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Música

Taking Back Sunday: Anotações do Passado

Adam Lazzara conversou com a gente sobre gravar o novo álbum, emos e como andar de skate pode fazer você quebrar várias partes do corpo.

Foto por Natalie Escobedo.

Quando eu tinha 13 anos, amava o AFI, My Chemical Romance e Fall Out Boy, mas o Taking Back Sunday sempre estava um passo a frente. Tinha algo tão desconfortavelmente cru neles: caras normais vestindo roupas normais cantando sobre suicídio. Eles me assustavam. Olhando para trás, deveria ter sido mais corajosa porque a ausência de maquiagem e roupas estranhas do TBS deu a eles um acesso mais profundo e estranho à angústia adolescente do que as outras bandas relacionadas. Por exemplo, dá uma olhada no videoclipe “You’re So Last Summer”. Observe os caras dando um rolê com o Flavor Flav, se colocando lentamente no panteão de trutas autodepreciativos dos EUA. Olhe para o contraste entre os jeans largos e as letras tipo “A verdade é que se você cortar minha garganta/com o meu último suspiro eu iria me desculpar por ter espirrado sangue na sua blusa.” É uma sabotagem que vem de dentro – é a masculinidade “média” deles combinada com uma hiper vulnerabilidade que abriu para a molecada dos subúrbios americanos que antes só tinham o Creed e o Linkin Park.

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O Taking Back Sunday canalizou muito da sua inércia inicial para se disseminarem nas redes sociais. Quando o MySpace se tornou popular, uma geração inteira achou um novo território: a persona virtual. Assim como qualquer descoberta de um novo terreno, o instinto da molecada é passar dos limites e o Taking Back Sunday te deixava gritar o mais alto que conseguia até que algo ecoasse de volta para você saber que não estava sozinho. Estava tudo lá, espalhado em posts do LiveJournal e em mensagens no ICQ, as letras da banda desenvolveram um vocabulário emocional que espalhava quase que viralmente pelo mundo digital. Na próxima vez que você for compartilhar um post pessoal bem depressivo, agradeça a uma criança emo, foram eles que patentearam coletivamente sua vibe deprê.

Sem querer tirar o crédito do legado da cena de hardcore confessional de Long Island – lar do Taking Back Sunday –, mas a estética não era nem um pouco novidade. A novidade era o alcance que uma perfeita tempestade de talento e circunstância lançou uma banda jovem dos porões de Amityville para uma dominância cultural muito bem disseminada. No olho do furacão, encontramos um dos vocalistas mais dinâmicos da última década: Adam Lazzara girando o seu microfone, escalando nas caixas de som, destruindo seu cabelo longo e escuro. Sua introspecção agressiva ignorava todas as regras de como se portar ou falar. Era o nascimento de algo novo e como todo nascimento, veio com sangue: um amigo descreve na escola suas sessões de auto-mutilação em grupo, inspirada especificamente pela letra: “If I’m just bad news/then you’re a liar” – “Se eu sou apenas más notícias/então você é uma mentirosa.”

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Com isso em mente: cicatrizes melhoram, a tinta de cabelo some e até mesmo o vocalista mais neurótico e auto-destrutivo eventualmente precisa seguir em frente. O Adam tem 32 anos agora, o seu filho mais velho tem quatro, o que o faz ser sete anos mais novo do que o álbum Tell All Your Friends. Adam voltou para a Carolina do Norte, lugar onde nasceu e onde está agora criando sua família. Ano passado, seu álbum favorito foi o Muchacho do Phosphorescent. Só uma ouvida no refrão da música “Flicker, Fade”, o primeiro single do próximo álbum Happiness Is da banda, já é o bastante para dispersar qualquer expectativa que o #revivalemo de 2014 vai acontecer –o Adam pode berrar, mas não há nenhum cadáver para ser reanimado. Mas talvez o foco dele tenha mudado, e ao falar com ele pelo telefone na semana passada, vi que o maior agitador da luta interior andou fazendo um balanço da sua vida com um olhar bem observador.

Noisey: Conte sobre como foi o processo de escrever as músicas para o novo álbum.
Adam Lazzara: Bom, nós organizamos tudo para que fosse uma colaboração completa, uma verdadeira democracia. Então o que fizemos com esse álbum foi nos encontrar um lugar bem remoto – cada integrante vive em uma ponta dos EUA – onde não houvesse nenhuma distração e apenas compor. Fomos para West Virginia na primeira vez, para o topo de uma montanha em uma casa antiga. Acho que ficamos lá quase duas semanas e não tinha muita coisa por perto. Acho que a febre da reclusão realmente me ajudou a compor.

