Há pouco mais de um ano, o Noisey encontrou uma maneira de invadir o rolê de Vila Velha, no Espírito Santo, na faixa. Com o álibi de cobrir um show do Muddy Brothers, ficamos na bota do Fabio Mozine, o patrão da Läjä Records, afim de gastar a onda da tosqueira cracuda do rock pesado de lá. Bebemos bastante, ouvimos do crust ao brega, rimos e nos abraçamos. Nos demos tão bem que, na última semana, fomos convidados para colar na primeira edição do Läjä Festival, que aconteceu em Vila Velha no último sábado (17). Já estávamos cientes da ideia de realizar o evento desde aquela visita, e ficamos contentes em saber que o Mozine conseguiu botar a parada de pé. Empreender no underground de uma cena insular, afinal, é para poucos. É preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana. Sempre.
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O evento foi organizado com o mote de se festejar os 20 anos da Läjä Records. Para isso, Mr. Moz contou com o apoio de marcas parceiras e projetos de incentivo à cultura e fechou o Correria Music Bar, famoso por ser o point dos roqueiros, ou, melhor dizendo, "o reduto dos camisas pretas". O lineup foi preenchido com uma seleta de bandas do catálogo acrescida de dois nomes locais que venceram um concurso cultural com dezenas de inscritos. Ao todo, apresentaram-se naquela noite os conjuntos: Lomba Raivosa, Lo-Fi, Deb and The Mentals, Leptospirose, Merda, Facada, Motosierra, Muddy Brothers, Os Estudantes, Water Rats, Whatever Happened to Baby Jane e Blackslug — essas duas últimas, as vencedoras do concurso.
Viajamos no ônibus das bandas, um "expresso luxo" que saiu do Memorial da América Latina, em São Paulo — e não do Espaço das Américas, como foi erroneamente informado e causou uma certa bagunça na hora —, em direção ao norte do sudeste do Brasil. Encarar 17 horas num busão não é lá o passeio mais agradável da vida, por isso foi necessário recorrer a paliativos canábicos. No geral o esquema todo foi muito firmeza, o hotel era legal, a comida, idem, os horários, todos cumpridos, inclusive das atrações no festival.
A qualidade do som representou, assim como a infraestrutura do espaço, com diferentes ambientes de convívio para vencer a claustrofobia espalhados pela área aberta que emoldura a sala de shows. Em termos de público, o sucesso era nítido. Havia gente chegando desde as 16h até as 23h, além do quê, a maior parte do povo curtiu até o final de boa. Ganhamos mimos, camisetas, discos, brejas jamaicanas, e todos os artistas e a galera da organização foi acolhedora conosco.
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Na nossa humilde opinião, um dos shows mais daora foi o do Motosierra, porque o vocalista Marcos tem a presença de palco digna de uma simbiose entre Iggy Pop vs Mick Jagger vs Lux Interior do terceiro mundo. Outro que rachou o assoalho foi o do Facada, porque os cearenses, ao lado do Test, fazem o melhor grindcore de que se tem notícia no momento e encerraram a noite como a banda que conseguiu organizar com excelência um moshpit de qualidade.
Merece destaque também a apresentação do Deb and The Mentals, que fez um show contagiante, muito marcado pela empatia da vocalista com a plateia. Sempre interativa e movendo-se constantemente de um lado ao outro, Deborah Babilônia levantou o astral da rapeize em momentos como a execução de "Again" e "Feel The Mantra".
E não podemos nos esquecer de dar grifo ao explosivo Water Rats e ao Muddy Brothers, que com sua arrepiante sonzeira vintage foi capaz de segurar a pista em boa parte cheia até as quatro da manhã. Com apenas guitarra, batera e voz, eles conseguem botar abaixo um baile inteiro. Já o Lomba Raivosa garantiu a diversão jovem com seu talento, carisma e ousadia.
Abaixo, listamos nove constatações que fizemos durante o Läjä Festival. Curiosamente, foi possível notar que várias coisas as quais achávamos que nem existiam mais, ainda existem. Em vã consciência, acreditamos que o rock jaquetinha havia morrido, mas não. Ele respira por aparelhos em Vila Velha.
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1. Os straight edges ainda precisam provar que são straight edge usando jaquetas escrito "Straight Edge"
2. Os baixistas de bandas de rock ainda ficam bêbados demais pra opinar sobre qualquer coisa
3. A polícia ainda invade os shows de rock pesado
4. O headbanging sincero ainda existe
5. Os bateristas ainda tocam com as mãos quebradas (e se orgulham disso)
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6. As minas ainda são minoria na programação
7. Carnistas e veganistas podem se unir pela mesma causa: beber cerveja
8. Os caras do metal extremo nem espalham a destruição
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E o que foi o metaleiro satânico que chegou com um terrível bafo de Flamejante (Drink verde que vende no pico. Custa R$ 4 e te arranca o topo do crânio se exagerar) na nossa bota fazendo o gênero bêbado emocionado? Lá de longe ele gritou para o vocalista e guitarrista do Water Rats: "Aê Capilé! Você gosta de Behemoth? Gosta nada! Você só toca esses sonzinhos aí…". Bateu aquela noia de pensar que ia rolar treta, mas depois de uma pausa e já atravessando o nosso papo, o cara lançou: "Brincadeira, mano, eu era muito fã do Sugar Kane na minha adolescência. Vocês mudaram minha vida!". E caiu em lágrimas de alegria, agarrando o pescoço do músico. Parecia impossível fazê-lo parar de lançar perdigotos e falar sobre como o Sugar Kane o fez suportar o tédio da juventude em Santos. Mas o Capilé conseguiu uma hora lá e fomos ver o show do Merda. Concluímos: um monte de gente que ostenta pentagramas já deve ter curtido New Found Glory um dia quando menino punhaca.
9. Não dá mais pra fazer o estilo Cameron Crowe
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