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Música

O Mac McCaughan, do Superchunk e da Merge, É o Ídolo dos Sonhos

Tietamos esse cara simpático, que veio ao Brasil para lançar o álbum solo no Balaclava Fest.

O vocalista do Superchunk, sócio da Merge Records e responsável por um número considerável de projetos paralelos envolvendo música veio lançar seu primeiro álbum solo aqui no Brasil, o Non-Believers, pelo selo brasileiro Balaclava Records, como a grande atração do primeiro Balaclava Fest. O disco foi lançado oficialmente nesta terça (5), e você pode ouvir na Deezer.

Mac McCaughan tem uma coisa com o Brasil. E não é só a relação com os fãs: ele gosta da música daqui, ele gosta de tocar no interior, ele gosta dos inferninhos, ele curte o rolê. E para uma fã, como eu, é o ídolo dos sonhos. Ele é acessível, troca ideia, te sacaneia com sarcasmo mas, ainda assim, segue polido. É o Mac do Bricks, do Waxx, do Superchunk, do Portastatic, da Merge, da galera. Não existe outra maneira sem ser essa, de itens, de listas para descrever um cara que merecia no mínimo uma estátua pela quantidade de serviços prestados a música alternativa de qualidade e criativa.

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Ao chegar no camarim, Mac me reconheceu de outras tietagens. “Ah, é você! Como vai? Como chama mesmo aquela cidade que tocamos a noite da última vez que viemos?”. “Mogi das Cruzes”, eu respondi. E ele repetiu, com sotaque, mas ainda assim, compreensível “Molgi Das Cruces, hum? Foi bom aquele dia”, dando início a uma entrevista breve, porém amável.

Noisey: Você sempre tocou em várias bandas, além de tocar seu selo. Como é isso para o seu processo criativo?
Mac McCaughan: A maioria das pessoas que são artistas tem outros trabalhos, sabe? Então você organiza seu dia para que você faça as coisas. Sempre estou pensando em um disco quando ele tem que ser feito, aquela parte da guitarra ou a parte da música que preciso terminar de escrever, eu penso nisso o tempo todo, não apenas quando estou trabalhando com música. Mas em termos de ter o selo e fazer música, como eu disse, acho que é como qualquer outra pessoa que tem outro trabalho. E tenho sorte que meu outro trabalho é estar em contato com outros artistas da Merge, porque trabalhar com outros artistas definitivamente influencia o que eu faço; ver o trabalho de outras pessoas, ouvir a música de outras bandas.

Você se vê como um empresário artista ou como uma artista empresário?
Eu me vejo como um músico que também tem um selo de bandas. Mas as duas coisas vão bem juntas, porque se eu somente administrasse o selo e não fizesse música, acho que certamente já teria ficado louco. É ótimo fazer os dois. O problema é achar tempo para isso, porque também tenho família, tenho filhos, e ter certeza que tenho tempo suficiente para fazer tudo o que eu gostaria de fazer, essa é a parte mais difícil. Você pode fazer todas essas coisas durante as 24h do dia, estar com sua família, trabalhar e fazer música, mas certamente, isso toma literalmente as 24h do seu dia.

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Apesar da diversidade do catálogo da Merge, as bandas têm um padrão sutil que revela a cara do selo. O que é uma banda Merge?
É difícil dizer, porque musicalmente as bandas podem ser muito diferentes umas das outras. Lambchop não parece nada com Mikal Kronin, e Caribou não parece com Waxahatchee. Mas existe uma coisa que as une é que, em termos das bandas que gostamos de trabalhar, as canções são o foco principal dessas bandas. Mesmo que isso tome formas diferentes no resultado final. Somos sempre atraídos por pessoas que compõem músicas realmente boas, independentemente do tipo de som que elas façam. E a outra coisa é que nós geralmente trabalhamos com artistas que querem estar na Merge, porque nós trabalhamos de uma certa maneira, sabe, não vamos gastar a quantidade de dinheiro que uma gravadora grande gastaria, então atraímos um tipo específico de artistas que gostam deste tipo de ambiente. Não sei direito como o resultado dessas escolhas acaba soando em um disco, mas acredito que sempre acabamos trabalhando com um tipo de artista que estaria fazendo exatamente o que eles fazem, independentemente de ser o ganha pão. Resumindo: trabalho com gente que gosta mesmo de tocar.

Continua abaixo.

Em 2000 você (no Portastatic) gravou um álbum chamado de Mel de Melão, cantando algumas músicas em português. Me chamou a atenção você ter escolhido uma música do Dominguinhos, “Lamento Sertanejo”, interpretada pelo Gilberto Gil, com palavras relativamente difíceis para quem não está acostumado com o idioma (torresmo, por exemplo). Como foi a experiência?
Escolhi essa música porque amo o disco que esta música está, e queria tocar alguma coisa deste álbum do Gilberto Gil. E essa versão, com a guitarra elétrica, não se distanciava tanto do tipo de trabalho que estava fazendo na época, então pensei “ok, acho que consigo tocar isso”. E acho que escolhi a música um pouco antes de eu perceber o quão difícil isso seria. Falar português é difícil, se você não fala português. Tem fonemas difíceis e foi certamente a música mais complicada deste álbum.

O Superchunk já fez alguns covers de Bruce Springsteen, e você costuma tocar algumas músicas dele nas passagens de som. Eu sei bem quando comecei a gostar do seu trabalho. Você lembra quando você começou a gostar de Bruce?
A primeira vez que escutei foi durante minha adolescência, e a princípio você escuta essas músicas no rádio, “Born To Run” e todos os hits. Mas a primeira vez que eu realmente prestei a atenção e me tornei um fã foi quando meus pais me levaram para ver um filme chamado No Nukes, que é um documentário/show de 1979, 1980, que tinha como objetivo arrecadar dinheiro para lutar contra a energia nuclear. Springsteen fazia parte deste show, também havia outras bandas, como Doobie Brothers. Mas a performance de Springsteen meio que destruiu todo o resto, sabe? Nós vimos o filme e fomos para uma loja de discos e eu comprei a fita cassete do álbum The River, que tinha acabado de ser lançado. O River foi o primeiro álbum que compramos e nós o escutávamos o tempo todo, no carro da família, andando por aí. Então foi isso, primeiro o filme, depois o The River e assim tudo começou.

A tal apresentação do Bruce Springsteen. Te lembrou alguém?

Essa foi a última pergunta. Logo na sequência, ele iria para a passagem de som no CCSP. Dei um álbum para autografar, mesmo sabendo que não isso não faz parte da etiqueta jornalística, mas vali-me da licença poética. Até a próxima, Mac!