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A volta do John Nolan para a banda mudou o processo de criação?
Ter o John e o Shaun Cooper de volta quatro anos atrás foi o que fez resolvermos mudar nossa ideia original – em vez de ter uma ou duas pessoas dirigindo e moldando as músicas, queríamos que a voz de todo mundo fosse ouvida igualmente. Inclusive, é o jeito que escrevemos agora.

O que fez o John voltar para banda?
Bom, muito tempo se passou e nós começamos a nos reconectar como amigos e pareceu uma coisa legal de se fazer.

Tem quase dez anos desde o seu segundo CD. Como você acha que foi o impacto dos seus primeiros álbuns na cultura?
Cara, eu realmente não sei. Nem penso muito sobre isso. [risos] Mas é bem interessante ver um pessoal mais novo descobrindo nossos primeiros discos e vê-los curtindo. Para a gente, quando estávamos escrevendo tudo isso, apenas queríamos fazer musica e alcançar o máximo de pessoas possíveis. Então ver isso acontecendo, até mesmo com uma galera mais jovem, é uma coisa bem da hora.

Você acha que as músicas significam a mesma coisa para a juventude de agora?
Sim. E é uma coisa que nunca esperaríamos. Porque nós só queríamos sair em turnês e tocar músicas para as pessoas. É bem legal.

Como foi fazer parte da primeira geração de bandas que surgiram nas redes sociais?
Na época era o Friendster.

Eita.
Pois é, lembra disso? Foi mais ou menos no fim do Friendster, bem quando o MySpace estava começando. Ficou bem claro para a gente que existia um boca a boca que ia além de alguém ver a gente tocar, ir para casa e contar para um ou dois amigos. Era um networking em formação. Então isso realmente ajudou para que as pessoas conhecessem a gente e o que fazíamos.

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Como você vê a cultura musical online de agora e a maneira que as bandas existem nas redes agora em relação a como era com vocês?
Eu li uma frase interessante outra noite e esqueci o autor, mas ele estava comparando o ato de escutar música na “era da internet” (sei lá como você quer chamar isso) com o ato de folhear páginas. Acredito que agora é mais complicado para as pessoas sentarem e ouvirem um álbum inteiro, porque tem muita coisa rolando por aí. Isso tira um pouco o valor de um álbum para muita gente. Porque eles vão lá, acham alguma coisa nova e escutam por 10 ou 15 minutos e dizem “Ok, eu gosto disso, vou baixar e talvez nunca mais voltarei a escutar”, o que é triste. Agora é só essa coisa de quantidade versus qualidade. Como lidar com isso, eu não sei.

Você acredita que sua música se rebelou contra as normas existentes na cultura americana?
Para mim é uma cena específica para cada gênero. Há caras que talvez tenham diferentes maneiras de derramar seus corações ou de apenas ficarem pelados na frente das pessoas. Acredito que coisas assim são um pouco complicadas para a cultura popular entender porque acho que grande parte dessa cultura não quer pensar muito sobre isso nesse nível. Se você olhar para a música pop agora e só de olhar para o Grammy, é tudo um circo. Não vai muito além disso.

Se você dominasse o mundo, qual seria uma coisa pequena porém relevante que você mudaria?
Pessoalmente, acho que isso seria muita responsabilidade para mim.

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Estou falando de coisinhas irritantes.
Sabe quando você vai pegar sua bagagem no aeroporto? Você sai do seu voo, vai até a esteira e todo mundo faz uma fila com as suas canelas encostando contra a esteira, não deixando ninguém ver se sua mala está vindo? É tão contra produtivo para todo mundo, como se encostar na esteira fizesse a mala vir mais rápido. Mas, de um certo modo, acho que é uma coisa bem egoísta de se fazer, é como se você tivesse dizendo “vai se foder” para todo mundo que também está esperando pela mala.

Qual foi o presente mais doido que você ganhou de um fã?
Cara, uma vez eu ganhei um par de tênis de um casal um pouco mais novo do que eu do Reino Unido. Os tênis eram tipo Chuck Taylors brancos, cano alto, mas eles tinham uma cena do filme Clube da Luta pintada neles. Mas não parecia tinta e nem parecia caneta. Não sei como eles pintaram aquilo, mas era absolutamente lindo e nem consigo imaginar o tempo que eles gastaram para fazer isso. Sempre me lembrarei de como fiquei impressionado com aquilo.

