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Música

Os 25 Melhores Discos Internacionais de 2014 de Acordo com o Noisey: 10 a 1

Aqui é apenas o créme de la créme da música internacional deste ano.

Abaixo estão os 25 melhores discos de 2014 de acordo com a equipe Noisey: Kim Kelly, Kyle Kramer,Drew Millard, Kayla Monetta, Dan Ozzi, Fred Pessaro, Eric Sundermann, e Kim Taylor Bennett. Para ver os melhores discos de 11 a 25, clique aqui.

** Sylvan Esso 10. Sylvan Esso –**

Dá pra sacar muito do auspicioso disco de estreia de Sylvan Esso com sua faixa de abertura “Hey Mami”. Ela trata, caso você não saiba, de garotas sendo xavecadas na rua (caras, não façam isso!) e começa com um barulho de rua ouvido por uma janela aberta. Os vocais de Amelia Meath são empilhados um sobre os outros para conferir uma melodia similar à de uma canção de ninar e então – BAM! – rola uma quebrada e batida que com certeza foi feita pra transar. Isso aqui não é a Feist dando uma de folk, é algo mais: uma colisão de tons de fim do mundo e sintetizadores cheios de fuzz, cada música uma surpresa a ser desembrulhada. Como todos os melhores discos, os destaques são muitos para serem citados aqui, mas o ritmo hipnótico de “Could I Be”, os altos e baixos de “Play It Right”, e o hit “Coffee”, irresistível até mesmo em seus momentos sussurrados, são só alguns. É um disco para se perder.
—Kim Taylor Bennett


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** iLoveMakonnen 9. iLoveMakonnen – EP**

Claro, você conhece “Tuesday”. Você viu o clipe. Você cantou junto. Mas você já se aventurou na deep web do Makonnen? O resto do EP autointitulado do iLoveMakonnen – e o restante de seu catálogo – estão cheios de faixas esquisitas e viajandonas de um cara esquisitão que grava tudo sozinho e que mesmo assim conseguiu lançar canções de amor e corações partidos e sobre como é ser jovem e burro e não saber muito da vida até tomar no rabo. “Tonight” soa como uma música de David Bowie do ano de 3014. “Meant to Be” trata sobre quebrar todas as suas promessas mais pessoais. “Sarah” é sobre cada pessoa que você já amou – mas em uma música. Com este EP, Makonnen assumiu a posição daquele cara esquisito com quem você sempre vai querer dar um rolê e até ganhou uma indicação ao Grammy com isso. E depois? Importa mesmo? Porque seja lá o que for que o futuro reserva, sempre haverá outra “Tuesday” [terça-feira].
—Eric Sundermann


** Montevallo 8. Sam Hunt –**

A música de Sam Hunt quase soa como se tivesse vindo ao mundo através de um grupo focal: os refrãos são gigantescos, a pegada country é controlada o suficiente, e a produção é irrestritamente moderna, com todo o ecletismo que vem junto disso (o final de “Speakers” poderia se encaixar perfeitamente em um disco do Drake, por exemplo). Isso não significa que seja impessoal, porém – é bem o contrário. Por mais que a sonoridade do Sam Hunt atire pra tudo que é lado, sua atitude é a de receber a todos bem. Ele é aquele cara na festa que já te espera ali com uma bebida, uma história, ou pronto pra te ouvir, dedicado a manter a festa rolando até altas horas ou fazer a parada bombar mesmo que seja só ele e a garota que ele está visitando. Ele sabe que você está dando uns pegas nele só pra fazer ciúmes no seu ex, mas ele o faz orgulhosamente. A música de Sam soa como uma conversa. Ele tem um jeito impressionante de alternar de um discurso para cantoria no meio de uma frase, explodindo em melodias com jeitão de mensagem de voz que evaporam após algumas notas, mas ele também soa simplesmente direto sobre os pequenos triunfos da vida, as alegrias de sentir que você é dono do seu próprio cantinho do mundo, e as decepções pontuais que acompanham a vida. Montevallo é um disco rico, reconfortante, que cria uma ligação e é incrível não importa o quão country você acha que é.
—Kyle Kramer


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** Sell Sole 7. DeJ Loaf –**

