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Música

O Spoon Volta à Velha Forma Após Voltar à Velha Forma Após Voltar à Velha Forma

O indie (ainda) não morreu.

Pouco tempo depois de observar uma mulher pirar completamente o cabeção em seu assento durante "I Turn My Camera On", mexendo os braços como se tentasse convencer um avião a pousar na praia de uma ilha deserta, começou a ficar cada vez mais difícil acreditar nas notícias de que o indie rock está morto, de que o The Feeling acabou, de que as pessoas não gostam tanto de guitarras quanto antigamente. Semana passada, uma multidão de pessoas que, provavelmente, uma vez ou outra, já se viram no mailing list do catálogo da Urban Outfitters, apareceu para um show do Spoon que por pouco não esgotou os ingressos no Orpheum, em Madison, Wisconsin (a maior casa de espetáculos de Madison) – e fizeram isso no meio de uma semana de aulas. Os pais e mães indies, indo à cidade pela primeira vez em semanas, se sentavam ao lado de grupos de estudantes universitários. Essas pessoas pipocaram com os solos de bateria, enlouqueceram com as músicas menos conhecidas ("I Summon You", de Gimme Fiction, foi tratada como se fosse o maior sucesso da banda) e bateram palmas como patetas durante a parte de todas as músicas do Spoon em que é apropriado bater palmas como um pateta. Havia provavelmente mais casais em encontros no show do que em qualquer outro local da cidade. Foi uma noite muito boa para deslizar para a direita.

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Vivemos em uma época com uma séria deficiência de buzz. Você sabe, o buzz de indie rock de bom gosto que costumava manter um milhão de blogs gerando retorno financeiro, com os dólares de propagandas de roupas maneiras. Aquelas coisas que costumavam fazer você acreditar que o Animal Collective acabara de lançar O Melhor Disco de Todos os Tempos, que convenciam você de que era aconselhável passar mais do que quatro minutos ouvindo/pensando sobre o Local Natives. Você provavelmente entrou em discussões sobre se os Wavves eram "incensados demais" em algum momento da última década, e carregará essa vergonha para o túmulo.

Fui ao Orpheum ver o Spoon, uma das bandas que mais geravam buzz no mundo do indie rock em 2007 (e em 2002, em 2005 e 2000), porque parece que estamos prestes a ver o indie rock voltar a ser a música de alguma maioria silenciosa nos EUA. O indie rock não movimenta as principais engrenagens da cultura musical da internet da maneira que movimentava nem mesmo três anos atrás. O buzz em torno das novas bandas de indie rock entra e sai das timelines do Twitter mais rápido do que trechos do Daily Show. Ainda assim, o show no Orpheum atraiu muita gente. Ser uma banda como o Spoon em 2014 significa fazer shows em casas de espetáculo em todos os mercados de médio porte dos EUA, sem gerar muito buzz, sem ser muito falado, sem ser tema de "uma narrativa em blog". E não há absolutamente nada de errado com isso.

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A narrativa em torno do Spoon em 2014, na medida em que há uma, é a de que seu novo disco, They Want My Soul, é "um retorno à velha forma", o que, na linguagem dos críticos de música, quer dizer "não sabemos o que mais poderíamos dizer dessa banda." A única coisa que mudou é que o Spoon tirou quatro anos para fazer esse disco, o maior tempo que passaram sem lançar nada. Mas, no final das contas, They Want My Soul foi inserido na máquina trituradora do conteúdo blogável: eles deram algumas entrevistas, foram resenhados pelo menos quarenta vezes, e no mínimo quarenta vezes a mesma narrativa foi repetida ("eles tiraram quatro anos de folga, e o novo disco é um retorno à velha forma!"). Mas, na primeira sexta-feira após o lançamento de They Want My Soul, o assunto já era outro. Posso apostar que a maioria das pessoas no Orpheum não saberia dizer nem mesmo o dia exato em que o disco saiu; a tsunami de conteúdo veio e se foi, e poderia ter ocorrido há seis meses, ou seis semanas (a segunda hipótese é a verdadeira).

As melhores faixas desse disco já estão sendo encaixadas nos setlists enormes do Spoon, que têm só as melhores músicas e nenhuma encheção de linguiça. O grande catálogo do grupo é apresentado ao vivo apenas com os sons mais quentes de cada disco. "Don't You Evah" levou a "Small Stakes", esta a "Who Makes Your Money", e isto é apenas a sétima parte das músicas tocadas. "The Beast and the Dragon, Adored" levou a "Let Me Be Mine", que levou a "Got Nuffin", lançada somente em EP, com Britt Daniel em chamas mitando na guitarra. Novos destaques como "Do You" e "Rent I Pay" estão entre as melhores faixas já produzidas pela banda; o público conhecia a letra delas tão bem quanto as das antigas. O espetáculo da noite foi um ótimo argumento de que, se algum dia lançassem uma compilação Best Of do Spoon, seria o melhor disco da banda.

O verdadeiro problema enfrentado pelo indie rock nesta década é ter sido visto como algo inevitável. Há sempre uma nova banda de gente do Brooklyn pronta para fazer 1.700 shows no SXSW, outra banda buscando um 8,6 no Pitchfork. Foi mais ou menos isso que Charles quis dizer em um dos artigos mais visionários já escritos sobre como consumimos música hoje: "Simplesmente continuaremos comprando os discos da _______ (banda indie consagrada) até a hora da morte, envelhecendo junto com nosso artista favorito, que nos liga ao auge da nossa inteligência na juventude, mesmo que sua música soe velha e datada." O Spoon nunca mais terá para a internet a importância que teve um dia, mas, ao mesmo tempo, ainda há públicos pelos Estados Unidos dispostos a calçar seus Keds e ir até a casa de espetáculos local para ouvir as músicas menos conhecidas de Ga Ga Ga Ga Ga. O indie rock costumava ser o tapete que unia a parte da internet voltada para a música. Hoje, é o papel de parede – presente, e raramente comentado.

Andrew Winistorfer não quer que você faça dele um alvo. Ele está no Twitter – @thestorfer

Tradução: Marcio Stockler