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Há um imperdível musical natalício de zombies nas salas de cinema

E nós falámos com o realizador desta misturada épica.
a actriz Ella Hunt no papel de Anna no filme Anna e o Apocalipse
A actriz Ella Hunt, no papel de Anna, no filme "Anna e o Apocalipse". Cortesia Cinema Bold.

Fecha os olhos. Imagina um filme de terror, um de comédia e um musical, tudo num só, com uma temática natalício. Tenta. Não consegues? Isso é porque são três estilos que não deveriam nunca estar juntos, por isso, por mais que tentes construir uma imagem mental do que seria o resultado de tal escabrosa junção, não dá.

Mas, agora ficaste curioso. Com esta minha sugestão, nasceu na tua cabeça um ponto de interrogação latente, uma ansiedade por respostas, até, quem sabe, uma certa inquietude. Agora sim, queres saber o que raios é, afinal de contas, um musical de terror cómico natalício.

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Podes relaxar os miolos, porque a resposta está numa sala de cinema perto de ti (pelo menos se viveres nas zonas de Lisboa e Porto). Na quinta-feira passada, dia 6 de Dezembro, mesmo a tempo do Natal, estreou em Portugal, via Cinema Bold, a nova obra de John McPhail, intitulada Anna e o Apocalipse (vê o trailer acima). E, aquilo que há umas linhas atrás te parecia impossível, de repente está no grande ecrã e a arrebatar os críticos.


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Por um lado, o filme faz lembrar High School Musical ou talvez Glee, ou talvez La La Land. É protagonizado por adolescentes que cantam e dançam em cima das mesas, nos cacifos da escola e pelas ruas fora. Há também a típica personagem principal, Anna, que sonha em viajar pelo Mundo e em tirar um ano sabático, coisa que o seu pai, o contínuo do estabelecimento de ensino, não aprova; temos ainda John, o seu melhor amigo, que está secretamente apaixonado por ela e Steph, que por ser lésbica sofre um bocadinho mais de bullying do que os restantes, mas tem as melhores piadas de todo o filme, talvez por usar o humor como escudo.

Mas, claro, não é só isto. Ah não! O filme não é o teu típico musical adolescente de domingo à tarde, daqueles que tens vergonha de contar aos teus amigos que "até gostaste". Todas estas danças, enredos de paixões, discussões entre pai e filha e rebelião millennial, passa-se durante um apocalipse zombie. Sim. Um belo de um apocalipse zombie. A cidade é atacada, as pessoas começam a transformar-se em mortos-vivos, aproxima-se o fim da humanidade, uma dentada de cada vez, com os zombies a trincarem quem se lhes atravessa pelo caminho, para levarem tudo e todos à sua condição, presos no limbo entre a vida e a morte. Todos correm perigo, a morte está em todo o lado e, antes que te dês conta, acende-se uma faísca Tarantiniana de fome por violência e por chacina, que transforma este musical num banho de sangue, num jorrar de entranhas, numa luta cantada pela sobrevivência.

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Tudo isto sem nunca esquecer a comédia. Todas as personagens têm um humor trocista, irónico, em que transparece a cultura escocesa do realizador. Este humor tão europeu, o tom de troça, o ir mais além do que se espera, o ser cru e nu. Um filme de budget curto, que não se passa muito com os efeitos especiais, nem com produções exuberantes, mas que sabe manter a verdadeira essência quotidiana do que significa, frente à maior adversidade, ser humano. Mais precisamente ser um humano millennial.

Falámos com o realizador - claro! -, porque alguém que faz um filme massacre-de-zombies-cruzado-com-Glee é, definitivamente, alguém que queremos conhecer melhor.

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O realizador de "Anna e o Apocalipse", John McPhail. Foto cortesia Cinema Bold

VICE: Terror, musical e comédia… De onde veio a ideia de misturar estes três géneros e o que fez com que te apaixonasses por esta história?

John McPhail: A história original foi escrita por Ryan McHenry, que morreu em 2015 e que, infelizmente, nunca cheguei a conhecer. Apaixonei-me, porque é uma óptima história e, apesar de todo o cruzamento de géneros, queria mostrá-la crua e humana, sem me perder demasiado em dar espetáculo. Sou grande fã de comédia e talvez ainda mais fã de terror. Adoro tudo o que mete zombies.

Sou também, por outro lado, fã incondicional de John Hughes e dos seus filmes de adolescentes, como The Breakfast Club. Anna e o Apocalipse deu-me esse novo desafio, o de juntar estas duas paixões, acrescentando ainda o lado musical. Isso sim, algo totalmente novo para mim e nunca explorado, algo sobre o qual pouco sabia. Agora, já adoro também este género. Vi musicais "a dar com pau", para me preparar para fazer este filme.

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É um filme muito millennial, com temas como redes sociais, homossexualidade, disparidade entre filhos e pais quanto ao que significa viver a vida da melhor maneira e por aí fora Tencionavas fazer alguma crítica específica?

Não, não! Não é uma crítica, é apenas uma representação fiel - espero. A audiência deste filme é millennial, os personagens também, por isso tinham que estar bem representados. Se houvesse hoje um apocalipse zombie, em plena era das redes sociais, o que é que fazias? Ias ver que celebridade virou zombie, ias ler os tweets das pessoas e ver as stories do Instagram. A tua primeira reacção, ao te aperceberes que estás rodeado de zombies, seria pegar no telemóvel para pedir ajuda - mas, e se estivesses sem dados, sem bateria ou sem rede? Nada disto é uma crítica, é apenas como somos. Se o filme se passasse na altura do telégrafo, a maneira de reagir das pessoas seria diferente da que seria hoje.


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Qual foi o maior desafio de realizar este filme?

O mesmo que em todos os filmes: falta de tempo e falta de dinheiro. Trabalhámos debaixo de neve, de frio, vento, chuva e sol. Não nos podíamos dar ao luxo de parar por causa das condições atmosféricas geladas, por exemplo, porque o tempo e o dinheiro não esticam. Mas, divertimo-nos à séria, o tempo todo.

Qual é o teu personagem preferido?

É-me impossível escolher. É uma história que está comigo há muito tempo, que me tocou ao ponto de querer realizar este filme. As personagens estão no meu coração e ainda me está a custar despedir-me delas.

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Apesar de ter um tom trocista semelhante, o teu filme Where Do We Go From Here é muito diferente deste, que, como já disseste, foi um salto para território inexplorado. O que te motivou a avançar?

Sou um contador de histórias. De filme para filme quero mais desafios, quero mudar completamente, quero arriscar e testar as minhas capacidades. Anna e o Apocalipse permitiu-me jogar com géneros, misturá-los. Depois disto, de fazer um musical de terror e comédia, sinto que evolui e aprendi como realizador.

Achas que o Ryan McHenry ficaria orgulhoso do filme, se pudesse ver no que se tornou a história que ele escreveu?

A 100 por cento. Acho que estaria orgulhoso, não só do produto final, como também de todas as pessoas envolvidas no filme, que deram tudo por ele, improvisaram muito para o fazer acontecer. Com um orçamento baixo, poucos recursos, mas esforçámo-nos para que o design, a música, as coreografias… para que o filme tivesse tudo a que tinha direito.


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