Quando a rapper de Detroit DeJ Loaf tocou no Noisey’s CMJ Showcase, em outubro, ela subiu ao palco de jeans preto, um top de ginástica vermelho e um chapéu de pescador preto, orgulhosamente agarrada a uma garrafa de Hennessy, tomando conta de todo o palco. Ela era o (infelizmente usado em excesso) termo “swag” em pessoa, assim como sua triunfante mixtape de outubro, Sell Sole. É orgulhosamente diferente do hip hop convencional e também do trap. Não é que DeJ não se importe em falar merda – esta é a pessoa que lançou duríssima ameaça de que sua galera iria “pegar mesmo seus dedos / transformar sua cara em pizza, sem acne” [Really take yo fingas /Turn yo face into a pizza, no acne] em seu single, afinal – ou que ela não é elástica em seu flow. Em vez disso, Sell Sole é um disco único com um brilho gélido e produções alienígenas e macias como uma almofada, que revela uma DeJ sublimando entre um estilo de rimar e cantar que raramente eclipsa um sussurro, fazendo tanto suas faixas mais duras quanto elegias por entes queridos perdidos ainda mais devastadoras.
—Drew Millard


6. The Menzingers – Rented World

Parece que faz só um ano que os Menzingers ainda lutavam para encher pequenas casas. Corte para o lançamento de Rented World e de repente eles são a banda favorita de todo mundo. Sério, não tinha como isso não ter rolado com caras tão merecedores. Por anos, os punks de Rust Belt têm mandado ver, com um catálogo cada vez mais coeso a cada lançamento. Quando lançaram On the Impossible Past, no ano passado, já haviam oficialmente aperfeiçoado aquilo que buscam – conseguir a simetria perfeita entre caos visceral e bruto e harmonias melódicas. Rented World, o quarto disco da banda, mostra que os rapazes de Scranton se deram bem. E pelo jeito não vão parar tão cedo.
—Dan Ozzi


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** El Pintor 5. Interpol –**

Claro, sua piadinha sobre não estarmos em 2003 provavelmente rendeu uns risinhos, mas com El Pintor, o Interpol volta com um disco que relembra sua clássica estreia. O álbum te ataca com uma urgência que falta na música de hoje – ainda que carregada por uma bizarra calmaria. Com faixas como “All the Rage Back Home”, “Ancient Ways” e “Same Town, New Story”, a banda provou que sabe muito bem como compor a trilha sonora dos momentos mais introspectivos de nossas vidas. Mas o faz da forma mais suave possível. Este disco é um terno preto sob medida para um casamento. Este disco é um corte de cabelo e a barba feita por um barbeiro ali da esquina. Este disco é um drinque de fim de noite no Lower East Side. Após uma década, o Interpol descobriu como ser cool de novo. E nós os agradecemos por relembrarem.
—Eric Sundermann


** Ruins 4. Grouper –**

É difícil ouvir Grouper e não sentir a dor na forma como Liz Harris apresenta suas canções: frágeis, lindas, e de quebrar o coração por completo. Certifique-se de ouvir este disco quando estiver de bem com a vida. Senão você nunca mais sairá de casa, vivendo de pijamas e de delivery, chorando na cama. E claro, apertando o botão de repeat.
—Fred Pessaro


3. Iceage – Plowing into the Field of Love

Você já esteve tão bêbado a ponto de trepar no banheiro de um bar? Ou talvez, em algum momento do verão, acabou indo bater na porta da sua ex às 3h da madrugada incapaz de falar algo coerente, mas estando ali porque com certeza você tinha algo a dizer. Todos já passamos por isso – decisões tolas que levam nossas tolas vidas adiante, tentando entender como funciona esse negócio de ser humano. O terceiro e brilhante LP do Iceage, Plowing into the Field of Love, é um disco que trata exatamente disso – fazer merda, cometer erros e talvez chutar uma lata de lixo pelo simples fato de ela existir. Mas aí você aprende com essas decisões péssimas e meio que entende tudo, mais ou menos. O lance é que, com Plowing, estes punks dinamarqueses deram uma polida em seu som bruto, transformando-o em algo que parece menos com um soco na cara e se assemelha mais a uma valsa bêbada. Esses bichos ainda meio que te odeiam e provavelmente mijariam no seu café enquanto você não presta atenção. Mas como todos os atos de rock'n'roll os quais experimentamos nesta coisa que chamamos de vida, a irresponsabilidade tem lá seu charme.
—Eric Sundermann


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2. Against Me! – Transgender Dysphoria Blues

Não há muito a ser dito sobre este disco que já não tenha sido dito – e isso é bom.

Lançar um álbum em janeiro é como um beijo da morte para grande parte das bandas. Quando chega dezembro – mês em que a maioria das publicações começam a lançar suas cobiçadas listas de fim de ano – os discos do começo do ano já foram há muito esquecidos, parecendo datados diante da enxurrada de hits de verão. Mas quando o Against Me! lançou Transgender Dysphoria Blues em 21 de janeiro, para a frontwoman Laura Jane Grace era só o começo de uma jornada que tomaria um ano inteiro.

