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Música

Riot grrrls à portuguesa

Só existem duas bandas de gajas em Portugal.

Hoje quero falar-vos do fenómeno

 por cá. E de que poderemos nós falar aqui? Exacto, de praticamente nada. É mais fácil encontrar uma banda só de anões ou de nazis do que uma banda de gajas em Portugal.

Vamos analisar as razões:

PROPENSÃO PARA A VIOLÊNCIA

As gajas têm pouca capacidade de se mexerem para trabalhar algo em comum que não envolva: dicas de moda, dicas de maquilhagem, dicas de se lixarem umas às outras (quem já estudou numa Faculdade de Letras sabe que quem lança os boatos de putaria são as próprias gajas) e outras dicas que nunca resultam em nada de concreto. Só em

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catfights

.

SONOLÊNCIA PERANTE TEMÁTICAS QUE INTERESSAM

Por norma, as gajas não percebem nada de pormenores técnicos relacionados com instrumentos, amplificadores, cordas ou pedais. Tentem falar sobre o  amplificador Fender Reverb Deluxe (que manda um tremolo lindíssimo) com uma mulher, e depois contabilizem o tempo de bocejo.

NÃO SÃO MELÓMANAS A SÉRIO

Colecções de discos. Nunca conheci uma gaja com uma boa colecção de discos. E raras foram as que conheci com uma colecção, sequer. Mas não existe nenhuma banda só de gajas em Portugal, pergunta o incauto leitor? Sim, existem duas. Uma vai contra tudo aquilo que eu disse e a outra encaixa-se perfeitamente.

A que vai contra tem o nome de um daqueles divertimentos parvos dos anos 90, sem qualquer tipo de utilidade e com elevado nível de toxicidade. Exacto, são as Pega Monstro. Duas irmãs, uma boa colecção de discos, o grupo certo de amigos, uma editora formada por elas e os amigos com barbas de meio ano e sweaters do Mickey Mouse (Cafetra).

O resultado são canções que vão buscar muito a uma gíria deveras particular, emulada por seres que nasceram na altura dos Jogos Olímpicos de Barcelona e munida de uma grande riqueza de recursos e confluências com outras linguagens como o crioulo ou o inglês. Os comentários sobre as Pega Monstro oscilam entre a devoção e o ódio puro, o que só pode significar uma coisa: sim, vocês sabem do que falo.

Para mim, uma das grandes bandas do punk rock nacional (e, se calhar, a única) e a modos de comparação com a banda que se segue: vamos imaginar que elas são os Beat Happening.

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Já falámos sobre os Aliados, agora passemos para a Alemanha nazi. Se as Pega Monstro são os Beat Happening, as Anarchicks são as Hole sem drogas.

O desapego à imagem e a colecção certa de discos encontram aqui Mefistófeles. As Anarchicks são a banda da primeira década do século XXI: só catarinas (vão ao dicionário, a sério) e caras bonitas. Nunca as vi ao vivo, mas o videoclip da “Restraining Order” pode causar comichão em diferentes zonas do corpo — mais abaixo para alguns, e mais acima para outros. Analisemos, então, o referido vídeo, que também não gosto de mandar postas só por mandar.

No início, as meninas surgem com umas câmaras Super 8 antigas, agitando-as, de forma a fingir que se tratam de pistolas. Posam, sorriem, dão piruetas com um fundo de riff básico que poria qualquer banda de chavalos de 14 anos em riso alarve. Em 30 segundos, vemos logo que estas, definitivamente, não são as Bikini Kill da Margem Sul. Veio-me, mais rapidamente, à cabeça a uma gaja qualquer da

Casa dos Segredos

(e não sei explicar porquê).

A partir dos 30 segundos, as meninas correm para uma loja de roupa. O efeito é semelhante ao de ver crianças em lojas de brinquedos. Todos nós já estivemos com as nossas namoradas, mães ou irmãs em lojas de roupa e sabemos que o calvário de Job deve ter sido prazenteiro, mas mostrar isso num videoclip só duplica a futilidade. Entretanto, a coisa vai-se desenvolvendo — ali aos 58 segundos surge uma gaja a mexer-se de uma forma que só apetece agarrá-la pelos cabelos e fazer um lançamento do martelo —, sem grande alteração (tirando um gancho a meio que aumenta o rácio de vergonha alheia). Não entendo nada da letra mas, pelo título, imagino que tenha algo a ver com “stalking” (que é exactamente o que os seus fãs me fizeram, via Facebook com este clip), durante as últimas semanas. No final, a baterista arranja a franja. Não poderia haver melhor metáfora.