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Música

Um Clipe Pop Não É Nada sem os Dançarinos

Apesar de anônimos, os dançarinos são fundamentais pra fixar na nossa cabeça uma coreografia de 1999.

Um clipe pop não é nada sem os dançarinos (ou um conceito interessante e original, mas isso é papo para um outro dia). E, apesar de não sabermos os nomes dos dançarinos, seu passado ou méritos, a importância deles é óbvia toda vez que você consegue se lembrar da coreografia de uma música de 1999 ou de uma paródia do Robert Palmer, 20 anos depois de “Addicted to Love”.

Não acredita em mim? (estou imaginando que você seja muito questionador). Pensemos na recente onda de apropriação cultural que temos observado graças aos clipes de Lily Allen, Miley Cyrus, Avril Lavigne e, agora, Taylor Swift. Usados como acessórios e não como – bem, pessoas – esses dançarinos ajudaram a reforçar a mensagem que os artistas com quem trabalharam queriam passar (que, na maioria dos casos, era basicamente sobre tomar péssimas decisões).

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Então, oi? Dançarinos não podem ser subestimados. E porque eu precisava de um motivo para assistir videoclipes e forçava meus amigos a aprender as coreografias, aqui estão alguns dos dançarinos mais importantes do mundo da música, e porquê.

Limp Bizkit, “Rollin”

Sinceramente, estou tão surpresa de estarmos falando neles quanto você, mas temos que dar o devido crédito às antigas dançarinas da banda. Chamadas de “Bizkit Babes”, essas mulheres conseguiram o impossível: fizeram Fred Durst quase parecer legal. Elas se vestiam como ele, dançavam como ele e também não davam a mínima, como ele – pelo menos é o que a barbicha e o cabelo loiro dele nos levariam a acreditar. É verdade, essas dançarinas acompanhavam um homem que certa vez alegou fazer “tudo” por uma buceta, mas personificavam a imagem que a banda estava tentando alcançar: eram duronas pra caralho. Os movimentos eram duros, o jeito de dançar era agressivo, e elas certamente não representavam uma ideia de feminilidade estereotipada. Na verdade, sem elas, Fred não pareceria nada intimidador.

Robert Palmer, “Addicted to Love”

Eu sei que muito já foi dito sobre o uso que Robert Palmer faz das mulheres como… Bonecas? Acessórios? Manequins? Todas as alternativas? (sim). Mas comentários à parte sobre o (hoje infame) clipe, podemos ir em frente e argumentar que essas dançarinas estão entediadas pra caralho. Olha só para elas, como parecem entediadas! E por que não estariam? Tudo que fazem é ser coadjuvantes de um cara que se veste como um bancário. Acho que foi mais ou menos assim:

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Diretor: “Certo, então vocês, garotas, além de fazerem alguns poucos movimentos, vão só ficar paradas aqui”.

Dançarinas: “CERTO. Que tédio”

É um tédio mesmo, e fico feliz que elas pareçam entediadas. Essas mulheres não estão olhando para o nada; estão mostrando como é aborrecedor ser usado como acessório. As expressões delas mostram como quase trinta anos atrás esta premissa já era aborrecida, e mesmo assim, oi? Ainda usamos a mesma fórmula hoje. Então, claro, podemos falar do cabelo, da maquiagem e das roupas pretas delas, mas acho que o que torna essas dançarinas tão icônicas é o desinteresse óbvio delas em mesmo estar ali. Elas são como nós, assistindo a este clipe e a outros clipes como este, e tiveram culhões de deixar isso claro com a expressão delas (enquanto Robert Palmer nem desconfia, fantasiado de contador).

Shania Twain, “Man! I Feel Like a Woman”

Enquanto isso, em 1999, Shania Twain revertia essa lógica. Claro, esses modelos estão igualmente entediados, mas estão usando calças de plástico, o que nos faz pensar que tiveram alguma influência no guarda-roupa de Ross Geller, de Friends, por essa época. Então não diga que dançarinos não influenciam a cultura pop.

Beyonce, “Single Ladies”

Deixa eu dizer o que já estamos pensando: quando essa música toca num casamento, é hora de se esconder embaixo da mesa dos docinhos e tirar uma soneca, não importa qual seja o seu sexo ou estado civil. Mas conotações atuais à parte (sério: parem de tocar isso na hora da gente pegar o buquê – vocês estão acabando com a Beyoncé para nós, o que eu achava impossível até agora). Sem as dançarinas, esta música seria uma sombra do que é na verdade. Sem o resto da turma, seria só a Beyoncé de collant dançando sobre um fundo branco.

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Não que tenha algo de errado nisso, porque a Beyoncé é uma diva. Mas sendo uma diva, ela sabe. Mesmo ao vivo, em turnê, ela é impecável na hora de reconhecer e utilizar os talentos ao redor dela. “Single Ladies” (“Mulheres solteiras”) tem esse nome exatamente por esse motivo – é uma música sobre união, poder e força em números. Não se chama “Single Woman” (“Mulher Solteira”) ou “I Am Better Because I’m Married” (“Sou Melhor Porque Sou Casada”). É uma música sobre amizade e empoderamento, e o clipe reflete isso mostrando Beyoncé no mesmo nível que as dançarinas (todas fazem a mesma coreografia), focando só nelas três.