O quanto que você acha que sua imagem mudou desde que começou o TBS?
Acredito que ainda é parecida. Digo, estou mais velho agora e é meio natural que algumas coisas tenham acontecido independentemente de eu estar em uma banda, ou se eu entregasse comida ou construísse casas. Existe uma coisa natural na vida que modifica o jeito que você se enxerga. Mas ainda sou o mesmo cara. Talvez um pouco mais genioso.

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Como você se sente sobre o emo ser um gênero?
Eu nunca botei muita fé nisso. É datado e é tudo meio bobo. Costumava ser uma palavra que usavam para zoar com um amigo, mas aí um dia as pessoas começaram a clamar pelo título. Por isso que sempre pensamos que era um pouco estranho. Chegamos a sair em algumas revistas que incluíam a gente dentro desse rótulo e eu nem me relaciono muito com esse tipo de música. Não existem muitas bandas associadas a isso que eu curto. E nem estou gongando, só não gosto muito do estilo.

Como foi o seu primeiro beijo?
Foi durante o filme Tartarugas Ninjas III.

Uau.
Pois é, foi em High Point na Carolina do Norte.

Quantos anos você tinha?
Sei lá. 12 ou 13? Não sei direito. Preciso lembrar direito e ver qual filme estava passando na época. O nome dela era Shannon.

Você já tocou em um baile?
Não. [risos] Fui para um baile uma vez quando eu estava no colegial.

Como foi?
Estranho. Lembro que fomos com um grupo de amigos , mas só tocava house music no baile e nós ficamos por só uma hora. Aí fomos para um hotel na cidade em que estava rolando uma festa.

Como era o seu grupo de amigos no colégio?
Era skate e música rápida. Era uma cidade pequena na Carolina do Norte, então não tinha muita gente. Porém, era legal, era um grupo pequeno de garotas e garotos.

Você andava de skate todo fim de semana?
Eu levava meu skate para todos os lugares até os meus 19, 20 anos. Era uma época em que eu estava focando bastante na banda. E sabe aquele seu amigo que sempre está se machucando? Era eu. E eu nunca fui bom nisso e nunca fiquei melhor nisso também.

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Você já se machucou sério andando de skate?
Cara, eu quebrei minha clavícula, meu braço, eu fiz uma coisa estranho com o meu cotovelo e ele ainda fica esquisito de vez em quando. A lista só continua. [risos]

Eu sempre quis andar de skate, mas sempre morri de medo de passar pelo período em que você não é bom nisso e está apendendo, sinto que isso é o suprassumo da vergonha.
E também quando você está fisicamente com dor porque sempre está caindo do skate toda hora. Mas acho que isso é o divertido, você continua tentando fazer um ollie e quando você finalmente consegue é muito foda.

Qual é a manobra mais doida que você consegue fazer?
No centro de High Point tinha umas cinco escadas que eu tentei descer inúmeras vezes. No entanto, lembro que uma ou duas vezes eu consegui aterrissar fazendo uns ollies e foi ótimo. Mas isso é a coisa mais louca que tentei fazer e lembro que fiquei muito nervoso quando tentei. Eu era muito bom em fazer kickflips. Era tipo minha manobra assinatura e se eu estava tentando impressionar alguém, fazia isso milhões de vezes. Aí pensavam: “Nossa, ele é muito bom.” Mas eu realmente não era bom, exceto em fazer isso.

É, definitivamente o kickflip deixa as pessoas animadas. Se você estivesse em uma comédia romântica como o ator principal, quem faria o papel do seu par feminino?
Uau, essa é complicada. A Keira Knightley estava na nossa lista por tipo, sete anos. Ela nunca apareceu, mas também acho que ninguém chamou ela, mas a gente deixava ela na lista caso precisasse.

Se ela quisesse ela poderia ir. Isso é legal.
Sim, porque ei, pode acontecer. Coisas estranhas já aconteceram, mas eu não sei se ela seria o meu par. Preciso pensar sobre isso.

Algum conselho de última hora para a juventude.
Sejam pessoas legais. Vdd.

Siga o Ezra no Twitter. @ezra_marc