Com tantos olhos mirando Grace e o Against Me! Após a matéria de 2012 sobre ela na Rolling Stone em que se assumia como uma mulher transgênero, a banda não poderia permitir que o disco fosse menos que perfeito. E não era. O álbum, o sexto da banda, foi recebido calorosamente por toda parte, de fãs que os acompanhavam desde que usavam baterias improvisadas e gritando juntos os hinos anarquistas de seu primeiro disco Reinventing Axl Rose a críticos musicais que não saberiam citar nenhuma canção punk desde ““Rock the Casbah”.

A aclamação foi mais do que merecida. Em termos estilísticos, foi uma há muito esperada volta ao formato que consagrou o Against Me!, que passou alguns anos de transição entrando e saindo de grandes gravadoras, e também trocando seus integrantes. O álbum conta com as músicas punks ferozes e ainda assim contagiantes, que permitem aos fãs transformarem suas mãos que batiam palmas em punhos cerrados. Uma das faixas serviu como elegia para um amigo, outra provocativamente intitulada “Bin Laden as the Crucified Christ” explorava a ideia de verdades baseadas em perspectivas e em algum lugar ali pelo meio havia a canção de amor existencial acústica dedicada à filha de cinco de anos de Grace. E de alguma forma tudo estava tematicamente amarrado através de um olhar brutalmente franco e introspectivo sobre uma pessoa aprendendo a lidar com a disforia de gênero e toda a autodescoberta que a acompanha – a agressão… “You want them to see you like they see every other girl/ But they just see a faggot/ They'll hold their breath not to catch the sick” [Você quer que te vejam como qualquer outra garota / Mas só veem um viado / E prendem a respiração para não pegar a doença]. O medo… “Don’t wanna live without teeth/ Don’t wanna die without bite/ I never wanna say that I regret it” [Não quero viver sem dentes/ Não quero viver sem arriscar/ Nunca quero dizer que me arrependo]. E a incerteza… “Does God bless your transexual heart? True trans soul rebel” [Deus abençoa seu coração transexual? Verdadeira alma trans rebelde].

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Grace e a banda têm cantado os Blues desde então. Por mais estelar que o disco seja em um contexto musical, ele serviu meramente como um veículo para levar adiante informações sobre a disforia de gênero pelo mundo, com a Grace como sua garota-propaganda. Somente este ano, além das turnês internacionais da banda que chegaram a 151 apresentações percorrendo 97.000 km, ela apareceu em praticamente todos os veículos de mídia — The Guardian, Elle, Newsweek, NPR, e Time, uma revista que também colocou a atriz transgênero Laverne Cox em sua capa de maio, com o artigo “The Transgender Tipping Point” [O Ponto de Virada Transgênero].

A banda também voltou ao Late Show with David Letterman em fevereiro. A visão de uma mulher transgênero de 1,87 m (1,94 m de salto) cantando uma música chamada “Fuckmylife666” em um talk-show assistido por avós no meio do país provavelmente fez a política transgênero avançar uma década por si só. Ela se atirou ao fogo incansavelmente, por todos os cantos, de artigos cabeça no Grantland até listas do Buzzfeed, “10 Perguntas Que Não Se Deve Fazer a Uma Pessoa Transgênero”. Não importasse como você consome a mídia, lá estaria Grace para te educar.

O ataque à mídia estava longe de ser pregação barata da parte de Grace, muito pelo contrário; ela aprendia conosco, se adaptando à sua nova e muito tatuada pele diante de nossos olhos. E Grace lidou com tudo com nada mais que, bem, graça. Sua série de dez episódios na AOL True Trans mostrava seu aprendizado com membros da comunidade transgênero. “Conheci pessoas transgênero de todos os tipos, nos mais diversos pontos de suas jornadas”, diz Grace na abertura do programa. “Ouvir suas histórias e então poder relacionar-me com elas é o que preciso agora”. Além do tempo gasto diante do público, ela também se esforçou para comunicar-se com os fãs na vida real e na internet – respondendo perguntas, dando apoio, ouvindo.

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Só de pensar quantos jovens viram Grace no decorrer do ano – tocando guitarra de minissaia no palco ou chorando abertamente com uma pessoa transgênero em sua websérie – o impacto é imensurável. Para muitos ela será o primeiro rosto com o qual identificarão suas batalhas. Seu compromisso e sinceridade inabaláveis serão, sem sombra de dúvidas, responsáveis em grande parte por toda uma nova geração da comunidade trans ou simplesmente daqueles que se sentem diferentes, para aqueles que olham para ela e dizem: eu também.

