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Um Velho Mafioso Está Sendo Julgado pelo Grande Assalto ao Aeroporto de 'Os Bons Companheiros'

O primeiro dia do julgamento de Vincent Asaro, um membro de 80 anos da família do crime Bonanno, foi um espetáculo inacreditável numa época em que retratos do poder da máfia estão cada vez mais confinados a reprises de Sopranos.

Vincent Asaro é escoltado por agentes do FBI de seu escritório da Manhattan depois de sua prisão ano passado. Foto REUTERS/Brendan McDermid

No filme clássico de mafiosos de 1990 de Martin Scorsese Os Bons Companheiros, o empregado da máfia que vira informante Henry Hill (interpretado por Ray Liotta) quebra a quarta parede e olha direto para a câmera para dar um testemunho contra seus ex-colegas. "Comandávamos tudo. Pagamos policiais. Pagamos advogados. Pagamos juízes", ele diz, saindo do banco das testemunhas. "Tudo estava lá para ser tomado. E agora, tudo acabou."

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Na vida real, o testemunho de Hill sobre seu envolvimento com o crime organizado ajudou a condenar 50 mafiosos de alto escalão, incluindo "Jimmy the Gent" Burke (interpretado por Robert De Niro). Mas nenhum chefão foi preso pelo assalto à Lufthansa Airlines de 1978, quando US$ 6 milhões foram roubados do Aeroporto JFK, como dramatizado no filme.

Até agora.

Na segunda-feira, essa história da subcultura norte-americana de subornos, surras e assassinatos fez um retorno chocante ao tribunal federal do Brooklyn. O primeiro dia do julgamento de Vincent Asaro, um membro de 80 anos da família do crime Bonanno, foi um espetáculo inacreditável numa época em que retratos do poder da máfia estão cada vez mais confinados a reprises de Sopranos.

Preso ano passado, Asaro – que tem um histórico de condenações por crimes relacionados à máfia – é acusado de receber diretamente uma parte dos US$ 6 milhões em dinheiro e joias roubados em 1978. Ele também é acusado de matar Paul Katz, que a família acreditava ser um informante, nos anos 60, e enterrar seu corpo na antiga casa de Burke no Queens.

Asaro nega todas as alegações e se declarou inocente.

Segundo um testemunho de seu primo, Gaspare Valenti, que virou informante dos federais, Asaro manteve seu envolvimento no assalto em segredo por vários anos, enquanto o resto do mundo do crime organizado desmoronava. Em 2013, Valenti concordou em usar uma escuta para conseguir uma confissão de Asaro, depois que o próprio Valenti foi condenado por formação de quadrilha. Asaro teria sido gravado dizendo em alto e bom som: "Nunca ficávamos com nosso dinheiro devido, o que deveríamos fazer… Jimmy ficava com tudo".

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Em 1978, os Bonanno, uma das famosas "Cinco Famílias", supostamente controlavam o território do Aeroporto JFK. Eles teriam dado sua benção para um grupo da família Lucchese, comandado por Burke, que realizou os assassinatos ritualizados dos envolvidos no assalto, porque Burke acreditava que eles estavam atraindo muita atenção para sua nova riqueza. (Burke foi condenado nos anos 80 por um esquema de jogos de basquete comprados e pelo assassinato de um traficante.) Na época do assalto, Asaro era apenas um soldado da Bonanno; depois que recebeu sua parte, segundo os promotores, ele deu uma maleta de ouro e diamantes do assalto para Joseph Massino, o ex-chefe da família Bonanno, como uma espécie de tributo.

A acusação diz que Asaro torrou sua parte em seu vício em apostas. Depois de se tornar uma capo da máfia nos anos seguintes, ele foi rebaixado a soldado novamente por causa "de seus problemas com apostas e por não pagar suas dívidas com aqueles associados ao crime organizado", segundo os federais.

Mas em 2013, quando a maior parte da família Bonanno estava atrás das grades ou grampeada, Asaro aparentemente reconquistou sua posição de capitão e até ganhou uma cadeira no "painel" que supervisionava os assuntos da família Bonano. Quando foi preso no ano seguinte, os homens que o substituíram na cadeia alimentar da máfia, incluindo seu filho Jerome, também foram presos por crimes não relacionados com o assalto da Lufhtansa.

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Em sua declaração de abertura na manhã de segunda, a promotora federal Lindsay K. Gerdes argumentou que Asaro tinha uma "longa história de emprestar dinheiro e nunca pagar de volta". A advogada de Asaro, Diane Ferron, afirmou que os federais não tinham prova de que alguém viu Asaro cometer esses crimes, e claro, que ele é considerado inocente até que se provasse o contrário. Ela pediu ao júri para tomar uma decisão baseada no que "o governo não tem".

Logo, Sal Vitale, um ex-subchefe da família Bonanno e braço-direito de Massino, sentou no banco das testemunhas no oitavo andar do tribunal federal do Brooklyn. Mais conhecido como "Handsome Sal", o testemunho de horas de Vitale foi uma cartilha da máfia – como ela funciona, como mata e, claro, como lucra.

"O dinheiro sobe, as ordens descem", foi o que Vitale disse em certo momento.

"Pontos", como Vitale descreveu, eram "qualquer coisa para fazer dinheiro ilegal". "Soldados" introduzidos são conhecidos como "goodfellas" ou "made men", e "ganham dinheiro da família para fazer o que são mandados". "Capitães" geralmente ficam no comando de dez soldados, ele acrescentou, e subchefes supervisionam os capitães.

E o chefe em si? "Ele é Deus", disse Vitale.

Eventualmente, Vitale apontou o crime diretamente para Asaro, que estava sentando em silêncio no tribunal, sugerindo que ele estava num carro com Massino quando Asaro entregou a pasta de diamantes e ouro dos cofres da Lufthansa. Os bens teriam sido vendidos em Canal Street, Chinatown.

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No começo dos anos 2000, Vitale serviu como informante do governo e foi libertado depois de cumprir sete anos de prisão. Agora ele vive sob proteção federal ("Ainda estou em perigo", ele disse no tribunal na segunda-feira), e durante seu testemunho, mencionou casualmente 11 assassinatos em que tomou parte. Sua lista de crimes também inclui extorsão, apostas, agiotagem, intimidação e várias outras ofensas.

Joseph Massino deve testemunhar nos próximos dias, assim como Valenti, o primo que iniciou essa série de eventos. Asaro – cuja tatuagem escondida no antebraço diz "Morte Antes da Desonra" – não deve testemunhar agora.

Mesmo que gangsteres envelhecidos estejam se agarrando ao que restou de um submundo criminoso antes proeminente, na manhã de segunda-feira, o maquinário da máfia foi descrito no presente. Pela duração do julgamento, pelo menos, todos esses esquemas sujos não estão mais confinados à lata de lixo da história.

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Tradução: Marina Schnoor.

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