de Marcelo o grau de Comendador da Ordem do Mérito); mas de uma agradável realidade não se livram. O seu tema não ficará ligado à Eurovisão como um simples vencedor efémero. Será, para sempre, um dos que reluz no meio do “fogo de artifício” habitual. A era “yutubiana - com o universo dos likes e as versões noutras línguas - assim o comprova. É formidável e reconfortante.

Obrigado aos três.

A RTP1 transmite a Eurovisão e a apresentação está a cargo de Catarina Furtado, Daniela Ruah, Filomena Cautela e Sílvia Alberto. Os quarenta e três participantes dividem-se entre as duas Semi-Finais, a 8 e 10 de Maio (Terça e Quinta à noite), e os finalistas actuam no Sábado, dia 12. “All Aboard!” e boa sorte ao Jardim de Cláudia Pascoal e Isaura (duo que representa Portugal este ano - ver teledisco oficial abaixo).


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