Irmandade, pessoal, porque Beyoncé é nossa redentora e nada nos faltará.

Britney Spears, “Baby One More Time”

Mas enquanto “Single Ladies” capitaliza em cima da união em si, a primeira obra-prima da Britney Spears (é isso aí, falei mesmo) capitaliza em cima da união entre estudantes. Estou vendo coisa demais aqui? Me diga você:

Na verdade, não me diga se não está comigo nessa 100% (porque não quero brigar com você, e a sua amizade significa muito para mim). Mas se você está comigo, provavelmente percebeu que os colegas da Britney odeiam a escola – todos arrancam seus uniformes e começam a dançar em volta dela ao mesmo tempo, nos presenteando não apenas com uma coreografia memorável, mas com um espírito de “estamos todos juntos nessa”.

Sem os dançarinos, a Britney seria só uma garota aleatória quebrando as regras de vestuário da escola, dançando sozinha no corredor. Mas com eles, ela está tocando o foda-se com música pop e elásticos de cabelo fofinhos.

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Christina Aguilera, “Dirrty”

Para ser sincera, não faço ideia que caralhos está rolando nesse clipe, ou mesmo do que ele se trata. Mas uma coisa eu sei: se fosse só a Christina Aguilera dançando num ringue de boxe decadente, este clipe seria muito menos um rompimento com a persona pop limpinha dela e mais um filme do David Fincher. Só estou brincando, pessoal, sei que isto aqui é Menina de Ouro.

Nicki Minaj, “Anaconda”

Agora vamos falar de reapropriação, Como falei antes, tivemos dois anos bem cheios de apropriações culturais graças a certas artistas que usaram o twerking para se estabelecer como musicalmente ou culturalmente relevantes. No mês passado, vimos a resposta de Nicki Minaj a isso. Isto aqui é o que acontece quando alguém está por aqui com a merda dos outros – sua, nossa, de todo mundo. Isto é o que acontece quando a Nicki e as dançarinas dela não só resgatam o twerk, mas esculacham dançando juntas. Isto é o que vemos quando um artista está consciente, presente e assume o controle. Isto não tem nada ver com o “ah, opa! O que é twerking?” à la Taylor Swift, ou seja lá o que for que a Miley Cyrus anda fazendo atualmente (o que ela anda fazendo?). Isto é poder. E é poder distribuído igualmente entre as dançarinas com quem a Srta. Minaj escolheu trabalhar, e elas entendem do assunto e nos mostram como é que se faz. Se um vídeo pudesse ser um mic drop, acho que seria esse aqui.

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Mariah Carey, “Heartbreaker”

De qualquer forma, por favor, lembre-se da importância de “Heartbreaker” (o clipe). O jeans com o cós cortado da Mariah Carey, e o fato de que os dançarinos dela estão vestidos como funcionários de um cinema. Quer falar sobre gente que não dá a mínima? Os dançarinos da Mariah ou eram “melhores amigas” (vestidas como qualquer pessoa de 20 e poucos anos, bem descolada, no cinema numa sexta-feira à noite) ou funcionários de cinema. Eles usavam uniformes de verdade, e os passos deles incluíam pular pelos cantos e dar tapinhas nas coxas e/ou quadris. É uma benção e uma dádiva. É a promessa de que mesmo aquele seu trabalho de fim de semana, ou depois da escola, pode levar a uma colaboração com a Mariah. É a ameaça de ser mandado de volta para casa da escola porque você cortou fora o cós do seu jeans. É “Will2K”, tenho certeza.

Janelle Monáe, “Tightrope”

Então chegamos ao fim. Sinceramente, apesar de termos visto dançarinos mais do que capazes, nos últimos minutos, é hora de dar uma olhada na Janelle Monáe. Ela elevou os padrões para dançarinos de todo o mundo umas dez vezes.

É isso. Todo mundo pra casa, pessoal. Hora de dormir. Vocês tentaram, amamos vocês, e sei que isto não é uma competição, mas todos nós perdemos para o que acabamos de ver. Monáe já falou sobre como a profissão dos seus pais influenciou seus uniformes no passado (“Quando coloco aquela roupa, aquele uniforme me diz que tenho muito serviço, muito trabalho a fazer, como artista, pela comunidade, pelas garotas jovens”) e isso faz sentido; vendo-a com os dançarinos, é isso que parece. Eles parecem uniformes. Parecem uma banda, um grupo com o qual não você não se mete (porque, se eu aprendi alguma coisa com filmes de dança, é que se você sabe dançar, ninguém pode mexer com você).

Na verdade, os dançarinos de apoio dela não parecem “de apoio” de forma alguma, porque é através deles que ela consegue seus pés loucos e dançantes. Então, se não fosse por eles, não teríamos “Tightrope” como o conhecemos. Só teríamos um bando de pessoas paradas por aí – não dançando. E Monáe está dançando. Os andróides estão dançando. E você provavelmente está dançando, também, porque fiz essa lista bacana.

Se você está procurando uma dançarina, a Anne T. Donahue está disponível. Ela está no Twitter - @annetdonahue

Tradução: Fernanda Botta