Este talvez seja o tema mais significante de Transgender Dysphoriua Blues – um que foi muito esquecido: não é só uma questão de gênero. No fundo, é um disco sobre temas universais de alienação e depressão. Músicas como “Drinking with the Jocks” e a letra que diz “All of my life, wishing I was one of them” [Toda a minha vida querendo ser uma delas] capturam com perfeição a sensação inata de desesperadamente querer pertencer a quem te exclui. O disco é uma obra de arte punk dos tempos modernos e uma mensagem para quem algum dia já se sentiu desconfortável em seu próprio corpo: você não está só.

Se existe um Deus – seja lá com qual gênero o onipotente se identifique – é difícil acreditar que ele ou ela permitiria que um coração como o de Laura Jane Grace seguisse sem ser abençoado. Uma verdadeira alma trans rebelde.—Dan Ozzi


1. Rich Gang – Tha Tour Part 1

Houve algum disco mais divertido do que Tha Thour Part 1 este ano? Nem fodendo. Em 2014, nada foi tão empolgante, imprevisível, perigoso, desarmante ou divertidão quanto o que acontece quando Rich Homie Quan e Young Thug foram jogados num estúdio com o empresário do Cash Money, Birdman. O que fez Tha Tour parecer tão vital, ainda mais no que poderia ter sido um ano estagnado em termos artísticos e espirituais, foi sua variedade, a forma como parecia gerar novas versões de seus personagens principais a cada duas linhas, praticamente. Em “Keep It Going”, Young Thug aos poucos passa de um resmungo a um berro, saltando de uma serenata para sua garota para gritar sobre dar um rolê com Bobby Shmurda em Nova York; em “Givenchy” ele sai largando frases de efeito e sai se gabando até ficar sem ar; “Freestyle” o mostra pedindo analgésicos para Quan sem mais nem menos.

Quan, também, é um coringa ao seu próprio modo. Ao longo de sua carreira em mixtapes, ele construiu uma reputação como inovador estilístico mesmo sendo meio que um compositor convencional; aqui, seu lado melódico e queda por emoção pura brilham. É seu gancho suave em “Milk Marie”, seu miado de “I just wanna li-i-i-iiiive” em “Hate I”, seus backing vocals em “Tell 'Em (Lies)” que roubam o show da personalidade gigantesca de Thug. Por mais que praticamente cada verso de Tha Tour possa ser citado à exaustão, a frase que sai na frente de todo o disco é a irreverente “Did a show out in Boston, drinkin’ lean out a teacup” [Fiz um show em Boston, tomando lean direto duma xícara de chá] em “Beat It Up”.

Ainda assim, o herói esquecido de Tha Thour é Birdman. Além de seus improvisos incessantes em “Rich. Gang!” e “Rich. Girl”, que se espalham pelo álbum (são horríveis de cara, mas com o tempo melhora – sério) e um monologo poético sobre “privadas e castiçais de ouro”, ele se revela como um rapper verdadeiramente empolgante, algo que as pessoas esquecem em meio aos gifs e alegações de que ele estaria fazendo Lil Wayne de refém na Cash Money. Talvez ele só rime algumas vezes no disco, mas ele rouba a cena todas as vezes, seja pela voz de tenor com um tom de vilão de desenho em que manda coisas como “For the money it’ll be your own people on you” [Pela grana será sua galera contra você] em “Flava” ou o jazzismo com o qual ele se gaba em “Imma Ride”. E o mais importante, Birdman foi quem deu o toque de Midas nessa porra, dando a Tha Tour o que o álbum precisava para manter sua qualidade, e acima de tudo, ao reconhecer o potencial de Quan e Thug enquanto dupla e unindo-os.

Fosse ouvindo-os se perderem entusiasmadamente em meio a improvisos ou a satisfatória surpresa de que Young Thug e Rich Homie Quan criam harmonias como se fossem as porras dos Beach Boys, That Tour posicionou-os como a próxima grande dupla do hip hop, ao lado de Big e Andre, Bun e Pimp, Raekwon e Ghostface. Como aqueles mencionados anteriormente, há uma dicotomia entre Quan e Thugg que simplesmente funciona. Com Quan como a âncora racional e melódica que une tudo, Young Thug fica livre para fazer o que bem entender, passando por estas 20 faixas com uma lógica só sua, quase inventando um novo flow a cada linha. Sem frescura: por mais que Kendrick Lamar, em sua austeridade infinita, habilidade técnica e olhar de romancista, talvez seja mesmo o “melhor rapper vivo” hoje em dia, Thug está bem perto, reescrevendo as regras do hip hop em tempo real.

—Drew Millard

Tradução: Thiago “Índio” Silva