Manifestantes em Istambul Lutaram Para Salvar Sua Internet

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Manifestantes em Istambul Lutaram Para Salvar Sua Internet

Uma nova lei anunciada no final de semana passado permitirá que o governo turco aumente seu controle sobre a internet, concedendo o bloqueio de sites sem que um tribunal decida antes. As pessoas ficaram putas, é claro, e foram às ruas.

Todas as fotos por Charles Emir Richards.

Este ano, os manifestantes turcos voltaram sua atenção de pequenos parques urbanos ameaçados para a questão, um pouco mais na moda, da liberdade on-line.

Isso porque uma nova lei anunciada no final de semana passado permitirá que o governo turco aumente seu controle sobre a internet, concedendo o bloqueio de sites sem que um tribunal decida por isso antes. Considerando que o governo já controla a grande mídia do país, não é de se surpreender que essas novas restrições à principal fonte de informação objetiva da Turquia não tenham sido muito bem recebidas.

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No sábado, ativistas pela liberdade na internet levaram seu descontentamento para a Praça Taksim, o epicentro das manifestações pelo Parque Gezi no ano passado. Assim como nos protestos de 2013, o estado policial turco respondeu com força, atirando na multidão com canhões d'água, tentando demolir barricadas e perseguindo manifestantes pela Avenida Istikal com armas de paintball. Mesmo assim, a multidão se reagrupou e começou a construir mais barricadas em becos e calçadas, antes de a polícia voltar a atacar com canhões d'água e bombas de gás. Os combates continuaram até tarde da noite, com os manifestantes gritando “Tire as mãos da minha internet!”.

“Se não ficarmos aqui e protestarmos, vamos perder toda nossa liberdade”, disse Ceren, um universitário de 24 anos. “Com a grande mídia turca sob controle [do governo], só temos a internet. Se perdermos a internet, ninguém no mundo ficaria sabendo desse protesto.”

A polícia turca usou armas de paintball para perseguir os manifestantes.

Além de dar ao governo o direito de bloquear qualquer site, a nova lei instrui cada provedor de internet da Turquia a manter o registro de dados de usuários por mais de dois anos e estabelece que esses dados podem ser apreendidos pelas autoridades — também sem necessidade de uma ordem judicial. Isso significa que a internet turca pode acabar se tornando tão inacessível e alienada como a internet na Arábia Saudita e Coreia do Norte, onde legislações autoritárias limitam quase totalmente a liberdade de expressão.

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A principal razão para a nova lei é a paranoia do governo com o vazamento de fitas importantes por um grupo chamado HARAMZADELER, em que oficiais do governo aparecem falando e até fazem piada sobre a corrupção. As gravações já expuseram vários escândalos dentro do parlamento turco, resultando em grandes protestos em dezembro passado e forçando nove parlamentares — incluindo quatro ministros de gabinetes — a renunciar e se retirar do partido no poder, o Partido da Justiça e Desenvolvimento.

As fitas também comprometem o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan e membros de sua família. Numa delas, o primeiro-ministro pede a um grande canal de notícias que remova as legendas de uma filmagem; em outras, sua filha Sümeyye Erdoğan agenda a estadia da família numa vila de luxo. Em outras fitas, há supostas evidências de jornalistas pró-governo manipulando resultados de votações antes de divulgá-los na televisão.

O golpe é uma tentativa clara de Erdoğan e seu partido de silenciar as críticas a seu governo e permitir que eles continuem fazendo o que querem sem repercussão alguma. Mas as boas notícias para o povo da Turquia é que a lei ainda aguarda a aprovação do presidente turco Abdullah Gül, e a oposição e grupos internacionais de direitos humanos têm pressionado o presidente para vetar a lei. Vamos torcer para que ele ouça.